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Estudo Literário - O Guarani
Texto do trabalho: José de Alencar Senhora

O Guarani

De 1° de janeiro a 20 de abril de 1857 O Guarani foi publicado como romance seriado, anonimamente, no Diário do Rio de Janeiro, cujo "Redactor-Gerente" nesta época era Alencar. Tinha por subtítulo: "Romance Brasileiro". Em forma de livro O Guarani - Romance Brasileiro foi publicado pela tipografia editora do jornal O Diário pouco tempo depois de concluído o romance seriado, numa edição de 1000 exemplares (como refere Alencar, I, 117) que foram entregues ao livreiro Brandão, porém, uns 300 exemplares foram vendidos diretamente na tipografia. Dois anos mais tarde, sob as arcadas do palácio, o livro era oferecido, suspenso de um cordel, pelo dobro do preço. De lá o livreiro Xavier Pinto foi buscá-lo para sua loja; a culpa desta situação caberia aos críticos e à "roda literária":

A indiferença pública, senão o pretensioso desdém da roda literária, o tinha deixado cair nas pocilgas dos alfarrabistas. (I, 118)

Alencar queixa-se ainda:

Durante todo esse tempo, e ainda muito depois, não vi na imprensa qualquer elogio, crítica ou simples notícia do romance (...). (I, 118)

Mais adiante Alencar menciona que no Rio Grande do Sul um jornal começara a imprimir o seu romance, e que ele teria reclamado deste "abuso", com o que a série fora suspensa, porém, com o que já estava impresso se fizera um livro. Contando com esta, o livro já haveria alcançado (em 1873) a sexta edição. (I, 118)

R. Magalhães observa que Alencar, como "estreante", deveria ter ficado satisfeito com esta edição pirata, pois:

Essa ilegalidade, contra a qual gritara, era i sinal inequívoco do sucesso.

Neste contexto relata Alencar, com zombaria e amargura, que o português Mendes Leal, na "bela introdução" de seu romance Calabar, fala com entusiasmo dos tesouros da "poesia brasileira", que, de acordo com ele, seriam inteiramente desconhecidos aos brasileiros. Não era de admirar que em Portugal a literatura brasileira fosse desconhecida, pois só chegava lá "o que se lhes manda com um ofertório do mirra e incenso". Os portugueses viam no Brasil exclusivamente um "mercado para os seus livros e nada mais" (I, 118), isto é, eles não consideravam os brasileiros como seus parceiros nem se interessavam pela literatura brasileira.

Ao português ainda se perdoaria esta ignorância, mas que até um jornal brasileiro, O Correio Mercantil, achasse que o livro Calabar de Mendes Leal seria "uma primeira lição do romance nacional dada aos escritores brasileiros", e ao mesmo tempo deixasse de mencionar aos seus leitores que um compatriota e antigo redator deste jornal houvesse há dois anos atuado exatamente neste terreno, "não se compreende" (I, 118). Mesmo que O Guarani não apresentasse as vantagens de Calabar, ele seria "porém incontestavelmente mais brasileiro". (I, 118)

Mas os leitores ou "literatos" ainda não estavam preparados para um produto nativo como O Guarani. Antes das Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, de Alencar, não existia no Brasil ainda nenhuma crítica literária, nenhuma análise literária ou apreciação pormenorizada. Alencar queixa-se de que as sua obras indianistas sejam, no seu conjunto, comparadas com as de Cooper, mas que até agora ninguém se dera ao trabalho se apontar as semelhanças, "porque dá trabalho e exige que se pense". (I, 117)

Também neste terreno Alencar deveria primeiro despertar os espíritos que iriam inflamar-se com sua produção e o seu sucesso crescente, como Pinheiro Chagas, Henrique Leal e principalmente José Feliciano de Castilho (Cincinnato) e Franklin Távora, cujos ataques impiedosos o feriram profundamente e foram, decerto, também, os responsáveis pelo caráter defensivo desta "autobiografia literária."

 

OPINIÃO DE MACHADO DE ASSIS

Para Machado de Assis, ao falecer, em 1877, Alencar era "o autor do Guarani"; talvez Machado estivesse, com estas palavras, querendo colocar-se na perspectiva da maioria dos que iriam ler o seu necrológico, pois ele próprio foi o primeiro a reconhecer o ineditismo de Iracema. - Em 1887, no prefácio a uma nova edição de O Guarany, diz que, após a "conspiração do silêncio" que é como ele considerava inicialmente a ausência de críticas, Alencar estaria vivendo agora "a conspiração da posteridade". Depois de O Guarany ele haveria escrito outros livros, porém:

Nenhum produziu o mesmo efeito do Guarany.

Embora existam casos em que o autor escreve muitas obras mas só uma é a que sobrevive, como no caso de Manon Lescaut, Alencar podia encarar o futuro com tranqüilidade:

O autor de Iracema e do Guarany pode esperar confiado.

(Ao inverter a seqüência, Machado estava com a razão.) O que Peri diz a Ceci no final do romance, quando ambos são levados sobre uma palmeira pela correnteza, isto mesmo diz agora Machado de Assis a Alencar: Tu viverás.

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