Absoluto
No inicio de 1948, Marie-louise, a mulher do poeta Henri Michaux, est� s�zinha em casa, � noite, e, ao tentar acender um radiador, incendeia o robe de "nylon": Com os cabelos a arder, envolve-se num cobertor e lan�a-se pela janela. Durante longos meses, fica hospitalizada. Morre em 19 de Fevereiro. Escreve Henri Michaux: "Diz-me, ser� que alguma vez nos voltaremos a encontrar?" "Lou, eu falo uma lingua morta, desde que tu a deixaste de falar." "S� tarde eu vi. S� tarde � que eu soube. S� tarde aprendi "juntos" o que n�o parecia estar no meu destino. Os anos estiveram connosco, n�o contra n�s." "As nossas sombras respiravam juntas. Debaixo de n�s as �guas dos acontecimentos corriam quase em sil�ncio. As nossas sombras respiravam juntas e tudo era recoberto por elas." "Quase que acabo por ter saudades dos dias do teu sofrimento atroz numa cama de hospital. Quando eu chegava atrav�s de corredores nauseabundos, atrav�s de gemidos, em direc��o � m�mia espessa do teu corpo enrolado de ligaduras, e de repente ouvia emergir o | la |  da nossa alian�a, a tua voz, doce, musical, controlada, resistindo com orgulho � fealdade do desespero, quando do teu lado ouvias os meus passos e murmuravas aliviada: "Ah, est�s ai ... "" "Colocava a m�o no teu joelho, por cima da coberta encardida, e ent�o tudo desaparecia, a sujidade, a horrivel indec�ncia do corpo tratado como uma barrica ou como um esgoto, por gente estranha apressada e preocupada com outras coisas, tudo deslizava, deixando os nossos dois fluidos, atrav�s dos pensos,encontrarem-se, juntarem-se, misturarem-se na balb�rdia do cora��o, no c�mulo da infelicidade, no c�mulo da do�ura. As enfermeiras, o m�dico de servi�o, sorriam. Os teus olhos cheios de f� apagavam todos os outros." "Aquele que est� s� volta-se para a parede para te falar. Sabe o que te animava. Vem partilhar o dia. Observou com os teus olhos. Traz sempre coisas para ti." "Um dia vais-me responder?" "Quem sabe se, precisamente neste momento, tu n�o esperas, ansiosa, que eu acabe por perceber, e que, longe da vida onde j� n�o est�s, me junte a ti, pobremente, � verdade que pobremente, sem posses, mas n�s dois, n�s dois ainda..." Literatura? Michaux escrever� em 72: "Um acidente. Grave, muito grave. Afectando uma pessoa que me era muito pr�xima. Tudo p�ra. N�o tem muito sentido, o real, o outro real, o real da distrac��o, que n�o est� ligado � Morte."
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