As alavancas do nosso desenvolvimento doadas à rapinagem externa

A Vale e a Amazônia
Artigo do jornalista Hélio Fernandes, jornal Tribuna da Imprensa, Rio, 19/07/2008

Durante mais de 2 anos escrevi uma centena de artigos defendendo a Vale, condenando sua "privatização", tentando impedir que entregassem uma das maiores riquezas do mundo e do Brasil. A Vale era e continua sendo a maior empresa de mineração do mundo e mais do que isso, uma Agência de Desenvolvimento. Tudo foi doado, não conseguiu salvar coisa alguma.

Esses artigos correram o Brasil todo, foram republicados em órgãos alternativos, enviados para milhões de pessoas através de faxes, xeroxes, cópias de todas as formas. Nada disso adiantou. Em todos os artigos eu deixava bem claro que as multinacionais queriam a própria Vale. Empresa poderosíssima, altamente lucrativa, com penetração em pelo menos 12 estados da Federação.

Dona de portos, navios, ferrovias, as mais ricas e cobiçadas minas dos mais raros e caros minérios, a Vale era o alvo e o objetivo de tudo. Apesar do esforço de um grupo bravo e com enorme credibilidade, não conseguimos impedir a doação-privatização dessa potência que se chama Vale.

Ministros do governo FHC, senadores, lobistas, testas-de-ferro de poderosos grupos estrangeiros, gente interessada em enriquecer cada vez mais com o empobrecimento do Brasil diziam sempre a mesma coisa.

O que é que repetiam tanto? Apenas isto: "Vamos vender a Vale para pagar a dívida interna, amortizar quase toda ela, e pagar menos juros". Tudo mentira, mistificação, malabarismo-corrupto. Recebemos uma miséria e cada vez devemos mais.

Outra coisa que fazíamos questão de ressaltar sempre era o seguinte, cada vez mais atual: por trás da doação da Vale estava e está sempre mais visível a gigantesca Amazônia. Os multinacionais e seus testas-de-ferro não podiam nem podem admitir que a Amazônia seja brasileira, pelo menos uma parte. Aproveitando o seminário sobre a Amazônia, promovido pelo IAB (Instituto dos Advogados Brasileiros), vamos reproduzir algumas opiniões de vendilhões do templo sobre a Amazônia brasileira.

Al Gore, vice-presidente dos EUA, e provável candidato à sucessão de Clinton, que não pode mais se candidatar: "Os brasileiros pensam que a Amazônia é deles. Estão muito enganados. A Amazônia é de todos nós".

Kissinger, lobista notório, ex-secretário de Estado dos EUA: "Os países industrializados do mundo, para sobreviverem, precisam dos recursos não renováveis do mundo. E entre esses recursos de que precisam o mais importante é a Amazônia do Brasil".

Agora que o Congresso está "trancado" pelas medidas provisórias. Que o Supremo está em recesso. E que a indústria dos habeas-corpus está paralisada para reposição do estoque, tratemos da Vale e da Amazônia, eternas e imprescindíveis ao nosso desenvolvimento.

PS - A Vale parece perdida para sempre. Mas a Amazônia cobiçada por todas as potências ainda pode ser salva. Minc poderia ser uma possibilidade, deslumbrou muito cedo.

PS 2 - Se os Três Poderes permanecerem desativados, continuarei amanhã. A Amazônia é eterna, vale a vida de dezenas de milhões de brasileiros.

Bancos públicos perdem cada vez mais sua função social

Carlos Chagas, jornal Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 19/07/2008

Está nos jornais. Para financiar a compra de uma megaempresa telefônica por outra, o Banco do Brasil emprestará à operadora Oi 4,3 bilhões de reais, certamente a juros subsidiados. O BNDES, antes, já havia liberado 2,5 bilhões.

Chega a constituir questão de menor importância saber que Daniel Dantas irá faturar um bilhão mesmo se, por milagre, tiver voltado para a cadeia. O grave nessa crônica do horror é que 330 bebês acabam de morrer num hospital de Belém do Pará, que o número de analfabetos multiplicou nos últimos anos, que metade da população carece de saneamento e água potável, que o crime organizado amplia suas atividades e que o desemprego, apesar da farta propaganda oficial, atinge 30 milhões de trabalhadores.

Se duas empresas privadas negociam seus ativos e seu patrimônio, que sejam felizes na negociação, cada qual correndo o risco de viver num sistema capitalista. Mas promover capitalismo sem risco seria cômico se não fosse trágico.

Ainda está para ser escrita a história das privatizações entre nós. A grande maioria das operações praticadas à beira da irresponsabilidade aconteceu com dinheiro público, sem falar nas polpudas comissões que transformaram ministros em banqueiros e bandidos em investidores. Só ignorávamos que a chicana continuaria depois da entrega do patrimônio público. Virou coisa privada, mas, da mesma forma, com o tesouro nacional à disposição das mesmas quadrilhas de sempre.

 

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