O Poltergeist

Por

 Carlos Antonio Fragoso Guimarães

 

 

Poltergeist em ação, na França, em 1955

1º. – Os “Sintomas” gerais de um Poltergeist

2º. – Definição de Poltergeist

3º. – Teorias sobre as causas de um Poltergeist  

4º. - Diferenças entre Poltergeists e Assombrações

5. – Algumas estatísticas  

 Bibliografia

 

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1º. Os “Sintomas” gerais de um Poltergeist

 

            Pense-se uma família comum, morando em uma casa como tantas outras em um bairro normal de uma cidade qualquer. Toda a rotina comum da família vem se desenrolando sem aparentemente maiores sobressaltos senão aqueles leves incidentes comuns à maioria das famílias da região, talvez abalados aqui e ali por conflitos familiares que, não obstante, são considerados normais pelos integrantes da família e por seus amigos e vizinhos mais próximos.

             Em um dia qualquer, porém, o roteiro familiar vem a ser estranhamente quebrado. Inicialmente, ouve-se o barulho de pedras caindo e/ou algum vidro em uma das janelas é estilhaçado. Logo se pensa que alguma pessoa mal intencionada ou algum moleque traquina na rua ou na vizinhança é o autor da perturbação. Os donos da casa saem em busca do autor da ação, tentam falar com os vizinhos, mas, não obstante, não encontram o imotivado agressor. Mesmo assim, para espanto de todos, começa a “chover” pedras por cima do telhado, sem que se veja de onde elas partem, e outros vidros se quebram. Para complicar a situação, mais tarde alguns móveis são encontrados em locais diferentes onde costumeiramente se encontram, ouvem-se ruídos esquisitos de mesas se arrastando ou, algumas vezes, sons parecidos com vozes ouvidos durante a noite e vêem-se objetos serem lançados longe dos locais onde deveriam se encontrar. A esta altura os vizinhos já estão a par dos acontecimentos e a tensão e excitação emocional logo se espalha pelo bairro.

     De repente, toda a confusão cessa e as pessoas suspiram aliviadas, buscando alguma explicação racional para o ocorrido. Quando tudo parece serenar, espantosamente tudo volta a ocorrer, agora causando desespero e terror na família e nos vizinhos.  Começa uma “caçada” desesperada para saber quem ou o quê está causando toda esta balbúrdia. Algum gato ou cachorro vira suspeito da traquinagem, embora esta explicação, diante de toda a ação, seja mais uma tentativa de se encontrar uma causa lógica para a confusão que uma hipótese realmente convincente. Talvez algum ladrão, ou mesmo alguns, estejam tentando apavorar as pessoas para, quando estas saírem de casa, poderem concretizar o furto mais eficazmente, ou então algum “louco” por perto resolveu, sem ter nem para que, infernizar a família por puro deboche. Mas nada confirma estas suspeitas. Pensa-se em tremores de terra, mas as casas vizinhas, até mesmo contíguas, nada sofreram. A instalação elétrica é verificada, e tudo está normal. Ai, geralmente nesta hora, a polícia é acionada. Presta-se queixa, alguns policiais vão até o local dos fatos, e nada encontram nem presenciam demais, a não ser o estado caótico da casa e das pessoas próximas. Mas algumas vezes, até mesmo os policiais podem ser surpreendidos por alguma pedra que, inexplicavelmente, cai a partir do teto (apport), como se o tivesse atravessado, e ainda podem presenciar outros acontecimentos anormais, como, por exemplo, alguma combustão “espontânea” em algum móvel ou uma xícara ou copo que sai do guarda-louça e vai se espatifar em uma parede situada a vários metros de distância (Andrade, 1989).

             Se você conhece alguma história assim, contada por algum conhecido, lida em algum jornal ou vivenciada pessoalmente, então provavelmente o amigo está diante de um fenômeno típico conhecido como Poltergeist.

 

2º. – Definição de Poltergeist

 

            “Poltergeist” (pronuncia-se Poltergáiste) é uma palavra alemã, formada pela união de dois vocábulos: poltern = perturbar, fazer barulho, brincar; Geist = espírito, fantasma. Assim, Poltergeist seria literalmente espírito barulhento, brincalhão, etc. É uma palavra antiga, já citada por Martinho Lutero, e foi criada pelas pessoas porque os fenômenos pareciam ser causados por fantasmas ou espíritos com a intenção de assustar ou mesmo agredir pessoas. Muitos pesquisadores atuais, contudo, não aceitam a tese “espiritualista” para explicar o fenômeno e tentam não usar o termo já clássico “Poltergeist”, substituindo-o geralmente pelo termo técnico Psicocinesia Recorrente Espontânea (em inglês, Recurent Spontaneous Psychokinesis, ou RSPK), por acharem que todos os fenômenos Poltergeist podem ser explicados pela ação mental sobre o meio físico (psicocinesia), onde, geralmente, um sujeito presente aos locais seria, inconscientemente, o causador, ou, tecnicamente, o epicentro, do fenômeno. Outros pesquisadores, porém, dizem que, ao lado do agente inconsciente fornecedor da energia cinética, em muitos casos (mas não todos) existiria sim alguma entidade não-física que se utilizaria desta energia, de forma intencional, para provocar os fenômenos. Cabe salientar que mesmo quando o sujeito aparentemente causador, epicentro inconsciente, é encontrado (geralmente devido ao fato de que sua ausência dos locais onde ocorrem os fenômenos normalmente se correlaciona com a interrupção destes), este muitas vezes, durante os fenômenos, não apresenta qualquer alteração dos estados psicofisiológicos normais, nem fadiga física ou mental diferente do de outras testemunhas vivenciais dos acontecimentos (Andrade, 1989; Playfair, 1975).

 

3º. – Teorias sobre as causas de um Poltergeist

 

            No fala o Professor Hernani Guimarães Andrade, fundado do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísias, IBPP, em seu livro “Poltergeist, Algumas de Suas Ocorrências no Brasil” que:

 

Os especialistas com formação cientifica materialista questionam a cerca da causa do fenômeno. Eles acham inadequado o termo poltergeist, o qual insinua a intervenção de entidades desencarnadas, ou melhor, Espíritos de pessoas falecidas, de duendes, etc. A maioria dos investigadores admite que o poltergeist seja provocado à custa de certo tipo ainda desconhecido de energia produzida por determinada pessoa viva presente no local dos fenômenos. O presumível agente humano fornecedor da referida energia é tecnicamente chamado epicentro. Segundo esta hipótese de trabalho, o epicentro não só fornece a energia, como também pode comanda-la inconscientemente. (...) Usualmente atribuí-se tal poder a uma pessoa jovem, portadora de problemas de repressão. O poltergeist funcionaria como um meio de exteriorização ou escape da energia represada, energia esta relacionada com o desabrochar da atividade sexual. Decorreria daí uma estimulação da função psi-kappa (psicocinesia). O epicentro aplicaria inconscientemente suas energias para extravasar seus recalques (Andrade, 1989, pp. 5-6).

 

Esta é a teoria mais discutida, atualmente, mas não é aceita em sua totalidade por todos os pesquisadores. Em especial, ainda resta esclarecer qual tipo de energia é esta que seria manipulada pelo epicentro e até onde esta está realmente ligada a uma ação aparentemente inteligente do inconsciente ou se a “energia” seria de fato doada pelo epicentro mas manipulada realmente por ele, de forma inconsciente. O mesmo autor acrescenta:

 Neste ponto, surge o problema da causa do poltergeist. Não há, por enquanto, uma opinião unânime. Alguns parapsicólogos negam-se a aceitar a teses espiritualistas, que atribui os fenômenos de poltergeist à ação de agentes desencarnados usando a “energia” do epicentro para atuarem sobre os objetos materiais. Outros pensam justamente o contrário e acham que o poltergeist é provocado exclusivamente por espíritos de defuntos, por certas categorias de agentes incorpóreos não humanos e, em casos extremados, até mesmo pelo demônio. Finalmente, há aqueles que optam pelo meio-termo e acham que podem dar-se ambos os casos: ação exclusiva psicocinética do epicentro ou a ação combinada compreendendo a iniciativa de um agente desencarnado que aproveita e dirige a “energia” psicocinética do epicentro, provocando os fenômenos físicos (Andrade, 1989, p.7).

 

Em uma parte considerável dos casos de Poltergeist (mas não em todos), no momento em que se pode, com algum grau de certeza, apontar-se o epicentro do fenômeno geralmente é associado a uma série características psicossociais e psicosexuais, geralmente encontrados em conjunto:

 

A)                           Geralmente o epicentro é um adolescente, na maior parte das vezes do sexo feminino (havendo, porém, em menor número, casos de adultos) em atrito com parte dos familiares;

B)                            O epicentro geralmente passa por uma fase de dolorosa instabilidade emocional, ligada às crises normais da adolescência;

C)                           O epicentro é reprimido em sua agressividade e/ou sexualidade.

      Como este conjunto de características é normal em qualquer família com adolescentes, é de se estranhar que o fenômeno Polgergeist legítimo apareça tão raramente.

Nestes casos, o tratamento psicoterapêutico ajuda a reduzir ou eliminar o fenômeno, mas não em todos os casos. Em alguns, devido à influência religiosa, a psicoterapia às vezes é substituída por cultos religiosos, exorcismos, etc. Estas também, algumas vezes, funcionam como um tipo de psicoterapia exercendo alguma influência claramente psicológica, cartática, emocional sobre o epicentro, em especial se este se sente apoiado, amado e fazendo parte de um grupo em que se sinta parte integrante, mas novamente nem sempre funcionam a contento em todos os casos. Algumas vezes se utiliza complementarmente tanto um como outro "tratamento", o que ajuda bastante no controle ou extinção do fenômeno, mas novamente existem casos que continuam apesar disto.

 Convém também lembrar que o Poltergeist, via de regra, é uma ocorrência geralmente de duração limitada, e só em raríssimos casos podem durar por anos, ainda assim de forma intermitente. O porquê destas variações ainda está em aberto.

 Outra coisa, em certos casos de Poltergeist é praticamente impossível achar-se um epicentro definido, ou mesmo mais de um.  Com a palavra novamente o Professor Hernani Andrade:

 Entre 13 e 16 de agosto de 1980, Karlis Osis e Donna McCormick apresentaram um trabalho da Vigésima Terceira Convenção Anual da Parapsychological Association, em Reykjavick, Islândia: “A Poltergeist Case Without na Identifiable Living Agente”.

Trata-se de um caos de poltergeist ocorrido em um velho casarão ao sul de Nova Jersey, o qual fora convertido em uma loja de artigos para presente, em 1970. durante um período de aproximadamente dez anos, a referida casa manteve-se infestada, observando-se ali vários fenômenos recorrentes: desarranjos e mau funcionamento inexplicáveis das instalações elétricas, movimento de objetos, ruídos audíveis e aparições ocasionais. Pelo menos vinte e quatro pessoas, de vários graus de conhecimento e de idade, puderam testemunhar os eventos mais importantes, sendo que inúmeras ocorrências foram presenciadas coletivamente. Entretanto, não houve meios de selecionar-se alguém que pudesse inambiguamente ser apontado como epicentro. Em muitas ocasiões não havia ninguém na casa e, mesmo assim, o sistema de alarme contra assaltos era acionado (Andrade, 1989, pp. 113-114).

 

4º. - Diferenças entre Poltergeist e Assombração

Apesar de, normalmente, serem os fenômenos de Poltergeist associados com os de assombração, existem características distintas para ambos. Vejamos algumas:

O Poltergeist geralmente ocorre com a presença de uma pessoa, ou algumas poucas pessoas, geralmente de uma mesma família, e costuma acompanhar estas nos locais onde se estabelecerem. A assombração, ao contrário, tende a se ligar a locais como casas, prédios, fazendas, etc.

O Poltergeist quase sempre aparenta ter um objetivo, qual seja o de pertrubar ou molestar certas pessoas, quebrar objetos, assustar. A assombração geralmente parece indiferente a pessoas ou visitantes dos locais onde atua. Apenas em alguns casos se mostra agressiva. Normalmente, o "fantasma" de uma assombração repete atos de forma aparentemente automática.

A duração de um Poltergeist geralmente varia de poucos minutos a alguns poucos anos, de modo flutuante. A assombração, contudo, pode permanecer por séculos. A assombração, em alguns casos, tenta se comunicar com alguém, mas não demonstra intenção de machucar ou causar dano. Neste casos, ela cessa após conseguir seu intento. Ademais, enquanto no Poltergeist existe claramente fenômenos físicos objetivos, nas assombrações os fenômenos são geralmente subjetivos, reduzindo-se quase sempre à aparições e audições de vozes ou ruídos. Entrentanto, em alguns casos, existem ocorrências mistas de todos estes fenômenos, tanto em Poltergeists quanto em Assombrações.

5. – Algumas estatísticas

  Em um levantamento obtido por Alan Guld e A D. Cornell, sobre um total de 500 casos de Poltergeist comprovados, apenas em 197 destes casos foram identificados os epicentros. Destes, 54 sujeitos (27%) eram do sexo masculino, e os outros 143 (73%), do sexo feminino.

 Da totalidade dos 500 casos, 152 deles ocorreram envolvendo pessoas com menos de 20 anos, portanto, em 30% dos casos totais. Agentes prováveis com mais de 20 anos totalizaram 19% dos casos (42 casos). Desta forma, dos 197 casos com epicentros conhecidos, 78% das pessoas tinham menos de 20 anos de idade. Mas o numero de pessoas-foco com mais de 20 anos também e significativo (Gauld & Cornell, 1979, p. 226).

 

Bibliografia

 

Andrade,  Hernani Guimarães, 1989. Poltergeist, Algumas de Suas Ocorrências no

     Brasil. São Paulo, Editora Cultrix/Pensamento.

Andrade, Hernani Guimarães, 2002. Parapsicologia, Uma Visão Panoramica. São

    Paulo, Editora FE.

Flammarion, Camille, 1924. As Casas Assombradas, Rio de Janeiro, FEB.

Gauld, Alan & Cornell, A. D., 1979. Poltergeist. London, Routedge & Kegan Paul.

Playfair, Guy Lyon (1975). The Flying Cow; London, Souvenir Press.

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