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CARNAVAL é ISSO AI !!!

Sabe aquela velha maxima que sempre se ouve a boca miuda de que essa gente de carnaval (essa negrada!!!) só pensa em diversão, só querem carnaval, festa e beberagem ... (atitude essa que por incrível que pareça tem o aval de uma pequena parcela de nossa comunidade) eles não estão errados... pois só erra quem se engana por ter emitir juizo, valor, diferente da grandeza e conceito exatos, tido por algum tipo de especialistas como correto. Quando eles dizem esse tipo de coisa, eles não se enganam, eles anganam, e conscientemente, portanto o mínimo de enquadramento que se pode dar a esse tipo de afirmação e o de mentira, e mal intencionada. Carnaval é coisa muito seria nesse pais, não e só diversão não, é trabalho, e trabalho duro, (muitas vezes remunerado), não é só festa, pois vale um campeonato e esse desfile envolve muita seriedade.  Alias dentro desse principio, no que se enquadraria o respeitado futebol ? o futebol e um esporte, logo lazer, e porque nossa elite não o enquadra no mesmo nível de diversão, festa, bebedeira, etc. (e futebol ocorre duas vezes por semana), será porque o futebol e controlado pelas classes dominantes, por seus cartolas bem vestidos, de fala bonita, com boa posição social e residência em bairros nobres da capital, será por isso que esse é tratado com mais parcimônia e respeito.  Porque essas mesmas pessoas que reclamam contra a construção de um local de desfiles carnavalescos que alegraria o nosso sofrido povo uma vez por ano, não o fazem dos foguetorios, gritaria de torcedores, festas e bebedeiras futebolísticas toda semana??   No futebol seguido ouvimos frases do tipo, hoje tem jogo serio, hoje tem jogo decisivo, jogo valendo ponto,  são profissionais, grande dirigente, excelente pessoa ... o carnaval não as tem ??

Essa minha gente, foi a minha diretriz principal, e talvez tenha sido a mesma dos que vieram antes de mim, de mostrar que o carnaval não e coisa só para diversão. Por isso quando solicitei ajuda a Nilo Feijó e este me deu 5 fitas cassetes gravadas com material de um seminário ocorrido em 1997 no Satélite Prontidão, fiquei pasmo... como haviam grupos antigos, como haviam nomes diferentes, e que passado glorioso tivemos nessa festa...   A partir dai foi um passo para tentar colocar aquilo tudo num site carnavalesco, e como o tamanho do site  era pequeno resolvi partir para o livro (devido a custos existem apenas 50 exemplares), foram 35 entrevistas ao vivo, mais de 20 entrevistas por telefone, pesquisas diversas na internet, e pesquisas que abrangeram 100 anos do século XX, mais 30 do século XIX, (até alcançarem 1874, anos da Esmeralda e Venezianos), cada ano 3 meses, 90 jornais por ano, anos que havia um só jornal circulando que falava do carnaval, mas anos que haviam 3 ou mais... tudo para se dar nomes aos bois, data de fundações, fundadores, nomes corretos, cores, locais das sedes, aquilo que era lembrado com uma certeza de décadas agora, agora e dado como datas corretas.

Eu me perguntava, assim como outros devem ter tido a mesma duvida, o que eram esse tais Tesouras, Turunas, Ideal, Marinha, Pois Olha, Predilectos.  O que era um Remelexo, uma Baianinha, Morcego, e Guarda-dos-Pauzinhos, quem eram as pessoas que se escondiam por trás desses personagem, quem eram aqueles que criaram essas sociedades, será que queriam apenas se divertir, beber, dancar ??   Posso agora depois dessa pesquisa garantir que não.  Por entrevistas, cujos entrevistados mais antigos (os que nasceram por volta de 1915 até 1930) e por jornais, garantir que houveram sociedades que eram sim carnavalescas, mas nunca se descuidaram dos eventos humanitários como auxilio funeral, alimentação, educação etc. Eram sociedades como a Laços de Ouro (formada por mulheres); como a vovó Floresta Aurora (de 1872), e suas varias divisões (banda, recreio, carnavalesca) que prestaram vários socorros a comunidade negra através dos tempos; como a atual Satélite Prontidão (nascida em 1902 como Satélite Porto Alegrense) que ate hoje presta serviços comunitários, oferece cursos e promove eventos culturais; das nossas atuais escolas de samba que durante o ano dão cursos de musicas, dança...; dos Caetés que chegaram a ser convidados para dar show no Palácio Piratini; de varias delas que se apresentaram no Theatro São Pedro (e o fazem atualmente).  Isso tudo anteriormente citado, pensemos sinceramente, pode ser considerado só como diversão, só como lazer, só como festa carnavalesca !??? e claro que não.   Precisamos mostrar ao nosso povo que carnaval e coisa muito seria (digo ao nosso povo porque para elite não adianta mostrar, pois que fazem o papel do pior cego), que temos um passado muito glorioso, que fez historia e que tem um grande futuro à nossa frente. É só querer.

Analizando esse passado vemos que todos esses grupos carnavalescos, principalmente dos anos 20, 30 e 40,  na sua maioria negros passaram ao longo dessa historia, geralmente contada pela classe dominante, quase como simples agrupamentos de uma evolução carnavalesca da qual essa historia faz parecer  que foram apenas participantes passivos, e isso quando de comprovada existência.  Quantas vezes ouvimos falar de que os Tesouras existiram pelos anos 20, e só. De que a Marinha era azul e branco e só. Que Turunas era o grupo da Horacina Correa e só.  Ate hoje nossa elite sabe mais sobre as nobres Esmeralda, Venezianas, etc. (já extintas) do que sobre centenas de grupos negros surgidos (e desaparecidos) da Colônia Africana ou Areal da Baronesa.  Nosa chamada Classe Dominante atualmente só tem conhecimento sobre Imperadores e Bambas por que é quase impossível negar sua exuberante existência. Assim foi com maior prazer que comprovei nessa pesquisa a existência desse glorioso passado repleto de personagens, foliões, heróis, com suas historias cheias de vitorias e derrotas, nascimentos e mortes, sofrimentos e alegrias, de muito trabalho, sangue e suor, e claro musica e dança.

Heitor Carlos Sá Britto Garcia, nasceu na extinta Colônia Africana, na rua Casemiro de Abreu, em julho de 1956. Filho de Heitor Garcia (componente dos Caetés) e de Adelina Sa Britto Garcia (Rainha do Ai Vem a Marinha) formou-se em Licenciatura em Artes Plásticas pela UFRGS em 1991. No carnaval foi freqüentador do tempo do coreto da Vicente da Fontoura e quando adulto trabalhou em barracão de escolas de samba confeccionando esculturas de isopor, locais onde teve oportunidade de conhecer gente como o Tadeu pé-de-vento, Chiquinho, Tigrinho e o artista do isopor Sergio Pinto. nasceu na Casemiro de Abreu (ex-Colonia Africana),  Professor de Artes Plasticas formado pelo Instituto de Artes da UFRGS. Heitor é o escritor do livro Fragmentos Históricos do Carnaval de Porto Alegre. 

O livro “Fragmentos Históricos do Carnaval de Porto Alegre“
encontra-se a venda no Martins Livreiro na rua Riachuelo, e
pelo fone 3227-5300..

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