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CLÉRIO JOSÉ BORGES DE SANT´ANNA                                             VOLTAR
, Espírito Santo -  Brasil.   .
O Clube dos Poetas Trovadores Capixabas, CTC foi fundado por Clério José Borges com base numa idéia do escritor Eno Theodoro Wanke. O CTC hoje é sucesso mundial!

HAICAI & TANKA
A POESIA
DE ORIGEM JAPONESA

            O haicai é fruto do “haikai no renga” (ou tanka), muito em voga antes e na época de Bashô, que nada mais era do que um poema seqüencial, em que um poeta compunha a primeira estrofe (hokku), um terceto com 5/7/5 sílabas (ou sons). Os poemas naquela época (tanka/waka) eram apenas cantados ou declamados. Não havia poemas escritos.

            Em seguida, vinha outro poeta, que o completava, compondo a segunda estrofe; um dístico, com 7/7 sílabas (ou sons). E as estrofes iam se sucedendo espontaneamente, chegando a centenas. É claro que isso não se dava em um só dia. Um “haikai no renga”, para ser completado, levava anos, pois também não havia, por parte dos que o compunham, o que chamaríamos de “ansiedade” em vê-lo concluído, em dia e hora certos.

            Sendo o hokku “a partida”, para o desenvolvimento de um longo poema, era ele que estabelecia “a cor”, “o matiz” ( o assunto) para o restante a encadear, ou simplesmente o argumento principal.

            Embora iguais na forma, há uma significativa diferença entre “haikai no renga” e “tanka” (ou waka). O primeiro é composto por dois poetas, ou seja, um compõe o “hokku”, que é a estrofe inicial, e outro vate compõe a derradeira estrofe (estrofe seguinte), um dístico de 7/7 sílabas. No caso do “tanka”, o poema (mesmo igual ao antecedente) é composto por um único poeta (as duas estrofes). Em palavras mais claras: - o “tanka” é produção individual, enquanto o “Renga-Haikai” é produção coletiva.

            Dizíamos anteriormente que o “haikai no renga” (conhecido na época simplesmente por haikai) era muito extenso. Uma centena de estrofes denominava-se hyakuin; um milhar, senku. Por uma questão de gosto ou preferência, Bashô era adepto do KASEN, um encadeamento de apenas 36 estrofes (do haikai no renga).

            Trocando tudo isso em miúdos, como apregoa o bom povo, na tentativa de sermos entendidos até por uma criancinha de colo, tornaríamos a explicar que o “haikai no renga” era formado distintamente por duas estrofes, sendo o “hokku” (centrado sempre no kigo) a inicial ou superior, intitulada “Kami no ku”, em três versos (5/7/5) e a inferior, “Shimo no ku”, uma dupla de 7/7, que é a estrofe terminal, também denominada “Matsu no ku”. Outro dado que gostaríamos de deixar bastante claro é que o “tanka” não tem (ou não exige) referência à natureza ou sazonalidade (embora isso casualmente possa acontecer). Está centrado no social ou nas paixões humanas (atributos/qualidades).

            Reza a tradição que o mais antigo exemplo de haikai escrito, de que se tem notícia, tem como autor o poeta Fugiwara-no-Sadaye (1162-1242), que viveu no tempo do imperador Gotoba (1180-1239), cujo texto é o seguinte:

 

“Espalhadas flores

quer pegar e pega apenas

o vento de chuva.”

 

            -Consta que o primeiro haicai produzido no Brasil é de autoria de Hyôkotsu, escrito momentos após desembarcar no porto de Santos, em 18.06.1908, do navio Kasato Maru, que trazia os primeiros imigrantes japoneses (793) para o nosso país. Eis o poema:

 

“A nau imigrante

chegando: vê-se lá no alto

a cascata seca.”

DEFININDO O HAICAI

            É um poema universal, já que canta a natureza através do kigo. O que identifica ou caracteriza o haicai é justamente o kigo (a pronúncia correta é kìgo), “termo ou palavra de estação”.

            O kigo é representado por meio de um vocábulo, uma frase ou uma expressão (no poema), ou ainda pelo “colorido” das imagens, emoções ou sensações que o mesmo encerra, de acordo com os conhecimentos do poeta e do seu talento ou mesmo de sua vivência, nesse campo.

            A concepção hodierna de haicai, em nosso país, é a de que se trata de um poema breve, escrito em tercetos, onde uma palavra ou expressão nos remete à estação do ano: mas não basta essa conformação para que o produto final, em três versos, possa ser considerado um haicai perfeito. O kigo deve representar o “aqui” e o “agora”, como o “flash” de uma máquina fotográfica, que capta e fixa uma imagem de um determinado momento do tempo. É aquilo e pronto! O haicai, finalmente, é um canto de louvor à natureza.

            Por ser um poema conciso, devemos evitar, na sua contextura, o raciocínio, idéias pré-concebidas ou conclusões. Nele não há espaço para a razão. É simplesmente POESIA.

            Outro fator importante que podemos abordar é que o haicai não é um poema pequeno. Casualmente sua estrutura é desse porte. Ninguém o “imagina” de um modo “extenso” e depois vai polindo, os versos, até que alcancem a marca das cinco/sete/cinco sílabas (ou sons).

            Como forma literária, para esse caso, não deverá haver termo de comparação. O haicai “nasce” (assim) espontaneamente. Como não se diz que uma rosa é grande e um miosótis, pequeno. “Ele é o que é”.

            A poesia do haicai ou se realiza ou não se realiza. Se não se realiza, o produto final é um lindo poema, porém não pode ser considerado haicai. Essa é a opinião de vários mestres (atuais) do haicai.

HAICAI NO BRASIL

            Com raras exceções, entrando aqui os grupos de São Paulo (capital) e Santos, não se pratica, no Brasil, um haicai que chamaríamos de autêntico. Por ignorância ou mesmo por preguiça, a maioria busca o mais fácil, ou seja, amontoar três versinhos, uns sobre os outros, e, muitas vezes, perfeitamente metrificados. Compõem um terceto, mas não um haicai.

            O haicai deve ser tratado, poema que é, como um todo. Uma somatória de dezessete sílabas (ou sons), distribuídas em três versos, com uma delicada mensagem sobre a natureza, indicada pelo kigo (estação do ano). Mas tudo isso sem exageros. No haicai devemos evitar grandes explicações, metáforas preciosíssimas, títulos ou rimas. O haicai é simples, do povo. Nasceu e deverá continuar assim. É claro que o poeta, vez por outra, tem o direito de extrapolar tudo isso, pois é ele quem tem vida, inspiração. Mas se o seu desejo é a prática do haicai (autêntico) de Bashô, os modelos (ou normas) estão ao alcance de qualquer um. Afinal de contas, existem leis para tudo e o haicai não é uma exceção.

            Alguns sabichões andam por aí inventando (cada um diz o que quer) que possuindo o japonês uma escrita ideográfica (?), diferente da nossa, é impossível conciliar o número de sons desse idioma com o número de sílabas, na língua portuguesa. Enganam-se. Se o alfabeto nipônico é completamente estranho ao nosso, sua pronúncia é idêntica... e eu diria quase igual. Podemos ler textos em português, com os sons japoneses, que eles entenderão no ato.

            Saber metrificar não é coisa do passado, pois a metrificação é “apenas” um recurso “a mais” que a poesia nos oferece. Um toque de ternura, nas mãos do poeta. E metrificar não é tão difícil como se possa imaginar, pois “até eu” consegui aprender.

            Todo poeta que deseja ser completo necessita estar familiarizado com a metrificação. No exterior, todos os poetas metrificam. A implicância, me parece, é só no Brasil.

            Vocês já imaginaram um compositor que não sabe música? Um pintor que desconhece rudimentos sobre tintas e matizes? Um escultor que não dá a menor “pelota” para a forma? Quanto mais pudermos aprender sobre a arte que abraçamos, mais haveremos de nos desenvolver nela e de colher seus apetecidos frutos. Ser poeta pelas metades é “caretice”.

            Mas, como dizia no início deste capítulo, o que se faz (mais) no Brasil, no momento, é escrever tercetos. E para escrever tercetos não precisa saber nada sobre Bashô, Issa, kidai ou kigo. Se souber, melhor. Mas escrever tercetos também é válido. Só não estaremos praticando o haicai, que, como disse folhas atrás, é coisa bem diferente.

OUTRAS FORMAS DE EXPRESSÃO JAPONESAS

Além do terceto, que não dispõe de regras para a sua elaboração e pode ser escrito por qualquer pessoa, não necessitando nem mesmo ser poeta, informaríamos da existência do senryu (ú), outra forma poética de expressão que está sendo bastante praticada, no momento, no mundo inteiro, incluindo o Brasil. E, verdade seja dita, poemas muito bonitos, mas que apesar de seus pontos positivos não são haicais. O senryu é um “parente chegado” do haicai. Consta que vem do “centro” do “haikai no renga”, enquanto o haicai, propriamente dito, é a sua primeira estrofe (hokku).

            No Japão, o “senryu” é praticado por trabalhadores e mesmo executivos. São versos leves e circunstanciais, que falam do cotidiano e expressam as condições de vida do japonês moderno. O importante, no senryu, é a mensagem (cômica, irônica, satírica).

            O “senryu”, a princípio, era uma das mais conhecidas formas de “zappai” (forma cômica). Hoje, seu sentido evoluiu.

            Vejam alguns exemplos de senryu e poderão notar que é um poema que agrada e mesmo empolga, se bem escrito, embora não seja haicai:

 

“Passar o fim de semana

como perfeitos estrangeiros, ou quem são

minha mulher e meus filhos?”

            Tudo isso em função da triste situação de um chefe de família japonês, continuamente longe de casa, distante de seus entes queridos, em busca do ganha-pão. Um tipo muito encontrado no Japão de hoje é o “tashin-funin”, o “solitário transferido”.

            Alguns casamentos chegam ao divórcio (separação) devido a esse estado de coisas. O “senryu” abaixo reflete melhor todo esse drama nipônico:

“Um envelope na caixa do correio.

De uma namorada?

Não, de meu filho.”

 

            Eis aí uma mostra amarga do que existe hoje no Japão... e talvez no mundo inteiro, que se reflete até na literatura. E essa “coisa ruim” já se implantou também no Brasil. O senryu, não. O problema social.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS
SOBRE O ASSUNTO

            Ninguém poderá dizer, com a máxima certeza, o que seja um haicai BOM. Desde que ele siga os preceitos deixados pelos poetas tradicionais, será sempre um haicai. Particularmente, devo deixar aqui transcrito que no haicai deve existir sempre a noção de sinceridade (makoto); a expressão de uma realidade condizente com a verdade interior do poeta.

            Um artifício bastante utilizado na composição do haicai é o “kireji”, que não possui explicações, em nosso idioma. É uma maneira “sui generis” de se expressar, do povo japonês, mais ou menos assim: ah! oh!, etc. Para identificá-lo, geralmente usamos um travessão, numa rápida mudança do assunto que está sendo tratado, no poema.

            Onji seria a somatória dos dezessete sons ou pausas do haicai.

            Kidai é o tema do haicai.

            Kigo é o vocábulo (palavra, frase ou expressão) que simboliza ou representa um elemento da natureza – referência sazonal. Muitas vezes, kigo e kidai se confundem no poema. Mas seria entrar em pormenores e “delicadezas”, que poderiam trazer maiores confusões ao leitor.

            Muito mais teríamos ou poderíamos aqui expressar, sobre essa pérola nipônica. Não o faremos para não tornar este assunto extenso e maçante. Nem tivemos a intenção de exaurir o tema. Trata-se, este pequeno estudo, de uma singela orientação ao haicaísta iniciante, que verá nele uma espécie de primeiro degrau para o desenvolvimento de seu aprendizado, sobre esse poema.

 

 

GLOSSÁRIO SOBRE KIGO

 

VERÃO

 

Ano-novo, barata, guarda-sol, alamanda (flor), chuva de granizo, noite de verão, vaga-lume, piracema, traça, cigarra, pernilongo, lua de verão, aranha, minerva (flor), melancia, jaca, trovão, jacaré, rosa, Natal, abóbora madura, campânula (flor), caracol, caranguejo, carnaval, fantasia (de carnaval), flamboyant, flor de maracujá, garça, hortênsia, lagarta, manga, mariposa, samambaia, sapo, vestibular, trigal amarelo, etc.

 

INVERNO

 

Cobertor, tosse, inverno, rosa de inverno, árvore de inverno, garoa, nevoeiro de inverno, manhã de inverno, balão, cipó-de-são-joão, fogueira, frieza, suinã (árvore com flores vermelhas), noite fria, rio minguante (com pouca água), camélia, mar de inverno, mosca de inverno, pitanga, agasalho, casaco, chuva fria, frente fria, planura seca, salsão, fogos de artifício, etc.

PRIMAVERA

 

Flor (de um modo geral), beija-flor, ipê, jacarandá, rã, campo de primavera, pipa, lua enevoada, borboleta, sibipiruna, plantio (época de), rio de primavera, mar de primavera, lua vernal, dia da criança, dia de finados, araponga, bem-te-vi, jabuticaba, abelha, balanço, canário, dia da árvore, poda, quadrado, sabiá, semana da pátria, viuvinha (flor), ninho de pássaros, etc.

 

 

OUTONO

 

Espatódea (flor), orvalho, libélula, outono, lua cheia, folha de outono, vento de outono, estrela cadente, relâmpago, nuvens de outono, céu de outono, colheita de arroz, campo de outono, espantalho, crepúsculo outonal, folha vermelha, dia das mães, flor de maio, grilo, crisântemo, arara, paineira, caqui, arapuca, bruma, caxinguelê, colheita de uva, crista-de-galo (flor), luar, neblina, pica-pau, 1º de abril, quiabo, trote, etc.

 

Obs: Alguns kigos são comuns a várias estações.

Texto de Humberto Del Maestro, Poeta Trovador, Haicaista, Escritor Capixaba, membro da Academia Espirito-santense de Letras


HAICAIS DO HUMBERTO

 

Meio-dia quente.

Borboletas e alamandas

descansam nas cercas.

 

Depois do aguaceiro,

a noite tornou-se cheia

dos sons da lagoa.

 

A chuva termina,

mas as folhas dos arbustos

se enfeitam de pérolas.

 

O vento passeia

com suas botas molhadas

na tarde de chuva.

 

É manhã de calma..

Coleiros, em plena festa,

gorjeiam no campo.

 

O sol está forte

e o baile das borboletas

continua intenso.

 

Levanto assustado...

A chuva, na madrugada,

me acorda cantando.

 

Manhã de alegria...

Nos laranjais do caminho,

abelhas trabalham.

 

É noite de chuva.

A goteira na cozinha

perturba meu sono.

 

O mar está calmo.

A longa rede de arrasto

vem vindo de manso...

 

A noite é de prata.

O chuveiro das estrelas

me banha de sonhos.

 

Cartão de Natal

entre mil papéis antigos...

-Lágrimas nos olhos.

 

Canário fogoso,

uma arapuca sem pressa...

-Silêncio na mata.

 

Noitinha, céu lindo!

Lençóis de seda rosada

flutuam no espaço.

 

Geada inclemente!

Nas pradarias e estradas,

tapetes branquinhos.

 

Varanda sombreada

com brisas quentes da tarde.

-Bailam samambaias!

 

Pasto abandonado.

Entre matos e espinheiros,

paineira florida.

 

Tarde delicada.

Adormecidas na pérgula,

lágrimas-de-cristo.

 

Vendaval de inverno.

A velha ovelha vadia

vagueia no vale.

 

É manhã de chuva.

Abro a janela sem jeito...

Mil beijos molhados.

 

Vai-se embora o frio.

Nos arvoredos da rua,

bem-te-vis cantando.

 

Tarde muito quente.

Na janela da cozinha,

moringa gelando.

 

Casa perfumada.

No velho tacho dourado,

ferve a goiabada.

 

Jardim enfeitado

em tardes ensolaradas:

-Brincos-de-princesa!

 

O calor nos deixa.

No chão do velho jambeiro,

tapetes lilases.

Humberto Del Maestro


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