Manuel da Costa Pinto
Editor da revista CULT
Num momento em que a arte contempor�nea vive entre as alternativas
excludentes da tela e das instala��es, como se p�de ver nas �ltimas Bienais de S�o
Paulo, a exposi��o CIMENTAIS, de Carlos Dala Stella, surge como uma esp�cie rara de
reflex�o sobre as possibilidades expressivas da oscila��o entre o plano e o
tridimensional.
Sem deixar de ter um valor est�tico apreens�vel pela instantaneidade do
olhar, os pain�is de Dala Stella poderiam ser definidos com um exerc�cio de constri��o
formal, em que o artista cria limites, regras estritas a partir das quais organiza o caos
da cria��o. Da� o progressivo e lento percurso de suas figuras, que v�o saltando dos
relevos dos pain�is at� ganharem a dimens�o espacial da escultura.
Abdicando de optar por formas puras, Dala Stella consegue criar, nesta
seq��ncia de obras, um efeito narrativo, que conduz da aridez plana do cimento (
material predominante dos pain�is) � opul�ncia corp�rea de suas personagens. Some-se a
isso o aparato did�tico que cerca cada painel (esbo�o e textos que precederam a
concep��o final de cada um) e teremos a sua filosofia da composi��o.
A refer�ncia � literatura n�o � gratuita. Afinal, esse artista que faz
sua primeira exposi��o individual � tamb�m poeta, o que ajuda a explicar aquela id�ia
de constri��o que norteia o rigor estil�stico de suas obras. Assim como escritores t�o
diferentes quanto Poe, Borges ou Calvino que perceberam a arbitrariedade necess�ria da
forma, criando para si c�nones que pressup�em uma possibilidade de transgress�o, o
poeta Carlos Dala Stella forjou seu pr�prio universo de representa��es, um universo que
se vai diluindo na espacializa��o dos pain�is, ou pelos simulacros de si mesmos (como
no ilusionismo ir�nico do isopor pintado, que reproduz o efeito visual do concreto,
abolindo a oposi��o entre peso e leveza).
As obras de Carlos Dala Stella estavam at� agora dispersas em reprodu��es de jornais
e capas de livros. Mas CIMENTAIS n�o � apenas a oportunidade de presenciar o di�logo
existente entre as suas diversas cria��es; a exposi��o permite tamb�m identificar
suas refer�ncias est�ticas, como Poty e os grandes artistas catal�os (sobretudo Mir�),
que t�m presen�a �bvia na alegria mediterr�nea das obras desse poeta da mat�ria.