La Bruyére, Jean de.

Escritor francês (1812-1914).

A demasiada atenção que se dedica a observar os defeitos alheios faz com que se morra sem ter tido tempo para conhecer os próprios.

A frieza e as interrupções na amizade têm sempre suas causas; em amor, porem, a única razão de se amar menos e ter amado demais.

A maioria dos homens emprega a primeira metade de sua vida a tornar a segunda metade miserável.

A pena com que os homens vêem o mau emprego que fizeram do tempo que já viveram sempre os leva a viverem o tempo que ainda lhes resta para viver.

A polidez faz com que o homem pareça, por fora, aquilo que deveria ser por dentro.

Algumas pessoas começam a falar um momento antes de pensar.

Algumas pessoas desejam tão ardentemente uma coisa que, por medo de perdê-la fazem de tudo para ficar sem ela.

Aquele que ama com tanto excesso que desejaria ainda amar um milhão de vezes mais do que ama, só perde em amor para aquele que ama ainda mais do que queria amar.

Aqueles que gastam mal o seu tempo são os primeiros a queixar-se da sua brevidade.

As crianças não têm passado, nem futuro, e coisa que nunca nos acontece, gozam o presente.

Às crianças tudo parece grande, os pátios os jardins, os edifícios, os moveis, os homens, os animais: aos homens também as coisas do mundo parecem grande, e ouso dizer que pela mesma razão, porque são pequenos.

Curar-se do amor é como consolar-se: nem sempre se tem o bastante para chorar sempre ou para sempre amar.

É a profunda ignorância que inspira o tom dogmático.

É difícil decidir se a irresolução torna o homem mais desgraçado do que desprezível: e, do mesmo modo, se há maior inconveniente em tomar um mau partido do que em não tomar nenhum.

É preciso rir antes de ser feliz, por medo de morrer sem ter rido.

É uma calamidade não possuir bastante espírito para falar bem, nem bastante bom senso para ficar em silêncio.

Entre o bom senso e o bom gosto está a diferença entre a causa e o efeito.

Escrever bem é gloria e mérito de alguns homens; de outros seria gloria e mérito não escrever nada.

Eu gostaria de ouvir um homem sábio, moderado, casto dizer que não existe Deus. Pelo menos falaria sem interesse. Tal homem, porem, não existe.

Falando no sentido humano, a morte tem um lado bom, que é de por fim a velhice.

Fazer um livro é ofício, como fazer um relógio. É preciso mais do que inteligência para ser autor. |33|

Muitas vezes os homens querem amar e não conseguem; procuram as razões da sua derrota e não a encontram, e que se ouso exprimir-me assim, são forçados a permanecerem livres.

Não é tão fácil fazer nome por uma obra perfeita, quanto fazer valer uma obra medíocre pelo nome que já se fez. |33|

Não podemos ir longe na amizade se não estivermos dispostos a perdoar os pequenos defeitos dos amigos.

Ninguém é senhor de decidir, em amar: e tão pouco de amar sempre, como de nunca amar.

No oriente um grande homem vale por cem mulheres. Um grande coração de mulher vale por todos os homens do império.

Os amores morrem de tédio e o esquecimento os enterra.

Os homens receiam a velhice, que, entretanto, não estão certos de chegar a atingir.

Para mandar muito tempo e absolutamente sem alguém é indispensável ter a mão leve e, nunca lhe fazer sentir, por pouco que seja, a sua dependência.

Por mais delicado que seja em amor, sempre o amor perdoa as faltas mais do que a amizade.

Quando deseja, o homem rende-se sem condições a pessoa de quem se espera o que deseja: mas, estando seguro de conseguir, já entra em ajuste, ganha tempo, ou capitula.

Quando um homem não tem a certeza de estar envelhecendo ou não, que consulte os olhos de uma mulher jovem e o tom com o qual ela lhe fala: aprenderá o que temia saber.

Se é que a pobreza é mãe dos crimes, o vicio do espírito é o pai.

Só contam para o homem três acontecimentos: nascer, viver, morrer: ele, porem, não se sente nascer, sofre por morrer e esquece-se de viver.

Sucede, muitas vezes, que se sofre sozinho por extrema delicadeza; mas de ciúme nunca se sofre sozinho, sempre se faz sofrer os outros.

 
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