CAXEMIRA, A BOMBA RELÓGIO

Por Rui Geraldes

A Índia e o Paquistão combateram duas das suas três guerras pelo controle de Caxemira, uma região com quatro milhões de muçulmanos e dois milhões de hindus. A Índia controla a parte a sul da "Linha de Controle" (LOC), enquanto o Paquistão controla o norte. A China conquistou, em 1959, uma região montanhosa no Leste de Caxemira: Aksai Chin. A região do Himalaia é considerada um dos locais mais perigosos do mundo. A rivalidade entre os dois países pelo controle da região pode, segundo muitos analistas, conduzir à primeira guerra nuclear.

Com uma população superior a 1.5 mil milhões de pessoas, o subcontinente Asiático é uma das regiões mais problemáticas do mundo. Grande parte dos conflitos e problemas da atualidade podem ter a sua origem estabelecida numa região montanhosa do Himalaias: a Caxemira.

De fato, Jamu & Caxemira tornou-se parte de um vasto arco de ebulição do islamismo, que afeta todo o Médio Oriente, Irã, Afeganistão e toda a área adjacente até à China ocidental.

A Índia e o Paquistão já combateram duas guerras por causa da Caxemira e continuam ainda a tentar assumir o controle total da região. Uma fronteira estabelecida com mediação das Nações Unidas divide a Caxemira - que já foi um país independente - entre os dois países. A Índia controla dois terços do território, enquanto o Paquistão controla o resto.

Tanto na parte indiana como na paquistanesa, a maioria da população é islâmica. A Caxemira é extremamente rica em minerais e possui um solo muito fértil em termos agrícolas. Além destes fatores, a região tem uma enorme importância estratégica, uma vez que faz fronteira com a Índia, Paquistão, Rússia, China e Afeganistão.

No entanto, não são estes fatores que tornam Caxemira uma região tão disputada pelas duas potências nucleares. A Índia considera que a perda da Caxemira seria um rastilho para uma rebelião em massa dos 140 milhões de muçulmanos que residem neste país de maioria hindu.

Conflicto Indo-Paquistanês

A Índia Britânica esteve sob nontrole inglês durante mais de 400 anos, estabelecendo-se como uma das jóias da coroa do império. Mas, 20 anos de campanha de desobediência civil conduzida por Ghandi desgastaram o domínio da Grã- Bretanha, apoiados pela maior proeminência dos movimentos de independência - O Congresso Nacional Indiano e a Liga Muçulmana.

Quando o domínio Britânico entrou em fase de declínio na Ásia, a Liga Muçulmana defendeu um país separado para as regiões de maioria muçulmana na Índia, temendo que os muçulmanos se transformassem em cidadãos de segunda classe numa Índia independente dominada pelos hindus.

Nos dias 14-15 de Agosto de 1947, a Índia Britânica foi dividida entre a Índia de predominância hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana. Os muçulmanos Paquistaneses de língua urdu dominam o ocidente do país, enquanto o leste é predominantemente muçulmano de idioma bangla.

O primeiro presidente do Paquistão foi Mohammed Ali Jinnah, enquanto na Índia Jawaharlal Nehru assumiu o posto de primeiro-ministro.

As semanas imediatamente anteriores à independência dos dois países determinaram todos os problemas políticos e religiosos que ainda hoje se mantêm. Numa das maiores transmigrações da história moderna, milhares de muçulmanos fugiram da Índia para o Leste do Paquistão, ao mesmo tempo que milhares de refugiados hindus eram realojados na Índia. Durante este período, motins religiosos provocaram entre 200 mil a 2 milhões de mortos. Os ódios religiosos, que foram contidos durante o domínio britânico durante séculos, explodiram de forma violenta depois da independência dos dois países.

O Paquistão assumiu-se como um estado muçulmano, enquanto a Índia adotou um governo hindu.

Em outubro de 1947, tem início a primeira guerra entre os dois países, com os militares paquistaneses a lançarem um ataque surpresa para a conquista do territórios disputados da Caxemira, região de maioria muçulmana que nunca teve o seu estatuto verdadeiramente resolvido pelos britânicos. A Índia ofereceu apoio militar ao governo da Caxemira, mas exigiu que o pequeno estado aderisse voluntariamente à união indiana, o que veio a acontecer. O Paquistão nunca aceitou esta situação, considerando que teria ficado com o território se o Marajá da Caxemira não fosse hindu.

Enquanto os exércitos do Paquistão e da Índia se confrontavam nas diferentes frentes da guerra, Burma e Ceilão (o atual Sri Lanka) tornaram-se independentes da Índia. Considerado o pai da Índia, profundamente desapontado pela divisão entre Índia e Paquistão e pelo êxodo que se seguiu, Ghandi foi assassinado por um extremista hindu que o considerava responsável pela criação do Paquistão.

A batalha pelo controle de Caxemira continuou, com o Paquistão a registar avanços significativos na região do Himalaia. Em 1949, as Nações Unidas conseguiram mediar um cessar-fogo e estabelecer uma "Linha de Controle" (LOC). A nova fronteira dividiu a Caxemira  em partes quase iguais entre os dois países, com o Paquistão a controlar o norte e o Índia o sul.

Em 1956, as Nações Unidas reconheceram o desejo da parte da Caxemira controlada pela Índia de fazer parte deste país, a exemplo do que já ficara expresso em 1953. Em 1959, a China ocupou à força a seção de Aksai-Chin da Caxemira, considerando-a parte integrante da China comunista.

Em setembro de 1965, o Paquistão lançou um novo ataque surpresa, novamente com o objectivo de conquistar a parte indiana de Caxemira. Os combates duraram cerca de três semanas, até à entrada em cena da ONU, que conseguiu assegurar um novo cessar-fogo. Em 1969, o primeiro-ministro indiano, Lal Bahadur Shastri, e o Presidente do Paquistão, Ayub Khan, assinaram um tratado de paz mediado pela União Soviética, que restaurou a LOC em Caxemira.

Com Caxemira a assumir-se com o principal foco das atenções militares entre a Índia e o Paquistão, no plano político um clima de tensão desenvolveu-se durante anos entre as duas áreas do Paquistão separadas geograficamente. Em 1971, nacionalistas no leste do Paquistão declararam a sua independência relativamente ao Paquistão Ocidental, que dominava o governo do país.

A terceira guerra Indo-Paquistanesa foi combatida nas primeiras duas semanas de dezembro de 1971, depois de a Índia ter-se intrometido na guerra civil paquistanesa, apoiando os separatistas. No dia 17 de dezembro de 1971, o leste do Paquistão tornou-se o estado independente de Bangladesh.

Durante os 30 anos seguintes, os líderes políticos da Índia e do Paquistão encontraram-se diversas vezes em ambas as capitais dos seus países em países neutrais, tentando ultrapassar os pontos de conflito e resolver a questão de Caxemira. Mas os acordos de paz e não agressão foram-se sucedendo, assim como os conflitos. Ambos os países desenvolveram de forma secreta os seus programas de armamento nuclear e construíram mísseis de longo alcance capazes de transportar ogivas nucleares.

A Índia conduziu o seu primeiro teste com um engenho nuclear em 1974.

Até 1989, milhares de muçulmanos em Caxemira, apoiados pelas guerrilhas islâmicas do Paquistão, pegaram em armas depois de um levantamento militar dois anos antes. Esta rebelião foi provocada pelas eleições provinciais da Caxemira que os jovens muçulmanos consideraram falseadas em favor do partido hindu no poder.

Esta rebelião ganhou o apoio dos muçulmanos de Caxemira fartos de séculos de domínio mogal, sikh e hindu. Ao mesmo tempo que as tropas indianas entravam no território, a população da Caxemira renovou a exigência de que a Índia reconhecesse a resolução aprovada em 1948 pela ONU, garantindo o direito de referendar o desejo da população da Caxemira de permanecer parte da Índia, de se juntar ao Paquistão ou de se tornar independente.

O Governo indiano considera que 30 mil civis e extremistas foram mortos desde 1989, assim como 2000 policiais e oficiais de segurança. Os grupos de Direitos Humanos e grupos da oposição apresentam outros números: 60 a 80 mil mortos. Estes grupos dizem que estão desaparecidos cerca de 2500 jovens muçulmanos, e consideram que a responsabilidades destes desaparecimentos deve ser imputada às forças de segurança indianas ou aos extremistas que apoiam.

A tensão política entre Índia e Paquistão quase atingiu os seus limites no verão de 1998, quando os dois países efetuaram com sucesso uma série de testes nucleares subterrâneos. A Índia, que já detonara um engenho nuclear em 1974, confirmou o seu estatuto de estado com capacidade nuclear depois dos cinco testes conduzidos entre 11 e 13 de naio no estado desértico do Rajastão, perto da fronteira com o Paquistão.

A resposta do Paquistão aconteceu no dia 28 de maio, com o detonar de cinco engenhos nucleares no espaço de alguns minutos, e um sexto algumas horas mais tarde. O Paquistão declarou completos todos os seus testes nucleares.

A demonstração da capacidade militar por parte dos dois países continuou, com ambas as partes a testarem uma variedade de mísseis de longo alcance capazes de transportar ogivas nucleares bem dentro do território inimigo.

Atualmente, a fronteira de mais de 2 mil quilómetros entre as duas nações continua tensa e a disputa relativamente à Caxemira por resolver. Apesar de os líderes dos dois países terem concordado nos últimos anos em assinar vários acordo e propostas fronteiriças para Caxemira, o clima político e militar continua problemático. Em 1999, reacendeu-se o conflito militar entre as duas Nações, depois de rebeldes apoiados pelo Paquistão terem conquistado partes de Caxemira.

Receios de uma nova guerra voltaram a ser reais nos últimos dias de 2001, quando ambos os países fizeram deslocar milhares de soldados para a sua fronteira comum, devido ao reacender da violência separatista na Caxemira e ás acusações indianas de apoio dos serviços secretos paquistaneses a dois grupos extremistas de Caxemira, acusados do ataque suicida contra o parlamento em Nova Deli que provocou vários mortos.

A Índia possui atualmente na Caxemira 600 mil soldados (número instável devido à precariedade da situação), o que dá uma média de 1 para cada sete habitantes da região.

Capacidade Nuclear

A Índia e o Paquistão são reconhecidos internacionalmente como estados com armamento nuclear, mas decidiram não assinar o Tratado de Não Proliferação em 1968, atirando o subcontinente asiático para uma precária situação de instabilidade nuclear. Numa altura em que continua bem aberta a possibilidade de um conflito entre os dois países, muitos analistas políticos temem uma corrida aos armamentos nucleares. E apesar do estatuto do programa de armamento nuclear dos dois países continuar ainda publicamente desconhecido, qualquer conflito ligeiro na fronteira comum ou situação de guerra na Caxemira pode agravar a situação na região.

PAQUISTÃO
ESTATUTO:
Estado suspeito de possuir armamento nuclear
TESTES COM ARMAS NUCLEARES
Primeiro: 28 de Maio de 1998
O Mais Recente: 30 de Maio de 1998
OGIVAS NUCLEARES
2001: 25 (estimativa)

Apesar de ter iniciado tentativas de desenvolver um programa de armamento nuclear em 1975, o Paquistão apressou realmente essa vontade durante uma clima de enorme tensão militar com a Índia, devido à questão da Caxemira, um território majoritariamente muçulmano reclamado pelo Paquistão, que conduziu cinco testes em três dias, declarando-se, logo a seguir e de forma oficial, uma potência nuclear.

Relatórios publicados em meados da década de 90, indicavam a possibilidade de o Paquistão possuir até 10 ogivas nucleares de desenho chinês. O Paquistão tem mísseis de médio alcance e aviões caça-bombardeiro capazes de transportarem armamento nuclear.

LOCAL DOS TESTES NUCLEARES

LOCALIZAÇÃO: Colinas de Chagai (junto à fronteira com o Afeganistão)

No dia 28 de maio de 1998, o Paquistão anunciou ter conduzido com sucesso cinco testes nucleares. A Comissão de Energia Atómica do Paquistão disse que os testes utilizaram o total 40 quilotoneladas. De acordo com relatórios locais, as detonações foram efectuadas durante um período de duas horas. Dois dias depois, o Paquistão testou uma outra bomba nuclear com uma potência de 12 quilotoneladas. Fontes paquistanesas afirmaram ainda que um outro engenho nuclear, que deveria ter sido detonado no dia 30 de maio, continuou enterrado no local dos testes, preparado para detonação. Todos os testes foram subterrâneos.

Mísseis Balísticos de Alcance Intermédio – Mísseis Balísticos de Médio Alcance

M-11
34 a 80 mísseis
1 ogiva cada

HATF-2
mísseis desconhecidos
1 ogiva cada

Total:
50 mísseis
ogivas desconhecidas

Bombardeiros:

F-16
32 aviões
1 bomba cada

A-5
60 aviões
1 bomba casa

Mirage III/5
180 aviões
1 bomba cada

Total:
272 aviões
25 bombas

ÍNDIA
ESTATUTO:
Estado suspeito de possuir armamento nuclear
TESTES COM ARMAS NUCLEARES

Primeiro: 18 de Maio de 1974
Mais recente: 13 de Maio de 1998
OGIVAS NUCLEARES
2001: 60 (estimativa)

O desenvolvimento do programa nuclear indiano foi iniciado devido aos confrontos fronteiriços com a China, em 1962, e mais recentemente, com o vizinho Paquistão. Apesar de ter conduzido um teste nuclear em 1974, não se considerou uma potência nuclear até 1998. Nesse ano, a Índia conduziu cinco testes nucleares, numa demonstração de força dirigida ao Paquistão, durante uma situação de enorme tensão devido à questão de Caxemira. A Índia não é um país signatário do Tratado de Não-Proliferação, que considera discriminatório relativamente aos países sem capacidade nuclear. As estimativas do número de armas nucleares no arsenal indiano apontam para números entre 60 e 200. Estes números têm por base estimativas do plutónio que poderia ser extraído das suas seis centrais nucleares de água pesada não monitorizadas. O Pentágono acredita que a Índia tem capacidade para reunir e utilizar rapidamente armamento nuclear com mísseis de médio alcance ou bombardeiros de médio alcance.

LOCAL DE TESTES NUCLEARES

LOCALIZAÇÃO: Pokharan

No dia 11 de maio de 1998, a Índia conduziu três testes nucleares subterrâneos em Pokharan. Um dos testes foi efectuado com um engenho termonuclear com uma potência de 43 quilotoneladas; o segundo com um engenho por fissão com um poderio de cerca de 12 quilotoneladas. Dois dias depois, após outros dois testes subterrâneos, o governo Indiano anunciou o fim de uma série de testes e declarou- se um estado com capacidade nuclear.

Mísseis Balísticos de Alcance Intermédio – Mísseis Balísticos de Médio Alcance

Agni I
10 a 20 mísseis
1 ogiva cada

Agni II
mísseis desconhecidos
1 ogiva cada

Prithvi
75 mísseis
1 ogiva cada

Total:
100 mísseis
40 ogivas

Bombardeiros:

Jaguar
116 aviões
1 bomba cada

Mig-27
200 aviões
1 bomba cada

Mirage 2000
42 aviões
1 bomba cada

Total:
358 aviões
20 bombas


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Fevereiro de 2002

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