O fundo do coração
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Nenhum segredo é sagrado. Nenhuma guerra é santa.

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Numa parte qualquer de mim
sei que passa uma grande avenida
com alguns trechos em obras
outros em declive e lombadas.
Me esperam meninos sujos
e me pedem esmola
eu sugiro um banho
enquanto um limpa o ranho.
Sei que meu carro no olhar dele atola
mas eu tenho pressa
não tenho tempo pra entender sua escola.
Numa esquina qualquer
putas me oferecem amor à baixo preço
marionetes parecidas com mulher
olho e agradeço:
- Até que eu preciso, mas acho que não mereço.
Arranho a marcha dando a ré
tem uma casa que acho que já vi antes
observo quieto,
tenho apenas a impressão não o fato.
Um velho estranho bate no vidro
e me pede cigarro;
dou.
Ele se vira e engulo o catarro.
A vida é mesmo um saco!
Muitos faróis e atravessam os office-boys
e suas fichas de fliperama
um executivo de óculos ray-ban,
acho que se escondendo, pena que de si mesmo.
Me encho e passo no vermelho, esmagando não sei quem
não anotaram minha chapa,
quebro uma rua qualquer e dou de cara comigo
acompanhado de uns punks,
acho que fico meio estranho com munhequeiras de aço
e cabelo arrepiado.
Me dou um murro na cara e sangro,
murcho os pneus e me arranco. Fico dolorido, desço
e continuo à pé. Acho que não botei muita fé
e me deparo de novo comigo,
agora sozinho e triste
sentado num caixote e pelado
minha pele derramava alguns pedaços,
me pedi uma ajuda e me chamei de filhodaputa
chutei umas tampinhas de coca-cola e entrei numa casa abandonada, então saquei depressa
que esta avenida, tudo isto é meu coração .
Apaguei a luz e chorei.
Chorei por mim mesmo
e pelos milhões de seres que estupro em mim
pelas milhares de migalhas que me dou
pra matar minha fome de vida e de amor.
Chorei por mim mesmo.
Comigo mesmo.

 
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