ECOS
   
   
 
POEMAS

CANSAÇO

 

A asa do silêncio

sangra-me o lábio
e o pé descalço de pássaro...

Revôo

no céu aberto da boca
grunhindo
a dor de estrela perdida...

E a pena

lambiscada de tinta
revela-me o suspiro,
arquejo nos passos

s  o  l  i  t  á  r  i  o  s

vís palavras...
e soluço calmo a IDADE!

 

Élsio Américo Soares

 

 

 

CANTIGAS

 

Nas cordas partidas do violão,
dedilho o silêncio da harmonia vazia,
voz cálida, moída no coração;
no peito, a alma ainda jazia.
aó... na boca, áspera nota,
que me traz uma gota de  dó,
a canção espera tão remota
seus dedos não morrem tão sós.

Élsio Américo Soares

 


POEMAS

CONTESTAMENTO

 

Despirei diante à lareira

O sono impróprio da minha pele
E circundado de anjos
Revoarei na fúnebre das cinzas frias,
Cremarei as chamas do inconsolo
E num pluft tudo desapareceria...
Contesto a procissão dos falecidos,
Os choros dos desgarnecidos...
Contesto as honrarias, as ruas enomeadas,
Os bustos estatuados,
Os inventários e suas partilhas...
Contesto a morte fria,
As guerras,
O aborto dos prazeres,
O suícidio,
Latrocínio,
Homicídio...
E me pergunto:...
Quem poderia roubar tantas almas
Se o corpo é um cofre e o segredo ainda é mistério?
Se fosse por mim... jamais eu faleceria!...

E jamais eu contestaria....

 

Élsio Américo Soares

 

CREIO

 

Inexplicavelmente não entendo a distância
Contenho em labutar o pensamento até sentí-lo
desalojado dentro de mim mesmo;
creio esporadicamente na imaginação
como fortalecimento condensador da minha alma
como no catalizador do meu gesto, que embora
medíocre a fantasias se predetermina na confirmação
lógica do extra-sensorial
Creio no real sentir e an saudade confinada
Creio nas paixões apropriadas às razões
Creio na razão única
Creio em uma única só paixão!
Inexplicavelmente!

 

Élsio Américo Soares

 

 

EU

a Augusto dos Anjos

 

Casto estou a refletir-me a chaga

Na psique mórbida d’ossos esquálidos.
Vejo vestimentos da carne corroídos
Espalhar-se em cinzas por toda plaga!

Sou viajeiro co’a mortalha que carrego...
No cérebro impune à droga e à traça,
Vegeta o plasma que em coma se embaraça
Sepultando a minha alma do seu ego!

Transcorro na miséria do inquilino
Que o pus do escarro fedentino bebe
E palita a gengiva com próprio sangue!

Sou eu, um vulto solitário e menino
Refletido num poço que hei de beber
Toda a lama que existe neste mangue!

 

Élsio Américo Soares

 


POEMAS

ÊXTASE

 

Sou um viajante perdido

num espaço contínuo!
Sou um segredo de um louco
e a sombra de um filho!
Sou um ser estupro vigado do orgasmo
e um sensato inconsolado!
Sou o segredo da vida
e o enredo da morte!
Sou o êxtase do crepúsculo
e uma besta mística!
Sou um anjo à galope
e, ou um Deus inquieto!
Sou um menino afável:
Sou você...
Não sou ninguém!

 

Élsio Américo Soares

 

 

FILHOS  DO  CARBONO

 

Desnudos apalpamos a espeçie

Na insemelhança férrea da arte;
Detritos nos sucumbe a esfígie
Relatada no cosmo de Marte.

Somos civilização de arqueiros
Remoídos da fusão do aço;
Espreitos no não dos cargueiros
Revoamos a fúnebre do espaço.

Gases desintegram-se enfáticos
E um réu conclama-se no trono,
Num choro líspido e fanático:
“Malditos filhos do carbono”...

 

Élsio Américo Soares

 


POEMAS

GARRAS  DE  LOBOS

 

Não serão os Reis
Que sentarão no trono da minha estrela
E taxarão minha dor
Escondendo-me nos cubos, ilhas ou túmulos!
Não serão os clérigos
Nem mesmo as ideologias fantasmas do nada
Que incutirão no meu ego
A filosofia esquecida:
Do eterno alvorecer do cone!
Não serão as peripécias dos Homens
Que empossarão todos quinhões no seu peito êfemero
E viverão eternamente na ferrugem material do aço!
Não serão as garras dos lobos
Que voarão nos espaços
E pousarão na palma do Cordeiro Divino!
Não serão as labaredas o pique final...
Serão as ordens do coveiro
Que lançarão as almas dos lobos, Homens e Reis
Nos cubos empalmados na filosofia e da poesia...
Serão as mágicas de Deus
Que hipnotizarão meus olhos poetas
E farão de mim um fio grisalho dentre a obscuridade do Mundo!
Serão os corpos adormecidos
Que se levantarão dos túmulos-vivos
E embriagar-se-ão no sangue da tinta de um poema queimado!
 na tinta do meu poema sangrado!

Serão as minhas mentes

Que transporão os milésimos infinitos num raio-laser do sentimento
E nunca mais passariam a fome dos lobos
Que punjança massacrante dos reis
Serão elas a loucura dos semelhantes

Élsio Américo Soares

 

 

VOLTAR

 
 
 
      PROXIMA 1