DIREITA EVANGÉLICA ULTRA-CONSERVADORA REELEGEU BUSH

Evangélicos foram chave para reeleição

Coluna Internacional do Jornal Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 04/11/2004

Os cristãos evangélicos, que representam um quinto dos eleitores dos Estados Unidos, foram um dos fatores-chave na reeleição de George W. Bush, segundo as pesquisas. A direita religiosa dos EUA compareceu maciçamente às urnas para apoiar um presidente que é contra o aborto e o casamento homossexual, assuntos considerados primordiais entre um eleitorado que tende a basear suas decisões em sua percepção da moralidade do candidato.

E o fez inclusive em maior medida que os jovens, que tendem a votar nos democratas (John Kerry obteve uma vantagem de 15 pontos percentuais entre este eleitorado). Este apoio acabou com as esperanças dos estrategistas do senador Kerry, que tinham suas esperanças colocadas neste setor e na alta participação para ganhar as eleições

Bush teve o voto dos homens brancos, com salários acima de US$ 100 mil anuais e que vão todas as semanas a um ofício religioso, como mostram as pesquisas de boca-de-urna. Três quartos dos eleitores brancos que se denominam "nascidos de novo" ou cristãos evangélicos apoiaram Bush, cumprindo assim os objetivos dos estrategistas do presidente, com Karl Rove na liderança, que lutaram para obter o apoio deste grupo.

E assim, 60% dos eleitores de Bush afirmam que vão à igreja uma vez por semana, enquanto no caso de Kerry esta percentagem é de 39%. Bush foi o favorito dos eleitores para os quais os valores morais são o assunto mais importante e que vêem o terrorismo como um dos problemas mais graves, acima de assuntos como o desemprego. Kerry, por sua vez, se saiu melhor entre os que acham que a economia é muito relevante.

O democrata é o favorito dos eleitores negros, das mulheres (com uma margem de dez pontos acima de Bush) e dos hispânicos, embora Bush tenha melhorado seus resultados entre este último grupo.

O Coração Conservador Evangélico da América

Argermiro Ferreira, Tribuna da Imprensa, 04/11/2004

O resultado eleitoral mostrou ainda o acerto da aposta e da estratégia de Karl Rove, o competente marqueteiro do presidente - agora visto como uma espécie de gênio político, capaz de ver três lances à frente dos adversários. E estava certa ainda a advertência de Thomas Frank, no livro "What's the matter with Kansas" (O que há com o Kansas), que explica como os conservadores ganharam o coração da América.

Na análise de Frank, os americanos do Meio-Oeste, do Sul e outras áreas distantes da sofisticação de Washington, Nova York e Los Angeles trocaram seus próprios interesses econômicos, inclusive o emprego e a proteção dos planos de saúde, por causas socioculturais (as da guerra cultural), como o aborto e o casamento gay, sob a inspiração da onipresente direita religiosa, atuando a partir da TV e das igrejas.

Truques sujos do gênio do mal

A competência marqueteira de Karl Rove percebeu o quadro e estudou como usá-lo a seu favor no sistema de colégio eleitoral. Nos debates presidenciais, por exemplo, a avaliação unânime foi de que a vitória tinha sido do senador Kerry. Somente alguns destacaram que naqueles debates a preocupação do discurso presidencial fora de levantar temas socioculturais para solidificar o ganho no seu próprio território.

Rove, segundo algumas interpretações na época, resolvera energizar os próprios republicanos e sensibilizar os estados evangélicos, em vez de buscar atrair os independentes e eventuais democratas dissidentes. Críticos apressaram-se a fazer o necrológio de Rove, como se tivesse cometido fatal erro de cálculo. O resultado da votação mostra que o marqueteiro riu por último. Sabia o que estava fazendo.

Outro golpe devastador de Rove foi o uso oculto dos comerciais que contestavam o heroísmo do rival democrata na guerra. Ali começou a vitória de Bush. O presidente que buscara proteção para fugir da guerra do Vietnã ganhou status de herói. O herói de verdade, condecorado cinco vezes no campo debatalha, viu sua reputação ser destruída pelo jogo sujo. É essa, enfim, a história da eleição de 2004.

 

Hosted by www.Geocities.ws

1