A
morte era um tema recorrente nos escritos de Clarice Lispector. Mas o que
parecia preocupá-la era morrer e não ter conseguido expressar-se.
..."A vida é
curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso
descobrir a palavra salvadora"
"Me justificar
mais do que a vida? No mundo das coisas, quando sei que elas vão acabar,
começo a fruí-las. Tenho medo de estar viva.
"O mundo inteiro
teme a própria vida. A morte é coisa que não é nossa. Mas a vida, a
vida é, e eu morro de medo de respirar."
Em 28 de fevereiro de
1970, publicou uma crônica-testamento, na qual legava a própria alma.
"Uma vez irei.
Uma vez irei sozinha, sem minha alma desta vez. O espírito, eu o terei
entregue à família e aos amigos, com recomendações. Não será difícil
cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não
será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a
deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem,
olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos
de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria"...