Dando vazão à
sua vocação revolucionária, Pernambuco é palco de mais uma
revolução, agora em 1848. Trata-se da revolta Praieira. Foi
ela a última das insurreições realmente relevantes contra
a unidade regencial. A revolta estendeu-se até o ano de 1852.
De caráter liberal,
a revolta praieira teve por inspiração os movimentos liberais
ocorridos na Europa, com a Revolução Francesa. Entre os rebeldes,
sobretudo os liberais radicais pernambucanos, já surgiam idéias
que prefiguravam características do socialismo. Conhecidos
como "praieiros", os liberais radicais pernambucanos fizeram-se
insatisfeitos com a arbitrariedade do império na destituição
do governador da província. O governador Chichorro da Gama
procurava anteriormente em seu governo refrear o poder constituído
pela poderosas famílias da aristocracia rural pernambucana:
a concentração de terras no Pernambuco nas mãos de uma pequena
camada aristocrática era mais vultosa que em qualquer outra
região do país, acarretando em grande exclusão social de grande
parte da população, sobretudo os trabalhadores agrários livres,
destituídos de terras próprias para sequer o cultivo de gêneros
para subsistência, que acabavam sendo sujeitos ao poder dos
proprietários, sofrendo grande repressão. O custo de gêneros
alimentícios na província, portanto, estava sob controle integral
desta aristocracia de poucas famílias, geralmente vinculada
ao Partido Conservador. Ao mesmo passo, o comércio também
concentrava-se nas mãos de estrangeiros, ingleses ou portugueses.
Nota-se portanto no movimento uma origem do sentimento nacionalista
no país, que na verdade nasceu forçadamente: os portugueses,
por exemplo, empregavam apenas seus compatriotas no comércio
que praticavam, excluindo assim a população nascida no Brasil.
O tradicional
pendor pernambucano para os atos revolucionários logo foi
reanimado: a revolução praieira, no início, foi deflagrada
através dos conflitos políticos entre facções da classe dominante,
convertendo-se mais tarde em uma causa popular. Com a destituição
do governador liberal Chichorro da Gama, que combatia o poder
das famílias aristocráticas, foi instituído o poder das forças
conservadoras no comando da província. Assim, a rebelião eclode
em Olinda no dia 7 de novembro de 1848. Os líderes desta primeira
tentativa revolucionária foram Borges da Fonseca (então apelidado
o Repúblico), o capitão Pedro Ivo Veloso e Nunes Machado.
A população logo toma simpatia pela causa, sendo que o movimento
passou rapidamente a espalhar-se pela chamada Zona da Mata,
a região das terras mais férteis da província.
No dia primeiro
de janeiro de 1849, é publicado o "Manifesto de Mundo", em
que os praieiros declaram suas ambições de reformulação geral
do sistema instituído. Entre as principais reivindicações
do Manifesto, podem ser citadas: a exigência de instituição
do sufrágio universal, ou seja, o direito de voto para todos
os cidadãos; o fim do poder moderador, que se tratava do poder
pessoal do Imperador (cabia a ele o poder de fechamento da
Assembléia, fato que lhe concedia poderes praticamente ilimitados);
primazia para os brasileiros nas oportunidades de trabalho;
nacionalização do comércio praticado pelos portugueses, o
chamado "comércio a retalho" ou o comércio a varejo.
O problema da
revolução é que os revoltosos, entre suas lideranças, possuíam
facções que não entravam em entendimento quanto a algumas
questões políticas: além disso, curiosamente o "Manifesto
do Mundo" praticamente ignorava a existência da escravidão,
não possuindo portanto força para a mobilização da mão de
obra escrava. O Império possuía mais condições de mobilização
de forças que terminaram por derrotar a revolução em 1852,
numa grande demonstração de força. A vitória do Império assegurou
a ele uma grande fase posterior de grande estabilidade política,
sustentada pela grande confiabilidade que os aristocratas
vinculados ao Partido Conservador passaram sobremaneira a
depositar no regime, tendo visto seu poder obter total respaldo
do governo então vigente. |