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- SONIA
MARIA MAFASSIOLI CORREA
Licenciada em Geografia com Especialização em Geografia
Humana. Mestre em Educação.
Professora de Didática e Prática do Ensino de Geografia
e Metodologia dos Estudos Sociais na Pré-Escola. Santa Maria/RS.
O
espaço geográfico, objeto de estudo da Geografia, começou
a ser valorizado e significativo, quando o homem, fazendo uso das técnicas
e instrumentos de trabalho, começou a tirar da natureza os recursos
indispensáveis a sua sobrevivência. Este espaço, que
é produzido e constantemente modificado, tem seus elementos representados
através de plantas, cartas e mapas. As representações
gráficas, segundo Martinelli, fazem parte dos sistemas de sinais
que o homem construiu para se comunicar com os outros. Compõem
uma linguagem gráfica, bidimensional, atemporal, destinada à
vista. Trabalha, portanto, com a imagem, usando para tanto a cor que,
ainda conforme o autor, tem grande poder de comunicação
visual, além de atuar sobre a emotividade humana.
Nos Parâmetros curriculares nacionais, lê-se: A cartografia
é um conhecimento que vem se desenvolvendo desde a pré-história
até os dias de hoje. Por intermédio dessa linguagem, é
possível sintetizar informações, expressar conhecimentos,
estudar situações, entre outras coisas - sempre envolvendo
a idéia da produção do espaço: sua organização
e distribuição.
São ainda os Parâmetros curriculares nacionais que reafirmam
a importância da cartografia, ao colocarem como um dos objetivos
do ensino de Geografia, no ensino fundamental, saber utilizar a linguagem
cartográfica para obter informações e representar
a espacialidade dos fenômenos geográficos, assim como sugerem
blocos temáticos onde elencam conteúdos, entre os quais
leitura e compreensão das informações expressas em
linguagem cartográfica.
O mapa aparece em revistas, jornais e noticiários de televisão;
faz-se presente em gabinetes de políticos e empresários;
é usado por economistas, urbanistas, engenheiros e militares, assim
como para orientar turistas em suas viagens. O local, porém, onde
seu uso deve-se fazer mais presente é em sala de aula, para ser
utilizado, preferencialmente, na disciplina de Geografia.
Para ler e poder interpretar toda a riqueza de informações
que um mapa possui, é necessário que a criança seja
capaz de decodificar sua linguagem, representada por pontos, linhas e
áreas. O domínio dessa linguagem deve iniciar, segundo a
professora Maria Helena Simielli, pela alfabetização cartográfica
da criança, depois pela construção de seus próprios
mapas com a codificação dos elementos de espaços
que lhes são próximos para, somente então, ler mapas
feitos por outras pessoas. O que acontece normalmente é o contrário.
A criança é posta frente a mapas prontos, sem ter condições
de interpretá-los. Esse procedimento é a causa da aversão
que grande parte dos estudantes tem pelo uso de mapas nas aulas de Geografia.
Nesse processo de construção do conhecimento, o projeto
Cartobrincando: o ensino da cartografia na educação básica
faz uso do jogo como procedimento didático de apoio ao ensino da
cartografia, na certeza de que, através de vivências lúdicas,
a criança forme conceitos, compare idéias, estabeleça
relações lógicas, desenvolva a expressão oral
e reforce a sociabilidade.
Dos elementos contidos nos mapas, usaremos a orientação
para exemplificar o uso lúdico em sala de aula, através
de três jogos: Onde Você Chegou 1, 2 e 3.
O estabelecimento das relações projetivas tem que preceder
o estudo da orientação através dos pontos cardeais.
Essas relações esquerda/direita, em cima/embaixo e na frente/atrás
variam de acordo com o ponto de vista de quem observa ou conforme uma
determinada referência.
A
construção dessas noções pela criança
inicia-se por volta dos 5 anos e tem, como ponto de partida, o seu próprio
corpo, quando ela consegue saber qual a sua direita e qual a sua esquerda,
ou o que está acima ou abaixo dela. Depois, em um processo gradativo
de descentralização, considera a esquerda e a direita de
pessoas colocadas a sua frente, para finalmente, por volta dos 11, 12
anos,já totalmente liberta de seu egocentrismo, considerar o posicionamento
dos objetos em relação uns aos outros, a ela própria
ou a outras pessoas.
O jogo Onde Você Chegou 1 trabalha com as relações
projetivas e destina-se a crianças no último estágio,
isto é, que já consideram a localização dos
objetos uns em relação aos outros, independentemente do
seu posicionamento.
Após
o estabelecimento dessas relações, a criança já
tem condições de entender o que é orientação
através dos pontos cardeais e colaterais. Deve-se ressaltar que
seu estudo deve-se dar inicialmente no espaço concreto, no espaço
de vivência do aluno, através do uso de uma bússola.
O jogo Onde Você Chegou 2 trabalha com essas direções
e destina-se a crianças que, após terem trabalhado em situações
concretas, têm condições de estabelecer relações
entre dois ou mais pontos através de sua representação.
Finalmente, o jogo Onde Você Chegou 3 trabalha com orientação
através dos pontos cardeais e colaterais, em uma representação
cartográfica. Para isso, usou-se um mapa rodoviário onde
aparecem as estradas que ligam algumas das principais cidades do Estado
do Rio Grande do Sul. (podendo utilizar outro mapa, por exemplo o mapa
de Santa Catarina)
CONCLUINDO
Os jogos
usados nesse artigo servem para mostrar como se pode fazer a construção
das noções espaciais relativas à orientação.
Essas noções são fundamentais, tanto para que a criança
possa se orientar no espaço onde se encontra, quanto para poder
ler e interpretar plantas, cartas e mapas.
Outras noções podem ser desenvolvidas dessa forma. O projeto
Cartobrincando tem já confeccionados jogos destinados a construir
noções de localização absoluta, a elaborar
gráficos e a aprender outros conteúdos relativos ao ensino
da Geografia.
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Rosângela; PASSINI, Elza. O espaço geográfico:
ensino e representação. São Paulo : Contexto, 1989.
BRASIL. Ministério
da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental.
Parâmetros
curriculares nacionais História e Geografia. Brasília, 1997.
MARTINELLI,
M. Curso de cartografia temática. São Paulo : Contexto,
1991.
SANTOS, Milton.
Por uma geografia nova. São Paulo : Hucitec, 1986.
SANTOS, Santa
Marli Pires dos. O lúdico
na formação de educador. Petrópolis Vozes, 1997.
SIMIELLI,
Maria Helena. Trabalho orientado:
como trabalhar com mapas. In: Encontro Estadual de Professores de Geografia.
Texto extraído
da REVISTA DO PROFESSOR, Porto Alegre, Ano XV - nº57, jan./mar. 1999
- Ensino da Cartografia através de jogos, páginas 25 a 30.
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