banner.gif (1174 bytes)



voltar.gif (884 bytes)

 

 

 

O Ca�ador de Vaga-lumes

Sentado nos degraus da varanda, no escuro, chora o ca�ador de vaga-lumes. A cabe�a entre as m�os, desconsolada, lembra aquele quadro famoso do Munch, com um cara gritando encima de uma ponte. Ao lado, num vidro de azeitona, uns cinco ou seis vaga-lumes sobem pelas bordas, piscando s� de vez em quando.

O menino chacoalha o vidro e como que despertos eles come�am a piscar. Enxuga as l�grimas com a manga da camiseta e olha para a escurid�o. Um rel�mpago ilumina momentaneamente a noite de sexta-feira, sem estrondo algum.

- Vai chover, pai!

- Que que voc� quer eu fa�a? Podemos entrar e ler um peda�o do Marco Polo.

- Marco Polo! Eu queria continuar ca�ando vaga-lumes. Droga! - E joga o vidro para cima, como quem est� pouco ligando se ele se espatifar nos degraus.

- Ent�o aproveita enquanto a chuva n�o come�a. Quem sabe voc� n�o pega um vaga-lume africano gigante. Ele costuma aparecer um pouco antes da chuva.

O menino me olha , desconfiado. Mais um rel�mpago mudo clareia o c�u, deixando � mostra nuvens carregadas.

- Vaga-lume africano gigante? Ele nem existe.

- Existe sim. N�o � sempre que ele aparece, mas eu j� vi ele umas tr�s vezes desde que eu tinha sua idade.

- E como ele �? Voc� pegou ele alguma vez?

- Uma �nica vez, eu tinha oito anos, fiquei t�o assustado. Ele parece um vaga-lume normal, s� que muito maior. Debaixo das asas amarelas, no abd�men, ele tem uma luz que n�o apaga nunca. Quando ele aparece a gente s� v� aquele risco verde fosforescente cortando o escuro.

- Eu nunca ouvi falar nesse vaga-lume. Foi aqui mesmo? O que que voc� fez com ele?

- Prendi ele dentro de um garraf�o daqueles enormes, onde o v� guardava vinho. Ele viveu sessenta e cinco dias l� dentro. Toda noite eu e o tio H�lio �amos l� no paiol e sent�vamos em volta do garraf�o. Depois algumas crian�as da vizinhan�a souberam e pediram se podiam ver ele. Voc� precisava ver a luz verde refletindo naqueles rostos incr�dulos.

- E o que que ele comia?

- Cada um trazia um tro�o, peda�os de p�o, suspiro, alpiste. Teve um que durante tr�s noite seguidas trouxe flores. Primeiro uma margarida, depois um copo de leite e por �ltimo uma flor amarelinha que n�o lembro o nome. Ele acreditava que vaga-lume era como beija-flor.

- E o vaga-lume africano comeu?

- Nada. Tinha tanta porcaria dentro do garraf�o que uma noite ele apareceu coberto de formigas. Elas � que comeram ele.

- Coitado!

- Mas mesmo naquela noite a luz continuava acesa, verde, fosforescente, iluminando nossas caras assustadas.

- Por que que voc� nunca me contou essa hist�ria?

- Voc� nunca pediu.

- Como � que eu podia pedir se eu nem sabia que existia um vaga-lume africano gigante?

- T� certo. Eu � que fui um bobo guardando essa hist�ria por tanto tempo. Mas acho que fiquei quieto porque pensei que voc� n�o ia me perdoar por ter deixado o vaga-lume morrer.

O telefone tocou e tive que entrar. Nos intervalos da conversa com minha mulher, que fazia um curso de l�ngua espanhola no Uruguai, prestava aten��o para ver ser tinha come�ado a chover. Depois de alguns minutos o menino entrou esbaforido. Fiz sinal para que ele esperasse, mas n�o adiantou.

- � a m�e no telefone? Deixa eu falar com ela.

E arrancando o aparelho da minha m�o foi logo dizendo:

- M�e, voc� n�o acredita o que eu acabei de ver, um vaga-lume africano gigante, m�e. Ele tinha meio metro. Passou voando no nosso jardim. A luz dele parece uma pincelada verde que n�o acaba nunca. M�e, eu quase peguei ele. Agora tenho que ir, eu vou fazer uma rede maior e vou pegar ele pra te mostar quando voc� voltar. Tchau m�e.

Mas antes que eu retomasse a conversa, ele gritou, j� da varanda:

- Pede pra ela se l� no Uruguai algu�m sabe o que que vaga-lume come.

 
Hosted by www.Geocities.ws

1