Hoje as paredes me falaram
Que viram as dores do meu dia a dia,
Espantaram-me com tamanha humanidade.
Surrealidade era pensar que vivia eu uma insanidade.
Olhei para o teto e ele sorria - Não era alegria.
Percebi que era só pra me consolar,
Pra ser meu amigo e não me fazer chorar.
Voltei às paredes, elas giravam.
Fizeram-me rodar com elas,
E voltei até o infame tempo que fui feliz,
E da lembrança sorri.
Parei um momento e perguntei sobre a presença,
E elas disseram que sim, presente o tempo todo estariam,
Vendo as intenções, zelando pelo testemunho de mim.
Desde que neste lugar cheguei,
Foram as companheiras mais assíduas,
E nada a mim fora falado até que precisasse,
Dado o momento, começaram:
- Você foi o que precisava pra se encher,
Pra entender tudo o que era preciso do seu jeito.
A avaria é um vento marcado,
Criado no dia em que a tempestade surge,
Marca no presente o atual do passado; estou amarelado.
- Pouco te vi detrás dos armários,
Mas tão pouco foi o necessário
Por ouvir sons de tua agonia ao murmurar.
Nas noites que pensava que era em vão teu caminhar.
- Sempre que deitado estava ao teu lado,
Mesmo pensando estar sozinho, era contigo.
Segui teu tempo como algo novo e não esperado.
Desde a construção de toda sua feição,
Nos amores a dois às decepções sozinho.
- Renovei teu ar pra que pudesses respirar.
Foi a razão por teus momentos vividos,
E não cabe a ti acabar.
Tua oração foi por momentos não frigidos,
Quanto às emoções, foi tudo o que pode amar.
Dentre as lógicas que aprendi,
Fico com as das paredes -
Elas viveram o que vivi.