CLÉRIO'S
CLÉRIO JOSÉ BORGES DE SANT´ANNA                                             VOLTAR

CARNAV AL CA PI XA B A
Textos de Anselmo Gonçalves e Hermógenes Lima Fonseca

HISTÓRIA DO CARNAVAL CAPIXABA

Por Anselmo Gonçalves

Os mais antigos documentos históricos sobre o carnaval do Espírito Santo estão registrados nos jornais Correio de Vitória, Comercio do Espírito Santo e o Cachoeirano, de Cachoeiro de Itapemirim. No ano de 1885, mês de Janeiro, em anúncio ineditorial, entre informes de vendas de saca-rolhas, brins-de-linho, cachemiras, chapéus de palha, vinhos portugueses, gravatas e luvas e editais de venda de escravos: Edite 700 mil réis, Ruth 700 mil réis; Julião 500 mil réis, o Cachoeirano pede ao povo para “neste ano de 1885”, saudar a chegada do deus Momo com todas as alegrias e com todo o buliço dignos de deus infernal. O anúncio, de duas colunas por 10 centímetro de altura, informa ainda que “haverá” bando desfilante acompanhado de música e um salão adredemente pronto”.

A venda dos escravos que eram parte do espólio de José Balry, em outro local do jornal, estava sendo suspensa, por ordem do juiz da Comarca, para que os “máscaras” tivessem a oportunidade de bem receber “o deus do machucadinho”. E o leilão seria realizado em outra oportunidade.

De Vitória, capital do Estado, cidade empurrada pelo mar contra as encostas dos morros de ruas estreitas, sinuosas, difíceis, apenas as narrativas “de memória” de Amélia Mirabeau Bastos, que ouviu contar e transmitiu-nos a nós, seu afilhado, ainda nos tempos verdes da infância, de que o nosso carnaval se fazia antes de 1885, na rua do Rosário.”E era assim. Os moradores da rua passeavam para lá e para cá, acompanhados por diversos violinistas. E todos muito bem vestidos com raras fantasias vindas de Paris, a Paris nova, a Paris buliçosa, a Paris ardente. E não a velha, fria e sem vibração e sem grandes movimentos.Nosso povo sabia o que era ser chic. Sabe? O passeio durava horas, até quando o tocheiro vinha ascender os lumes da rua. Aí, o povo buscava as suas residências para o retempero. Era deslumbrante! Sabe? Eu tinha, na loja, fregueses que falavam com muitas saudades daquele tempo”.

Corria o ano de 1884, já pelo seu final, quando casas comerciais importantes das ruas da Alfândega e Duque de Caxias distribuíram prospectos impressos tipograficamente, dando conta de que haviam importado grandes novidades para os foliões e que essas novidades estavam á disposição dos buliçosos, para a saudação, em fevereiro do ano entrante, 1885, á chegada do deus infernal. Nos mesmos prospectos os comerciantes introduziam outros dados de como se proceder para o conhecimento de novos informes sobre a espera da festa. “Basta uma visita aos nossos estoques e tudo lhe será explicado”. E daquela vez seria para valer, como faziam crer os comerciantes. Os que se interessavam por ver de perto o estoque ficavam sabendo detalhes dos passeios: “Seriam feitos desde a rua do Rosário até a rua São Francisco, passando pela rua Sete, Subida do Carmo e Pereira Pinto, com rabecas, com violas e com fantasias luxuosíssimas”. As fantasias estavam expostas nas portas das lojas. E mais: “Haverá carroça com bandeirinhas e fogos, na partida e na chegada, e conhaque e para os participantes”. “Os gatos vão comer os olhos do leão”, era a frase de cumprimento do proprietário da loja “A Capital”, da Duque de Caxias.   

 

TEXTO DO LIVRO “CARNAVAL CEM ANOS”, DE AUTORIA DO ESCRITOR, POETA E TROVADOR ANSELMO GONÇALVES, Livro editado em 1985, em Vitória – ES, no Governo Gerson Camata, pela Secretaria de Estado da Indústria e do Comércio, Secretário Hermes Laranja Gonçalves, com apoio da Emcatur.


O CARNAVAL CAPIXABA

Por Hermógenes Lima Fonseca

O Carnaval de Vitória tem sua história de altos e baixos acompanhando, naturalmente, as condições econômicas e culturais. Do bate-moleque e do entrudo, foi tomando suas formas. Dos limões de cheiro e bisnagas surgiram os lança-perfumes e os bailes à fantasia. Houve, inicialmente, o período das grandes sociedades, com seus carros alegóricos puxados a cavalo. Foi o tempo da Fênix carnavalesca e do Pierrot, quando o pessoal da alta sociedade participava. Destaca-se nesse período a presença da Casa Cruz, uma empresa dos Cruz Sobrinho, que marcou época. Quando surgiram os automóveis de capa de lona, os fordecos, apinhados de gente jogando serpentinas e confetes, era o chic. Todo mundo saía às ruas para ver o corso.

O último baile do Pierrot foi no antigo Cine Central, ao lado do Hotel Capitólio, que tinha, no andar térreo, a casa Morgado Horta. O Cine Central depois se transformou em armazém de café e ficava onde é hoje o edifício das Repartições, na avenida Jerônimo Monteiro. Além dessas sociedades, tínhamos ainda a "Flor da China", o "Flor do Abacate", o "Resedá". O "Flor da China" era do pessoal dos Nascimento, uma família numerosa e tradicional que residia na Capixaba. Eram grandes festeiros, pois além dos congos, eram organizadores também das Marujadas. Nos desfiles dos três dias de Momo, havia os grupos musicais, como o "Centenário", surgido em 1922, os "Sururus", que a última vez que desfilou foi cantando a marcha Na Pavuna... Na Pavuna..

Ainda desfilava pelas ruas o Grupo Musical "Mocidade". Antes, porém, existiam dois grupos famosos "Morcegos" e "Diabos em Folia", que se encontravam na rua Duque de Caxias, que era a principal e a mais movimentada, apesar de estreita como é até hoje. Nesse encontro o pau comia, era briga na certa. Seus componentes eram o pessoal da Estiva e Docas, trabalhadores da firam Antenor Guimarães ou, como diziam, o pessoal do "bravo meu mano". Acontece que, em um desses encontros de brigas e das fantasias do Diabo com chifres, o bispo diocesano pediu ao chefe de polícia que proibisse a saída dos "Diabos em Folia". Nas proximidades do carnaval do ano seguinte, o pessoal se reuniu para discutir as medidas do chefe de Polícia. Nessa época, havia um ditado popular "Está cruel. A vida está cruel". Durante a discussão na procura de outro nome, Apesar das várias sugestões, não chegavam a um acordo e diziam "é... está cruel".

Até que um dos presentes sugeriu: "Por que não botamos o nome de Está Cruel"? Todos aceitaram e o bloco saiu com esse nome, sob a direção de "Pedro Furão", que dançava agarradinho e com caixa de fósforo no bolso. Às vezes, dançava-se o "Escambau", quando era permitido pelo Cabo Queiroz, mas o "Escambau" era mesmo dançado na pensão da Aurora Gorda, na Volta de Caratoíra. O "Escambau" foi o precursor da Lambada, que hoje faz tanto sucesso. O "Está Cruel" deixou de desfilar e só promovia bailes. O cabo Queiroz, apesar das sucessivas promoções, continuou sendo chamado de cabo Queiroz ou, às vezes, até de tenente cabo Queiróz.

OS CONGOS
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Após os bate-moleques e o entrudo, o carnaval era iniciado pela manhã do primeiro dia, com o "Congo de João Capuchinho", que ia da Praça 8 até o Cais Schmidt, no final da rua do Comércio, próximo à Vila Rubim, onde havia a fábrica de cerveja Apolo. Seus componentes eram recebidos com alegria e muita cerveja. Cantavam eles: Oi, rei congo Rei congo é de beira-mar Rei congo foi para a guerra Ai, meu Deus, como será Oi rei congo, rei congo é de beira-mar. Tudo no batido dos tambores do congo. "João Capuchinho" era serrano e grande animador das folias que organizava, fazendo alegria da então pacata cidade de Vitória.

Eram dois tipos por todos conhecidos: "João Capuchinho" e "Pedro Furão", que estavam sempre à frente de tudo, inclusive nas festas religiosas, principalmente a de São Benedito. Também os Nascimento marcaram a sua época lá pela década de 20 a 30, satirizando os governantes e criticando-os. Na Revolução de 30, quando o Presidente do Estado Aristeu Aguiar fugiu a bordo de um navio italiano, fizeram uma paródia com a marcha "Taí". Cadê Aristeu e Mirabeau Que ninguém viu Azularam com o dinheiro do Estado E deixaram, e deixaram o povo sacrificado. Dizem que a paródia foi de "João Capuchinho". Mas nesse tempo, as marchas e os sambas eram feitos por diversos compositores, não se cogitava de direitos autorais. Ninguém sabia de quem eram e nem o autor as reivindicavam. Algumas organizações ensaiavam às escondidas para provocar surpresas no povo que os ia ouvir.

Certa vez, os componentes do "Diabo em Folias" mandaram um representante ao Rio, para saber das músicas que estavam cantando e trazer para Vitória, sob todo sigilo. Devemos levar em consideração que o rádio estava nascendo e mal se ouvia o que se cantava, a não ser "Cabelo não nega", que foi um estouro quando o rádio a divulgou pela primeira vez.

AS BATUCADAS
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Com a crise de 1929 e logo depois a Revolução de 30, com Getúlio Vargas, desapareceram as grandes sociedades e os grupos musicais. No carnaval, saíam pequenos grupos chamados de batucadas, que forma aumentando, tomando forma e, então, sugiram em vários subúrbios, chegando a 12. Foi, então, fundada a União das Batucadas e Escolas de Samba, embora não existissem escolas de samba. A primeira a se organizar foi a Unidos da Piedade, sob a direção de Rominho, na Fonte Grande, que esteve no Rio, aprendendo o ritmo dos surdos e tamborins.

Na Fonte Grande, foram formadas duas batucadas, sendo que em um carnaval, na subida do morro, na rua 7 de Setembro, as duas se encontraram e o pau comeu solto, numa briga tremenda. No ano seguinte, surgiu o "Chapéu do Lado", baseado o samba carioca. "Meu chapéu do lado, sapato arrastando, navalha no bolso, eu passo gingando..." A batucada "Centenário", oriunda do grupo musical com sede em Santa Lúcia, incentivou a que outras surgissem, como a "Santa Lúcia", a "Mocidade da Praia", a "Andaraí", a "Prazer das Morenas", "Gurigica do Centro", além do "Império da Vila" e "São Torquato". Cada batucada tinha sua marcha oficial, como a "Chapéu do Lado", muito divulgada: Quem é, quem é Que vem chegando com tanta animação? Quem é. Quem é, "Chapéu do Lado" do meu coração.

Era só instrumento de corda e percussão, puxadas por um cavaquinho ou banjo. "Jaime Cachacinha" puxava com seu banjo a "Chapéu do Lado". Sob o aspecto social, o interessante era que cada uma das organizações era dirigida por um líder, cuja família fazia parte, e as reuniões eram feitas em sua casa. Por exemplo: "Mocidade da Fonte Grande" era da família de Nestor Lima; "Chapéu do Lado" do seu Eduardo e a filharada; "Centenário" da família de João da Cruz e agregados; "Santa Lúcia" de Júlio Henrique, um estivador com o apelido de "Júlio Tripa de Oca", com uma enorme família entre filhos, genros e netos.

A UNIÃO DAS BATUCADAS
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Foi por volta de 1950 que os batuqueiros decidiram criar uma União, no sentido de congregar todos os carnavalescos e tomar decisões para solução dos problemas, procurando unir suas organizações, com a elaboração de estatuto para obter personalidade jurídica e licenças da Polícia. Esse foi o primeiro trabalho que coube a UBES.

Depois os trabalhos de preparação dos desfiles passaram a ser também por eles mesmos organizados. Em torno dessa organização, se congregaram, sem nenhuma influência política que pudesse provocar a desunião, não obstante, por fora, alguns psicopatas do golpe de 64 considerarem que era foco de subversão.

OS CONCURSOS
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Os primeiros concursos foram realizados na porta da redação de A Tribuna, sob a direção de José Luiz Holzmeister, e o critério de julgamento era simbólico. Ali mesmo se discutia qual a melhor e se anunciava a vencedora, que recebia os prêmios e se mandava sem protestos. Depois se achou por bem ter uma concentração no estádio Governador Bley, com comissão julgadora, estabelecendo-se critério quanto aos figurantes, porta-bandeira, bateria, fantasia e música.

Não havia enredo e o desfile era em ritmo de marcha. Como esse julgamento e escolha dos julgadores deu encrenca, elaborou-se um regulamento, estabelecendo-se regras e condições, assim como a escolha dos jurados, quando muita confusão e protestos se verificaram.

AS MÚSICAS
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No início, havia pouca divulgação das músicas cariocas e só umas poucas, de grande sucesso eram cantadas pelo rádio, como o "Seu Cabelo não Nega", que se imortalizou até hoje. Cada batucada tinha o seu corpo de compositores, que levavam as músicas para os ensaios. No princípio, os integrantes do "Trapiche" e "Cais do Porto" eram os autores, aproveitando os fatos vivenciados, como aquela de "Mulher Ingrata"

REI MOMO
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Ninguém sabe quando e como apareceu a figura de Rei Momo. Quem poderia dizer isso era o João Gualberto, que faleceu no ano passado. Mas infelizmente ninguém registrou suas memórias dos velhos carnavais. Houve vários, mas o que mais tempo permaneceu no reinado foi Chico Mussielo, que tinha uma fábrica de calçados na rua 7 de Setembro e era o ponto de encontro de todos os dirigentes de organizações carnavalescas. Quando o Chico Musuelo morreu, escolheu-se um português que tinha um bar na rua Duque de Caxias. Mas, no dia de uma passeata pré-carnavalesca, ele não apareceu, ficando de longe, apenas observando.

Como A Gazeta tinha uma página dedicada ao carnaval, malhou Lázaro, o que foi defendido pelo jornal "Ao Roncar da Cuíca" dirigido por José Luiz. Mas fizeram-se as pazes no boteco do Lázaro e se resolveu fazer a chegada do Rei das Arábias, com Pitomba e sua mulher Terezinha montados no camelo e no dromedário. Foi um grande espetáculo, com uma multidão da Capixaba à Praça 8. Outros Reis surgiram democraticamente eleitos. As notícias dos jornais denominavam os dirigentes carnavalescos de Lords. Era Lord João da Cruz, Lord Nestor e tantos outros. Essa história toda, escrevendo-se os diversos acontecimentos e rememorando-se os grupos e as famílias, sem dúvida nenhuma, daria um interessante livro sobre a vida de Vitória.

SÁBADO GORDO
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No sábado, véspera de carnaval, saía o pessoal do Banco do Brasil com um bloco sujo denominado "Alegria da Vaca", à tarde, que abria o carnaval. Depois apareceu o "Tristeza do Boi" do pessoal do DNC (Departamento Nacional do Café), posteriormente IBC. Com a transferência de funcionários do Banco, o "Alegria da Vaca" acabou desaparecendo.


OS BLOCOS DE SALÃO
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Com o desaparecimento das grandes sociedades, o carnaval passou para os clubes Saldanha, Vitória, Álvares Cabral e Náutico Brasil, formando os blocos de salão com o "Solta a Negra" do Vitória. Também os rapazes e moças organizavam seus blocos. No Saldanha, se organizou o "Bate-Papo", que cresceu e até saiu em desfile em grande estilo. A música do "Bate-Papo" tornou-se conhecida por todo o povo e todos a cantavam: Bate-papo. Bate-papo, meu povo...

A música e a letra eram de autoria de Moacyr e Clóvis Cruz. Por causa de uma briga no Saldanha, saiu o pessoal da família Grijó, que foi para o Vitória, clube conhecido como aristocrático, que só admitia gente da alta sociedade. Clóvis, então, fez uma marcha com a letra: "Maria você é mulata, como é que pode ser aristocrata", que ele, no final de sua vida, negou ser alusiva à saída dos Grijós do Saldanha. Era cantada pelos "Street Boys" só para provocar.

AUXÍLIOS DA PREFEITURA
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No princípio, ninguém cogitava em pedir auxílio à Prefeitura, pois tudo era feito com amor. Cada participante se esforçava em fazer a sua fantasia e as dos figurantes, conseguidos com Livro de Ouro, corrido no comércio, onde quem assinava dava sua contribuição em dinheiro ou em material. Só mais tarde se consignou uma verba no orçamento municipal como auxílio para o carnaval, contando-se com a boa vontade de Adelpho Monjardim, que era um saldanhista ligado a essas organizações, tinha seus conhecidos e ia assistir aos ensaios. Era conhecido como "Bio" e tinha entre seus amigos "Mané Donêncio" e outros. "Bio" chegava aos ensaios e se sentava rodeado dos amigos. Era, sem dúvida, um grande incentivador desse povo. O Barão no meio de seus vassalos.

ADVENTO DAS ESCOLAS
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Tudo começou com o "Rominho da Fonte Grande", organizando a "Unidos da Piedade", com a maioria do pessoal da "Chapéu de Lado". Foi uma grande novidade naquele ano, com seu ritmo diferente e seu enredo apresentando-se com toda a pompa. Também no Rio de Janeiro era a Mangueira, a Estácio e outras que iniciavam o carnaval carioca, que chegou a esse grande espetáculo, atraindo gente do estrangeiro para ver o que é considerada a maior festa do mundo. As escolas desceram do morro para o asfalto, a princípio na Praça 11, com suas alegorias críticas. Mas, na ditadura de Getúlio, houve intervenção e sequer elas podiam ser registradas com o nome de Escola. A não ser acrescentando a expressão Grêmio Recreativo Escola de Samba.

Os sambas só podiam ser de exaltação ao Brasil, quando foi organizada a Federação das Escolas sob a presidência de um coronel. O folclorista Édison Carneiro escreveu a história das escolas desde o início, registrando que a sua origem se deu com o ritmo das folias de reis e dos lundus com as chulatas. Várias escolas forma organizadas pelo povo do subúrbio, seguindo as mesmas normas das escolas cariocas, com seus enredos e alegorias.

Hoje, a preparação de uma escola de samba é uma ciência, que envolve muita gente em cada setor, desde o enredo, os figurinistas, os mestres de harmonia, a bateria, os preparativos pelas alas com suas posições e seus chefes, os ensaios supervisionados, a posição de cada ala, composta de gente de todo o tipo de atividade profissional - médicos, advogados, professores, com suas respectivas famílias, todos fiéis à sua escola. OS

DESFILES
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O carnaval capixaba nada fica devendo aos de outros lugares. Há muitos Joõezinhos Trinta por aqui, no anonimato. Logo após um carnaval, eles já começam a trabalhar para o próximo. Os enredos são discutidos e estudados. Começa-se por aí. Depois de escolhido o enredo, entram em ação os compositores, que fazem o samba e o submetem a julgamento e, em seguida, os figurinistas. Na Independente de São Torquato, certa vez me procuraram para fazer um enredo folclórico e tive que proferir uma palestra para os compositores sobre como era o folclore capixaba.

Dois deles conversaram longamente comigo e, confesso que não dei crédito à capacidade deles de colocarem tudo em um samba. No dia do ensaio do samba vitorioso, caí de costas pela descrição e pela beleza do samba, concluído com o refrão: Ticumbi, ticumbi. Ticumbi fenomenal. Ticumbi, ticumbi, de fama nacional. O desfile não é nada fácil no seu deslocamento. Unidos da Piedade, Novo Império, Independentes de São Torquato, Mocidade da Praia, Unidos de Jucutuquara e todas as demais que enriquecem o desfile e passam por uma coisa de doido. Cada ala tem o seu chefe, que conhece o roteiro.

São milhares de pessoas a se juntarem dentro de uma rígida organização, com tempo determinado, alegorias, tudo previsto, controlado e comandado: ritmo, som, bailado, evolução, posição de cada ala, obediência, amor, paixão, cores da escola a serem honradas, comissão de frente, figurantes, destaques, carros deslizando. Tudo isso é uma grande demonstração de capacidade de nosso povo, englobando gente de toda a espécie, onde não há discriminação entre doutores e doqueiros, médicos com suas famílias junto com o povaréu. É a maior demonstração de democracia.

Hermógenes Lima Fonseca

 

Quem foi Hermógenes - Criador da União das Batucadas e Escolas de Samba, Hermógenes Lima Fonseca nasceu em Conceição da Barra no dia 12 de dezembro de 1916 e faleceu no ano de 1996. Contador, folclorista, jornalista e político, realizou todos os seus estudos em Vitória. Formou-se contador pela Escola Superior de Comércio de Vitória. Folclorista, foi um incansável pesquisador da cultura capixaba e brasileira. Como político e membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi eleito vereador (pela sigla do Partido Republicano, visto que o PCB já havia voltado à ilegalidade) de Vitória com a maior votação proporcional da história do município até os dias de hoje, obtendo aproximadamente 10,45% dos votos válidos.

Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, da Comissão Espírito-santense de Folclore, na qual ocupou praticamente todos os cargos de diretoria, atuou como membro do Conselho Regional de Contabilidade, do qual também foi presidente; e como sindicalista que participou da organização do Movimento Unificado dos Trabalhadores (MUT) no estado, do qual foi 1º secretário e da Central Geral dos Trabalhadores (CGT). Como jornalista foi colaborador, entre outros, dos jornais "A Gazeta" e "A Tribuna" e foi diretor do jornal "Folha Capixaba".

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