PS - Ortopedia

Semana I

Segunda-feira, 20 de agosto
O primeiro dia de PS sempre é complicado. Somos 5 R1 no PS desta vez, eu, Soyama, Bruno, Adriano e Willy. A mim cabia nestes primeiros 3 dias os pacientes internados no térreo, ou seja, no próprio PS, ou seja, PORTA-FUNDO, como se condicionou dizer. No primeiro dia havia 20 pacientes. Lógico que eu já os conhecia um pouco, pois dei plantão no último sábado. Ao Bruno cabia a enfermaria, com cerca de 35 pacientes. Ao Willy, ficar o dia todo no centro cirúrgico, e ao Adriano e Soyama, atender as fichas de atendimento (PORTA-FRENTE). Depois de resolvidos os problemas com os pacientes internados, eu e Bruno iríamos ao PS para ajudar na porta-frente.

No primeiro dia, visita (como todos os dias) com o assistente responsável pelo ps, o Dr. Sakaki, gente boa, manja muito de ortopedia, porém bastante exigente. Fui bem, não levei nenhuma "carcada", conhecia já bem os casos. Bruno já disse que levou algumas broncas. Normal, se vc não encana e desespera.

Segunda-feira num PS como o da Ortopedia (e acho que em qualquer PS público) é um inferno. Gente vem de todos os cantos da cidade, estado e até do país para procurar um atendimento (na maioria das vezes sem emergência nenhuma) que não encontram no resto do sistema público de saúde. Problemas crônicos, como muitas dores nas costas, dores nos joelhos, etc, que não são casos para PS, e sim para ambulatório, procuram no PS o atendimento de excelência que é a marca do HC. Claro que não é possível atender tamanha demanda. Examinamos, descartamos urgências e emergências, e encaminhamos para o sistema público de saúde.

Encaminhar para o sistema público, para hospitais menores que o HC é o certo a se fazer, em teoria. O HC, apesar de enorme, não pode comportar o atendimento a TODOS. Principalmente porque o HC é um hospital de ponta, quaternário (como dizem), e não pode se dar ao luxo de atender casos que deveriam ser atendidos em postos de saúde. Porém, em cada encaminhamento para o SUS fica em nossas mentes a dúvida: será que este paciente realmente conseguirá acompanhamento? Gosto de acreditar que sim... Acreditar que não seria muito ruim...

Durante a manhã as fichas vem aos montes. Às 13:00, depois que passei a visita c/ Dr. Sakaki e já havia resolvido os problemas pendentes dos meus pacientes (Sakaki passou primeiro com o Bruno na enfermaria, depois comigo, por volta das 11:00), voltei para a porta-frente, e me deparei com fichas abertas às 11:00 ainda esperando atendimento, apesar de dois R1 (Soyama e Adriano) estarem lá dedicados especialmente para isso.

O problema é que muitas vezes não basta uma simples consulta. Às vezes é necessário o pedido de RX esclarecedores, e muitas vezes, imobilizações provisórias, procedimentos que demoram certo tempo e trabalho do residente. Os R2 e R3 ajudam, muitas vezes, porém têm outras funções no funcionamento do PS (interconsultas, programação cirúrgica, etc).

Além disso, outro serviço que demanda tempo do R1 no atendimento são os alunos do 6° ano da Faculdade de Medicina, afinal, o HC é um hospital escola. Ensinar os internos faz parte das atividades dos residentes. Mas os internos também ajudam bastante, fazem as "goteiras" e as suturas numa boa. E, além do mais, todos nós já fomos internos um dia...

No final do dia, acabados, eu, Bruno e Adriano fomos comer alguma coisa (o almoço foi muito corrido), e Adriano disse que só ele atendeu cerca de 45 fichas... Sinceramente acho que foi mais... Se multiplicar isso pelos 2 residentes que ficaram na porta o tempo todo (90 fichas), e mais 45, já que dois ficaram só a tarde, dá cerca de 135 fichas, ou seja, uma a cada cerca de 5:20 minutos (consideradas 12 horas de plantão)...

 

Terça-feira, 21 de agosto
Hoje foi um dia menos agitado. Segunda-feira sempre é pior... E também tinha a vantagem que eu ajeitei a visita mais rápido, pois já conhecia ainda melhor os pacientes internados, e fiquei mais tempo ajudando na porta pela manhã. E a visita foi um pouco mais rápida, pois quem passou foi Yussef (R3), menos exigente em termos de detalhes dos casos que Sakaki.

Após a visita, volto para a porta-frente definitivamente às 11:00, e me deparo com um atraso de apenas uma hora. Bom, fomos administrando o tempo, eu e Adriano, já que Soyama estava com os internos orientando fazer goteiras e gessos.

Um pouco mais tarde, Adriano subiu para o centro cirúrgico, pois o PS iria contar com mais uma sala para operar. Deve-se sempre aproveitar essas ocasiões, pois o centro cirúrgico está com apenas metade da capacidade, por causa de reforma. Cirurgias são sempre legais de se ver, e a parte mais lucrativa da especialidade (no futuro, claro...).

Acabei ficando sozinho na porta, e fui tocando, tocando, tocando as fichas até quase as 13:55, quando fui almoçar... O restaurante do Hospital fechas às 14:00, se eu chegasse depois teria que pagar para comer em outro lugar... Após uma corridinha, para ir até o Prédio dos Ambulatórios (PAMB), consegui chegar, e me maravilhar com um fricassé de frango.

Após o almoço, eu Soyama e Bruno tentando administrar o tempo... Tudo bem, os velhos problemas de sempre, a maioria das pessoas com lombalgias, tendinites ou dores nos joelhos, completamente sem urgência, mas que não procuram por ambulatórios por causa da grande dificuldade de marcação de consultas no sistema público. Bem, no PS não há mais o que fazer senão dar remédio para dor e re-encaminhar...

Acabado meu plantão janto de novo no Palheta (o restaurante do Hospital), e vou pro Ensaio dos Sapos, do Show Medicina. O Show Medicina é um show apresentado todos os anos pelos alunos da Faculdade de Medicina, do qual eu fiz parte, mas já não faço mais (virei um sapo... he he he). Lá encontrei amigos que estão em outras clínicas do Hospital, na cirurgia, otorrino, oftalmo, anestesio... Amigos também que ainda estão na faculdade... Outros que não passaram na prova de residência e estão trabalhando por aí... Fui embora umas dez horas, não ia ficar até muito tarde pois estava muito cansado, debaixo de uma bruta chuva... Pensando em como era bom ser aluno da Faculdade de Medicina da USP.

 

Quarta-feira, 22 de agosto
Este é meu último dia na porta-fundo,  e a visita com o Sakaki coreu lisa, lisa... Também, ele já veio bem felizinho passar visita comigo, acho que tinha gostado da visita que tinha passado com o Bruno antes.

O problema maior era o grande, mas grande mesmo, desarranjo intestinal que me assolava naquela manhã... Fui 4 vezes ao banheiro só naquela manhã, terrível... Sem falar nas cólicas que eu já sentia no metrô, indo pro hospital... E não fui só eu que senti isso não, mais uns dois residentes da Ortopedia (inclusive o Adriano), uns 5 da psiquiatria e 1 da oftalmo, como eu soube posteriormente, tinham ficado, ãh, "desarranjados".

A rotina da porta correu como de costume... Os mesmos casos, parece até que eam sempre os mesmos pacientes, uns alegres e brincalhões até, chegam até vc com um sorriso... Dá gosto de atender gente assim. Outros chegam tristonhos, com histórias de dores há anos, reclamando da vida, dos serviços médicos, etc... Esses vc atende com compaixão, mas tentando resolver o máximo que dá, sabendo que não poderá resolver muito no pronto-socorro. Pelo menos tentamos resolver a dor. E, existem pacientes que não tem nada, nada mesmo, e vão lá inventando algum tipo de dor para tentarem convencer o médico a dar atestados para licença do trabalho... Esses... podem imaginar como temos que tratar...

Neste dia também havia uns alunos do quarto ano, que estavam lá para aprenderem algo sobre urgências em ortopedia. E, mais uma vez, a função do residente também é ensinar. Só que é mais difícil ensinar algo para alguém do quarto ano do que para um do sexto ano. Mas, pelo menos, é divertido...

No final da tarde, passei os pacientes da porta-fundo para o Soyama, e fui embora. Bruno ficou passando os pacientes da enfermaria para Adriano, ainda por muito tempo, pois é o dobro de pacientes... Semana que vem estarei lá... Amanhã poderei chegar mais tarde, pois como estarei na porta-frente, não terei pacientes para evoluir ou arrumar RX.

 

Quinta-feira, 23 de agosto
Hoje consegui chegar um pouco mais tarde, pois como já disse, não tinha que evoluir pacientes. De alguma forma acho que eu senti um pouco de falta disso, pois eu acabo me envolvendo pelos casos dos pacientes internados, e começo meio a que me sentir amigo deles. Será que isso é algo saudável?

Minha dedicação na porta-frente era intensa. Até cerca de 9:30 não havia atraso no atendimento das fichas, foi quando pediram para eu subir ao centro-cirúrgico, pois o PS poderia ter mais uma sala. Ótimo, ajudei na cirurgia em um dos pacientes internados que eu evoluia, um com uma luxação no punho. Foi muito legal porque eu conhecia bem o caso dele, desde a internação. Foi ruim pois ainda me sentia mal pela comida de ante-ontem, e porque eu havia dormido um pouco tarde no dia anterior (não vou dizer porque...).

Terminada esta cirurgia haveria outra, mas eu estava com fome, e assim liguei para o PS e pedi para o Willy subir. Isso seria bom pra mim, pois me liberava para almoçar, e bom para ele, já que nos três primeiros dias, em que ele estava no centro-cirúrgico, não havia tido muitas cirurgias interessantes.

Desci e fui comer no restaurante pago que fica ao lado da ortopedia. Lá encontrei duas amigas que estão fazendo psiquiatria. Durante o almoço ficamos conversando sobre os casos psiquiátricos (muito mais engraçado que os casos da ortopedia). Uma delas também estava ainda sentindo cólicas pelo almoço "bomba" que havia acontecido há dois dias.

Ao voltar, percebi que o dia não seria tão fácil. O Willy, o Bruno estavam no centro-cirúrgico, o Soyama estava no centro-cirúrgico do Instituto Central, pois havia chegado uma criança muito grave, vinda de helicóptero, e além de tratamento da fratura de fêmur, exigia tratamento abdominal, etc que exigia a presença de outras especialidades. O Adriano estava resolvendo coisas dos pacientes da enfermaria. Enfim, estava, em determinado período da tarde, só eu e o Yussef lá no PS. Eu ficava basicamente na triagem, e o Yussef nas salas de gesso e atendimento. Os internos de alternavam fazendo goteiras e suturas.

Mais para o final da tarde, Adriano voltou, e o Willy também. Ao final do dia, eu e Willy podíamos ir embora tranquilos, Adriano tinha ainda que preparar a apresentação de 4 casos para a reunião do PS, no dia seguinte às 7:00, e Bruno e Soyama ainda estavam em seus respectivos procedimentos cirúrgicos.

Fui para uma Happy-Hour na Atlética, conversei com alguns amigos. Depois fui jantar com outras duas amigas. Cheguei em casa, tomei meu banho, fui dormir umas 1:00 da manhã, prevendo que o dia seguinte seria de matar...

 

Sexta-feira, 24 de agosto
Como nos outros dias, precisei acordar às 5:30, para sair de casa às 6:00 e chegar no hospital às 7:00, de ônibus e metrô. Geralmente chego antes, tempo suficiente de passar numa lanchonete e beber uma coca e fumar um cigarrinho.

Foi um dia tranqüilo de atendimento na porta, em nenhum momento do dia houve atraso de mais de uma hora.

Às 8:00 começa as visitas gerais, em que o Adriano apresentaria casos no 4 andar e Soyama os casos do térreo. Até ajudei um pouco o Soyama, apresentei 3 casos por ele.

Depois desta visita, o dia transcorreu tranqüilo. Almocei ao meio-dia, como pessoa comum, e deu tempo de todo mundo almoçar em horário decente. Menos o Adriano, que teve que dar muitas altas, e trocar um monte de gessos dos pacientes da enfermaria, e chegou de volta à porta por volta das 16:00.

No final do dia é que a coisa ficou um pouco apertada. Não sei se havia muita coisa para fazer ao mesmo tempo, associado com meu cansaço grande, mas não conseguia fazer nada direito... Lá pelas 20:30 (ou seja, uma hora e meia depois de findo meu horário) eu consegui acabar tudo e ir embora. Estava tão cansado que mal conseguia caminhar até o metrô. É nessas horas que eu mais invejo quem tem carro. Se bem que, indo de metrô eu não pegaria o trânsito que estava formado, pois estava chovendo novamente.

Cheguei em casa, jantei e dormi, feliz em saber que no dia seguinte eu não precisaria acordar cedo.

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