Casa de Bonecos

Gilberto Puppet

Pus a minha melhor roupa e fui para a maior festa ano, onde todas aquelas palavras do dicionário estariam presentes em carne e osso.

Cheguei na entrada e apresentei o convite para a palavra PERMISSÃO, palavra que nos apresenta uma cara meio azeda às vezes. Entrando no salão onde a festa está sendo realizada, mal consigo andar pela quantidade de palavras que estão concentradas por ali.

Depois de um certo tempo tentando me acostumar com a correria das monossílabas entre as minhas pernas (elas se aproveitam de seu tamanho para correr por aí), começo a notar os tipos que constituem esta tão peculiar festa. Os casais (como GUARDA-CHUVA e CINTA-LIGA) e os gêmeos (como RECO-RECO e PULA-PULA) estão sentados na parte esquerda conversando entre si. Os mais idosos como VOSMECÊ e PÂNDEGA estão do lado direito, discutindo como outrora tudo era mais interessante. Aqueles tidos com a ralé da festa (as palavras vulgares e as gírias) se acomodaram mais ao fundo com medo de serem discriminados por causa de suas vestes não tão requintadas. Mas não é nada isso que eu vim procurar nesta festa. O que eu quero é ficar cara-a-cara com os convidados v.i.p. (very important palavras).

Uma criança aparece do nada, começa a pular de um lado para o outro, faz anedotas com todo mundo e, de repente, some como se nada tivesse acontecido. Dirijo-me à palavra SABEDORIA, senhora já idosa que nunca abre a boca quando não é necessário, e sutilmente faço-lhe uma pergunta:

- Senhora. Quem é aquela criança que passou correndo por aqui?
- Ah sim, aquela é a palavra SAÚDE, a qual muitas vezes pode nos pregar peças se não dermos devida atenção. Toda criança precisa de atenção, não?
- Ah sim sim...

Um homem vestido de motorista, óculos escuros e de expressão diabólica passa pela nossa frente. Eu retorno à Senhora Sabedoria:

- E este? Quem é, senhora?
- Esta é a palavra ÓDIO. Sempre tenta nos guiar, mas geralmente não nos leva a lugar algum. Ele é um motorista cego.
- E aquela linda mulher que corre de um lado para o outro?
- Aquela é a VIDA, e ela nunca pára. Nem adianta ir tentar conversar.
- E aquela outra gêmea dela, que vem logo atrás?
- Aquela é a MORTE. As duas sempre correm juntas onde quer que vão. Uma complementa a outra.
- Interessante. E o cara sorridente que cantarola de um lado para o outro seria quem? O Amor?
- Não, o AMOR é aquele bebezinho recém-nascido ali, que precisa ser muito bem criado para poder crescer. Este cara cantarolando é a INOCÊNCIA, sempre achando que o mundo é cor-de-rosa...
- Hmmmm. E por onde anda a PAZ?
- Bem, vou te dizer a verdade...
- A verdade?
- A PAZ não aparece por aqui há um certo tempo. Já pusemos nossas autoridades em busca dela, mas parece que ainda não conseguimos resultados satisfatórios, infelizmente...
- E agora?
- Agora nós contamos com dois substitutos. Está vendo aquele casalzinho logo ali no canto, que ninguém nunca vê, mas todos recorrem quando estão com dificuldades?
- Qual casal?
- Aquele ali, bem pequeno. Quase que anões. Logo atrás daquela mesa, bem serenos...
- Sim, estou vendo.
- Pois é, são a e a ESPERANÇA...

É através desta minha mensagem piegas que eu deixo a vocês, conscientes-alternativos, os meus votos de FELIZ 2007!

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