Era véspera de natal, estava indo passar as comemorações natalinas em Friburgo com a família da minha namorada, estava um pouco indeciso quanto a isso, seria um a experiência nova, nunca tinha passado o natal longe de casa, decidi então me presentear, iria comprar um livro e ficaria tudo ótimo, seria meu companheiro, meu mundo à parte no refúgio de uma nova experiência. Sem muita pretensão fui até um Sebo Onde trabalha meu amigo Waldir, chegando lá falei logo sem pensar: - Waldir preciso de um livro cascudo, grosso que vá me dar trabalho de ler, pois vou para Friburgo e preciso de algo para passar o tempo naquela pacata cidade. Ele foi logo puxando um livro da estante de literatura estrangeira, e sem pensar tomei o livro de suas mãos e disse: -É esse mesmo! Olhei com inocência, havia uma imagem antiga dois muleques na capa com trajes escolares fumando cigarro, pensei comigo mesmo como as pessoas começavam a fumar mais cedo antigamente, cigarro hoje está muito dêmode, perguntei quanto era ele disse que dava um desconto, sem pensar dei logo o dinheiro, sai com o livro embaixo do braço e por instante parei no meio da rua e disse a mim mesmo: - Kao, eis aqui seu presente de natal. - Obrigado Kao, você é muito gentil e atencioso, que maluco que sou!

Encostei meu livro na estante durante uns três dias, no dia da viagem coloquei na mochila e parti, ao entrar no veículo que me conduzia pela estrada serrana uma mágica aconteceu, eu não conseguia tirar os olhos das páginas que passavam num ritmo frenético de minuto em minuto, não importava o lugar, sentado no trono do banheiro, na cama, no banco da praça em meio à fina garoa, lá estava eu lendo livro, não conseguia parar, havia tempo que um livro não exercia tal química sobre mim, só parei quando terminei a página de número 490, e naquele momento tocava no rádio goodbye yellow brickroad e uma lágrima não assumida escorreu no cantinho do meu rosto, pois sabia qua a partir daquele momento aquela história não faria mais parte da minha vida.

Tudo bem que gosto é gosto e cada um tem o seu, mas não podia perder a oportunidade de falar sobre esse livro, Bem-Vindo ao Clube de Jonathan Coe. Coe conta a história de quatro amigos de colégio que acompanharam fortes acontecimentos que mudariam para sempre a Inglaterra, o ano era 1973, e a trilha sonora Rock Progressivo, as ruas viviam cheias de manifestações operárias, greves frequentes, revolta juvenil e IRA estava detonando na época ( no sentido literal da palavra).

Era uma época de renascença cultural, imigrantes jamaicanos dispersavam o Ragga entre a juventude inglesa, bandas como Clash estavam surgindo contrapondo às viagens alucinógenas progressivas, surgia uma nova regra nas ruas, o movimento punk estava sendo ejaculado ali, tudo visto por um adolescente, Doug, filho de um sindicalista, com suas dúvidas, incertezas e seus amores.

De maneira complexa Jonathan Coe faz uma analogia sobre um período complexo de forma simples, clara e bem humorada fazendo com que o leitor delicie-se até o último ponto.