Planos de Estabilização
Econômica no Brasil
Os planos de
estabilização econômica no Brasil passaram a ser implantados
a partir do final do processo de abertura política no país.
José Ribamar Sarney, o presidente que assumiu o cargo através
da última eleição presidencial indireta no país, foi o primeiro
a tomar medidas destinadas ao combate à inflação, sendo este
o processo que consiste basicamente na paulatina desvalorização
da moeda no mercado. O quadro inflacionário foi uma espécie
de herança deixada pelos governos anteriores, que manipulavam
a economia com mão de ferro, tendo participação monopolista
em setores da indústria de base no país.
No ano de 1986,
o governo Sarney, através da equipe do ministro da Fazenda
Dílson Funaro, tomou medidas que logo se tornaram bastante
populares: o congelamento de preços e o aumento real dos salários.
A moeda no país passou a ser o Cruzado. A política econômica
externa baseou-se em medidas drásticas como a decretação da
moratória, em que o pagamento das dívidas externas seria suspenso.
Enquanto a inflação chegou a declinar fortemente, houve grande
aumento do consumo no país. Especialistas apontam a explosão
de consumo como um dos fatores que concorreram para o malogro
do plano econômico. Em um ano, os preços voltaram a subir,
logo após as eleições para governadores dos estados. Outro
fator apontado com relação à falha do plano foi a incapacidade
do governo com relação à contenção das despesas públicas.
O fracasso do Plano
Cruzado sofreu tentativa de emenda com um novo plano econômico:
o Plano Bresser, criado pela equipe econômica do então ministro
da Fazenda Luís Carlos Bresser Pereira. Tal plano passou a
assistir aos problemas gerados a partir dos gastos públicos.
A política externa da moratória teve prosseguimento, porém
a pressão dos países credores foi um dois fatores que também
arruinaram este plano. As medidas internas consistiram no
congelamento de preços e salários e ainda na tentativa de
alinhamento de preços, sobretudo dos preços de mercadorias
em que não havia grande concorrência. Ainda no governo Sarney,
no ano de 1989, o novo ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega
lançou o chamado Plano Verão. Este plano procurou dar combate
à inflação através do controle das dívidas dos setores públicos.
As primeiras tentativas de privatização das empresas estatais
foram realizadas, ainda que em escala muito reduzida. O malogro
deste plano caracterizou não só a incapacidade do governo
quanto à contenção dos índices inflacionários, mas também
gerou um grande quadro recessivo, em que os índices de desemprego
tornaram-se alarmantes.
Os planos econômicos
no país continuaram sucessivos depois da primeira eleição
presidencial direta no país convocada após o período militar.
O candidato vitorioso, Fernando Collor de Mello, enfatizou,
em sua campanha, o controle da inflação e a moralização do
setor público. Através da equipe econômica da ministra da
Fazenda Zélia Cardoso de Melo, medidas drásticas foram tomadas,
causando grande perplexidade em todo o país: foi decretado
o confisco temporário de valores líquidos em aplicações financeiras
e contas bancárias particulares do país inteiro. Paralelamente,
outras medidas foram iniciadas: grande demissão de funcionários
dos setores públicos, abertura da economia ao mercado internacional
através da redução das alíquotas de importação. A moeda nacional
volta a ser o cruzeiro. Enquanto o plano foi apontado como
uma tentativa artificial de valorização da moeda através do
enxugamento desta no mercado, alguns especialistas econômicos
deram crédito às medidas orientadas para a privatização de
empresas estatais. Após o impeachment de Collor, acusado
de corrupção, o governo prosseguiu com Itamar Franco , empossado
no cargo da presidência. O ex-ministro das Relações Exteriores
do governo de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, assume
a partir de 1994 a pasta do ministério da Fazenda, lançando
logo em seguida o Plano Real. Este plano manteve aparentemente
algumas características do plano anterior, buscando acelerar
o processo de privatização das empresas estatais no país e
colocando as empresas nacionais em concorrência com o mercado
internacional através da abertura gradual das importações.
Por outro lado, o governo buscou discriminar e reduzir os
gastos públicos, além de controlar a economia através da elevação
das taxas de juros. A moeda passou a ser o Real. O Plano Real
teve prosseguimento após as eleições presidenciais em que
Fernando Henrique saiu vitorioso. Algumas consequências negativas
deste plano são apontadas: os índices de desemprego aumentaram
gravemente e um quadro recessivo faz-se cada vez mais presente.
Governo
Fernando Collor de Mello
O ex-governador
do estado de Alagoas, Fernando Collor, ocupou o cargo na Presidência
da República durante um curto período, estendido entre 15
de março de 1990 a 29 de dezembro de 1992, tendo sido afastado
através do impeachment por decorrência de acusações
de corrupção. Tendo sido o primeiro presidente civil empossado
por eleições diretas desde 1960, a campanha presidencial de
Fernando Collor ironicamente baseou-se sobretudo na "caça"
à corrupção existente na máquina estatal, gerando ampla simpatia
dos eleitores e derrotando assim, no segundo turno, o candidato
Luís Inácio Lula da Silva, um dos principais líderes dos movimentos
da esquerda no Brasil. Fernando Collor teve o apoio dos setores
conservadores em sua campanha, setores estes interessados
na derrota do candidato de esquerda.
O governo de Fernando
Collor de Mello foi responsável por medidas pungentes: em
seu plano de estabilização econômica, criado pela equipe de
economistas liderada por Zélia Cardoso de Melo, foi empreendido
um grande confisco de dinheiro de contas bancárias, com objetivos
de estabilização dos índices inflacionários no país através
de congelamento de preços e valorização da moeda através da
diminuição de sua quantidade no mercado. Tal medida foi implantada
no país logo no primeiro dia do governo Collor, causando grande
choque e perplexidade tanto em setores de direita como de
esquerda.
Seguindo tendências
políticas neoliberais, que então entravam em voga vários países
europeus, o governo Collor abre a economia brasileira à concorrência
mundial, reduzindo as tarifas de importação. A partir de seu
governo discutiu-se acerca de planos de privatização das empresas
estatais e adoção de uma política contra a intervenção do
Estado como elemento regulador na economia.
Através das medidas
de abertura da economia brasileira ao mercado internacional,
muitas empresas são fechadas, gerando um grande quadro recessivo.
Os objetivos do governo não são alcançados: a inflação volta
a crescer em grande escala, reduzida apenas artificialmente
no início do Plano Collor, através do enxugamento arbitrário
da moeda corrente no mercado.
Não tardaram
a surgir sinais e evidências sobre a corrupção envolvida no
âmbito da máquina estatal: ministros envolvidos em transações
corruptas são desmascarados, como é o caso de Rogério Magri,
então Ministro do Trabalho. Através da notícia do envolvimento
da própria primeira-dama em esquemas de corrupção, gerou-se
grande desconfiança nacional acerca da austeridade do governo.
A desconfiança explode em forma de denúncia através das bombásticas
declarações de Pedro Collor à imprensa. Irmão do presidente,
Pedro Collor denuncia o "esquema PC", em que o empresário
Paulo César Farias, caixa da campanha eleitoral de Collor
e ainda seu amigo pessoal, estava envolvido em atividades
como tráfico de influência e atividades financeiras ilícitas.
Novas denúncias são publicadas mais tarde, acarretando na
formação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no
Congresso. Toda a atenção da imprensa brasileira voltou-se
para as apurações empreendidas pela CPI da Corrupção, gerando
um campanha nacional a favor do impeachment do presidente.
Este negou-se até os últimos dias de seu governo a renunciar
ao cargo da presidência. Amplos movimentos populares mostravam
sua opinião quanto à exigência do impeachment de Collor,
que finalmente foi estabelecido em 29 de dezembro de 1992
pelo Parlamento. Houve assim a suspensão dos direitos políticos
de Collor por um período de oito anos. Fernando Collor de
Mello foi substituído por seu vice, Itamar Franco, que buscou
dar prosseguimento ao governo através das linhas gerais já
estabelecidas e assumindo por assim dizer uma postura "populista".
Mais tarde, foi decretada a prisão de Paulo César Farias.
Governo
Itamar Franco
Por ocasião
do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello,
o vice-presidente Itamar Franco assume oficialmente o cargo
da presidência da República a partir da data de 29 de dezembro
de 1992.
As apurações sobre
um amplo esquema de manipulação do orçamento da União, realizado
por ministros e parlamentares do governo Collor, em favorecimento
de empreiteiras e entidades-fantasma não chegaram a afetar
a grande popularidade do presidente Itamar Franco. Seu governo,
como alguns afirmaram, abandonou a postura "agressiva" do
antigo presidente e passou a adotar uma postura política "populista".
Um dos principais
eventos políticos durante o governo de Itamar Franco foi a
realização do plebiscito já previsto pela Constituição de
1988, em que a maioria dos eleitores optou pela continuidade
do presidencialismo republicano, contra uma minoria a favor
do regime monárquico e do sistema parlamentarista.
Tendo obtido
em seu governo um dos maiores índices de popularidade na história
da República no Brasil, o presidente Itamar Franco cumpre
o mandato previsto para o presidente eleito Fernando Collor,
governando até a data de 31 de dezembro de 1994; Fernando
Henrique Cardoso, candidato apoiado por Itamar, é eleito no
primeiro turno.
Governo
Fernando Henrique Cardoso
Ocupando o
cargo de chanceler e, posteriormente, a pasta do Ministério
da Fazenda no governo Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso
implantou no Brasil o Plano Real, orientado através de metas
de estabilização da economia brasileira. No período da sucessão
presidencial de Itamar Franco, Fernando Henrique candidatou-se,
baseando sua campanha eleitoral na continuidade do Plano Real
e ainda afirmando uma necessidade de reformas constitucionais
voltadas para a modernização do país. As principais reformas
constitucionais, às quais Fernando Henrique Cardoso referiu-se,
tratavam da mudança do conceito de empresa nacional, a fim
de modificar a discriminação da entrada do capital estrangeiro
no país, e ainda a quebra dos monopólios nos setores de produção
do petróleo e de telecomunicações no Brasil. Fernando Henrique
Cardoso venceu no primeiro turno da eleição presidencial de
1994, tendo ocupado o cargo a partir de 1 de janeiro de 1995
e com final de mandato previsto para 1999.
Ao passo que o Plano
Real conquistou baixos índices inflacionários ao longo do
mandato de Fernando Henrique Cardoso, foi também gerado um
quadro recessivo preocupante; as importações impingiram grande
concorrência aos produtos das empresas nacionais nos mais
variados setores; os índices de desemprego nas principais
capitais do país tornaram-se alarmantes. As reformas constitucionais
idealizadas pelo governo caminharam em lento processo, não
obtendo ainda nos dias de hoje alguma concretização.
No campo da política,
o governo de Fernando Henrique procurou ampliar sua base de
sustentação no Congresso Nacional para fins de aprovação de
suas propostas para as emendas constitucionais. Este atraso
na promulgação das emendas também acarreta na morosidade do
processo da Reforma Agrária. Os conflitos dos sem-terra agravam-se
cada vez mais nas zonas rurais, como foi o caso do assassinato
de vários trabalhadores rurais sem-terra em Eldorado; a apuração
legal do evento ainda está em andamento. |