O SOL

Pois ao longo da viela em que, pelas mansardas,
Persianas fazem véu às luxúrias bastardas,
Quando o sol reverbera, imponente e inimigo,
Sobre a cidade e o campo e sobre o teto e o trigo,
Eu ponho-me a treinar em minha estranha esgrima,
Farejando por tudo os acasos da rima,
Numa frase a tombar como diante de obstáculos,
Ou topando algum verso há muito em nossos cálculos.

Este pai nutritivo, a odiar sempre o que enferme,
Pelos campos desperta a rosa como o verme;
Faz as mágoas voar de que as almas são cheias,
Enchendo o pensamento ao encher as colméias.
Ele é quem dá o alento aos que vêm de muletas,
Dando-lhes um frescor de jóias ou violetas,
Para ordenar depois que amadureça a messe
No coração eterno, o que sempre floresce!

E quando vai à rua, à maneira de um poeta,
Ele sabe aureolar a coisa mais abjeta.
Sozinho e sem rumor, como um rei se introduz
Nos hospitais da mágoa e nas mansões da luz!

VOLTAR

Hosted by www.Geocities.ws

1