CONTESTAMENTO
Despirei diante à lareira
O sono impróprio da minha pele
E circundado de anjos
Revoarei na fúnebre das cinzas frias,
Cremarei as chamas do inconsolo
E num pluft tudo desapareceria...
Contesto a procissão dos falecidos,
Os choros dos desgarnecidos...
Contesto as honrarias, as ruas enomeadas,
Os bustos estatuados,
Os inventários e suas partilhas...
Contesto a morte fria,
As guerras,
O aborto dos prazeres,
O suícidio,
Latrocínio,
Homicídio...
E me pergunto:...
Quem poderia roubar tantas almas
Se o corpo é um cofre e o segredo ainda é mistério?
Se fosse por mim... jamais eu faleceria!...
E jamais eu contestaria....
Élsio Américo Soares
CREIO
Inexplicavelmente não entendo a distância
Contenho em labutar o pensamento até sentí-lo
desalojado dentro de mim mesmo;
creio esporadicamente na imaginação
como fortalecimento condensador da minha alma
como no catalizador do meu gesto, que embora
medíocre a fantasias se predetermina na confirmação
lógica do extra-sensorial
Creio no real sentir e an saudade confinada
Creio nas paixões apropriadas às razões
Creio na razão única
Creio em uma única só paixão!
Inexplicavelmente!
Élsio Américo Soares
EU
a Augusto dos Anjos
Casto estou a refletir-me a chaga
Na psique mórbida d’ossos esquálidos.
Vejo vestimentos da carne corroídos
Espalhar-se em cinzas por toda plaga!
Sou viajeiro co’a mortalha que carrego...
No cérebro impune à droga e à traça,
Vegeta o plasma que em coma se embaraça
Sepultando a minha alma do seu ego!
Transcorro na miséria do inquilino
Que o pus do escarro fedentino bebe
E palita a gengiva com próprio sangue!
Sou eu, um vulto solitário e menino
Refletido num poço que hei de beber
Toda a lama que existe neste mangue!
Élsio Américo Soares
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