Emblema C.V.A José Manuel e Luís auxiliam amigos na descolagem

Ultraleves Rasgam Céus da Azambuja

Publicado em "O Povo do Cartaxo" • Ano XIX • Nº 447 • 3 de Agosto de 1995

Entrevista com José Manuel

O Povo do Cartaxo
José Manuel 
- Quando é que sentiu necessidade de desafiar os céus ? - O meu primeiro vôo ocorreu em 1976. A única possibilidade na altura era o Vôo Livre e tive essa oportunidade em Espanha. Depois trouxe a modalidade para Portugal, e comecei a voar todo o tipo de Asas Delta, com e sem motor. Mais tarde comecei a dar instrução de vôo no Aero-Clube de Portugal.
- Quais são as maiores diferenças entre as sensações de voar há 20 anos atrás nas Asas Delta ainda pouco desenvolvidas e hoje nos ULM sofisticados ? - As sensações são diferentes porque os aparelhos também o são. Depois de me iniciar no Vôo Livre passei para os Pendulares (Asas Delta Motorizadas) e Ultraleves. Neste momento sou piloto de aviões, mas no fundo é tudo voar.
- A sua paixão inclina-se mais para os Ultraleves de linhas aerodinâmicas ou para os que parecem mais artesanais ? - Todas as pessoas gostam de mudar. Quando vôo muitas vezes no mesmo tipo de aparelho gosto de mudar para outro. O ideal é termos a possibilidade de experimentar outros aparelhos de vez em quando. 
- No seu caso voar é uma profissão ou continua a ser um "hobby" ? - O C.V.A. funciona profissionalmente, mas para mim é um "hobby" porque gosto muito do que faço. Não tenho outra actividade profissional, e estou aqui durante todo o dia. 
- O que é possível desfrutar no C.V.A ? - Para além da instrução temos hangaragem e reabastecimento, isto é, guardamos Ultraleves ou Aviões, e reabastecemos os que passam por aqui em viagem. Também mantemos aberto o restaurante todo o dia para refeições rápidas ou almoço. 
- Quando é que surgiu a idéia de construir este espaço ? - É um sonho antigo o de construir um campo de aviação, mas que só se concretizou quando consegui o dinheiro para dar início às obras. O Campo está a funcionar desde Junho de 1992. Inicialmente só tínhamos capacidade para guardar 15 aparelhos, hoje podemos cerca de 45 com os novos hangares. 
- Existem muitas escolas desse tipo em Portugal ? - Neste momento há muitos instrutores de vôo, mas normalmente sem estarem legalizados. O nosso campo de vôo está absolutamente legal. Aliás foi o primeiro a ser homologado pela Direcção Geral de Aviação Civil. 
- Porquê construir este campo na Azambuja ? - Nasci na Azambuja, e aqui tenho muitas raízes. Outra das razões é que há já muitos anos sobrevôo esta lezíria e é um local óptimo para dar instrução. 
- O seu maior sonho já foi realizado com a construção deste Campo, mas o sonho está completo ? - O espaço que tenho não me permite sonhar mais do que aquilo que já está feito. No entanto pretendo tornar o local mais aprazível. Para os próximos anos tenho prevista a construção de uma piscina e a criação de espaços verdes para que as pessoas se sintam bem aqui. E não estou a falar para os pilotos, pois esses estão ocupados a voar, refiro-me às esposas, filhos, namoradas e amigos em geral que os acompanham, e que têm de ficar sem nada que fazer enquanto esperam.
- Qual o investimento já realizado ? - Com a conclusão da construção dos hangares e bomba de gasolina totaliza mais de 40 mil Contos. 
- Recebeu algum apoio ou usufruiu de algum atractivo do Município para aqui construir o Campo ? - Tenho tido algum apoio da Autarquia, que normalmente me cede máquinas para terraplanagem , e para alisar a pista. Como é evidente os apoios são sempre poucos, no entanto estou satisfeito e gostaria que a autarquia continuasse a colaborar conosco. 
- Existe algum Clube ou Associação de Vôo que mantenha relações com o Campo ? - Somos sócios da Associação de Pilotos de Ultraleves. Funciona em Lisboa, e tem como funções divulgar a modalidade, organizar confraternizações, promover encontros, e tratar de legalizações e aspectos burocráticos com a Direcção Geral de Aviação Civil. 
- Até que idade pretende voar ? - Enquanto tiver saúde para isso, pois penso que a idade não é muito importante nesse caso. Tivemos recentemente um aluno com 70 anos com óptimo aproveitamento, e aterragens perfeitas. 
- Este é um desporto apenas para ricos ? - Não diria para ricos, mas para quem tem dinheiro. Porque o preço dos ULM é dispendioso quer na manutenção, quer na gasolina. No resto da Europa e nos E.U.A. é um desporto para todos.
- De onde provêm os ULM ? - Fundamentalmente, da Alemanha, E.U.A, França, e Itália. Portugal é um dos poucos países onde não se fabricam ULM. 
- Este não poderia ser outro sonho a realizar, fundar uma indústria deste tipo em Portugal, mais exatamente aqui no Ribatejo ? - Poderia se não fosse a burocracia e os entraves da DGAC. Tenho certeza que se eu apresentasse agora os documentos para homologar um Ultraleve, só dentro de 200 anos ele estaria legalizado. 
- Essa é uma crítica à burocracia do nosso País ? - Efetivamente a DGAC só levanta problemas. Recordo muito bem todas as demoras que enfrento cada vez que pretendo matricular um Ultraleve. O que não acontece no resto da Europa, onde o processo é muito fácil. 
- Como precursor do vôo livre em Portugal, participou ao longo destes anos de inúmeros campeonatos. Que títulos conseguiu arrecadar ? - Hoje em dia já não participo porque não tenho disponibilidade, mas conquistei alguns primeiros prêmios. Normalmente as competições com aparelhos motorizados resumem-se a realização de voltas nos respectivos países, caso dos Espanhóis e Franceses. Esse ano terá lugar a Volta Ibérica, mas os Portugueses nunca realizaram nenhum campeonato a nível nacional. 
- Ao longo desses anos todos a voar, alguma vez se defrontou com algum perigo ? - Já tive algumas paragens de motor, mas nunca estive em situação de perigo já que aterrei sempre em segurança. Essa região é toda de planícies e em caso de problemas pode aterrar-se em quase todo lado. 
- Quer dizer que voar de Ultraleve não é um desporto perigoso ? - Se eu pensasse que o é, não seria capaz de praticá-lo.
  Lurdes Canaveira

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