Cine-Coke

"Somos todos COCApitalistas"

Gabi Coutinho

Esse também seria um bom título para a "tragicomédia" alemã Adeus, Lenin! (2003) de Wolfganger Becker. O filme se passa em 1989 na Alemanha Oriental e conta a história de Christine Kerner (Katrin Sab), uma socialista “fervorosa”, que ao ver seu filho Alexander (Daniel Brühl) sendo preso numa passeata contra esse sistema, tem um “piripaque” e fica em coma durante 8 meses. Mas quando ela acorda é que entra a parte cômica, pois o Muro de Berlim “caiu”, a Alemanha foi unificada e o Capitalismo triunfou !! Sendo que com a saúde frágil ela não pode receber nenhum tipo de choque, se não “empacota”. E com medo da mãe morrer, Alex resolve não contar a novidade pra velha, montando uma farsa com parentes e amigos, transformando sua casa num verdadeiro museu socialista.
Mas como falar sobre Capitalismo sem mencionar a Coca-Cola, seria como falar da Bíblia sem mencionar o nome de Jesus. Então vamos às cenas “Cocapitalistas”:

CENA 1- (20m:43s) Alex: _” A mamãe dormiu durante o tempo do Capitalismo...” Enquanto isso passa na rua, em frente a troca de guarda num prédio do governo, um carro seguido de dois caminhões da Coca.

CENA 2- (1h:00:09s) No momento em que toda a família e amigos da Sra. Kerner estão no quarto dela comemorando seu aniversário de um modo bem “socialista”, ela vê pela janela, uma imensa bandeira da Coca-Cola sendo colocada no prédio em frente. E diz:_“ Alex o que é aquilo ?” Ele fica sem palavras, enquanto os amigos tentam desconversar dizendo que é um reflexo do lado Ocidental e fecham a cortina.

CENA 3- (1h:02m:13s) Alex e seu amigo vão até a fábrica da Coca gravar um vídeo, ou melhor, “forjar” uma matéria jornalística, para convence-la de que a Coca-Cola é uma invenção socialista. A cena é ótima, há vários cartazes do refrigerante no local e até mesmo um segurança “linha dura” com crachá da Coca.

CENA 4- (1h:03m:23s) A matéria vai ao ar somente na televisão da Srª Kerner, reparem só no texto:
“Hoje o ministro da economia do Comitê Central do Partido, visitou o escritório da Coca-Cola em Berlim Ocidental. Para negociar detalhes do acordo entre a C.C. e a fábrica de bebidas Leipzig, que pertence ao povo. Nós fomos até lá para saber detalhes desse acordo e como vocês verão agora as autoridades de Berlim Ocidental tentaram nos impedir de filmar...” (Nessa hora aparece o segurança da fábrica colocando a mão na lente da câmera.)
“...O censor capitalista tenta esconder do mundo a humilhante derrota da Coca-Cola na briga pela patente com a fábrica de Leipzig.
Cientistas internacionais confirmaram que a receita original da Coca-Cola foi desenvolvida nos laboratórios da Alemanha Ocidental em meados dos anos 50.” (O texto é ilustrado com cenas preto e branco numa fábrica do refrigerante.)

Chocada com a “reportagem” Srª Kerner diz:_” A Coca-Cola é uma invenção socialista? Achei que a C.C. existia desde antes da guerra.”
Alex:_” Não entende? O Ocidente nos enganou por anos!”

CENA 5- (1h:7m) Num instante de desespero Alex: _”... Quando consigo fechar um buraco, outro aparece. Ariane não quis me acompanhar na guerra. E o inimigo levantava a bandeira da Coca-Cola...”

CENA 6- (1h:11m:10s) Ariane (Maria Simon), irmã de Alex, pega uma garrafa de Coca na geladeira mas acaba deixando cair no chão. Ela fica P. da vida e começa a xingar pelo derramamento desse líquido tão precioso.

CENA 7- (1h:12m:30s) Agora Ariane relembra o momento em que vê seu pai no trabalho, a lanchonete Burger King, então é possível notar (à dir.da tela) a “metade” de um copo com o logo da Coca.

Adeus Lenin mostra um exemplo perfeito do merchandising que deu lugar à História e isso não podemos negar. Além disso, o diretor alemão Wolfganger Becker provou para os (d)efeitos especiais de Hollywood que mesmo com um baixo orçamento é possível fazer cinema com qualidade. E recebeu vários prêmios internacionais de cinema, uma indicação ao Globo de Ouro, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, além de ter sido o representante alemão para a disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2004.