CLÉRIO JOSÉ BORGES DE SANT´ANNA VOLTAR |
TROVADORISMO
TROVADORES MEDIEVAIS
ORIGEM DA TROVA
Literatura Medieval
Trovadorismo (1189/1198)
1 - Introdução
2 – Surgimento do Trovadorismo
3 – Poetas e Músicos
4 – Conceito de Trova
5 – Primeiras Manifestações
6 – Trovadores Provençais
7 – Gêneros Satírico e Lírico
8 – Os Cancioneiros Manuscritos.
Cantigas de Escárnio
Cantigas de Maldizer
9 - As novelas de cavalaria
10 - Expansão do Trovadorismo
11 - Primeiros Trovadores
INÍCIO: Canção
da Ribeirinha - Paio Soares de Taveirós
TÉRMINO: Fernão Lopes é eleito cronista-mor da torre do Tombo
PAINEL DE ÉPOCA:
I) A poesia do trovadorismo: Cantigas
A) Cantigas líricas
Amor
Amigo
B) Cantigas satíricas
Escárnio:
Maldizer:
Hagiografia: relatos
bibliográficos de figuras canonizadas, escritos em latim.
Cronicões: relatam, de forma romanceada, os episódios históricos/sociais do
século XIV
Livros de linhagem: apresenta a
genealogia das famílias nobres
Novelas de Cavalaria:
A) Textos:
I - CANTAR DAMIGO
Fui eu, madre,
veer
as barcas eno ler (1):
e moiro-me damor.
As barcas eno
mar
a foi-las aguardar:
e moiro-me damor
As barcas eno
ler
E foi-las atender (2)
e moiro-me damor
E foi-las
aguardar
e non o pudachar:
e moiro-me damor.
(Nuno Fernandes Torneol)
II - CANTIGA DE ESCÁRNIO
Ai, dona fea,
foste-vos queixar
porque vos nunca louv-en meu trobar
mais ora quero fazer un cantar
en que vos loarei toda via (1),
e vedes como vos quero loar
dona fea, velha e sandia (2).
Ai dona fea!
se Deus me perdon!
e pois havedes tan gran coraçon
que vos eu loe en esta razon (3),
vos quero já loar toda via,
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea,
nunca vos eu loei
en meu trobar, pero (4) muito trobei;
mais ora já um bom cantar farei
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
(João Garcia de Guilhade)
III - CANTIGA DE MALDIZER"
Meu senhor arcebispo, andeu
escomungado
porque fiz lealdade; enganou-me o pecado (1)!
Soltade-m, ai (2), senhor, e jurarei,
mandado
que seja traëdor.
Se traiçon fezesse, nunca vo-la
diria;
mais (3) pois fiz lealdade, vel (4) por Santa Maria,
soltade-m, ai, senhor, e jurarei, mandado
que seja traëdor.
Per mia maleventura tive hun en
Sousa
e dei-o a seu don e tenho que fiz gran cousa (5).
Soltade-m ai, senhor, e jurarei, mandado
que seja traëdor.
Por meus negros pecados tive hun
castelo forte
e dei-o a seu don, e hei medo da morte.
Soltad-m, ai, senhor, mandado
que seja traëdor.
(Diego Pezelho)
1) Identifique as principais características dos três textos analisando suas diferenças.
2) Faça um estudo do eu-lírico nas
cantigas acima e explique esse tipo de produção literária da época medieval.
B) TESTES:
Rui
Queimado morreu con amor
en seus cantares, por Sancta Maria
por ua dona que gran ben queria,
e, por se meter por mais trovador,
porque lhela non quis [o] ben fazer(1),
fez - sel en seus cantares morrer,
mas ressurgiu depois ao tercer dia!
Esto fez el
por ua sa senhor
que quer gran ben, e mais vos en diria:
porque cuida que faz i maestria (2),
enos cantares que fez sabor(3)
de morrer i e desi dar viver (4);
esto faz el que xo pode fazer,
mas outromem per ren non [n] o faria.
E non há
já de sa morte pavor,
senon sa morte mais la temeria,
mas sabede ben, per sa sabedoria,
que viverá, des quando morto for
e faz - (s) en seu cantar morte prender,
desi ar viver: vede que poder
que lhi Deus deu, mas que non cuidaria.
E, si mi
Deus a mim desse poder,
qual oiel há, pois morrer, de viver,
jamais morte nunca temeria.
1. porque ela não lhe quis atender as
súplicas;
2. porque ele imagina que tem talento;
3. a gosto, satisfeito;
4. de aí morrer e, mais tarde, reviver.
1) A cantiga anterior é de autoria de Pedro Maria Burgalês. Por suas características
e conteúdo, ela é uma cantiga:
a) de amigo;
b) de escárnio;
c) de amor;
d) de maldizer;
e) n.d.a.
2) Fazem parte da prosa trovadoresca
em Portugal:
a) as hagiografias e as cantigas de maldizer;
b) os livros de linhagem e os cronicões;
c) as novelas de cavalaria e os romances;
d) os cronicões e as crônicas;
e) os livros de linhagem e os sonetos.
3) Assinale a alternativa incorreta:
a) Na cantiga de amigo, o eu-lírico feminino lamenta a ausência do amigo
distante;
b) Na cantiga de escárnio, a sátira é feita indiretamente e usam-se a ironia e as
ambigüidades;
c) Na cantiga de maldizer, o erotismo pode estar presente;
d) Na cantiga de amor, o apelo erótico é purificado e ocorre a idealização do amor;
e) Na cantiga de amigo, usa-se o refrão, mas não existe paralelismo.
A época do trovadorismo abrange as origens da Língua Portuguesa, isto é, o português arcaico, que compreende o período de 1189, quando o Poeta Paio Soares de Taveirós dedica uma cantiga de amor e escárnio a Maria Pais Ribeiro, cognominada A Ribeirinha, favorita de D. Sancho I e vai até 1418, quando D. Duarte nomeia Fernão Lopes para o cargo de Guarda-Mor da Torre do Tombo, ou seja, conservador do arquivo do Reino. e aí se inicia o Humanismo. Durante esses duzentos anos de atividade literária, cultivaram-se a poesia, a novela de cavalaria e os cronicões e livros de linhagens, nessa mesma ordem decrescente de importância.
Linguagem oficial: Galego Português
Cancioneiros: da Ajuda, da Vaticana e da Biblioteca Nacional.
Marco Inicial: Cantiga da Guarvaya (conhecida também por Cantiga da Ribeirinha). O primeiro grande documento de nossa Literatura, foi a "Cantiga da Ribeirinha", de Paio Soares de Taveirós, escrita ainda em galego-português.
O Trovadorismo aconteceu no período medieval, caracterizado pelo teocentrismo.
Teocentrismo: poder cultural e religioso nas mãos da igreja e influência direta nas relações econômicas, políticas da sociedade medieval.
Os autores dessa época, geralmente poetas, eram chamados de trovadores.
A palavra trovador vem do francês "trouver" que significa ''achar", ''encontrar". Dizia-se que o poeta ''achava". ''encontrava'' a música adequada ao poema (seu ou de outro) e o cantava acompanhado ed instrumentos como a cítara, a viola, a lira ou a harpa.
Tipos de Cantiga.
Lírico Amorosa: subdividia em cantiga de amor e cantiga de amigo.
Satírica: podia ser de escárnio ou de maldizer.
O surgimento do nome da Trova está intimamente ligado à poesia da Idade Média. Durante a Idade Média, Trova era o sinônimo de poema e letra de música. Hoje a Trova possui a sua conceituação própria, diferenciando da Quadra e da Poesia de Cordel, e do Poema musicado da Idade Média.
Trovadorismo foi a primeira escola literária portuguesa. Esse movimento literário compreende o período que vai, aproximadamente do século XII ao século XIV.
2 – Surgimento do Trovadorismo
A partir desse século, Portugal começava a afirmar-se como reino independente, embora ainda mantivesse laços econômicos, sociais e culturais com o restante da Península Ibérica. Desses laços surgiu, próximo à Galícia (região ao norte do rio Douro), uma língua particular, de traços próprios, chamada galego-português. A produção literária dessa época foi feita nesta variação lingüística.
A cultura trovadoresca refletia bem o panorama histórico desse período: as Cruzadas, a luta contra os mouros, o feudalismo, o poder espiritual do clero.
O período histórico em que surgiu o Trovadorismo foi marcado por um sistema econômico e político chamado Feudalismo, que consistia numa hierarquia rígida entre senhores: um deles, o suserano, fazia a concessão de uma terra (feudo) a outro indivíduo, o vassalo. O suserano, no regime feudal, prometia proteção ao vassalo como recompensa por certos serviços prestados.
Essa relação de dependência entre suserano e vassalo era chamada de vassalagem.
Assim, o senhor feudal ou suserano era quem detinha o poder, fazendo a concessão de uma porção de terra a um vassalo, encarregado de cultivá-la.
Além da nobreza (classe que pertenciam os suseranos) e a classe dos vassalos ou servos, havia ainda uma outra classe social: o clero. Nessa época, o poder da Igreja era bastante forte, visto que o clero possuía grandes extensões de terras, além de dedicar-se também à política.
Os conventos eram verdadeiros centros difusores da cultura medieval, pois era neles que se escolhiam os textos filosóficos a serem divulgados, em função da moral cristã.
A religiosidade foi um aspecto marcante da cultura medieval portuguesa. A vida do povo lusitano estava voltada para os valores espirituais e a salvação da alma. Nessa época, eram freqüentes as procissões, além das próprias Cruzadas - expedições realizadas durante a Idade Média, que tinham como principal objetivo a libertação dos lugares santos, situados na Palestina e venerados pelos cristãos. Essa época foi caracterizada por uma visão teocêntrica (Deus como o centro do Universo). Até mesmo as artes tiveram como tema motivos religiosos. Tanto a pintura quanto a escultura procuravam retratar cenas da vida de santos ou episódios bíblicos.
Quanto à arquitetura, o estilo gótico é o que predominava, através da construção de catedrais enormes e imponentes, projetadas para o alto, à semelhança de mãos em prece tentando tocar o céu.
Na literatura, desenvolveu-se em Portugal um movimento poético chamado Trovadorismo. Os poemas produzidos nessa época eram feitos para serem cantados por poetas e músicos. (Trovadores - poetas que compunham a letra e a música de canções. Em geral uma pessoa culta - Menestréis - músicos-poetas sedentários; viviam na casa de um fidalgo, enquanto o jogral andava de terra em terra - , Jograis - cantores e tangedores ambulantes, geralmente de origem plebéia - e Segréis - trovadores profissionais, fidalgos desqualificados que iam de corte em corte, acompanhados por um jogral) Recebiam o nome de cantigas, porque eram acompanhados por instrumentos de corda e sopro. Mais tarde, essas cantigas foram reunidas em Cancioneiros: o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.
Conhece-se Trovas escritas nas línguas derivadas do Latim situadas na Península Ibérica, a saber: Português, Galego, Espanhol e Catalão, nos séculos X e XI. A Trova teria surgido junto com o alvorecer das línguas derivadas do Latim, as chamadas línguas romances.
A Trova possui o seu conceito plenamente estabelecido: é o poema de quatro versos setissílabos com rima e sentido completo. Já Quadra é toda estrofe formada por quatro linhas de uma poesia.
Assim, não é verdade que Quadra e Trova sejam a mesma coisa e que a Trova evoca mais os Trovadores da Provença Medieval e que a Quadra seria uma forma de se fazer poesia mais moderna. A Quadra pode ser feita sem métrica e com versos brancos, sem rima. Aí então será só uma quadra sem ser a Trova que obrigatoriamente terá que ser metrificada. Trova, nos dias atuais, é cultuada como Obra de Arte, como Literatura.
A origem da Poesia Trovadoresca Medieval (que não pode ser confundida com a trova-quadra moderna nem a daqueles tempos recuados) perde-se no tempo, contudo foi a criação literária que mais destaque alcançou entre as formas poéticas medievais, originárias de Provença, Sul da França.
Expandiu-se no século XII por grande parte da Europa e floresceu por quase duzentos anos em Portugal, França e Alemanha.
O Trovador Medieval representava a glorificação do amor platônico, pois a dama que era a criatura mais nobre e respeitável da criação, a mulher ideal, inacessível para alguns, passava a ser a pessoa a quem o referido Trovador endereçava os seus líricos versos.
Os primeiros Trovadores Modernos a fazerem Trovas sistematicamente para publicação, surgiram no século passado em Espanha e Portugal, na esteira dos folcloristas que as recolhiam em meio ao povo.
Sobre a gênese da Trova Medieval, por falta de documentos sobre o folclore na Idade Média, os historiadores consideram a mesma imprecisa. Não há dados concretos que estabeleçam a época certa do surgimento da Trova Medieval. O que se tem registrado é que, entre 1.100 e 1.300, escritos de autores Espanhóis e Portugueses utilizavam, como recurso auxiliar, composições poéticas hoje reconhecidas como formas das primeiras manifestações "trovadorescas (ou seja, da trova medieval -- que é sinônimo, hoje, de poesia metrificada. Não se pode confundir com trovistas -- que trata da trova-quadra, a nossa quadra)" de que se tem conhecimento.
No século XI, com o início da reconquista cristã da Península Ibérica, o galego-português consolida-se como língua falada e escrita da Lusitânia. Os árabes são expulsos para o sul da península, onde surgem os dialetos moçárabes, a partir do contato do árabe com o latim. Em galego-português são escritos os primeiros documentos oficiais e textos literários não latinos da região, como os cancioneiros (coletâneas de poemas medievais), surgindo os Trovadores Medievais.
TROVADORISMO – Foi um movimento poético propulsor de todo o lirismo medieval. Seu grande impulsor foi o duque de Aquitânia e conde de Poitier, Guilherme (1071-1127). Guilherme de Aquitânia gostava de compor cantigas e poemas, até então reservado apenas aos jograis e menestréis.
TROVADOR – É uma palavra da língua d’ oc, acusativo singular de "trobaire" (poeta), proveniente do verbo trobar (inventar, achar).
Entre 1 200 a 1240 existem cerca de 400 trovadores provençais, cuja obra era reunida em Cancioneiros manuscritos (chansoniers) e cujas biografias foram publicadas por Uc de Saint Circ.
Todo o século XII é domínio absoluto do trovadorismo provençal. O nome provençal vem de Provença, cidade da França onde os reis e nobres começaram a cultivar o lirismo, antes apenas reservados aos jograis. Leonor, neta de Guilherme de Aquitânia divulga o gosto pela poesia e em sua corte de Toulouse divulga e incentiva os trovadores, surgindo os troveiros.
A influência dos Trovadores Provençais foi bem extensa. Na Itália deu origem aos Trovatori, de onde saíram Dante, autor da Divina Comédia e Petrarca e até o patrono dos modernos trovadores brasileiros, São Francisco de Assis.
O grande rei Ricardo Coração de Leão, famoso pela história de Robin Hood, era filho de Leonor de Aquitânia e através de sua mãe aprendeu a ser amigo dos trovadores provençais.
Na Península Ibérica (Portugal e Espanha) o reis se orgulhavam da condição de Trovador. Afonso II de Aragão (1126 – 1196), considerava-se o primeiro trovador da Catalunha.
No século XIII e parte do século XIV, surgem na Península Ibérica, os trovadores galeco-portugueses.
Antes existiam os duelos a cavalos, homens se guerreavam às vezes até a morte, para obterem o amor de uma dama da corte. Para substituir o sangrento espetáculo, os jovens passaram ao duelo poético declamando Trovas. Os que não tivessem o dom poético, simplesmente pagavam um poeta trovador para as disputas que ocorriam e assim o vencedor podia galantear a dama mais bonita da corte.
A produção poética medieval portuguesa pode ser agrupada em dois gêneros:
1 - Gênero satírico: em que o objetivo é criticar alguém, ridicularizando esta pessoa de forma sutil ou grosseira; a este gênero pertencem as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer.
São composições que expressam melhor a psicologia do tempo, onde vêm á tona assuntos que despertam grandes comentários na época, nas relações sociais dos trovadores; são sátiras que atingem a vida social e política da época, sempre num tom de irreverência; são sátiras de grande riqueza, uma vez que se apresentam num considerável vocabulário, observando-se, muitas vezes o uso de trocadilhos; fogem às normas rígidas das cantigas de amor e oferecem novos recursos poéticos.
Os principais temas das cantigas satíricas são: a fuga dos cavaleiros da guerra, traições, as chacotas e deboches, escândalos das amas e tecedeiras, pederastia (homossexualismo) e pedofilia (relações sexuais com crianças), adultério e amores interesseiros e ilícitos.
Obs: Tanto nas cantigas de escárnio quanto nas de maldizer, pode ocorrer diálogo. Quando isso acontece, a cantiga é denominada tensão (ou tenção). Pode mostrar a conversa entre a mãe a moça, uma moça e uma amiga, a moça e a natureza, ou ainda, a discussão entre um trovador e um jogral, ambos tentando provar que são mais competentes em sua arte.
2 - Gênero lírico: em que o amor é a temática constante, são as cantigas de amor e as cantigas de amigo.
A canção da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós é considerada o mais antigo texto escrito em galego-português: 1189 ou 1198, portanto fins do século XII. Segundo consta, esta cantiga teria sido inspirada por D. Maria Pais Ribeiro, a Ribeirinha, mulher muito cobiçada e que se tornou amante de D. Sancho, o segundo rei de Portugal. )
"No mundo ninguém se assemelha a mim / enquanto a minha vida continuar como vai / porque morro por ti e ai / minha senhora de pele alva e faces rosadas, / quereis que eu vos descreva (retrate) / quanto eu vos vi sem manto (saia : roupa íntima) / Maldito dia! me levantei / que não vos vi feia (ou seja, viu a mais bela)."
Cantigas de amor
Nesta cantiga o eu-lírico é masculino e o autor é geralmente de boa condição social. É uma cantiga mais "palaciana", desenvolve-se em cortes e palácios.
O nome da mulher amada vem oculto por força das regras de mesura (boa educação extrema) ou para não compromete-la (geralmente, nas cantigas de amor o eu-lírico é um amante de uma classe social inferior à da dama).
A beleza da dama enlouquece o trovador e a falta de correspondência gera a perda do apetite, a insônia e o tormento de amor. Além disso, a coita amorosa (dor de amor) pode fazer enlouquecer e mesmo matar o enamorado.
8 – Os Cancioneiros Manuscritos.
a) Cancioneiro da Ajuda
Copiado (na época ainda não havia imprensa) em Portugal em fins do século XIII ou princípios do século XIV. Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em Lisboa. Das suas 310 cantigas, quase todas são de amor.
b) Cantigas de amigo
As cantigas de amigo apresentam eu-lirico feminino, embora o autor seja um homem. Procuram mostrar a mulher dialogando com sua mãe, com uma amiga ou com a natureza, sempre preocupada com seu amigo (namorado). Ou ainda, o amigo é o destinatário do texto, como se a mulher desejasse fazer-lhe confidências de seu amor. (Mas nunca diretamente a ele. O texto é dialogado com a natureza, como se o namorado estivesse por perto, a ouvir as juras de amor). Geralmente destinam-se ao canto e a dança.
A linguagem, comparando-se às cantigas de amor é mais simples e menos musical pois as cantigas de amigo não se ambientam em palácios e sim em lugares mais simples e cotidianos.
Conforme a maneira como o assunto é tratado, e conforme o cenário onde se dá o encontro amoroso, as cantigas de amigo recebem denominações especiais
c) Cancioneiro da Vaticana
- Trata-se do códice 4.803 da biblioteca Vaticana, copiado na Itália em fins do século XV ou princípios do século XVI. Entre as suas 1.205 cantigas, há composições de todos os gêneros.d) Cancioneiro Colocci-Brancutti
- Copiado na Itália em fins do século XV ou princípios do século XVI. Descoberto em 1878 na biblioteca do conde Paulo Brancutti do Cagli, em Ancona, foi adquirido pela Biblioteca Nacional de Lisboa, onde se encontra desde 1924. Entre as suas 1.664 cantigas, há composições de todos os gêneros.e) Cancioneiros de Escárnio e Maldizer
, que são cantigas elaborados como forma de menosprezar e criticar o oponente, muito usados para críticas aos administradores (políticos) da época medieval.Apresentam críticas sutis e bem-humoradas sobre uma pessoa que, sem ter nome citado, é facilmente reconhecível pelos demais elementos da sociedade.
Neste tipo de cantiga é feita uma crítica pesada, com intenção de ofender a pessoa ridicularizada. Há o uso de palavras grosseiras (palavrões, inclusive) e cita-se o nome ou o cargo da pessoa sobre quem se faz a sátira:
Maria Peres se mãefestou (confessou) / noutro dia, ca por pecador (pois pecadora) / se sentiu, e log' a Nostro Senhor / prometeu, pelo mal em que andou, / que tevess' um clérig' a seu poder, (um clérigo em seu poder) / polos pecados que lhi faz fazer / o demo, com que x'ela sempr'andou. (O demônio, com quem sempre andou)
Nem só de poesia viveu o Trovadorismo. Também floresceu um tipo de prosa ficcional, as novelas de cavalaria, originárias das canções de gesta francesas (narrativas de assuntos guerreiros), onde havia sempre a presença de heróis cavaleiros que passavam por situações preciosíssimas para defender o bem e vencer o mal.
Sobressai nas novelas a presença do cavaleiro medieval, concebido segundo os padrões da Igreja Católica (por quem luta): ele é casto, fiel, dedicado, disposto a qualquer sacrifício para defender a honra cristã. Esta concepção de cavaleiro medieval opunha-se à do cavaleiro da corte, geralmente sedutor e envolvido em amores ilícitos. A origem do cavaleiro-herói das novelas é feudal e nos remete às Cruzadas: ele está diretamente envolvido na luta em defesa da Europa Ocidental contra sarracenos, eslavos, magiares e dinamarqueses, inimigos da cristandade.
As novelas de cavalaria estão divididas em três ciclos e se classificam pelo tipo de herói que apresentam. Assim, as que apresentam heróis da mitologia greco-romana são do ciclo Clássico (novelas que narram a guerra de Tróia, as aventuras de Alexandre, o grande); as que apresentam o Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda pertencem ao ciclo Arturiano ou Bretão (A Demanda do Santo Graal); as que apresentam o rei Carlos Magno e os doze pares de França são do ciclo Carolíngeo (a história de Carlos Magno).
Geralmente, as novelas de cavalaria não apresentam uma autoria. Elas circulavam pela Europa como verdadeira propaganda das Cruzadas, para estimular a fé cristã e angariar o apoio das populações ao movimento. As novelas eram tidas em alto apreço e foi muito grande a sua influência sobre os hábitos e os costumes da população da época. As novelas Amandis de Gaula e A Demanda do Santo Graal foram as histórias mais populares que circulavam entre os portugueses.
À medida em que os cristãos avançam para o sul, os dialetos do norte interagem com os dialetos moçárabes do sul, começando o processo de diferenciação do português em relação ao galego-português. A separação entre o galego e o português se iniciará com a independência de Portugal (1185) e se consolidará com a expulsão dos mouros em 1249 e com a derrota em 1385 dos castelhanos que tentaram anexar o país. No século XIV surge a prosa literária em português, com a Crónica Geral de Espanha (1344) e o Livro de Linhagens, de dom Pedro, conde de Barcelona.
Entre os séculos XIV e XVI, com a construção do império português de ultramar, a língua portuguesa faz-se presente em várias regiões da Ásia, África e América, sofrendo influências locais (presentes na língua atual em termos como jangada, de origem malaia, e chá, de origem chinesa). Com o Renascimento, aumenta o número de italianismos e palavras eruditas de derivação grega, tornando o português mais complexo e maleável. O fim desse período de consolidação da língua (ou de utilização do português arcaico) é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516.
A Trova que passou a pontilhar na Literatura de Espanha e Portugal, propagou-se pelos países surgidos das conquistas dessas potências marítimas, chegando pois à América Latina e ao Brasil.
Os primeiros Trovadores, com produção regular para publicação, apareceram em Portugal e Espanha, no Século XIX, criando Trovas "popularizáveis" que muito se assemelham às populares.
Segundo os historiadores, o Português Antônio Correia de Oliveira publica, no início do século, dois livros de versos em língua lusitana.
Antônio Correia de Oliveira, que pela qualidade de sua obra e pela edição dos dois primeiros livros de Trovas na Língua Portuguesa, é considerado um dos primeiros grandes Trovadores Literários, ou seja, Trovador que organiza e publica suas Trovas.
É de sua autoria esta Trova publicada em 1900:
Sino, coração da aldeia,
coração, sino da gente.
Um a sentir quando bate,
outro a bater quando sente.
A verdade é que o período folclórico da Trova sempre se revitalizará enquanto existirem propagadores do ato do recitar nas festas em família e das brincadeiras de roda.
Há de se considerar, também, acontecimentos como a extraordinária popularidade da Trova, que contrariamente ao esperado, constitui-se num fator que alguns consideram negativo para o seu real aproveitamento na Literatura, uma vez que, antigamente, o que vinha do povo era rejeitado pela nobreza, que manipulava a elite intelectual da época.
Ainda hoje, alguns homens de letras, que, privados de sensibilidade poética, se recusam a reconhecer o valor da Trova, a consideram coisa "cafona", indigna de um verdadeiro intelectual. Uma ojeriza de uma "pseudo-elite" minoritária.
Segundo Elmo Elton, eleito em 1980, Rei dos Trovadores Capixabas não é fácil escrever Trovas, "visto que apenas os inclinados para o exercício desse gênero poético sabem como bem realizá-las dentro das normas exigidas à sua correta feitura, já que, caso contrário, tão somente conseguem o que é comum, enfileirar quatro versos sem aquelas características essenciais que conseguem consagrar uma Trova."
Vale aqui lembrar a Trova do Rei dos Trovadores Brasileiros, Adelmar Tavares, que era Acadêmico da Academia Brasileira de Letras:
Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer,
tão fácil, - depois de feita,
tão difícil de fazer.
Trovismo: Movimento cultural em torno da Trova no Brasil, surgido a partir de 1950. A palavra foi criada pelo poeta e político falecido J. G. de Araújo Jorge. O escritor Eno Teodoro Wanke publica em 1978 o livro "O Trovismo", onde conta a história do movimento de 1950 em diante.
Neotrovismo: É a renovação do movimento em torno da Trova no Brasil. Surge em 1980, com a criação por Clério José Borges do Clube dos Trovadores Capixabas. Foram realizados 20 Seminários Nacionais da Trova no Espírito Santo e o Presidente Clério Borges já foi convidado e proferiu palestras no Brasil e no Uruguai. Em 1987 concedeu inclusive entrevista em Rede Nacional, no programa "Sem Censura" da TV Educativa do Rio de Janeiro.
O Trovador Literário é aquele que sabe fazer a Trova, imprimindo espontaneidade, graça, beleza e sabedoria, tal qual a cultivaram poetas brasileiros e portugueses de renome, como Fernando Pessoa:
O poeta é um fingidor,
finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.
Olavo Bilac:
Mulher de recursos fartos!
Como é que está impenitente,
tendo no corpo dois quartos,
dá pousada a tanta gente?
Menotti Del Picchia:
Saudade, perfume triste
de uma flor que não se vê.
Culto que ainda persiste
num crente que já não crê.
Mário de Andrade:
Teu sorriso é um jardineiro,
meu coração é um jardim.
Saudade! Imenso canteiro
que eu trago dentro de mim.
Cecília Meireles:
Os remos batem nas águas:
têm de ferir para andar.
As águas vão consentindo
- esse é o destino do mar.
Carlos Drumond de Andrade:
Solidão, não te mereço,
pois que te consumo em vão.
Sabendo-te, embora, o preço,
calco teu ouro no chão.
O CTC hoje é uma entidade atuante e
possui mais de 1.500 sócios no Espírito Santo, no Brasil e no exterior. São sócios Fundadores, Efetivos e Correspondentes.
O Movimento Trovista, que havia sido expressivo no Espírito Santo em 1967,1968, 1969 e 1970, voltou a ser reativado no Espírito Santo em 1980 estando em plena atividade até os dias atuais
Foi realizado com êxito, na Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida, balneário do Município da Serra, no Estado do Espírito Santo, Brasil, de 03 a 05 de Outubro de 2003, o II Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores. Compareceram Poetas Trovadores do Rio, SP, MG, BA, Amazonas e Brasília. No Domingo, a Missa em Trovas, na Igreja dos Reis Magos, emocionou a todos. [Confira mais fotos e Notícias] Próximo Congresso: De 06 a 09/10/2005. Informações: CTC - Clube dos Trovadores/ Clério José Borges. Tel.: 0xx27-33 28 07 53
1. BORGES, Clério José - O Trovismo Capixaba - Editora Codpoe - Rio de Janeiro, 1990. 80 páginas. Ilustrado.
2. Literatura Brasileira - Willian Roberto Cereja e Thereza Analia Cochar Magalhães - Editora Atual. São Paulo - 1995.
3. Gramática Contemporânea da Língua Portuguesa - José de Nicola e Ulisses Infante - Editora Scipione. São Paulo - 1995.
4. Textos e matéria dada em sala de aula para 1° e 2° ano do 2° grau nos anos de 1996 e 1997 pelo professor Ádino, no Colégio WR.
5. Coleção Objetivo - Literatura I e II (Livros 26 e 27) - Prof. Fernando Teixeira de Andrade - Editora Cered. São Paulo.
6. Ana Cristina Silva Gonçalves – Texto na Internet.
7. A TROVA – Eno Theodoro Wanke – Editora Pongetti, 1973 – Rio de Janeiro – 247 páginas.
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