"Artorquato"
por Maria Fernanda Lamim

"Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era guia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar"

(último bilhete de Torquato Neto)

Torquato neto, poeta e compositor, figura de destaque no movimento Tropicalista, no Brasil dos anos 70, sob o jugo militar. Saiu de Teresina, onde nasceu, aos 17 anos, veio para o Rio de Janeiro, onde viveu e produziu toda a sua obra. Suicidou-se aos 28 anos de idade, após uma passagem por um hospital psiquiátrico.

O espetáculo "Artorquato" busca biografar Torquato neto sem se prender a datas ou fatos concretos; a viga mestra do espetáculo é o inconsciente do artista, sua subjetividade. Obviamente, seus poemas são citados e muitas músicas com letras de Torquato compõem a trilha sonora. O espetáculo acompanha o protagonista desde sua partida de Teresina até seu suicídio no Rio de Janeiro.

O texto e a direção do psicanalista Antonio Quinet mostram um grande conhecimento da vida e obra do protagonista, bem como uma relação tranqüila com o inconsciente conturbado de um poeta; no entanto, o espaço não é totalmente aproveitado, e as marcações parecem pouco precisas, o que torna o ritmo do espetáculo um pouco irregular, crescendo do meio para o final. O elenco de um modo geral cumpre bem sua tarefa, embora haja uma sutil diferença nos registros de interpretação. Gilberto Gawronski, no papel de Torquato, traz uma composição de personagem segura e uniforme do inicio ao fim da peça.

O cenário de Victor Arruda (um fundo de metal, 4 bancos de metal, alguns livros, uma cama e uma mesa que se transforma em outros objetos) é funcional, embora nem sempre seja favorecido pela iluminação. A Luz de Luiz Paulo Nenen segue a linha não-realista e mostra bom uso das cores. Os figurinos de Luiza Marcier ambientam bem as cenas dos anos 70 sem exageros de caracterização, embora haja algum excesso de alegoria no figurino do anjo torto.

A trilha sonora de José Eduardo Costa Silva é uma das grandes atrações do espetáculo. Além das músicas do próprio Torquato, entram composições feitas especialmente para a peça e outros sucessos dos anos 70. De um modo geral, o espetáculo atinge seus objetivos, mas se afasta do público em alguns momentos, principalmente quando o ritmo cai. Acaba valendo mais a pena para os fãs de Torquato.

Ficha técnica:
Dramaturgia - Antonio Quinet, baseado nos textos de Torquato Neto
Direção - Antonio Quinet
Elenco: Gilberto Gawronski, Cristina Aché, Rodolfo Bottino, Gisela de Castro, Gean Queiroz, Miguel Campello
Cenografia - Victor Arruda
Figurino – Luiza Marcier
Iluminação – Luiz Paulo Neném
Direção Musical: José Eduardo Costa Silva
Programação Visual: Noni Geiger
Direção de Produção - Julio Augusto
Produção Executiva – Wagner Uchôa
Assessoria de Imprensa - João Pontes e Stella Stephany

Serviço:
Local: Centro Cultural Correios
Preço(s): R$ 20,00.
Data(s): 24 de agosto a 1º de outubro.
Horário(s): quinta a domingo, 19h.

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