Não consigo imaginar nossa geração sem o papel de um homem, ou sei lá se era homem no sentido literal da palavra, Kerouac, Jack Kerouac, o pai da geração beat (que se desvínculou de todo o movimento e negou todas as consequências que sua obra veio causar), autor de uma das obras de maior influência literária do século XX, On the road (Pé na estrada).

Idolatrada como a bíblia da geração beat, a obra de Keroauc abriu o caminho da glória, mas ao mesmo tempo tirou a vida do autor. Não apenas incomodado com a fama instântanea, mas também incomodado pelo fato de ter sido considerado o precursor de toda a contra-cultura, Kerouac pirou num processo de transgressão indo morar com sua mãe, entregando-se ao álcoolismo, distanciando-se dos amigos e de toda sua doutrina pé na estrada. Passou a apoiar idéias reacionárias, defendendo a guerra do Vietnã, e por fim morrendo por complicações álcoolicas aos 47 anos.

Entretanto, vários escritores, artistas, músicos, cineastas foram totalmente influenciados pela literatura "Kerouaciniana" (inventei esse termo, neologismo escroto é comigo mesmo). Difícil imaginar a figura mítica de Bob Dylan (que após ler Kerouac fugiu de casa e deu no que deu), Bukowisk, Jim Morrison, o poeta bebâdo mescalinizado, Beck, Bono Vox (até esse careta!!!!!) e muitos outros sem On the road.

Mas chega desse papo, eu não estou aqui para falar de kerouac, a maioria, ou melhor, a minoria já está cansada de saber dessas histórias, estou aqui para falar da visão de um garoto (bom, ele era garoto na década de 70) que mudou meu ponto de vista em relação a muitas coisas, Sam Kashner, autor do Livro "Quando eu era o tal, minha vida na Jack Kerouac school. Ora bolas, quem é esse tal de Kashner? Você deve estar se perguntando. Nada mais nada menos que o primeiro estudante do instituto Naropa, a até então lendária Jack Kerouac School.

"Quando eu era o tal" é uma piração do começo ao fim, Kashner um pacato garoto de Long Island supria sua necessidade literária com histórias dos Beats, vivendo fantasias com os poemas e histórias de Allen Ginsberg, William Burroughs, Jack Kerouac, Gregory Corso, até que um dia viu a oportunidade de viver entre os seus heróis quando descobriu que Ginsberg havia montado a Jack Kerouac School em Boulder no Colorado. Após convencer seus pais e ganhar um cartão de crédito, Sam partiu para a universidade almejada tornando-se até então o primeiro e único aluno durante meses da Jack Kerouac of Disombodie Poetics, a primeira Universidade Budista da América.

Imagine viver no leito confortável da aba dos pais e de uma hora para outra se deparar com o universo louco Beat, dessa maneira o livro nos mostra a intimidade desses eloquentes escritores e poetas no ponto de vista de um garoto inocente que aprendeu verdadeiras lições de vida com pessoas um tanto fora dos padrões de sanidade mental da sociedade, são diversas situações que nos levam a viajar e se mijar de rir, como a malandragem de Gregory Corso (o mais selvagem dos Beats, o Junkie sem ética, uma figura hilariante) que chegou a sequestrar Kashner, que era seu aluno, na tentativa de arrumar uma grana, ou a vez que teve de viajar com Burroughs para cultivar maconha, ou ter que terminar um poema de Allen Ginsberg sobre um boquete no seu primeiro dia de aula, são histórias piradérrimas, Kashner vivia não só como estudante, mas também como psicólogo, secretário e babá dos beats, não era um serviço fácil ter que cuidar do filho alcóolatra e viciado em heroína de Burroughs e evitar que ele arrumasse encrencas.

Quando eu era o tal nos mostra não só a realidade de como viviam lendários escritores destruindo todo mito em volta deles, mas como também reforça nosso respeito e admiração por eles. Is life worth living? Depends on the liver - A vida vale a pena? Depende do Fígado (Riponche)

Nota do autor: No cinema os primeiros preparativos para o filme baseado na obra On the road já estão sendo agitados e Walter Salles ficou incumbido da tarefa de dirigir o filme, que será rodado entre e 2007 e 2008, e Johnny Deep é um dos favoritos a coadjuvante.