PS - Ortopedia

Semana IV

Segunda-feira, 10 de setembro
Hoje é meu último dia de Centro Cirúrgico do PS. O dia começou bem, com um caso às 7:30 de uma fratura de tornozelo. Sem maiores problemas, haviam poucas cirurgias programadas...

Mas parece até que a população adivinhou que o centro cirúrgico do PS seria tranqüilo naquele dia... Durante a primeira cirurgia chega a notícia: chegou uma fratura exposta no PS.

Fratura exposta é aquele tipo de fratura em que o osso sai para fora da pele e entra em contato com o meio ambiente. Existem vários graus de exposição, não vem ao caso, porém é importante frisar que esta é uma urgência ortopédica, pois quanto mais se demora para abordar, maior a chance de infecção óssea (osteomielite), que é uma infeccção muito difícil de tratar, pode durar anos e anos de tratamento, e pode, em alguns casos, até acabar em amputação.

O que se faz durante a cirurgia depende do local da fratura, mas basicamente é lavar muito bem, com muitos e muitos litros de soro fisiológico, até ficar (pelo menos macroscopicamente) limpa, e então tratar a fratura (ou preparar para uma abordagem posterior). Geralmente se faz um fixador externo, que tem menos chances de infectar ainda mais o foco de fratura, porque não "toca" neste foco. Às vezes, dependendo da gravidade do caso e do tempo decorrido desde o acidente até a cirurgia, é possível se fazer placa ou pino.

Durante esta primeira cirurgia de fratura exposta (motociclista, claro), chega a notícia: chegaram mais duas fraturas expostas... MAs porque ninguém mais sobe ao centro cirúrgico para ajudar? A resposta vem quase imediata: O PS está um caos! CAOS!

Imagino como deveria estar o PS... Se numa segunda-feira normal já está lotado, imagine após um feriadão de 7 de setembro... Imagino e esqueço... As fraturas expostas vão ficar para nós mesmos...

Cerca de 16:00 acabamos de tratar a primeira fratura exposta, 16:30 começamos a outra... Outra fratura de perna... Outro motociclista...

No meio desta cirurgia, sobe mais gente do PS para fazer a outra fratura exposta, de tornozelo, de outro motociclista, claro... Adriano era o R1...

Lá pelas 20:00 acabamos a nossa... A do Adriano terminou por volta das 21:30. A esta altura, claro, todas as outras cirurgias agendadas tinham sido adiadas para outro dia.

Ainda havia mais um aviso de cirurgia... Uma fratura (esta fechada), de uma criança de 9 anos, ossos da perna. Queriam que fizesse no centro cirúrgico para receber anestesia e fazer sob radioscopia, para garantir resultado melhor.

A radioscopia demorou um pouco para ser liberada pelo grupo de Microcirurgia, que também estava no centro cirúrgico ainda naquela hora. Lá pelas 22:30 conseguimos começar esse gesso, terminamos pouco depois. Pedido o Rx de controle, coisa e tal, vimos que tinha ficado bom, fomos embora.

Saí do Instituto 23:30. Meu recorde desde que comecei a residência.

Terça-feira, 11 de setembro
Voltei para a porta do PS. Soyama foi para o centro cirúrgico. Adriano estava na porta-fundo. Willy na enfermaria. Bruno estava comigo na porta.

A manhã foi aquela coisa de sempre: lombalgia, entorse de tornozelo, lombalgia, entorse, lombalgia, entorse... Fui almoçar (sempre tenho fome antes que os outros), e voltei. Nos comunicaram que haveria outra sala cirúrgia para o PS e que era para algum R1 subir. Como eu era o único que havia almoçado, fui eu.

Seria uma limpeza cirúrgica. Fiquei "agitando" sala, isto é, pedindo material, conversando com anestesista, etc... Mas aquele dia estava todo mundo meio alvoroçado, ligados na televisão, acompanhando as notícias de um atentado terrorista nos Estados Unidos.

Dois aviões de passageiros, que haviam sido seqüestrados, foram jogados, estilo kamikaze, contra as duas torres do World Trade Center, dois dos maiores prédios do mundo, com 120 andares cada (ou seriam 102???). Não importa, as duas torres desmoronaram, transformando Nova York em um caos, pondo os EUA em pânico e o mundo todo por conseqüência. Na cabeça de todos pairava a sinistra dúvida de que aquele poderia ser o início da Terceira Guerra Mundial... E pior, poderia ser uma guerra nuclear... Outro avião, no mesmo estilo, havia mergulhado no Pentágono, centro das forças armadas americanas... Quem seria o autor daquilo? Iraquianos? Árabes? Libaneses? Japoneses? Ainda não se sabe...

Bom, enquanto isso, no centro cirúrgico em que eu estava, soube que o paciente da limpeza não poderia subir pois tinha ido ao Instituto de Radiologia para fazer uma  arteriografia. Bom, pedi para trocar então o paciente por outra cirurgia pequena, no caso, uma retirada de corpo estranho (uma agulha, no caso) do pé de uma paciente que havia chegado naquela tarde.

Geralmente não se procura tirar esses tipos de objetos de dentro do corpo de uma pessoa, a não ser em casos especiais... Neste caso era porque a agulha estava em área de apoio, poderia então atingir o osso e causar osteomielite, além de dor incapacitante a cada passo.

O problema foi que depois de anestesiada, depois que eu já havia aberto os pontos (que já haviam feito em outro serviço), e começado a cirurgia sozinho (tinha que retirar uma agulha quebrada de dentro do pé de uma mulher), descobri que aquilo não era uma coisa fácil... Não conseguia de jeito nenhum achar a droga da agulha, por mais que eu cutucasse e cutucasse... O assistente chegou e ficou meio bravo, afinal, ele tinha pedido radioscopia... eu não havia visto... e naquela sala não havia tomada adequada para levara o aparelho lá...

Ele entrou na cirurgia, e meia hora depois conseguiu achar a agulha... Por sorte, ele mesmo disse... Ele pelo menos (acho) me perdoou pelo equívoco...

A limpeza entrou depois... Feita, desci de volta para o PS, já eram 19:00. Tudo limpo...

Fui embora neste minuto. Teria prova no dia seguinte, pretendia estudar em casa.

 

Quarta-feira, 12 de setembro
Cheguei em casa no dia anterior e tomei banho e jantei. Pretendia dormir um pouquinho e acordar por volta das 0:00 para estudar... Mas quem disse que meu relógio conseguiu me despertar? Nada... Acordei no dia seguinte já na hora de voltar para o hospital.

Nenhuma novidade sobre o desastre em Nova York... Apenas que estavam resgatando sobreviventes de dentro dos escombros do World Trade Center, que conseguiam comunicar com o mundo exterior pelos seus celulares... Como a tecnologia mudou os tempos, hein? Lembro do terremoto do México que ocorreu há muitos anos, eu ainda era bem criança... Não havia celulares e provavelmente muitas pessoas morreram porque não foram  encontradas sob os escombros dos prédios, não pela catástrofe em si... Hoje, até isso pode ser resolvido pelo celular...

Cheguei, fomos tocando as fichas, eu e o Bruno. No meio da manhã eu subo para uma cirurgia, no centro cirúrgico do primeiro andar. Primeira cirurgia super rápida, pois o cirurgião mudou os planos antes de começar, e resolveu apenas trocar o curativo, já que operar poderia ser mais prejudicial ao paciente. Comi uns sanduíches que tinha lá, enquanto conversava com o R2 sobre a matéria da prova. Entrou uma limpeza cirúrgica, e acabei ficando. O paciente não quis ser sedado, só quis a raqui, e ficou falando o tempo todo durante a cirurgia... Que figuira... Era aquele paciente que estava sendo operado quando eu cheguei na última sexta, feriado... Não estava infectado, estava indo muito bem.

Voltei para o PS. Uma hora de atraso, normal para a hora do almoço... Mas, precisávamos almoçar... Primeiro foi o Bruno, às 13:10 mais ou menos... Depois fui eu, mas não almocei, pois tinha comido aqueles sanduíches... Saí, tomei um café, uma coca light, fumei um cigarro e voltei, 15 minutos depois. Então foi o Adriano.

Fomos para a prova às 15:00... É difícil, mas estimulante para o raciocínio, fazer uma prova sem estudar NADA!!! Você começa a fazer as associações mais malucas, eliminar alternativas erradas, e aprende a olhar cada vez mais rápido para aprova do vizinho... he he he. Não sei como fui, não tenho a mínima noção... Amanhã já deve ter um gabarito.

Voltamos para o PS por volta das 17:00. Bruno subiu para uma cirurgia. Soyama foi quem acabou a prova primeiro, e já estava no centro cirúrgico. Eu, Adriano e Willy não tivemos problemas em terminar o plantão, os R2 tinham feito um bom trabalho enquanto estivemos fora.

Saí do PS às 19:00. Cheguei em casa bem cansado, apesar do dia ter sido "light", e dormi feito um bebê, pensando que só faltavam dois dias para o fim deste estágio... e prometendo estudar mais para a próxima prova...

 

Quinta-feira, 13 de setembro
Pouco comentamos sobre a prova do dia anterior.

Um dia que transcorreu tranqüilo, meio chuvoso...

Na porta as mesmas "malices" de sempre, lombalgias, entorses de tornozelo e, que ficou mais prevalente nestes últimos tempos, fasceíte plantar.... Pelo menos ando diagnosticando muito isso...

O dia para mim foi legal... Atendi na porta essas coisinhas e aprendi a fazer uma sutura de tendão, num paciente que tinha tido um acidente com serra elétrica e tinha lesado o tendão extensor do polegar esquerdo. Isso foi legal...

Foi um dia ruim para o Adriano, que tinha levado um monte de broncas, pois tinha suspendido uma cirurgia no dia anterior por própria conta (porque a enfermeira havia dito a ele que a família não queria que a cirurgia se realizasse, não sei se foi verdade, enfim). E porque não conhecia certos casos que estavam internados na porta-fundo... Bom, ele levou "carcadas" dos assistentes e do R3... Dura e injusta vida de R1...

O dia foi muito comum mesmo. Saí às 19 horas e pronto.

 

Sexta-feira, 14 de setembro
ÚLTIMO DIA!!! Enquanto atendíamos a porta pela manhã eu e Bruno conversávamos. Vou passar pelos estágios pelos quais ele já passou, e ele pelos que eu já passei. Fora os três meses que passamos no PS, os outros estágios até que não são tão pesados, e na maioria se aprende bastante.

Lá por 8 horas pediram para subir um R1 para o Centro Cirúrgico, e eu fui. Seria para uma cirurgia de ossos do antebraço. Mas o paciente não tinha acesso venoso e demorou muuuuuito tempo para os anestesistas (assistente e residente) conseguirem... Depois, o anestesista disse que só iria fazer a anestesia se houvesse uma vaga na UTI para o pós-operatório. Não havia. Em resumo, a cirurgia foi suspensa, e eu fiquei uma hora e meia quase sem fazer nada, apenas observando os trâmites.

Voltei para o PS... Continuei atendendo e atendendo... Depois do almoço as coisas ficaram mais apertadas. Apesar do tempo feio que fazia lá fora, com muita chuva, as pessoas venciam a barreira da chuva e entravam. Atendi dez fichas em 15 minutos, e fui para o PS central avaliar uma fratura exposta de fêmur. Após minha avaliação, levei os Rx para discutir no IOT e me disseram para passar tração esquelética e lavar o foco. Foi o que comecei a fazer às 18:00.

Um ortopedista no PS Central sempre é uma atração. Cheguei com o perfurador (uma furadeira mesmo), os fios de metal (kirschner), o alicate... Os auxiliares de enfermagem, os internos e até os residentes da cirurgia pararam para me ver furando a tíbia do paciente... engraçado, he he he.

Depois fui fazer uma goteira de gesso num paciente da UTI da Neurologia.

Saí, finalmente, do Hospital, no caso, saí do Instituto Central às 20:00. Feliz e com sentimento de missão cumprida.

E ACABOU!!!

 

Voltar

Hosted by www.Geocities.ws

1