Mensagens Sem Notoriedade

... por Jorge Rocha

Esse sou eu, vocês lembram de mim? Eu sou o mesmo, mas os meus cabelos... Quanta diferença!

Esse cara é o Panço, trabalha na agência de notícias da EFE e nas horas vagas é guitarrista da banda Jason (www.tramavirtual.com.br/jas0n). Ele também é chefe da Tamborete discos que entre outros lançamentos tem um livro chamado “jason 2001: uma odisséia na Europa” de autoria do próprio sobre a turnê da banda pelo velho continente. O cara é famoso rapá, apareceu até no DVD da Pitty.

Esse daí é o Thiago, mais conhecido como paulista (com sotaque carregado e tudo). Ele toca numa banda Punk nascida no bairro de Jacarepaguá e que se chama “Fimose do jacaré manco” (www.tramavirtual.com.br/fimose), além disso ele edita um Fanzine chamado “Sua vida é uma farsa”, precisa dizer mais alguma coisa?

Jorge diz: Diga ae panço...

Panço diz: Digo

Jorge diz: Tu gosta de aparecer?

Panço diz: ahahah. Artisticamente sim, pessoalmente não.

Panço diz: Gosto de chegar numa festa e ficar sem ser notado.

Jorge diz: Todo mundo que tem banda gosta de aparecer... tu num acha?

Panço diz: Acho que sim. É quase um preceito básico. Tu sobe num palco pra que todos te olhem.

Jorge diz: Pode crer...

Panço diz: E mais que aparecer, todos gostam de elogios.

Jorge diz: Quando você tá numa festa e nego chega em você e fala... Você é o panço do jason... Tu gosta?

Panço diz: Gosto sim.

Panço diz: Meu ego diz muito obrigado, o dia agora está melhor.

Jorge diz: Melhor do que chegar e falar porra já ouviu aquela banda jason? Que merda...

Panço diz: Mas já aconteceu mais de uma vez.

Jorge diz: ja?

Jorge diz: e como foi?

Panço diz: O fulano comenta comigo sem saber que eu sou da banda. Fala que é mó merda. No nordeste lembro de duas vezes. Daí no show eu dedico uma música "pro cara que falou mal". É um pouco de birrinha adolescente, já que é extremamente normal alguém não gostar.

Jorge diz: Pode crer... Eu já vi um show de vocês que ficava uns cabruncos nervosos gritando: toca hardcore!

Jorge diz: Como quem diz... Esses caras tão tocando pop...

Panço diz: É porque a gente mudou muito.

Panço diz: Ainda tocamos pesado, mas menos rápido.

Panço diz: No nordeste em salvador já teve clima hostil. Me senti numa banda de verdade naquele dia.

Jorge diz: ahahaha...

Panço diz: Os caras xingavam "Jason vendido" e os fãs subiam no palco e xingavam os que nos xingavam. Porra. Me senti no Ratos de Porão. Demais.

Jorge diz: ahahahaha

jorge diz: E ai paulista?

jorge diz: Como ta a fimose cara?

thiago diz:: hahah a gente está em fase de mudanças cara como a banda tinha terminado e voltamos com outra formação, estamos adaptando os caras que entraram no nosso som, e eles estão mandando ver. Fazendo alguns shows em Jacarepaguá quando convém também...

jorge diz: Eles moram em Jacarepaguá?

thiago diz: Sim, o Índio (baixista) e o João (guitarra) moram no Rio das Pedras, ambos também tocam na banda Shit Man.

jorge diz: Mas isso não foi pré-requisito não né? Digo, pra escolha dos caras...

thiago diz: Não (risos), eles entraram por acaso: estávamos sem baixista (a antiga baixista era Márcia Generoso, atualmente da banda RETICÊNCIAS) estava com outros planos e nós estávamos sem baixista, dai uma vez no bar R9 o Índio perguntou pra eu e pro Doldol se ele podia entrar na banda. a primeira coisa que eu pensei é que ele estava tirando uma com a nossa cara (risos), dai ele mostrou que queria mesmo...

thiago diz: ...e eu não acreditei, ele ensaiou com a gente e ainda faltava um guitarrista pra preencher a vaga do Shit Man (ex-guitarrista)...

thiago diz: ...dai o João entrou na banda por que tinha ido pro nosso ensaio por acaso e tocou uma musica com a gente, olhei pra cara do Doldol e falei "já era, é ele mesmo que vai tocar com a gente, querendo ou não!"

thiago diz: Alem do mais os caras já acompanhavam nosso trabalho.

jorge diz: Legal...

jorge diz: E o que você acha de premiações que tem isso como pré-requisito...

jorge diz: "Somente pessoas que morem em Jacarepaguá"

thiago diz: acho isso uma bobagem cara, as bandas não deveriam ser separadas por região, claro que a gente na nossa ignorância classifica as bandas por regiões imaginando que isso influencia no estilo delas, mas isso é errado. Pode parecer que em Bangu só tem banda de metal e de Hardcore - o que de fato parece mesmo - mas dentro da cena existem muitas bandas boas que agradam as pessoas com o seu estio e cada uma de uma forma diferente. Separar as bandas por regiões é separar o vinculo que o underground proporciona e que arrebenta os limites regionais.

jorge diz: Essas separações regionais e musicais existem né...

thiago diz: é

jorge diz: Isso pode ser um instrumento, mas acho que as pessoas não sabem usar...

Jorge diz: É normal ter gente que não gosta do Jason né?

Panço diz: Mas claro. Já ouvi gente falar que não gosta de Beatles.

Panço diz: Não que eu queira isso. Mas isso não se controla. É e pronto. Cabe a você aceitar.

Panço diz: E a gente perdeu fãs por ter mudado artisticamente. O que é incrível.

Jorge diz: E a explicação é que vocês deixaram de ser Hardcore...

Panço diz: não deixamos de ser Hardcore.

Panço diz: Só existem mais elementos que não só Hardcore.

Panço diz: Fomos chamados de metal na bahia. Não acho normal, mas jovens são assim mesmo. Apaixonados. Se eu vou ao show do The Cure e eles não tocam “close to me” eu vou xingar o bob.

Jorge diz: Tu já deixou de ouvir alguém e achou eles "vendidos"?

Panço diz: Já deixei de ouvir mil bandas. Mas não por ser vendido ou não. Música se ouve, e gosta ou não. Provavelmente eu gosto de alguma banda que só faz aquilo por dinheiro. É muito possível.

Jorge diz: E tem alguma banda que você sabe que é uma merda mas você ouve assim mesmo?

Panço diz: Não que eu saiba. São as pessoas que dizem. Eu gosto de Engenheiros do Hawaii, por exemplo.

Panço diz: Mestre Gessinger dá as melhores entrevistas. Ainda chego lá.

Jorge diz: Pode crer...rsrsrsrs... Eu acho que todo mundo tem pelo menos uma banda que gosta, ouve, mas que fica meio desconfiado de que aquela banda seja uma merda...

thiago diz: Todas as bandas têm orgulho de onde vieram, um exemplo é o Mukeka di Rato, que não para de citar a cidade de Vila velha (ES), mesmo eles reclamando que na porra da cidade não tinha nada pra fazer.

jorge diz: Mas e ai onde a coisa extrapola? Onde sai dos eixos e vira separatismo?

thiago diz: Po jorge, em todos os lugares existe ostentação. Certas bandas não gostam nem de pensar em botar a cabeça pra fora de Jacarepaguá com medo de não serem aceitos pelo publico exterior (exterior em relação a bairro), então eles ficam tocando no mesmo evento sempre imaginando que assim vão divulgar o trabalho da banda. Podem até divulgar, mas vão divulgar para um povo que já está saturado de assistir.

thiago diz: ....os mesmo shows todo fim de semana, essas bandas que não gostam de sair não olham com bons olhos as outras que estendem seus horizontes sem medo. O que você vai preferir ver? Uma banda que toca todo domingo no mesmo bar ou uma banda que você sabe que viaja pelo Rio de Janeiro todo fazendo show? É claro que é a segunda banda, pois com certeza ela é mais aceita fora da sua própria área.

thiago diz: Ser aceito fora da sua própria área é uma ótima coisa para uma banda, é uma segunda casa, tem bandas de outro bairro que vem tocar aqui direto, assim como tem bandas daqui que vão tocar em outros lugares direto.

jorge diz: E esses vão prevalecer?

thiago diz: Sim, esses vão agradar um numero maior de pessoas, vai ter seu nome bem mais repercutido e vão prevalecer. Não adianta... Esses caras que não querem dar as caras por aí reclamarem que não são conhecidos fora da sua área, pois existem caras de atitude que não tem medo de se enfiarem em um carro ou em um ônibus e enfrentam "viagens" para tocar em diversos lugares, eles vão ser recompensados.

jorge diz: Muita gente passa pelo underground... Mas é bom saber que tem gente que vai ficar...

jorge diz: Cara, quer mandar algum ultimo recado...

thiago diz: É tipo um ultimo pedido antes de morrer? (risos)

jorge diz: ahahahah pode crer é isso mesmo...

thiago diz: Eu queria dizer que shows independentes é que nem buggie-jump: um negócio arriscado, mas vale a pena depois que você entra, você se sente feliz e satisfeito. Agora, não adianta tentar ganhar dinheiro com underground, você tem que ser humilde, educado e estar gostando disso. Nós precisamos muito de pessoas humildes no cenário e que estejam passando só coisas boas para quem vai aos shows, você fazendo um show e agradando, vai estar tornando a vida do seu expectador um pouco mesmo injusta. Estamos nessa para sair das correntes do popular, e nos sentimos bem dentro. Agora, só cabe a nós mesmos passar essa positividade para as pessoas. Nós do fimose somos pessoas comuns fora dos palcos, o Índio é pai e trabalha, o João estuda e o Luiz também eu e o Doldol somos dois desempregados frustrados, somos pessoas comuns, dependendo do ponto de vista, quando estamos no show tudo muda, somos a Fimose do Jacaré Manco, uma banda engraçada, debochada e com muita vontade de passar coisas boas e exprimir nossas opiniões. É isso que a gente quer que as pessoas se sintam: se sintam a vontade de tirar as roupas e dançar xaxado na esquina (se ela tiver vontade de fazer isso, é claro).

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