A demasiada atenção que se dedica a observar os defeitos
alheios faz com que se morra sem ter tido tempo para
conhecer os próprios.
A frieza e as interrupções na amizade têm sempre suas
causas; em amor, porem, a única razão de se amar menos e ter
amado demais.
A maioria dos homens emprega a primeira metade de sua vida a
tornar a segunda metade miserável.
A pena com que os homens vêem o mau emprego que fizeram do
tempo que já viveram sempre os leva a viverem o tempo que
ainda lhes resta para viver.
A polidez faz com que o homem pareça, por fora, aquilo que
deveria ser por dentro.
Algumas pessoas começam a falar um momento antes de pensar.
Algumas pessoas desejam tão ardentemente uma coisa que, por
medo de perdê-la fazem de tudo para ficar sem ela.
Aquele que ama com tanto excesso que desejaria ainda amar um
milhão de vezes mais do que ama, só perde em amor para
aquele que ama ainda mais do que queria amar.
Aqueles que gastam mal o seu tempo são os primeiros a
queixar-se da sua brevidade.
As crianças não têm passado, nem futuro, e coisa que nunca
nos acontece, gozam o presente.
Às crianças tudo parece grande, os pátios os jardins, os
edifícios, os moveis, os homens, os animais: aos homens
também as coisas do mundo parecem grande, e ouso dizer que
pela mesma razão, porque são pequenos.
Curar-se do amor é como consolar-se: nem sempre se tem o
bastante para chorar sempre ou para sempre amar.
É a profunda ignorância que inspira o tom dogmático.
É difícil decidir se a irresolução torna o homem mais
desgraçado do que desprezível: e, do mesmo modo, se há maior
inconveniente em tomar um mau partido do que em não tomar
nenhum.
É preciso rir antes de ser feliz, por medo de morrer sem ter
rido.
É uma calamidade não possuir bastante espírito para falar
bem, nem bastante bom senso para ficar em silêncio.
Entre o bom senso e o bom gosto está a diferença entre a
causa e o efeito.
Escrever bem é gloria e mérito de alguns homens; de outros
seria gloria e mérito não escrever nada.
Eu gostaria de ouvir um homem sábio, moderado, casto dizer
que não existe Deus. Pelo menos falaria sem interesse. Tal
homem, porem, não existe.
Falando no sentido humano, a morte tem um lado bom, que é de
por fim a velhice.
Fazer um livro é ofício, como fazer um relógio. É preciso
mais do que inteligência para ser autor. |33|
Muitas vezes os homens querem amar e não conseguem; procuram
as razões da sua derrota e não a encontram, e que se ouso
exprimir-me assim, são forçados a permanecerem livres.
Não é tão fácil fazer nome por uma obra perfeita, quanto
fazer valer uma obra medíocre pelo nome que já se fez. |33|
Não podemos ir longe na amizade se não estivermos dispostos
a perdoar os pequenos defeitos dos amigos.
Ninguém é senhor de decidir, em amar: e tão pouco de amar
sempre, como de nunca amar.
No oriente um grande homem vale por cem mulheres. Um grande
coração de mulher vale por todos os homens do império.
Os amores morrem de tédio e o esquecimento os enterra.
Os homens receiam a velhice, que, entretanto, não estão
certos de chegar a atingir.
Para mandar muito tempo e absolutamente sem alguém é
indispensável ter a mão leve e, nunca lhe fazer sentir, por
pouco que seja, a sua dependência.
Por mais delicado que seja em amor, sempre o amor perdoa as
faltas mais do que a amizade.
Quando deseja, o homem rende-se sem condições a pessoa de
quem se espera o que deseja: mas, estando seguro de
conseguir, já entra em ajuste, ganha tempo, ou capitula.
Quando um homem não tem a certeza de estar envelhecendo ou
não, que consulte os olhos de uma mulher jovem e o tom com o
qual ela lhe fala: aprenderá o que temia saber.
Se é que a pobreza é mãe dos crimes, o vicio do espírito é o
pai.
Só contam para o homem três acontecimentos: nascer, viver,
morrer: ele, porem, não se sente nascer, sofre por morrer e
esquece-se de viver.
Sucede, muitas vezes, que se sofre sozinho por extrema
delicadeza; mas de ciúme nunca se sofre sozinho, sempre se
faz sofrer os outros. |