Casa de Bonecos

Gilberto Puppet

O que é emo?

Entrou aqui? Ótimo. Agora relaxe, solte a mão do mouse e se concentre na resposta desta pergunta: O que quer dizer a palavra emo?

“Hardcore é uma música contundente, rápida e agressiva. Já o emocore...não sei de tem exatamente a ver com o hc.“
Stressor – Vocalista do D.A.D.

“Pessoas com péssimo gosto musical.”
Rafael – Guitarrista do Nubilongos

“É o filho gay do punk.”
Felipe Barroso – Organizador do Rock Na Ladeira

“Viadagem, é viadagem.”
Bobby – Guitarrista do Verona

“Termo inútil para definir um estilo e não um termo musical.”
Djames – Dono do selo Ant-discos

“Música de garotos que tentam soar tristes e sensíveis para conquistar menininhas, sendo que esses mesmos garotos foram criados por seus pais com tudo o que há de melhor para se oferecer a um filho.”
Wayne – Vocalista da Aversão 4

“Punk com batida pop e letras emotivas sem muita densidade.”
Rômulo – Vocalista do Tchopu

“Pagode de corno com guitarras distorcidas e melodias entediantes. Resumindo: fracasso.”
Thiago – Baixista do Uzômi e do Nega Odeth

“Não representa nada, não é nada.“
Rodrigo - Vocalista do Lástima

“É uma moda. Tipo assim, apareceu o grunge e um monte de coisas, e agora é o emo...”
David – Baixista do Jason.

A sua definição ficou similar a alguma das que se encontram acima? Então relaxe, pois é assim que pensa a maioria das pessoas que são perguntadas sobre o mesmo assunto. Afinal, o que realmente seria o tal “emo” (Emocore) que ora é aclamado, odiado, serve de tema para matérias de várias revistas, sites, comunidades de orkut e tem se tornado pauta até de programas globais?

Emocore deriva de emotional hardcore e foi um termo cunhado para designar as bandas de Washington do ínício da década de 90 (em torno de 1991 e 1993) que fudnem o indie rock com o punk/hc e tem composições matematicamente “quebradas” e emotivas ao extremo. “Esse termo, emocore, hoje em dia está deturpado porque antes disso as bandas intituladas como sendo emo eram o Hot Water Music , Small Brown Bike, Jawbreak e o Fugazi. Agora qualquer banda que toca um estilo da moda, tipo o Forfun, Cpm22 e etc, as pessoas falam que é emo. Eu peguei uma fase boa desse estilo mas agora está uma merda por que as pessoas mudaram completamente o significado dele”, disse Jimmy, guitarrista da banda Menores Atos.

Sim. O tal “emo” que hoje em dia que é tão exaltado por aí nestas reportagens raramente se remete às verdadeiras bandas deste estilo. Ele virou uma forma de se designar os jovens bissexuais que mal adentraram na puberdade e adotam vestimentas e comportamento infantilóides para pregar uma tal “expressão livre dos sentimentos humanos” sem pé nem cabeça, que poderia muito bem se remeter à cultura hippie dos anos 60 mas acaba por fazer o contrário, pois é um movimento nutrido principalmente por um consumismo voraz (para desespero de todos os punks) e de um egocentrismo descontrolado via ciberespaço. Aliás, será que eles já ouviram falar em Nation Of Ulisses? Ou Rites Of Spring, banda considerada a primeira a ser chamada de emo?

Outro aspecto interessante é que este conflito se estendeu além da associação entre bandas e pessoas, pelo menos por aqui em Jacarepaguá. A Elam, escola de música que nos finais de semana já serviu de palco para várias bandas consagradas do underground, agora vive com a estigma de ser uma casa “emo” e repudiada pelos que odeiam o estilo. Leandro, organizador e chefe-mór dos eventos da Elam, dá o seu depoimento:

CA: Leandro, o que você define como emocore?

Leandro: Estilo musical que pode ser considerado um sub-grupo do hardcore, já que se deriva dele, em que a maior preocupação dos "artistas" é a exposição de suas emoções e desilusões amorosas. Por se tratarem geralmente de adolescentes da considerada "classe média", estas preocupações artísticas se concentram principalmente num "mundo irreal e egocêntrico" onde o mais importante é o que se passa nele, não importando o "mundo real" do qual estes jovens, na sociedade atual estão cada vez mais à parte.

CA: Muita gente considera a Elam uma casa "emo" (no sentido pejorativo), independente das bandas que estiverem se apresentando lá. Como você enxerga isso?

Leandro: Na produção de um evento, é natural que o responsável por ele, na hora de escolher o estilo musical que irá promover, use de diversos critérios, aí incluídos retorno de público, reciprocidade dos artistas envolvidos, exposição que trará ao evento tal estilo, gosto pessoal e muitas vezes, mais importante que qualquer outra coisa a proximidade do produtor com determinadas bandas, além de muitos outros critérios que, na verdade fazem parte da formação pessoal daquele produtor. Como cidadão comum que sou, enquanto promovi e produzi eventos aqui na ELAM, por meu esforço e das pessoas das quais aceitei ajuda por escolha própria, me reservei o direito de fazer minhas escolhas já que o meu maior interesse, admito, sempre foi em primeiro lugar a minha satisfação pessoal. No início de minha trajetória como produtor, busquei ampliar o máximo possível o meu leque de possibilidades, e naquele tempo, pode-se constatar, a ELAM não era considerada uma casa "emo". Com o passar do tempo, minhas respostas começaram a se tornar mais claras e minhas afinidades musicais e pessoais ficaram mais evidentes e naturalmente me aproximei de pessoas e bandas "emo" Com esta aproximação, mais uma vez admito, acabei afastando daqui outras pessoas que possuem uma natural aversão ao estilo e que com o passar do tempo acabaram transferindo esta aversão para os shows que aconteciam na ELAM, o que acabou rotulando a ELAM como um "Espaço Para Bandas Emo". De qualquer forma, aceito a opinião destas pessoas, que tem direito às suas opiniões, embora as considere afastadas da realidade. E, concluindo, reafirmo: POR SER APENAS UM CIDADÃO COMUM, E NÃO O PODER PÚBLICO CONSTITUÍDO, TENHO O DIREITO DE PROMOVER O ESTILO MUSICAL QUE CONSIDERAR MAIS AGRADÁVEL ÁS MINHAS ESCOLHAS PESSOAIS!

Que toda moda é passageira, isso é fato. Então o que será da Elam quando, no futuro, as bandas ditas como “emo” não conseguirem mais levantar tanto público como hoje? Eis porque é perigoso uma casa tida como um dos ícones do underground do Rio de Janeiro (e outrora tão ligada com o underground local) se associar a apenas um estilo. Enfim...

É fato também que vários “emos” estão migrando para o chamado “Metalcore” (As I Lay Dying, Black Dahlia Murder, The Agony Scene, etc), estilo que parece ter vindo como resposta à onda emo. “Eles estão cansados de chorar! Agora querem é porrada!” ouvi de um punk analisando uns ditos “emos” que pogavam loucamente num show do Confronto, banda tida como um dos maiores expoentes do Metalcore brasileiro.

Enfim, todos as vertentes do rock, por mais que fossem antagônicas, foram necessárias para enriquecer o rock em si. Então, será que o emo “estilo da moda” será o responsável por fazer com que o emo “música” seja lembrado como o estilo que fez os punks usarem camisas da Hello Kitty e chamarem uns aos outros de “miguxos”?

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