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CLÉRIO JOSÉ BORGES DE SANT´ANNA                                             VOLTAR

LINGUAGEM DO CAPIXABA
Jargões, Provérbios e Gírias do povo Capixaba

Falas Capixaba
Cristiano Ferreira Fraga
Termos e Expressões Populares
Guilherme Santos Neves


Falas capixabas

Cristiano Ferreira Fraga

Às listas de expressões e provérbios capixabas que já temos publicado, aditamos  agora estes. Da paremiologia, mais alguns exemplos:

• Lugar grande, mora nele; lugar pequeno, passar por ele: este ditado ouvimos em Alfredo Chaves ao cidadão Chico Pinto, verdadeiro andarilho, sempre de branco, e que furando tresléguas a pé, varava todo o Espírito Santo.

• Quem morre de bexiga não fica com sinal: dito pelo oficial de justiça Lincoln, em Mimoso do Sul. Querendo expressar, entre outras coisas, que a morte tudo esconde ou acerta.

• Quem sabe do tempero da panela é a colher: ouvido em Vitória, e significando que ninguém saberá melhor sobre um indivíduo do que algum de sua maior intimidade ou convivência. Equivalendo também aquele outro anexim "Eu é que sei onde o sapato me aperta".

• Se está com pressa, calce as botas: do município de Anchieta, aos afobados hesitantes, para que logo se ponham a caminho ou façam o que têm de fazer sem importunar aos outros.

• Não é com estes ganchos que você vem pro meu rancho: como quem dissesse: "você não se enxerga?" Referido por Adolfo Cassoli, antigo negociante na estação de Matilde (EFL)

E alguns termos não registrados em nenhum dicionário:

Baldeiro: adj. sinônimo de finório, tratante. Derivado de "balda". Comum em todo o interior espírito-santense.

Bicuecas: s. f. o mesmo que perebas, e às vezes também, pequenos achaques. Ha muitos anos o ouvimos em Bom Jesus do Norte.

Burdigão: s. m. corruptela de berbigão, molusco acéfalo comestível, freqüente em todos os mares. Leia-se no romance da escritora espírito-santense Margarida Pimentel, Apenas um homem (1965, p.76): "Júlia com a turma dela, foi apanhar burdigão, lá embaixo, na faixa de areia, que a maré vazia deixava descoberta".

Cara: s. f. entre o povo, só se emprega referindo-se a animais. Senão replicam logo: cara é de cavalo, gente tem é rosto.

Cobertado, adj. e cobertar, v. t.: rel. e também pronominal. A um hóspede, por exemplo, perguntam se está bem cobertado. Porque coberto e cobrir são termos só usados em pecuária. Várias vezes os deparamos em São Marcos, do município de Alfredo Chaves.

Conzinhar, conzinheira, em vez de cozinhar, cozinheira. Estas expressões correntes em Vitória, entre empregadas de serviço doméstico, pertencem à série dos ingênuos eufemismos populares. Assim como, na roça, se costuma dizer politana em vez de égua, fraco em vez de tísico...

Corumba: termo ainda vigente em Anchieta, nas expressões "café de corumba", ou "peixe de corumba", isto é, demorados. Segundo os dicionaristas, esta palavra no Nordeste significa "sertanejo retirante" e "pau de arara". Lembre-se Os corumbas, título de um romance de Armando Fontes.

Estampa: s. f. apresentação boa ou má do animal de sela. Certa vez, em Iconha, o professor João Ribas da Costa quis elogiar um "coronel" presente, dizendo-lhe que tinha boa estampa. O homem arrepiou-se insultado, bradando que "estampa é de cavalo".

Gafo: adj. o mesmo que raso, ansioso: "Tô gafo pra acabar com isso e batê pro rancho".

Muma: s. f. comum em nossos lugares praianos. É a moqueca de siris novos, pequenos, aparados nas pontas das pernas e partidos transversalmente ao meio. Do caldo prepara-se o pirão, que deve conter ainda pedaços do crustáceo.

Pomongado: adj. sinônimo de lambuzado. Ouvido ainda no município de Anchieta.

Ponga: s. f. o mesmo que carona, passagem filada, ou oferecida pelo dono do carro. Acrescido do verbo pongar, que signfica também tomar um veículo em movimento. Velhos conhecidos ainda em todo o Espírito Santo.

Sati: s. m. qualquer cacoou fragmento dos mais pequeninos, quase invisíveis de um objeto de vidro quebrado. Certa ocasiao, em Anchieta, uma senhora, mostrando-nos a mão do filho pequeno: "O senhor nem vê o que ele tem na palma da mão, mas incomoda muito: é um sati, espetado de uma garrafa quebrada".

Viração: s. m. em Anchieta é chamado também "umbigo de tainha", e dele fazem um prato popular apreciado. Na verdade, é a porção terminal do grosso intestino. Afinal, é moqueca de bucho de peixe. Também é preparado como o polvo. Em tal acepção, a palavra virote não consta de nenhum dicionário.

Vasto é o vocabulário popular capixaba, e outrora tanto mais rico quanto mais nos aprofundávamos por localidades interioranas. Mas com a multiplicação e rapidez das comunicações e a disseminação de aparelhos de rádio, muitas expressões populares regionais se arcaízam, substituídas por outras de maior domínio.

(Fraga, Cristiano Ferreira. "Falares capixabas". Folclore, Vitória, ano 17, nº 82, janeiro-dezembro de 1966)

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Termos e expressões populares

Guilherme Santos Neves

Embora pareça estranho, a verdade é que muita semelhança existe entre o modo de falar criolo, gaúcho e capixaba. Vocábulos, expressões, ditos e frases feitas são correntes aqui, e lá nos longínquos pampas.

Tal o que facilmente se poderá comprovar folheando, por exemplo, o Vocabulário y refranero criollo, de Tito Saubidet (Buenos Aires, 1943) e o Vocabulário gaúcho, de Roque Callage (Porto Alegre, 1928).

Nossa velha expressão "matar o bicho" lá está registrada à página 40 do Vocabulário criollo: "matar al bicho — beber alcool, tomar la copa". Mata-bicho é, segundo o Vocabulário gaúcho (p.87), "a cachaça é servida em copo; trago, cana, caninha; quando o campeiro pede um mata-bicho já se sabe o que é: um cálice de aguardente". Tal como aqui.

Para o mesmo ato de beber ou "matar o bicho", aqui se usa a expressão "molhar a goela ou a garganta" — idêntica a "mojar el garguero" do falar criolo (p.246)

"Êse es otro cantar" — frase feita conhecida entre nós, com o sentido de "isto é outra coisa!", também é comum nos pampas argentinos (p.150), com a mesma significação: "es una cosa muy diferente".

"Arranca-rabo" diz-se, por aqui, do frege, do fuzuê, do rolo bravo, da discussão desbocada e violenta. No Sul é, da mesma forma, o bate-boca, a discussão acalorada (Vocabulário gaúcho, p.18).

Às crianças e à gente rude do Espírito Santo, temos ouvido a forma: "gomitar", em vez de vomitar, lançar. Também assim se estropia o vocábulo na Argentina, segundo consta do Vocabulário criollo, página180.

Xereta é a pessoa metidiça, intrometida, que "mete o bedelho onde não é chamada"; tal qual lá no sul (Vocabulário gaúcho, p.40).

Ao garoto pequeno, chama-se, entre nós, "guri", no Rio Grande do Sul, guri é a criança, o menino piazinho (Vocabulário gaúcho, p.72). Também na Argentina, "guri" é "muchachito chico, gurisito, nene" (Vocabulário criollo, p.186).

Cutuba é velho termo nosso que, parece, vai desaparecendo do uso vivo da língua. Significa: bom, gostoso, apetitoso. Lá no sul, cutuba ou cotuba quer dizer: forte, temível, respeitado e "o mesmo que pessoa generosa, boa" (Vocabulário gaúcho, p.49).

Velha expressão de nossa gente proverbialmente hospitaleira e prestativa é "dar uma mãozinha". "Dê uma mãozinha aqui, moço!", isto é, ajude um pouco aqui. Também no falar crioulo se usa a mesma expressão: "dar una mano", ou "una manito" (Vocabulário criollo, p.232).

Estar perrengue é, cá entre nós, estar doente, alquebrado, moído. No Rio Grande do Sul, perrengue significa ordinário, ruim, e se aplica ao cavalo que não presta para o serviço (Vocabulário gaúcho, p.103).

Quando, cá em terras capixabas, se quer dizer que um lugar está muito escuro, usa-se a comparação "escuro como breu" ou "escuro como boca de lobo". Esta última expressão é corrente na fala crioula e com o mesmo sentido "escuro como boca de lobo" (Vocabulário criollo, p.266)

Taludo, diz-se aqui, do sujeito grande, crescido na idade ou no tamanho. Também no Vocabulário gaúcho está registrada a palavra, com semelhante significação (p.125).

Olhar com o rabo de olho é olhar alguém disfarçadamente, de lado, de viés, obliquamente, como a Capitu do Machado de Assis. Tal expressão é, igualmente, conhecida na Argentina: "rabo de ojo — mirar de rabo de ojo. Forma de mirar dissimuladamente, al sesgo, de costado" (Vocabulário criollo, p.321).

As nossas juras — quer dos garotos, quer dos adultos — são, muitas vezes, idênticas a fórmulas criadas: "Lo juro por esta luz que nos alumbra!" "Por esta cruz!" "Por el sol que nos alumbra!" (Vocabulário criollo, p.387).

Outra expressão corriqueira em terras capixabas é aquela que diz "no fritar dos ovos é que eu quero ver!" — isto é, no momento exato, no instante preciso, na hora H. A frase-feita é usual na Argentina. Lá está ela no Vocabulário criollo, página 12, "A freir los huevos veremos".

Negro retinto — diz-se do preto, bem preto entre nós. Ora, retinto na fala crioula, é "color muy oscuro" (Vocabulário criollo, p.342).

De um indivíduo que não se submete "nem a gancho", teimoso, incapaz de se dar por vencido, diz-se que quebra mas não se dobra. Tal qual no linguajar crioulo: "Se quebra pero no se dobla" (Vocabulário criollo, p.368).

Tirar uma tora é frase-feita com o sentido de tirar uma soneca, dormitar um pouco, durante o dia, cochilar. Não tem outro sentido a expressão lá nos pampas. (Vocabulário gaúcho, p.130).

Do sujeito zangado com alguém, fulo da vida, tiririca, furioso com alguém — costuma-se dizer que está picado. Estar picado é maneira de falar crioula, com a significação de estar ofendido e "picarse" é dar-se por ofendido (Vocabulário criollo, p.155).

Quem há por aí que ignore a velha expressão "pagar o pato"? Poi o mesmo "pagar el pato" diz-se na argentina, com o sentido de "cargar con responsabilidades ajenas" (Vocabulário criollo, p.269).

O confronto poderia prosseguir, infindável, pois o material é bem copioso. Basta, porém, o que acima, de ligeiro, desfilamos, para se perceber a identidade ou semelhança de palavras, ditos e fórmulas frisantemente comuns na fala crioula, na fala gaúcha e na fala da nossa gente capixaba.

(Neves, Guilherme Santos. "Termos e expressões populares". Gazeta. Vitória, 27 de agosto de 1952) Início

 



FOTO 1 - Na Missa em Trovas em Anchieta, ES: Eno Theodoro Wanke, Clério Borges e ao fundo Nealdo Zaidan
FOTO 2 - Reunião na casa de Clério Borges: Adir Ribeiro; Valdemir R. Azeredo;
Clério; Moacyr Malacarne e Antônio Alves com o Violão


Nas fotos a Galera do CTC, Albercinho (Albércio Nunes Vieira Machado); Penha Frihane; Dr. José Paulo; Moacir Malacarne; José Saleme; Sandra Bunges; Cleusa Vidal; a Saudosa Tereza Vitória; Valsema; Kátia Bóbio, Clério e Zenaide; Clério e Edson Constantino.


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