Casa de Bonecos

Gilberto Puppet

Dentre as notícias mais badaladas dos meios de comunicação neste último mês, apenas uma foi capaz de me causar um estado profundo de introspecção. De acordo com a nova definição da União Astronômica Internacional, Plutão deixa de ser um planeta para se tornar um planeta-anão, passando a fazer parte do Grupo de Acesso do nosso Sistema Solar. Vocês têm noção disso? Porque logo Plutão? Logo ele, o meu planeta preferido? O mais “Defão”? O que rege o meu signo? Enfim, vou lhes explicar melhor o porquê principal deste fato ter causado uma reflexão tão “profunda” que me impede até de dormir.

Plutão, o corpo celeste mais underground que eu conheço, é um astro de muita personalidade. Além de ter um nome bem proeminente (equivale a Hades, deus da mitologia grega que rege o mundo dos mortos) e ter uma lua chamada Caronte (o barqueiro que faz a travessia das almas para mundo dos mortos através do Rio Estige, brr!), ele é bem menor que os outros planetas, é gélido e possui uma órbita muito peculiar, a qual lhe permite, em um certo período, ficar mais próximo do Sol do que o planeta Netuno. Este astro foi descoberto por um astrônomo norte-americano chamado Percival Lowell, que não conseguiu definir exatamente muita coisa sobre o astro após ter provado, com muita dificuldade, a sua existência.

Personalidade própria, tamanho reduzido ao dos outros planetas, esforço para ter o seu lugar ao Sol, dificuldade de ser comparado às normas pré-estabelecidas e para se manter no Sistema. Qualquer pessoa que tenha o mínimo de quociente imaginativo (ou poético) é capaz de associar as atribuições de Plutão ao da maioria das nossas bandas underground.

Todos, que temos bandas, somos astros. Uns possuem luz própria e outros refletem o brilho de astros maiores. Uns pensam que tem o tamanho de Júpiter, mas na verdade possuem massa e conteúdo inferiores as de um mísero asteróide. Uns possuem uma rotação/translação bem ativa no sistema e outros demoram mais para se locomover no tal. Uns tem o seu brilho eclipsado pelos astros que estão com mais evidência no momento e outros só aparecem porque vieram como satélites de outros. Este é o nosso Sistema Solar. Um Sistema cheio de problemas, carências, dificuldades, mas é o único que a gente tem e o qual precisamos ter mais zelo, senão o “lixo espacial” que existirá será tamanho que nos impedirá de ter o nosso lugar ao Sol. Isso a gente não aprende lendo em revistas, fanzines, Google ou Wikipedia, mas sim quando temos a oportunidade de conversar com “astros” que conquistaram a sua órbita neste sistema de maneira leal e verdadeira, e que não é a toa que estão neste Sistema por mais de 10 anos. Seus nomes são muito bem conhecidos e alguns já foram resenhados e entrevistados por aqui.

Minha indignação é notória quando vejo que existe banda (Ops! Perdi a metáfora...) que anda com a pompa de “supra-sumo do underground” porque confunde os amigos da época de colégio que lotam a sua comunidade do orkut com todo o underground em questão. Elas fazem algo que é semelhante ao rock (aonde o talento passa a léguas de distância) e seus amigos fazem algo que é semelhante a curtir o som. A pergunta que faço é esta: Daqui a cinco ou dez anos, onde elas estarão? Estes são astros que já nasceram fadados ao esquecimento. São cometas que passarão sem ao menos deixar o rastro de sua trajetória.

Para os astros que desejam se tornar estrelas ultrapassando a barreira da moral e do bom-senso, este é o recado: Lixo espacial não possui luz própria, caso você tenha matado as aulas de Estudos Sociais e Ciências.

Hosted by www.Geocities.ws

1