Logo que a Espanha
iniciou sua colonização na América, percebeu-se que sua política
de subjugação seria absurdamente arbitrária, violenta e intolerante.
Os espanhóis simplesmente dizimaram as áreas sob seu jugo,
tendo extinguido civilizações avançadíssimas e destruído muitas
provas materiais da existência dessas culturas. Tudo isso
ocorreu porque os exploradores da Espanha receberam do rei
o direito de fundar novas cidades nas terras colonizadas,
evangelizando os índios e utilizando todo o poderio bélico
de que necessitassem para garantir seu intento. Em troca dessa
liberdade plena, a Coroa exigia o chamado "quinto" sobre toda
a quantidade de metais preciosos extraídos das novas terras.
Desta forma, garantia-se a ocupação do território sem gastos
para o Estado que, para garantir a cômoda situação, permitiu
todas as atrocidades cometidas pelos homens que para a América
seguiram. Logo, surgiram os primeiros núcleos metropolitanos,
sempre nas imediações das minas mais prolíficas.
Para trabalhar
nas minas, os espanhóis escravizaram os indígenas (os maias
no México e os incas na região andina, notadamente no território
que hoje corresponde ao Peru), garantindo sua subserviência
através de dois dispositivos: a encomienda e a mita. A encomienda
era o sistema de trabalho obrigatório e não-remunerado imposto
aos índios que, em troca, recebiam o "direito" de ser cristianizados
pelos encomenderos (seus senhores). Era, em suma, a instituição
que justificava o processo de escravização. Já a mita era
o sistema de trabalho remunerado: o índio recebia o salário
e, em troca, pagava pelo uso da terra. Como o salário era
sempre menor que o valor cobrado pelo direito à terra, o indígena
se atolava em dívidas e ficava preso ao colonizador. Portanto,
era também justificativa para a escravidão. Assim, num espaço
muito curto de tempo, todos os nativos da América espanhola
foram escravizados e suas comunidades desmanteladas. Suas
culturas desapareceram e um grande índice de mortalidade se
abateu sobre eles, resultado das muitas horas de trabalho
forçado diárias e das péssimas condições de alimentação. Como
o excedente de mão-de-obra era bastante grande, os exloradores
não se preocupavam com a condição dos trabalhadores: se morriam,
havia milhares para substitui-los.
O problema da
falta de alimento não atingiu a elite (somente os índios,
que, ao serem obrigados a trabalhar nas minas, não mais podiam
exercer sua cultura de subsistência. Assim, tinham que pagar
por sua comida, mas não recebiam salários, ou recebiam dividendos
miseráveis, tendo que optar por sujeitar-se à alimentação
provida pelo colono ou por afundar-se em dívidas), que investia
parte de seu lucro nas haciendas, locais onde eram produzidos
grãos e outros gêneros, e nas estâncias, onde desenvolvia-se
a pecuária, para seu sustento. Com o desenvolvimento das atividades
coloniais extrativistas, a Coroa espanhola criou alguns órgãos
administrativos que objetivavam fiscalizar e garantir seu
monopólio comercial, dentre as quais: a Casa de Contratação
(que recolhia o quinto, ditava as normas comerciais e redigia
os pressupostos legislativos) e o Conselho das Índias (responsável
por regulamentar toda administração da colônia, lançando mão
de vice-reinados e capitanias gerais, cujos senhores eram
por ela escolhidos). Para garantir a afluência dos metais
à Espanha e intimidar a ação de corsários, foram criados o
regime de porto único e os comboios anuais de carregamento
(ou seja, inúmeros navios navegando junto, que só podiam partir
de alguns poucos e determinados portos americanos e ancorar
num único porto espanhol). Porém, o contrabando não foi contido
de maneira satisfatória.
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