por Jéssica Fulganio

Vamos deixar o hardcore um pouquinho de lado este mês? O Consciência Alternativa desembarca na fria e bucólica Curitiba para trocar "um dedim de prosa" com o violeiro Leandro Delmonico do quarteto Charme Chulo. O ep "Você sabe muito bem onde eu estou" já foi resenhado anteriormente por esta que vos escreve. Logo, esse é o momento de nos atermos à trajetória desse grande grupo que ao meu ver, é uma das bandas mais criativas e autênticas do cenário.

Vamos ao clichê dos clichês. Apesar de existir um parentesco entre você e o Igor (vocalista), como veio a idéia de montar uma banda? E o nome "Charme Chulo" de onde surgiu?

Então, o Charme Chulo é uma evolução das idéias musicais, minhas e do Igor. Começamos a tocar juntos e tinhamos uns projetos de garagem, as coisas foram amadurecendo. Na verdade éramos insatisfeitos em fazer um rock sem referências reais. Buscamos a música caipira e outras coisas que sempre ouvimos por terceiros, boas ou ruins mas verdadeiras (risos). Aí o Igor veio com o nome "Charme Chulo". Estávamos cansados de ver pessoas legais em bares legais ouvindo músicas lindas e estrangeiras, enquanto lá fora o sertanejo chulo pegava fogo. Esse contraste é um barato. Gostamos de músicas lindas e estrangeiras mas não viramos a cara para o que é nosso, por mais duro que seja. O nome vem desse amontoado de idéias.

A viola caipira talvez seja a marca registrada da banda. De onde veio essa idéia? Você acredita que ela é o grande trunfo do grupo?

Veio aliada à concepção da banda. Meu avô tocava viola. O Paraná e grande parte do Brasil é caipira; a viola na banda soa como uma segunda guitarra e porque não, um símbolo. Não nos prendemos à ela mas sabemos que o pessoal acha curioso. O lance é que nós nos sentimos bem fazendo esse som. Tem coisas na guitarra que lembram viola, sempre falo que sou um violeiro de meia tigela, afinal corri atrás de um monte de senhores que sabiam arranhar o instrumento para aprender a tocar. Foi em nome da proposta, acho que ela faz parte da banda mas não é tudo.

E essa tal comparação com os Smiths. Até que ponto é benéfica? Rola um medo de o Charme Chulo ficar tachado como "a banda dos seguidores do Morrissey em terras tupiniquins"?

Nesse momento estamos gravando nosso primeiro disco, acho que toda banda que está começando é meio perseguida por uma referência. Já ouvimos muito Smiths, acho que pode até lembrar um pouco sim, por um lado isso é bom, acaba atraindo o mesmo público, mas acho que somos muito mais do que isso e pode parecer que temos uma fórmula, quando na verdade, nem escutamos mais Smiths e nossas referências são bem diversas. Acho que o disco vai cuidar bem disso, aguardem!!!

Quanto à composição das letras, percebe-se um cuidado muito especial. Por exemplo, "Polaca Azeda" conta uma estória de amor de forma lírica. O lirismo é o grande "charme" do grupo?

O Igor faz a maioria das letras. Ele é um cara que funciona na base da emoção, só temos uma banda porque queremos gritar coisas importantes e verdadeiras pra nós, que espero, façam diferença para as pessoas. Se um dia faltar inspiração vou preferir dar um tempo (risos).

E o ep, como foi a produção dele?

A produção foi um aprendizado, nosso primeiro trabalho sério, todo independente. Acho que ele foi bem aceito pela nossa falta de experiência. Chamamos dois colegas que davam uns conselhos legais e aprendemos a produzir um pouco (risos). Eu diria que foi ali que percebemos que mexer com música dá um trabalho danado.

Expliquem como está essa nova formação da banda.

O Rony (baterista) entrou no ano passado e o Peterson (baixista) no começo desse ano. Ter uma banda é muito complicado. Acho que essas duas criaturas têm muito a ver com a banda. Estamos gravando nosso primeiro disco nessa formação, está sendo bem legal e nós somos o Charme Chulo!

Curitiba parece ser o ninho de boas bandas independentes. O que o Charme Chulo tem que as outras não têm?

Acho que muitas bandas tem o que o Charme Chulo não tem. Curitiba tem muita banda legal e fazemos parte disso, nos dedicamos bastante e acho que isso ajuda, afinal o lance é trabalhar muito e esquecer que as coisas são complicadas.

O que o Curitiba Rock Festival acrescentou à banda?

Toda banda quer tocar num festival de tamanha proporção; o Charme Chulo é uma banda nova, acho que isso pesou na nossa apresentação, mas acrescentou pra caramba. Aprendemos muito com os erros (que o público muitas vezes não percebe) mas a apresentação fez parte de um trabalho que já estavamos fazendo. Hoje algumas pessoas que assistiram o festival reconhecem o Igor em São Paulo, isso é bem legal.

Qual é a sensação de tocar fora de Curitiba? O público aceita o som de forma diferente? Existe um choque cultural quando a banda sobem no palco e você saca a viola?

Gostamos muito de tocar fora de Curitiba, acho que o pessoal se entrega pra valer quando gosta do som. Eu diria que o público aceita mais do que em Curitiba (risos). A viola é brasileira, acho que existe um estranhamento bom dependendo do público.

Quais as expectativas para 2006 com o lançamento do tão aguardado cd?

Queremos levar a banda para um público maior e mais diverso. Acho que o cd vai mostrar bastante o som da banda e acredito muito nas músicas novas. No segundo semestre faremos mais shows e espero que no fim do ano eu possa lembrar que 2006 valeu bastante a pena para a banda. Muito trabalho pela frente...

Vocês gostam dessa coisa de tentar descobrir novas bandas pela internet? Têm o hábito de vasculhar? O que têm ouvido ultimamente?

A banda curte muito som novo.O Rony tá sempre ouvindo coisas novas. Eu e o Igor gostamos muito de bandas nacionais independentes, o Igor fez até uma coletânea pra ouvir no carro. O Peterson vai nas duas linhas também. Estamos ouvindo um mix desses dois mundos (risos), não posso responder por todos.

Não foi à toa que a banda ganhou muito destaque na imprensa nacional. O Abônico já previa isso e apostou no Charme Chulo. Existe algum outros artista brasileiro que vocês apontariam como uma boa novidade?

Conhecemos muitas bandas legais, acho que vivemos um momento relativamente legal para a música indendente nacional, recomendamos: Ludovic, Pipodelica, Pic Nic, Cactus Cream, Hereges, Benflos, Terminal Guadalupe, Polexia, Vanguart, Ecos Falsos, essas pra começar...

Mensagem final?

Eu garanto para vocês que levamos essa banda muito a sério, estamos trabalhando no disco para que fique bem legal. Quero que as pessoas saquem isso. Pra gente não é só subir no palco e beber, tudo tem um preço e nós estamos pagando a prestação pelo amor à arte. A gente se vê por aí......

Contatos:
Site [http://www.charmechulo.com.br]
E-mail / Msn [[email protected]]
Myspace [http://www.myspace.com/charmechulo]
Orkut [http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1212749]
Telefones [(41) 9927-3380 / (41) 3243-8184]

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