PS - Ortopedia

Semana II

Segunda-feira, 27 de agosto
Depois de um final de semana, o grande retorno ao monótono servicinho do PS. Continuo na porta-frente até amanhã. Quarta eu vou pegar a enfermaria.

Bom, a porta sempre fica muito cheia de pacientes em uma segunda-feira. Os casos de sempre, nada especial... De vez em quando pinta algo diferente. Neste dia, pela manhã, estávamos eu e o Willy na porta-frente desde as 7:00, tocando, pois não havia ficado nenhum caso da noite anterior para acabarmos de "buchar".

 Após alguns minutos chegou o Soyama, e depois também o Bruno, que havia descido pois o PS não iria ter sala no centro cirúrgico para operar no primeiro horário. Durante algum tempo estavam quatro R1 na porta, atendendo muitas e muitas fichas, numa velocidade estonteante. Força quase total (só faltava o Adriano descer da enfermaria também...). Os pacientes chegavam em ritmo acelerado e os quatro atendendo e, na maioria das vezes, dispensando também muito rápido. Só que todo este "poder" de atendimento não conseguiu durar muito tempo... Os pacientes continuaram chegando em ritmo grande, e Bruno voltou para o Centro Cirúrgico, Soyama voltou pro fundo para passar visita, e eu e Willy, vez ou outra, tínhamos que parar o atendimento para fazer talas gessadas, suturas, ou outras coisinhas...

Mas foi uma manhã eficiente. Às 11:30, hora em que eu fui almoçar, só havia 30 minutos de espera...

Quando voltei do almoço pediram um R1 a mais no centro cirúrgico, pois o PS iria ter outra sala para operar. Subi e entrei numa cirurgia de uma paciente que eu conhecia da semana anterior (gosto de entrar em cirurgias de casos que eu conheço). Pouco depois o Bruno também veio, pois a cirurgia dele havia acabado. Esta cirurgia, uma redução cruenta e fixação interna com enxertia de osso em um planalto tibial, acabou por volta das 19:00, e eu fui embora. Bruno, o R1 do centro cirúrgico, ainda ficou pois ainda iria ter mais uma cirurgia, supostamente rápida, e depois mais outra,  também supostamente rápida.

Passei no PS ao antes de sair do IOT e não encontrei nem resquícios das atividades do dia.

 

Terça-feira, 28 de agosto
Outro dia monótono na porta.

Acho que estou ficando meio estressado... Acho que ando tratando os pacientes com uma frieza incrível... Também, é só reclamação, só dá para ficar deprimido mesmo... Médico (mesmo ortopedista) também é humano, precisa ouvir algo mais agradável do que queixas de dores incapacitantes...

Percebi que trato melhor os pacientes que, antes de qualquer queixa, me dizem "bom dia". Acho isso fantástico. E trato bem também aqueles que, mesmo dizendo que estão sofrendo, estão sorrindo, de bom humor... Pessoas que não tem culpa de estarem procurando um PS super lotado para serem atendidas, apenas estão lá porque não conseguiram em outro lugar (acabo gostando também daqueles dizem que tentaram antes serem atendidos em postos de saúde, como TODOS deveriam fazer).

Não que eu esteja tratando mal os pacientes... Mas muitas vezes sou muito frio. Faço o procedimento correto, de qualquer forma,  mas acho que poderia ser mais "pessoal" (não achei palavra melhor...). Mas minha natureza não permite... Só consigo ser realmente bom se rolar uma empatia com o paciente.

De qualquer forma acho que acerto pelo menos em dar prescrição de remédios analgésicos para todos. Se não posso tratar, ou o serviço não permite que eu trate, pelo menos tiro a dor. E sou bastante "generoso" com analgesia, e gosto mesmo de aprender sempre cada vez mais sobre analgésicos, anti-inflamatórios e opióides, pois assim posso fazer cada vez melhor.

Nenhuma novidade neste dia. A não ser que chegou um cara que tinha acabado de ter a ponta do dedo amputada (terceiro dedo da mão direita). Paciente bom, sabe, jovem, e bem humorado. Deu sorte, a assistente de plantão era do grupo de microcirurgia, e resolveu re-implantar (a indicação de reimplante era bem polêmica, pois a amputação tinha sido muito na ponta do dedo, na altura da base da unha). Subiu ao centro cirúrgico por volta das 16:00, pra uma cirurgia que em geral dura sete horas. Soyama é que foi o "escolhido" para subir e ajudar.

Amanhã estarei na enfermaria. Vou acordar uma hora mais cedo, não sei se vai dar tempo, mas me recuso a acordar mais cedo do que 4:30 (hora que pretendo acordar amanhã). Se um dia eu for assistente e passar visita nos pacientes do PS eu vou mudar o horário da visita para que todo mundo, inclusive o R1, possa chegar às 7:00 e ajeitar a visita tranqüilamente... Acho que todos lucrariam bem mais assim, o serviço, o paciente, o médico, a didática do programa de residência...

O Adriano me passou os casos (apenas num papo de corredor). Ele não poderia ficar mais para me passar os casos "ao vivo", e nem eu fui lá depois...

Seja o que Deus quiser!

 

Quarta-feira, 29 de agosto
Acordei às 4:30 da manhã, cheguei na enfermaria às 5:40 e tinha um monte de coisas para serem feitas... Checar exames, arrumar Rx, etc etc. Não só na enfermaria do 4° andar, mas no 2° (crianças e lesados medulares), e na UTI.

Fazia tudo numa baita de uma pressa. Entrava nos quartos para depositar os Rx nos lugares, perguntava pro paciente se estava tudo bem... Esperava apenas ouvir "tudo bem", mas quase sempre recebia um relatório enorme de todas as dificuldades que os pacientes estavam tendo: obstipação intestinal, insônia, dor lombar por passar muito tempo deitado, e assim vai... Anotava tudo rapidinho e prometia voltar depois da visita.

Sakaki iria passar a partir de 7:40. Mas por obra do destino ele mandou Soyama avisar que só passaria lá pelas 8:30. Ótimo, senão não daria tempo de arrumar nada no 2° ou na UTI. 

Arrumei tudo como se fosse um alucinado correndo para cima e para baixo. As enfermeiras tentando me passar mais serviço, e eu, o mais gentilmente que podia, abria um sorriso e pedia para fazer isso depois...

Chegou a hora da visita. Eu, Dr. Sakaki, o R2 e o R3. Caso após caso, sempre havia algum problema, mas nada que fosse minha falta, nem de meu antecessor (Adriano). Sempre havia culpa de algum assistente, anestesista, patologista, assistente social, etc. Dr. Sakaki ficou bravo e nervoso várias vezes durante esta visita, mas nunca comigo.

Por isso, a visita foi perfeita.

Lá pelas 12:00 almocei e depois voltei para ajudar na porta, pois havia "caído a casa". Havia uma fratura exposta que tinha acabado de chegar, e um R2 e o Willy haviam subido para o centro cirúrgico. Outra fratura exposta ia entrar no centro cirúrgico do Instituto central, e outro R2 mais o Bruno e o Soyama iriam para lá. Ou seja, por muito, muito tempo naquela tarde fiquei sozinho atendendo a porta, e um R3 no fundo ajudando.

Lá por quase 17:00 os outros residentes voltaram. E, como o clima estava quase chuvoso (garoava um pouco, depois parava, depois começava de novo), a porta tinha ficado livre.

Fui acabar de fazer minhas tarefas da enfermaria mais sossegadamente, então. Faltava fazer um gesso e checar uma biópsia. Biópsia não analisada ainda. O gesso tive que ir lá no ambulatório fazer, pois a enfermeira não queria que eu fizesse no PS. Não quis discutir com aquela que estava fazendo questão de ser chata. Claro, eu sou o médico, se eu quiser posso fazer o gesso onde eu bem entender, mas é melhor eu não discutir muito com ela, pois ela pode dificultar bastante meu trabalho se ela quiser.

Acabou o dia e fui ao cinema, mesmo com muito sono. Precisava me distrair.

 

Quinta-feira, 30 de agosto
Novamente, acordei às 4:30. Cheguei, novamente, às 5:40. Arrumei os Rx e evolui, desta vez com maior facilidade.

A visita com Dr. Sakaki foi tranqüila, novamente. Sem falhas.

Durante a visita Dr. Sakaki escolheu quatro casos que ele que eu apresentasse na reunião do PS no dia seguinte. Só praticamente casos com complicações.

O dia transcorreu normalmente. Acabei os "buchos" da enfermaria cedo, e almocei cedo, e desci cedo para a porta.

Não houve grande movimento naquele dia não.

Após 19:00, saí para comer um lanche e voltei pro IOT para preparar os casos para serem apresentados no dia seguinte. Ia procurar um R2 para tirar umas fotos digitais para mim, porém ele já tinha ido embora... Liguei para ele mais tarde para que ele levasse a máquina dele mais cedo no dia seguinte.

Como não tinha muita informação que estivesse faltando nas minhas próprias anotações, fui embora descansar antes que eu desmaiasse. Estava muitissimo cansado. Ainda tinha que fazer a apresentação dos casos no "Power point".

 

Sexta-feira, 31 de agosto
Hoje, ah, hoje eu acordei às 4:00. Cheguei no IOT umas 5:20, mais ou menos... Arrumei os Rx, evolui, pois ia ter uma visita geral com os professores às 8:00. Essa visita geral... ainda não descobri exatamente o seu propósito... além de, claro, ser uma grande vitrine de como o serviço vai andando...

Às 7:00, fui para o 7° andar, onde eu apresentaria os casos que estavam separados de ontem. Se desse 8:00, a reunião terminaria, pois teríamos que ir para a Visita Geral. Os assistentes demoraram, demoraram, mas chegaram, quase 7:20. O R2 que traria a máquina digital chegou, e, veja só, já tinha até fotografado o paciente. Só precisamos colocar as fotos no slide que eu já havia reservado para isso.

A ordem dos casos, lógico, começava com o caso que eu (e quase todos os assistentes), já conhecia, de uma senhora com suspeita de síndrome da cauda equina. Com todo mundo conhecendo bem o caso, haveria poucas perguntas. O último caso era o que eu menos conhecia/entendia, e além de tudo, não havia encontrado a tomografia para mostrar.

Na maior parte do tempo, os assistentes debatiam o caso entre eles mesmos. Às vezes me faziam alguma pergunta, de alguma informação qu eu não havia apresentado. Algumas eu respondia... Mas não estavam verdadeiramente preocupados comigo.

Faltando cerca de 5 minutos para as 8:00, eu iria começar a apresentar o último caso (aquele que eu mal conhecia), mas, porém, outro assistente queria discutir um outro caso que ele havia suspendido a cirurgia no dia anterior. Gentilmente, cedi a vez a este caso, que foi apresentado pelo R2 (he he he).

Acabada a reunião fui de volta para a enfermaria, para passar a visita geral. O primeiro paciente do PS estava no terceiro quarto, o que me deu algum tempo para chegar lá, enquanto todos viam casos de quadril e de joelho.

Meus casos foram bem passados... Mas, também, a maioria dos assistentes estavam lá, parece, mais por obrigação do que para adicionar alguma coisa ao tratamento do paciente. Claro, existem ótimos professores, que debatem as suas próprias experiências em tratamentos de casos anteriores... Mas a maioria só quer que a visita acabe logo... Sentiam o mesmo que eu...

Só passamos metade da enfermaria, pois já eram 9:00. Haveria Reunião Geral, onde todos eram obrigados a participar, menos o pessoal do PS. Então, passei visita com o pessoal do PS, sem o Dr. Sakaki, ou seja, com R3 e R2.

Dei 6 altas hospitalares, "canetei" minhas evoluções, pedi novos exames que estavam faltando. Voltei para a porta, o dia transcorria tranqüilo.

Lá pelas 15:30 o R3 me mandou ao Instituto da Criança avaliar uma criança com suspeita de pioartrite. Chegando lá encontro uma criança sedada, com vários problemas infecciosos (era imunossuprimida porque era transplantada hepática).

Pelos sinais clínicos, não poderia ser pioartrite nem nos tornozelos, joelhos ou quadris, porém a paciente estava sedada (não poderia referir dor nem se opor à movimentação passiva de suas articulações). Acabei por pedir um ultrassom do quadril esquerdo, o único que realmente me chamava atenção.

Ao voltar pro PS, encontro um certo caos. 3 casos para internação. Um deles fiquei encarregado de internar, e pedir exames. Mais uma vez a enfermeira me pentelhando... Mas, porque me aborrecer? EU SOU O MÉDICO, e sou bastante jovem para progredir... Ela é uma ENFERMEIRA, de meia idade... progrediria para onde? Aposentadoria...

Não tenho nada contra as enfermeiras... Aliás, me dou bem com todas elas, em todas as enfermarias, andares, centro-cirúrgico... É só com ESTA em específico que há atrito.

Quase no final do dia, eu, Bruno e Soyama limpamos as últimas fichas da sala de espera, para podermos ir embora sossegados. 19:00 e poucos minutos, chamam para uma intercorrência de enfermaria, no quarto andar. Digo para meus colegas da noite:"Pode deixar, eu vou lá, preciso buscar uma coisa mesmo"... Que erro... Chego lá um paciente que, sem mais, nem menos, estava entrando em insuficiência respiratória. Chamo a intensivista, que vai à enfermaria, pede para colher exames e pede para mandar para o PSN (Neurologia), pois ela achava que a causa er neurológica. Nem poderia discutir, nem tinha idéia do que estava acontecendo.

Resolveu, depois de um tempo, levar para a UTI do IOT antes, para fazer a entubação. Chegando lá, curarizou o paciente, que então abriu a boca (estava com trismo?), e foi entubado, até que com facilidade.

A intensivista me pediu então para ir ao PSN para ver se algum neurologista poderia vir a UTI-IOT ao invés do paciente ir até lá... Não aguentei... Desci ao PS e passei a tarefa para meu colega Gurgel que estava de plantão à noite...

Fui embora às 21:00.... Cochilei várias vezes no metrô e no ônibus... Cheguei em casa, tomei banho, jantei e dormi.... como uma pedra....

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