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24/06/2003 - 03h23

Torre de Babel: Leia frase de Rui Barbosa em diferentes jargões

HELOÍSA HELVÉCIA
free-lance para a Folha de S.Paulo

"Para não arrefecerdes, imaginai que podeis vir a saber tudo; para não presumirdes, refleti que, por muito que souberdes, mui pouco tereis chegado a saber"

A frase de Rui Barbosa (1849-1923) que inspira a brincadeira abaixo é um alerta contra a soberba, embora soe, hoje, como afetação linguística. Foi retirada do "Discurso no Colégio Anchieta, Palavras à Juventude"(1903). Confira como ficaria a mesma frase...

...no economês
"Para não gerar uma crise de confiabilidade, aplique o modelo segundo o qual é possível estocar todo o conhecimento hoje em circulação; mas controle as expectativas, porque, por mais alto que seja o índice de sabedoria, sempre existirão demandas não atendidas"

.no estilo onguês
"Para não perder o enfoque positivo, seja protagonista de uma ação centrada no enfrentamento da ignorância; mas não extrapole no auto-empoderamento, porque, por mais que você articule uma ampla rede de conhecimentos, ainda serão muitos os excluídos"

.no eduquês
Para não entrar para as estatísticas da evasão escolar, imagine que você pode trabalhar transdiciplinarmente todos os conteúdos pedagógicos; para não perder o pensamento crítico, considere que ainda faltam muitos graus para a formação plena da sua consciência-cidadã"

.e numa mistura de gíria comum com dialetos usados por funqueiros, surfistas, malandros, policiais e caubóis*
"Aí, Zé Mané, pra não afrouxar e dar o prego, se liga na fita, que você pode ser um macaco velho; mas não vai viajar na maionese, saca que, por mais que você se toque, mói faiado a xavecar pra ver a paina voar. QSL."

*Esta versão foi feita por Clério Borges, pesquisador de gírias e jargões


24/06/2003 - 03h24

Nas prisões, jargão é arma

HELOÍSA HELVÉCIA
free-lance para a Folha de S.Paulo

O jargão já foi o nome da linguagem dos excluídos, uma espécie de código secreto dos marginais. O dialeto falado hoje em presídios é exemplar, para mostrar a função original, de defesa.

É prático, permite a comunicação rápida; é seguro, protege as mensagens dos ouvidos inimigos; e é essencial, por ter a função de marcar o vínculo entre homens isolados que perderam a identidade quando vestiram o uniforme, cortaram o cabelo e passaram ao espaço impessoal do cárcere.

"A gíria é o último e principal signo de grupo do detento, tanto que, quando quer mostrar regeneração, ele deixa de usá-la", afirma Léa Stella, 48, autora de "Tá Tudo Dominado: A Gíria das Prisões", tese que acaba de defender na PUC-SP. Stella, que deu aulas de português a presos, estudou durante meses o vocabulário usado em cadeias. Afirma ter se impressionado com a criatividade e a ironia de uma gíria praticada por um grupo de baixa escolaridade.

Chamam de "praia" o chão de cimento; "quieto" é a cortina que improvisam para criar alguma privacidade nos cubículos superpovoados. "Tumba" é o espaço sob a cama, onde dormem alguns, quando as lajes de pedra já estão ocupadas.

É um dialeto com mais força expressiva do que a língua morta na parede da Penitenciária do Estado: "Aqui, o trabalho, a disciplina e a bondade resgatam a falta cometida e reconduzem o homem à comunhão social".

"Preso fala mais difícil que economista", compara o escrivão de polícia capixaba Clério Borges, organizador do dicionário "Gírias e Jargões da Malandragem", disponível só na internet (www.esshop.com.br/girias). Borges gosta de português e é escritor e presidente da Federação Brasileira de Entidades Trovistas.

Mas seu interesse pelo tema partiu de uma necessidade profissional. Como a lei exige que os depoimentos tomados na delegacia sejam transcritos exatamente na forma falada, o escrivão passou a anotar palavras desconhecidas e a pesquisar os significados.

Hoje, seu acervo tem mais de 10 mil verbetes, com termos que vão da economia ao hip hop. "Os puristas torcem o nariz para isso, mas a gíria e o jargão são o segundo idioma do brasileiro. Não dá para menosprezar, é preciso estudar, entender."

Leia mais
  • Cada um com a sua língua
  • Nas prisões, jargão é arma
  • Para ler e consultar
  • Enquete: Quando o uso de jargão é aceitável?

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