O
ciclo do cangaço ou do banditismo social durou, no Brasil,
setenta anos: 1870 a 1940. Foi típico do Nordeste. Geralmente
o bandido social é membro de uma sociedade rural e, por várias
razões, encarado como proscrito ou criminoso pelo Estado e
pelos grandes proprietários. Apesar disso, continua a fazer
parte da sociedade camponesa de que é originário e é considerado
como herói por sua gente, seja ele um "justiceiro", um "vingador"
ou alguém que rouba aos ricos.
Cangaço
seria uma palavra derivada de canga, que é a peça de madeira
que prende os bois ao carro ou ao arado, exprimindo, portanto,
o fato de a pessoa estar submetida ao senhor. O sertão nordestino
foi sendo conquistado aos índios através da expansão das fazendas
de gado. O gado possuíam marcas de ferro para serem identificados
e muitas vezes invadiam outra fazendas ou eram roubados por
bandos de assaltantes. Um outro fato era a questão da
herança.
Com
a morte do proprietário, o filho mais velho era o único
herdeiro, enquanto os outros ficavam em total miséria. Os
grandes proprietários procuravam conquistar o direito
de figurar como autoridades governamentais em suas áreas,
o que também gerava divisões entre eles; todos queriam ser
coronéis. O aumento da produção algodoeira no Nordeste, final
do século XIX, modificou a economia do sertão.
A
situação do Nordeste vai se agravando com a seca que assola
toda região provocando desemprego seguido de fome e miséria,
com isso muitos nordestinos se organizam em bandos para assaltar
e conseguir alimentos, surgem também grupos para combater
desmandos ou injustiças de algum coronel ou ainda para resistir
ao alistamento militar. Diante deste quadro, podemos destacar
o aparecimento e a formação dos bandos autônomos de cangaceiros,
independentes dos proprietários rurais.
É
bom lembrar que muitos coronéis tinham verdadeiros interesses
na manutenção e contato com os bandos, por precisarem dos
seus serviços. Estes coronéis foram chamados de coiteiros,
pois encondiam e protegiam os cangaceiros, fornecendo-lhes
muitas vezes alimentos e munição. Dentre os bandos mais famosos,
conhecidos pelos nomes dos seus líderes, podemos destacar:
João Calangro, Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e Lampião,
o "Rei do Cangaço" de quem vamos relatar a seguir.
LAMPIÃO
(
VIRGULINO FERREIRA DA SILVA )
Cangaceiro
brasileiro de Vila Bela, atual Serra Talhada em Pernambuco,
nasceu em 1897 e morreu em Angicos, Sergipe em 1938. Começou,
por volta de 1917, a vida de cangaço de Virgulino, que conquistou
o apelido de Lampião, num de seus encontros com a polícia,
quando gabava-se de que no decorrer de uma luta, sua espingarda
não deixara de ter clarão, "tal qual um lampião".
As
lutas de famílias propiciaram o banditismo, em que coiteiros,
por hostilidade ao inimigos de Lampião, ou temor de represálias
que não tinham limites, cooperavam para o insucesso da perseguição
policial. Com Lampião, vigorou a lei do extermínio,
indo do estupro ao incêndio, do saque ao assassinato
frio. Na época da Coluna de Prestes, Lampião foi convidado
a colaborar com o governo por intermédio do Padre Cícero,
que lhe ofereceu a patente de capitão.
Aproveitou-se
do momento para armar melhor todo o su bando. Fazia dos sertões
de Sergipe e da Bahia seu quartel-general, de onde irradiava
sua influência para os outros Estados do Nordeste, como Alagoas,
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Chegou a
investir contra a cidade de Mossoró, que só se salvou pela
ação de seus moradores. Cercou e dominou várias cidades e
povoados da região, saqueando o comércio, devastando fazendas,
sacrificando vidas. Em 1929, Lampião conheceu Maria Bonita,
que abandonou o marido para acompanhá-lo.
Morreu
em 1938, na Fazenda do Angico, em Sergipe, onde foi surpreendido
pela volante de João Bezerra, da polícia de Alagoas, juntamente
com Maria Bonita e alguns de seus companheiros. Os cadáveres
foram mutilados. As cabeças de Lampião, Maria Bonita, Luís
Pedro e outros ficaram, quase 30 anos, exportas ao público,
em Salvador, no Museu Nina Rodrigues. As façanhas de Lampião
geraram todo um ciclo na literatura de cordel do Nordeste.
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