A EUGÈNE FROMENTIN
A PROPÓSITO DE UM IMPORTUNO QUE SE DIZIA SEU AMIGO


Disse-me ele que era opulento,
Mas que ante a cólera tremia;
- Que de seu ouro era avarento,
Mas que o bel-canto o seduzia;

- Que era devoto da paisagem
E que Corot o punha louco;
- Que ainda não tinha carruagem,
Mas que a teria dentro em pouco;

- Que mármores e tijolos tinha,
Caixilhos negros e dourados;
- Que em sua fábrica mantinha
Três contramestres premiados;

- Que possuía, entre seus bens,
Umas dez mil ações no Nord;
- Que só gastava alguns vinténs
Com as molduras de Oppenord;

- Que em Luzarches e outras comarcas,
O ferro-velho era o seu ócio;
E no Mercado dos Patriarcas
Fizera mais de um bom negócio;

- Que não prezava muito a esposa,
Tampouco a mãe , mas tinha fé
Que a alma imortal em Deus repousa,
E até já lera Niboyet!

- Que o seduzia a paixão física,
E que em Roma, onde se hospedara,
Uma mulher, embora tísica,
De amor por ele se matara.

Durante hora e meia corrida,
O tagarela tournaisiano
Contou-me toda a sua vida,
E fez-me à mente imenso dano.

Se o meu pesar fosse descrito,
Talvez que fim nunca tivesse;
Eu me dizia, irado e aflito:
"Se ao menos dormir eu pudesse!"

Como quem não se acha a seu gosto,
Mas que não ousa levantar,
Eu esfregava o cu no encosto,
Buscando alguém para o empalar.

Atende o monstro por Bastogne;
Fugia ao relho, esse danado!
Eu fugirei rumo à Gascogne,
Ou n'água então morro afogado,

Se lá em Paris, que o desagrada,
Couber-me enfim, por puro engano,
Encontrar outra vez na estrada
Esse flagelo tournaisiano.

Bruxelas, 1865

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