A chamada "Era
Vargas" começa com a Revolução de
30 e termina com a deposição de Getúlio
Vargas em 1945. É marcada pelo aumento gradual da intervenção
do Estado na economia e na organização da sociedade
e também pelo crescente autoritarismo e centralização
do poder. Divide-se em três fases distintas: governo
provisório, governo constitucional e Estado Novo.
GOVERNO
PROVISÓRIO
Getúlio
Vargas é conduzido ao poder em 3 de novembro de 1930
pela Junta Militar que depôs o presidente Washington
Luís. Governa como chefe revolucionário até
julho de 1934, quando é eleito presidente pela Assembléia
Constituinte. O governo provisório é marcado
por conflitos entre os grupos oligárquicos e os chamados
tenentes que apóiam a Revolução de 30.
Getúlio Vargas equilibra as duas forças: atende
a algumas reivindicações das oligarquias regionais
e nomeia representantes dos tenentes para as interventorias
estaduais. O interventor em São Paulo é um veterano
do movimento tenentista, João Alberto. Para o Rio Grande
do Sul, nomeia Flores da Cunha e para os Estados do Norte-Nordeste
e Espírito Santo é escolhido um supervisor,
Juarez Távora, que fica conhecido como "vice-rei
do Norte".
Agitações
sociais – Em 1931 o PCB organiza no Rio de Janeiro uma manifestação
contra a carestia, a Marcha contra a Fome, violentamente reprimida.
Em vários Estados também pipocam greves e manifestações
de oposição. Os setores oligárquicos
afastados do poder se reorganizam, exigem a convocação
de uma Assembléia Constituinte e o fim do governo provisório.
São Paulo, principal centro econômico do país,
lidera a oposição a Vargas.
REVOLUÇÃO
CONSTITUCIONALISTA
Em 1932 as
elites paulistas deflagram a Revolução Constitucionalista
contra o governo federal. Uma frente entre o Partido Republicano
Paulista, derrotado pela Revolução de 30, e
o Partido Democrático lança a campanha pela
imediata convocação de uma Assembléia
Constituinte e o fim das intervenções nos Estados.
O movimento tem o apoio das classes médias. Manifestações
e comícios multiplicam-se na capital. Em um deles,
dia 23 de maio de 1932, os manifestantes entram em conflito
com o chefe de polícia Miguel Costa e quatro estudantes
são mortos: Euclides Bueno Miragaia, Mário Martins
de Almeida, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio
Américo Camargo de Andrade. Com as iniciais de seus
nomes é composta a sigla MMDC (Miragaia, Martins, Dráusio
e Camargo), assumida como emblema do movimento rebelde. Em
9 de julho de 1932 estoura a rebelião armada. As forças
paulistas comandadas pelo general Isidoro Dias Lopes ficam
isoladas: não recebem ajuda dos outros Estados e a
Marinha bloqueia o porto de Santos impedindo-as de comprar
armas no exterior. Os paulistas se rendem em 3 de outubro,
depois de quase três meses de luta.
Constituição
de 1934 – As eleições são realizadas
dia 3 de maio de 1933 e a Assembléia Constituinte é
instalada em 15 de novembro. Pela primeira vez uma mulher
é eleita deputada no país, a médica Carlota
Pereira de Queiroz. Promulgada em 15 de julho de 1934, a Constituição
mantém a república federativa, o presidencialismo,
o regime representativo e institui o voto secreto. Amplia
os poderes do Estado, que passa a ter autonomia para estabelecer
monopólios e promover estatizações. Limita
a atuação política do Senado, incumbindo-o
da coordenação interna dos três poderes
federais. Institui o Conselho de Segurança Nacional
e prevê a criação das justiças
Eleitoral e do Trabalho. Nas disposições transitórias,
transforma a Assembléia Constituinte em Congresso e
determina que o próximo presidente seja eleito indiretamente
por um período de 4 anos.
GOVERNO
CONSTITUCIONAL
Getúlio
Vargas é eleito presidente pelo Congresso em julho
de 1934 e exerce o mandato constitucional até o golpe
do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937. Os três anos
de legalidade são marcados por intensa agitação
política, greves e o aprofundamento da crise econômica.
Nesse quadro, ganham importância movimentos como a Ação
Integralista Brasileira (AIB) e a Aliança Nacional
Libertadora (ANL).
Ação
Integralista Brasileira – As idéias fascistas chegam
ao Brasil nos anos 20, propagam-se a partir do sul do país
e dão origem a pequenos núcleos de militantes.
Em 1928 é fundado o Partido Fascista Brasileiro. A
organização mais representativa dos fascistas,
porém, é a Ação Integralista Brasileira
(AIB), fundada em 1932 pelo escritores Plínio Salgado
e Gustavo Barroso. O movimento é apoiado por setores
direitistas das classes médias, dos latifundiários
e dos industriais. Recebe a adesão de representantes
do clero católico, da polícia e das Forças
Armadas. Defende um Estado autoritário e nacionalista
que promova a "regeneração nacional",
com base no lema "Deus, Pátria e Família".
Plínio
Salgado (1895-1975) nasce em São Bento do Sapucaí,
São Paulo, e estuda ciências humanas em Minas
Gerais. Desde jovem dedica-se ao jornalismo. Elege-se deputado
estadual em 1928 e, em 1932, funda a Ação Integralista
Brasileira (AIB). Em menos de quatro anos, o movimento reúne
mais de 300 mil adeptos em todo o país. De inspiração
nazi-fascista, adota uma simbologia nacionalista, uma camisa
verde como uniforme e, como saudação, a palavra
anauê, uma interjeição da língua
tupi. Apontado como líder do levante integralista de
1938, Plínio Salgado é preso na fortaleza de
Santa Cruz, e depois exilado em Portugal. Volta ao Brasil
em 1945, com o fim do Estado Novo, e funda o Partido da Representação
Popular (PRP). Em 1955, concorre à Presidência
da República e chega em último lugar. Elege-se
deputado federal em 1958 e 1962 pelo PRP, e em 1966 e 1970
pela Arena. Membro da Academia Paulista de Letras, escreve
romances, ensaios e obras políticas.
Aliança
Nacional Libertadora – O agravamento das condições
de vida das massas urbanas e rurais, e as tendências
autoritárias de Vargas fornecem os ingredientes para
formar a Aliança Nacional Libertadora (ANL), em março
de 1935. A ANL é uma grande frente política
formada por ex-tenentes, comunistas, socialistas, líderes
sindicais e liberais alijados do poder. O capitão da
Marinha Hercolino Cascardo, líder da revolta do couraçado
São Paulo na Revolução Paulista de 1924,
é escolhido para dirigi-la. Luís Carlos Prestes,
ex-chefe da Coluna Prestes e já militante do Partido
Comunista, é indicado seu presidente de honra. A ANL
defende a suspensão definitiva do pagamento da dívida
externa, ampliação das liberdades civis, proteção
aos pequenos e médios proprietários de terra,
reforma agrária nos latifúndios improdutivos,
nacionalização das empresas estrangeiras e instauração
de um governo popular.
Movimento nacional
– Formada à semelhança das frentes populares
antifascistas e antiimperialistas da Europa, a ANL é
o primeiro movimento de massas de caráter nacional.
Em apenas 3 meses forma 1.600 núcleos, principalmente
nas grandes cidades. Só no Rio de Janeiro inscrevem-se
mais de 50 mil pessoas. Congrega operários, estudantes,
militares de baixa patente e membros da classe média.
Seu rápido crescimento assusta as classes dominantes.
Surgem campanhas contra a "ameaça comunista".
Getúlio Vargas começa a reprimir os militantes
e, em 11 de julho de 1935, decreta a ilegalidade da ANL e
manda fechar suas sedes.
INTENTONA
COMUNISTA
Após
o fechamento da ANL, o Partido Comunista começa a preparar
uma insurreição armada. Em 23 de novembro de
1935 estoura em Natal um levante de militares ligados ao partido.
No dia seguinte, o mesmo ocorre no Recife e, no dia 27, no
Rio de Janeiro. A rebelião fica restrita aos muros
dos quartéis, mas serve de argumento para o Congresso
decretar estado de sítio. A polícia, dirigida
por Filinto Müller, desencadeia violenta repressão
aos comunistas.
GOLPE
DE ESTADO
O estado de
sítio aumenta o poder de Vargas e de alguns altos oficiais
do Exército e da própria polícia. Crescem
a repressão aos movimentos sociais e a conspiração
para instaurar uma ditadura no país. É nesse
clima que se inicia a campanha para as eleições
presidenciais, previstas para janeiro de 1938.
Campanha eleitoral
– Três candidatos são lançados à
Presidência. O paulista Armando de Sales Oliveira é
apoiado pelos partidos Constitucionalista (sucessor do Partido
Democrático) e Republicano Mineiro, pelo governador
gaúcho, José Antônio Flores da Cunha,
e por facções liberais de outros Estados. O
paraibano José Américo de Almeida é apoiado
pelo Partido Libertador do Rio Grande do Sul, pelo governo
de Minas e pela maioria das oligarquias nordestinas. O terceiro
candidato é o integralista Plínio Salgado. Vargas
declara seu apoio a José Américo, mas, ao mesmo
tempo, encomenda secretamente ao jurista Francisco Campos,
simpatizante do fascismo e futuro Ministro da Justiça,
uma nova Constituição para o Estado autoritário
que pretende estabelecer.
Plano Cohen
– Em 30 de setembro de 1937 o general Góis Monteiro,
chefe do Estado-maior do Exército, divulga à
nação o "tenebroso" Plano Cohen: uma
suposta manobra comunista para a tomada do poder através
da luta armada, assassinatos e invasão de lares. O
Plano não passa de uma fraude forjada por membros da
Ação Integralista para justificar o golpe de
estado. Frente à "ameaça vermelha",
o governo pede ao Congresso a decretação de
estado de guerra, concedido em 1º de outubro de 1937.
É o início do golpe.
O golpe – Com
o golpe já em andamento, Getúlio reforça
suas alianças com o governador de Minas, Benedito Valadares,
e de vários Estados do Nordeste. Em 10 de novembro
de 1937 as Forças Armadas cercam o Congresso Nacional
e, à noite, Vargas anuncia em cadeia de rádio
a outorga da nova Constituição da República,
elaborada pelo jurista Francisco Campos. A quarta Constituição
do país e terceira da República, conhecida como
"a polaca" por inspirar-se na Constituição
fascista da Polônia, institui a ditadura do Estado Novo.
Constituição
de 1937 – A Constituição outorgada acaba com
o princípio de harmonia e independência entre
os três poderes. O Executivo é considerado "órgão
supremo do Estado" e o presidente é a "autoridade
suprema" do país: controla todos os poderes, os
Estados da Federação e nomeia interventores
para governá-los. Os partidos políticos são
extintos e instala-se o regime corporativista, sob autoridade
direta do presidente. A "polaca" institui a pena
de morte e o estado de emergência, que permite ao presidente
suspender as imunidades parlamentares, invadir domicílios,
prender e exilar opositores.
ESTADO
NOVO
A ditadura
Vargas, ou Estado Novo, dura oito anos. Começa com
o golpe de 10 de novembro de 1937 e se estende até
29 de outubro de 1945, quando Getúlio é deposto
pelos militares. O poder é centralizado no Executivo
e cresce a ação intervencionista do Estado.
As Forças Armadas passam a controlar as forças
públicas estaduais, apoiadas pela polícia política
de Filinto Müller. Prisões arbitrárias,
tortura e assassinato de presos políticos e deportação
de estrangeiros são constantes. Em 27 de dezembro de
1939 é criado o Departamento de Imprensa e Propaganda
(DIP), responsável pela censura aos meios de comunicação,
pela propaganda do governo e pela produção do
programa Hora do Brasil.
As bases do
regime – O Estado Novo é apoiado pelas classes médias
e por amplos setores das burguesias agrária e industrial.
Rapidamente Vargas amplia suas bases populares recorrendo
à repressão e cooptação dos trabalhadores
urbanos: intervém nos sindicatos, sistematiza e amplia
a legislação trabalhista. Sua principal sustentação,
porém, são as Forças Armadas. Durante
o Estado Novo elas são reaparelhadas com modernos armamentos
comprados no Exterior e começam a intervir em setores
considerados fundamentais para a segurança nacional,
como a siderurgia e o petróleo. A burocracia estatal
é outro ponto de apoio: cresce rapidamente a abre empregos
para a classe média. Em 1938, Vargas cria o Departamento
Administrativo do Serviço Público (Dasp), encarregado
de unificar e racionalizar o aparelho burocrático e
organizar concursos para recrutar novos funcionários.
Propaganda
– No início dos anos 40 o Estado Novo alcança
certa estabilidade. Os inimigos políticos já
estão calados e as ações conciliatórias
com os diversos setores da burguesia evitam oposições.
Na época, o jornal O Estado de S. Paulo, sob controle
direto do DIP, não cansa de publicar editoriais exaltando
o espírito conciliador do ditador. Um deles, por exemplo,
diz que Vargas é um "homem sem ódio e sem
vaidade, dominado pela preocupação de fazer
o bem e servido por um espírito de tolerância
exemplar, sistematicamente devotado ao serviço da Pátria".
Inúmeros folhetos de propaganda enaltecendo o caráter
conciliador de Vargas e sua faceta de "pai dos pobres"
são produzidos pelo DIP e distribuídos nos sindicatos,
escolas e clubes.
REVOLTA
INTEGRALISTA
Os integralistas
apóiam o golpe de estado desde a primeira hora mas
não conseguem participar do governo. Sentem-se logrados
quando Vargas extingue a Ação Integralista Brasileira
junto com os demais partidos. Formam então a Associação
Brasileira de Cultura e passam a conspirar contra o ditador.
Tentam um primeiro golpe em março de 1938, mas são
prontamente reprimidos. Dois meses depois organizam a invasão
do Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, com o objetivo
de assassinar Vargas. A guarda do Palácio resiste ao
ataque até chegarem tropas do Exército. Vários
integralistas são presos e alguns executados no próprio
Palácio.
POLÍTICA
EXTERNA NO ESTADO NOVO
Dois anos depois de instalada a ditadura Vargas começa
a Segunda Guerra Mundial. Apesar das afinidades do Estado
Novo com o fascismo, o Brasil se mantém neutro nos
três primeiros anos da guerra. Vargas aproveita-se das
vantagens oferecidas pelas potências antagônicas
e, sem romper relações diplomáticas com
os países do Eixo – Alemanha, Itália, Japão
–, consegue, por exemplo, que os Estados Unidos financiem
a siderúrgica de Volta Redonda.
Rompimento
com o Eixo – Com o ataque japonês à base americana
de Pearl Harbour, no Havaí, em dezembro de 1941, aumentam
as pressões para que o governo brasileiro rompa com
o Eixo. Em fevereiro de 1942 Vargas permite que os EUA usem
as bases militares de Belém, Natal, Salvador e Recife.
Como retaliação, forças do Eixo atacam
navios mercantes brasileiros ao longo da costa. Nos dias 18
e 19 de agosto de 1942, cinco deles – Araraquara, Baependi,
Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará – são
torpedeados por submarinos alemães. Morrem 652 pessoas
e Vargas declara guerra contra a Alemanha e a Itália.
Brasil na Segunda
Guerra – A Força Expedicionária Brasileira (FEB)
é criada em 23 de novembro de 1943. Em 6 de dezembro,
a Comissão Militar Brasileira vai à Itália
acertar a participação do Brasil ao lado dos
aliados. O primeiro contingente de soldados segue para Nápoles
em 2 de julho de 1944 e entra em combate em 18 de setembro.
Os pracinhas brasileiros atuam em várias batalhas no
vale do rio Pó: tomam Monte Castelo em 21 de fevereiro
de 1945, vencem em Castelnuovo em 5 de março e participam
da tomada de Montese em 14 de abril. Ao todo são enviados
cerca de 25 mil homens à guerra. Morrem 430 pracinhas,
13 oficiais do Exército e oito da Aeronáutica.
Em agosto de 1931, durante o governo provisório, Vargas
suspende o pagamento da dívida externa. No mesmo ano,
reinicia a política de valorização do
café e cria o Conselho Nacional do Café. Em
1º de junho de 1933 cria também o Instituto do
Açúcar e do Álcool (IAA) para coordenar
a agricultura canavieira, controlar a produção,
comércio, exportação e preços
do açúcar e do álcool de cana. Vargas
desenvolve uma intensa política de promoção
da indústria e intervém fortemente na economia.
CRISE
DA ECONOMIA CAFEEIRA
A política de valorização do café
é mantida durante toda a Era Vargas. Entre 1930 e 1945,
o governo chega a comprar e destruir cerca de 80 milhões
de sacas de café. A medida, no entanto, alimenta um
círculo vicioso pois as repetidas supersafras continuam
forçando a queda dos preços do produto no mercado
internacional. A crise da cafeicultura estimula a exploração
de novos produtos, como frutas, algodão, óleos
vegetais e minérios, mas seus rendimentos não
conseguem equilibrar o balanço de pagamentos do país.
A Segunda Guerra Mundial interrompe as vendas de algodão
para o Japão e Alemanha, feitas em grandes volumes
até 1939.
Crise no balanço
de pagamentos – A redução das receitas com as
exportações e o menor afluxo de capitais para
o país devido à crise econômica que precede
a guerra desequilibram o balanço de pagamentos entre
1931 e 1939. Para contornar o problema, Vargas promove sucessivas
desvalorizações da moeda e adota medidas que
desagradam aos investidores internacionais: reduz a margem
de remessa de lucros, suspende os pagamentos dos juros da
dívida externa e recusa-se a pagar parte substancial
da dívida pública negociada com os bancos estrangeiros.
A redução das divisas e da capacidade de importar
favorecem o desenvolvimento da indústria.
DESENVOLVIMENTO
INDUSTRIAL
Entre 1930
e 1945 o país passa por um surto de desenvolvimento
industrial. Na década de 30 o crescimento da indústria
é de 125% ao ano, em média, enquanto a agricultura
cresce a uma taxa de 20%. Durante a Segunda Guerra o crescimento
industrial cai para 5,4% ao ano, mas o setor consegue avançar
pela superutilização dos equipamentos já
instalados. Nesse período, o Brasil chega a exportar
tecidos para a América Latina, África do Sul
e Estados Unidos. A expansão industrial continua no
pós-guerra e, em meados da década de 50, a indústria
supera a agricultura na composição do Produto
Nacional Bruto.
Intervencionismo
estatal – O governo getulista tem papel fundamental na expansão
do parque industrial do país. Ele institui tarifas
protecionistas, dá incentivos fiscais às indústrias,
amplia o sistema de crédito, controla os preços
e estabelece uma política de contenção
salarial. O Estado também faz investimentos diretos
na ampliação dos setores de energia, transportes
e na indústria de base, como a siderúrgica –
áreas que não interessam aos capitalistas nacionais
porque têm um retorno lento e exigem grandes capitais.
Em 1941, com dinheiro público e financiamento do Eximbank
norte-americano, Vargas monta a Companhia Siderúrgica
Nacional, que só começa a operar em 1946 com
a inauguração da usina de Volta Redonda - ver
foto acima -, no Rio de Janeiro. Em 1942 cria a Companhia
Vale do Rio Doce para explorar minério de ferro. No
mesmo ano baixa um plano de saneamento econômico, desvaloriza
a moeda e substitui o mil-réis pelo cruzeiro.
Dependência
externa – A expansão das atividades industriais não
diminui a dependência da economia brasileira em relação
ao exterior. A maior produção de bens de consumo
exige mais importações de bens de capital, matérias-primas
e combustíveis. Mantém-se o desequilíbrio
do balanço de pagamentos. As emissões de moeda
e os empréstimos externos são freqüentes.
O resultado é uma inflação constante
durante todo o governo Vargas.
Sociedade
na Era Vargas
Com o aprofundamento
da crise do café a partir de 1930 e a política
industrializante de Vargas, a burguesia cafeeira passa a dividir
o poder com a burguesia industrial em ascensão. As
classes médias ampliam sua participação
na vida política do país, inclusive com o surgimento
do movimento estudantil. A classe operária cresce consideravelmente,
mas é controlada pelo Estado por meio dos sindicatos,
da legislação trabalhista e da repressão
direta. Em 1930 é criado o Ministério da Educação
e Saúde. A Constituição de 1934 torna
o ensino primário obrigatório e propõe
a expansão gradativa dessa obrigatoriedade aos outros
níveis de ensino.
CONTROLE
DOS SINDICATOS
Em 26 de novembro
de 1930 é criado o Ministério do Trabalho, Indústria
e Comércio. No ano seguinte o Estado amplia o controle
sobre os trabalhadores com a lei da sindicalização:
a participação de estrangeiros na diretoria
dos sindicatos é limitada, o mandato dos diretores
sindicais é de apenas um ano, sem direito à
reeleição. As entidades são proibidas
de desenvolver qualquer atividade política e seus estatutos
e contabilidade precisam ser aprovados pelo Ministério
do Trabalho. Mesmo com essas restrições, o período
é marcado por um grande número de greves lideradas
por comunistas e socialistas.
Corporativismo
– Em 1939, uma nova lei sindical inspirada na Carta del Lavoro
da Itália fascista implanta o corporativismo nas entidades
de trabalhadores. As organizações sindicais
são entendidas como órgãos de colaboração
de classe e base do poder do Estado. O governo cancela o registro
dos sindicatos, dissolve as antigas diretorias e indica homens
de sua confiança para as novas funções
– os chamados "pelegos". Proíbe as greves
e quaisquer atividades de protesto. Institui também
o imposto sindical: cada trabalhador deve pagar por ano o
valor correspondente a um dia de trabalho. Do total recolhido,
20% ficam com o governo e 80% com os sindicatos, sob controle
do Ministério do Trabalho.
Conquistas
trabalhistas – O governo Vargas atende a várias reivindicações
operárias. Em 1932 a jornada de trabalho passa a ser
oficialmente de oito horas e o trabalho da mulher e do menor
é regulamentado. É estabelecido o princípio
de salário igual para trabalho igual e as mulheres
ganham o direito à licença-maternidade de dois
meses. A lei de férias, criada em 1926, é regulamentada
em 1933, mas apenas algumas categorias de trabalhadores urbanos
gozam de tal direito. Ainda em 1933, a previdência social
começa a ser organizada sob o controle do Estado e
são criados os institutos de aposentadorias e pensões
(IAPs). Eles praticamente eliminam as antigas entidades assistenciais
dos trabalhadores e colaboram para aumentar a força
do Estado com os imensos recursos recolhidos dos assalariados
e das empresas.
CLT – Em 1940
é instituído o salário mínimo
com o objetivo de reduzir a pauperização dos
trabalhadores urbanos e ampliar o mercado para as indústrias
de bens de consumo leve. Em 10 de novembro de 1943 entra em
vigor a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT),
que reúne todas as resoluções tomadas
desde 1930 na área trabalhista, sempre apresentadas
como uma "doação" do Estado e do próprio
Getúlio.
MOVIMENTO
ESTUDANTIL
Em 1932 estudantes
secundaristas e universitários paulistas participam
ativamente da Revolução Constitucionalista.
Em 1939 é fundada aUnião Nacional dos Estudantes
(UNE) que, em 4 de julho de 1942, comanda uma grande manifestação
popular antifascista no Rio de Janeiro. Em 1º de dezembro
de 1943, Hélio Mota, presidente do Diretório
Acadêmico 11 de Agosto, da faculdade de direito da USP,
é preso em São Paulo. Dez dias depois, uma passeata
estudantil por sua libertação é reprimida.
A polícia atira na multidão e dois estudantes
morrem. O fato intensifica as manifestações
estudantis pelo fim do Estado Novo.
BANDITISMO
SOCIAL
O banditismo
social é um fenômeno presente em vários
países associado a um quadro de intensa miséria
e injustiça social. No Brasil, desenvolve-se no sertão
nordestino e é conhecido como cangaço. Suas
origens remontam ao Império. Entre 1877 e 1879 grupos
armados começam a assaltar fazendas e armazéns
e a distribuir víveres aos flagelados da seca. O cangaço
cresce alimentado pelas lutas de família no interior
do Nordeste. Muitos "coronéis" contratam
bandos de cangaceiros para eliminar seus inimigos ou defender
suas propriedades. Entre os principais líderes destaca-se
Antônio Silvino, que chega a ser conhecido como "governador
do sertão". Até sua captura, em 1914, Silvino
mobilizou as polícias do Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba e Pernambuco, atacando cidades, fazendas
e tropas do governo. O mais conhecido, porém, é
Virgulino Ferreira, o Lampião, chamado de "o rei
do cangaço", famoso mais pela truculência
de seu bando do que por sua generosidade.
Virgulino Ferreira
Lampião (1900-1938), o rei do cangaço, nasce
em Vila Bela, atual Serra Talhada, em Pernambuco. Começa
a atuar em 1916, quando seus pais são mortos por um
"coronel". Com os irmãos, foge para o interior
e junta-se a um grupo de "bandidos". Ganha o apelido
de Lampião entre 1918 e 1919: nos enfrentamentos com
a polícia – os "macacos" –, gaba-se que sua
espingarda não pára de ter clarão, "tal
qual um lampião". O grupo de Lampião é
um dos mais violentos: cercam e invadem cidades, vilarejos
e fazendas e seus assaltos são marcados por estupros,
saques, incêndios e execuções sumárias.
Na época da Coluna Prestes, é convidado por
Floro Bartolomeu, chefe político ligado ao padre Cícero,
para ajudar o governo no combate aos tenentes. Lampião
teria aceito e com isso armado melhor seu bando. Seu quartel-general
é o sertão de Sergipe e Bahia, mas o bando atua
também de Alagoas ao Ceará. Em 1929 conhece
Maria Bonita em Paulo Afonso, cidade baiana nas margens do
rio São Francisco. Ela abandona o marido, um sapateiro,
integra-se ao bando e tem uma filha com Lampião, Maria
Expedita. Apesar de perseguidos e das várias tentativas
de liquidá-los, os cangaceiros resistem até
1938. Em 8 de julho são surpreendidos e cercados por
uma tropa volante na fazenda de Angicos, no sertão
de Sergipe. Morrem 11 cangaceiros, inclusive Lampião
e Maria Bonita. Suas cabeças são cortadas e,
durante anos, conservadas no Museu da Faculdade de Medicina
da Bahia. O ciclo do cangaço encerra-se definitivamente
em 1940, com a morte de Corisco, último sobrevivente
do grupo de Lampião.
Cultura
na Era Vargas
A revolução
estética proposta pelo movimento modernista de 1922
consolida-se a partir da Revolução de 30. A
tensão ideológica de toda a Era Vargas se faz
presente na produção cultural. A literatura,
por exemplo, é considerada um instrumento privilegiado
de conhecimento do ser humano e de modificação
da realidade.
Literatura
– Poetas como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade
e romancistas como José Lins do Rego atingem a maturidade.
Surgem novos escritores, como Érico Veríssimo,
Jorge Amado e Graciliano Ramos. Na poesia, de linha intimista,
sobressaem Cecília Meireles e Vinícius de Moraes.
Mais para o final do Estado Novo destacam-se João Cabral
de Melo Neto na poesia de temas regionais, Clarice Lispector,
na prosa de ficção, e Guimarães Rosa,
um dos mais importantes romancistas brasileiros.
Arquitetura
e artes plásticas – Na arquitetura destacam-se Lúcio
Costa, que projeta o prédio modernista do Ministério
da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro,
e Oscar Niemeyer que, em 1942, planeja em Belo Horizonte o
Conjunto da Pampulha. A obra inova nas linhas arquitetônicas
e na decoração, feita com azulejos e painéis
do pintor Cândido Portinari.
Música
e teatro – No teatro, surge o dramaturgo Nélson Rodrigues.
Em 1943 ele estréia no Rio de Janeiro a peça
Vestido de noiva, que incorpora padrões teatrais revolucionários
para a época. A música popular dá um
salto de qualidade com o trabalho de compositores como Pixinguinha,
Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, Ismael Silva e Ataulfo
Alves. Na música erudita, Villa-Lobos compõe
as Bachianas brasileiras, unindo Bach e a música folclórica
nacional.
FONTE:
http://www.conhecimentosgerais.com.br/historia-do-brasil/era-vargas.html
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