por Jéssica Fulganio

- Conversei este mês com os vocalistas Bernardo e Wagner e com o baixista (e figuraça de plantão) Dudu, do quinteto LIBERPENSULO. Que diabos quer dizer LIBERPENSULO você deve estar se perguntando aí. Bem se você não sabe latim eu não o culpo. Significa livre pensamento. Chique, não? Eu fui conferir de perto que esse caras tinham para oferecer e cá estou, estupefata. Alguns os chamam de “o Heaven Shall Burn (aclamado quinteto alemão de hc death metal) carioca”. E é com um cacife desses que começo o meu papo com os rapazes. Cole os olhos no pc e se divirta:

O Liberpensulo é uma banda relativamente nova, mas apesar disso, conta com um público fiel que se identifica com a proposta da banda. Como isso foi acontecendo em tão pouco tempo?

Bernardo: Acho que a identificação existe em duas maneiras: na música e na proposta literária (não sei se essa é a palavra certa); na música, nós tocamos metal com hardcore, e acho que o tempo que tocamos e o tesão por tocar na banda nos permitiu, com os ensaios, fazer algo bem feito, sincero, e a identificação da galera se dá à isso. É uma recompensa maravilhosa. Por outro lado, a banda é nosso megafone de opiniões e idéias. Usamos ela pra desabafar, retratar, opinar e sugerir coisas de nossas vidas e nisso as pessoas também se identificam.

Wagner: Acredito que as nossas idéias e nossa postura como banda se assemelham com as idéias de muitas pessoas. Creio que isso possa ser o principal motivo de uma identificação e possivelmente até de uma fidelidade do público em relação à banda. Fora isso, contamos com a ajuda de muitos amigos que vêm nos apoiando e ajudando muito.

Dudu: As letras, a proposta e o nosso som realmente ajudaram muito. Mas isso foi acontecendo em tão pouco tempo devido à cena hardcore que apesar de não possuir tanto apoio, graças aos corres das bandas e das pessoas que fazem parte dela, tivemos e temos a chance de mostrar o nosso trampo para pessoas de outros lugares, às vezes distantes dos nossos lares, como Colatina–ES. Também considero importante o fato de que no Liberpensulo todos são amigos de longa data. Dividimos desde moleques, quando tínhamos talvez 15 pra 16 anos, a mesma vontade de ter uma banda, com isso trabalhamos com muita vontade de fazer uma parada maneira e honesta.

Eu tive a honra de estar num ensaio de vocês e percebi que o clima é super descontraído. Os ensaios são sempre assim? Quer dizer, isso seria um fator essencial para o bom andamento das coisas?

Bernardo: Nem sempre... mas na maioria é aquele clima que você presenciou mesmo, quando não rolam manifestações públicas de afeto (risos)... Mas como o Dudu disse, nos conhecemos há muito tempo, e sempre foi assim, muita brincadeira entre a gente, e é claro que isso ajuda muito no desenrolar dos estresses que toda banda proporciona.

Wagner: A honra foi toda nossa pode ter certeza. Mas na época da formação da banda pensamos muito nisso, queríamos montar uma banda e sabíamos que tinha que ser formada por amigos, porque uma banda demanda muito do tempo de quem se envolve com ela e esse tempo tinha que ser prazeroso, se não fosse não tinha razão pra existir. Apostamos que não adiantava ter o mais virtuoso dos músicos tocando do nosso lado se o cara fosse um cara que não compartilhasse.

Dudu: Uma das intenções em ter uma banda é se divertir e não tem nada melhor do que se divertir na companhia de amigos de verdade. A nossa banda já se tornou uma verdadeira família, onde rimos, brigamos, discutimos, nos divertimos, enfim, rola de tudo como em qualquer outra família e isso com certeza ajuda e muito no bom andamento das coisas.

Vocês citam Nietzsche (Eterno Retorno - obra que defende a tese de que o mundo passa indefinidamente pela alternância da criação e da destruição, da alegria e do sofrimento, do bem e do mal). Como essa idéia se desenvolveu? Vocês são adeptos de estudos filosóficos na composição das músicas ou a inspiração parte de outras coisas também?

Bernardo: Quanto as letras/músicas, a banda felizmente tem participação de todos nas composições, e quase todos escrevem letras, além de letra de amigos, como a Eterno Retorno. Particularmente, eu escrevo fazendo uma análise de situações vividas, mas com um olhar bem pessoal, já que não sou um leitor assíduo de filosofias.

Wagner: Na realidade essa letra é do Elias (amigo nosso que participou e incentivou muito o início da banda). Gostamos dessas discussões filosóficas e sociológicas, e Nietzsche é um prato cheio pra isso né? Se você quer encontrar seus amigos e não tem um motivo, leia qualquer coisa do Nietzsche comente com os tais amigos, pronto já esta formada a roda. Acredito que esse alemão maldito queria isso mesmo (risos).... enfim, nossas letras e mensagens são concebidas assim mesmo, alguém lê, vê ou fica sabendo de alguma coisa interessante, traz a discussão pra dentro da banda às vezes com alguma coisa já escrita ou não e daí saem os manifestos em forma de letra, pois não temos presenciado nem visto, muita coisa boa por aí pra falar.

Dudu: Alguns integrantes da banda são adeptos de estudos sociológicos e políticos, eu pelo menos acabei herdando isso da faculdade. Utilizamos as nossas músicas como mais um canal nessa grande roda de discussão.

E o fato de vocês terem tocado com o Confronto e Otra Salida (Argentina). Como foi?

Bernardo: Conheço os caras do Confronto há um bom tempo. Num certo momento tive a oportunidade de cooperar com a mídia e o merchandise deles, isso me fez conhecer os caras e ter a opinião sobre eles que tenho hoje. O Chehuan sempre deu força pra gente, até com a nossas bandas antigas (Faste e Adive), dava toques quanto à gravação, shows e etc. Resumindo, é sempre legal poder tocar com os caras, isso sem contar o óbvio que é brutal tocar com uma banda animal como o Confronto.

Wagner: É sempre bom tocar em eventos com uma infra legal, porque a gente consegue falar para um público maior e diversificado e show com banda grande oferece sempre isso, mas, o que nos deixa mais feliz é poder tocar com os nossos amigos e os caras do Confronto são nossos amigos já há algum tempo, então é sempre um prazer tocar com eles.

Dudu: O show foi bom. Por ele ter sido uma das etapas do Time Bomb, permitiu uma divulgação maior da banda. O show em si foi animal: estrutura legal, diversos amigos presentes e a oportunidade de mostrar o nosso som para mais pessoas. Gostei muito do Otra Salida, assim como no show que eles tocaram com o Ataque Periférico, Agnostic Front e Hatebreed, no ano passado. Eles fizeram um puta show mais uma vez e o Confronto, como sempre, foi animal. Aproveito mais uma vez para agradecer a força que o Confronto nos deu.

Vocês realmente acreditam numa postura hardcore? Vocês não acham que o termo pode englobar muita coisa, muitos estilos de música, por exemplo?

Bernardo: Claro que acreditamos. O termo realmente é muito abrangente hoje em dia; hardcore é uma linha musical e é uma postura. Tirando pela experiência pessoal, o hardcore me influenciou em posturas em diversos momentos da minha vida, socialmente, culturalmente, economicamente, emocionalmente, eticamente, etc. Te dá um olhar diferente, visando liberdade, igualdade, apoio mútuo, amizade, convivência, respeito, luta... A forma como a amizade vive dentro do hardcore, quando é sincera, é algo pra guardar pra sempre.

Wagner: Claro que sim, essa é a nossa "religião", acreditamos que as pessoas só conseguem realizar atos representativos e relevantes quando se desprendem da dependência e dos preconceitos que a sociedade lhes impõe desde a infância e arregaçam as mangas e efetivamente fazem acontecer. Acreditamos que isso, é uma postura hardcore. E pra participar disso não há pré-requisitos básicos, você pode tocar qualquer estilo musical, não precisa se prender à dogmas ou paradigmas. Se associe à pessoas que compartilham desse sentimento e FAÇA VOCÊ MESMO e o mais importante: cague para os que insistem em te amedrontar.

Dudu: Sem sombra de dúvida! Fazemos parte dela e uma vez fisgado já era, não tem volta (risos). Uma cena honesta, saudável, baseada na cooperação, trabalho, apoio, amizade e suor, nos proporciona a chance de divulgar e tocar em diversos lugares, sempre com o espírito do faça você mesmo. A cena, são as pessoas que fazem parte dela, é uma das manifestação de cultura mais honestas e interativas que eu conheço. A oportunidade de trazer bandas de outros estados e de tocar em outros estados sem apoio externo, apenas com o apoio da cena é foda demais. É o que há de melhor nessa bagaça toda.

O que vocês têm ouvido ultimamente?

Bernardo: Eu ouço rap, hardcore, metal e até pop (risos). Mas ultimamente tô mais roqueiro; comprei o Mantra do Shelter que eu adoro e sempre quis ter esse CD; também comprei o novo do Caliban, The Opposite From Within; o novo do Paura, youkillusweovercome e um EP antigo deles que até então, só tinha em mp3, o Reflex of Difference; o gozante The End of Heartache do Killswitch Engage; Shadows are Security do As I Lay Dying; e se o Valente me entregasse (risos), queria ouvir o Causa Mortis do Confronto.

Wagner: Os amigos sempre, Fokismo, S.M.H., Lástima, Enciende, Halé, Nega Odeth, Confronto, Desaire, Naíra, Pau de Sebo, Colegial, Roots of Pain, Verbalence, Ataque Periférico, Uzômi e esperando ansiosamente pra ouvir o Crime Passional e o Norte Cartel.

Dudu: Eu tenho um gosto bem eclético para som. Hardcore e metal estão no topo da lista, mas gosto de muita coisa. Como o Millencolin tocou aqui no Rio (no dia 10/3/06), eu baixei o CD Kingwood e tenho ouvido que nem um louco desde então. Ultimamente tenho ouvido muito Jack Johnson, gosto muito do som desse cara. Ouço também Thrice, As I Lay dying, Alexisonfire, Hopesfall, Confronto, Day of the dead… nossa, não vou terminar nunca! Às vezes eu assisto um DVD Lenine, onde uma puta baixista toca com ele num show que ele fez na França. Gosto muito de Lenine também. Herdei o gosto pela MPB da minha namorada (risos), a Marta.

Existe algum show que tenha sido inesquecível?

Bernardo: Colatina-ES! Pessoas maravilhosas, recepção gentilíssima, show brutal, viagem legal pacas! Mas na moral, tocar no Léo's Bar (Marechal Hermes-RJ), apertado, com nossos amigos ao nosso redor, é indescritível de tão brutal o momento e o sentimento no coração.

Wagner: Todos foram legais, mais o do 911 e os do Léo's Bar são sempre foda, fora os que tocamos fora do Rio, que sempre temos umas surpresas fodonas.

Dudu: Léo's Bar do início desse ano foi brutal demais, inesquecível. O de Colatina-ES foi demais também. A galera de lá é inacreditável, receptiva demais. Ganhamos novos grandes amigos. Há pouco tempo ficamos sabendo que o pico onde tocamos não está rolando mais shows. Esse era o único pico e com isso a galera de lá ficou sem lugar para tocar. Uma pena, pois existe um punhado de bandas fodas por lá. Espero voltar lá em breve e revê-los.

Mensagem final para os leitores do Consciência.

Bernardo: Muito obrigado pelo espaço, parabéns pelo trampo! E o melhor do hardcore são as amizades e a troca de informações e experiências, vivam isso!

Wagner: Pro Consciência Alternativa, muito obrigado pelo espaço e continuem dando força pra cultura alternativa, vocês com certeza tem idéia do quanto são importantes e pros leitores a mesma coisa, continuem apoiando a cultura alternativa e façam vocês mesmos e como já dizia o Manifesto Canibal, "não ter dinheiro não é desculpa pra ficar parado esperando a morte chegar". Nosso EP deve sair até maio pra provar que falta de grana não impede ninguém de fazer nada.

Dudu: O melhor da cena hardcore é poder ver o resultado do nosso trabalho. Sempre com muita cooperação de muitos voluntários verdadeiramente atuantes. Então façam os seus corres, juntem-se com outras pessoas, façam amizades, troquem idéia, formem uma banda e toquem o que vocês realmente gostem e não o que querem que as pessoas gostem. Agora que eu falei sério, eu posso contar uma piadinha para descontrair? (risos)

Contatos:

Myspace [ http://www.myspace.com/liberpensulo ]
Mp3 [ http://www.hxcmp3.com/liberpensulo ]
Fotolog [ http://www.fotolog.net/liberpensulo_ ]
Site [ http://liberpensulo.cjb.net ]
E-mail [ [email protected] ]
Telefone [ Wagner: 8826-0550 ]

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