Karl Marx

Gênio e Profeta

por

Carlos Antonio Fragoso Guimarães



Karl Heinrich Marx

(1818-1883)

Música: Imagine, de John Lennon



"Uma das mais estranhas ironias da História é não haver limites para os erros de interpretação e as deturpações das teorias, mesmo numa época de acesso irrestrito às fontes; não há exemplo mais drástico desse fenômeno do que o acontecido com a teoria de Karl Marx nos últimos decênios. São constantes as referências a Marx e ao marxismo na imprensa, nos discursos de políticos, em livros e artigos escritos por 'respeitáveis' cientistas sociais e filósofos; no entanto, com poucas excessões, parece que os jornalistas e políticos (especialmente no Brasil) sequer viram de relance uma única linha que seja escrita por Marx (...). Aparentemente sentem-se a salvo em seu papel de peritos no assunto, visto como ninguém com poder e status no campo da pesquisa social contesta suas afirmações ignaras."

Erich Fromm, Psicanalista.


"Marx não é (...) o filósofo da tecnologia. Também não é, como pensam muitos, o filósofo (do estudo) da alienação. Antes de mais nada, Marx é o sociólogo e o economista do regime capitalista. Marx tinha uma teoria sobre este regime, sobre a influência que este exerce sobre os homens e sobre o seu vir-a-ser. Sociólogo e economista do que chamava de capitalismo e das suas transformações, não tinha (e não podia realemente ter) uma idéia precisa do que seria o regime socialista, e (antecipando seu tempo de ciência mecanicista-determinsta) não se cansava de respetir que o homem não podia conhecer o futuro antecipadamente. Não tem fundamento, portanto, perguntar se Marx foi leninista, stalinista, trotzkista, partidário de Gorbatchev ou de Mao. Karl Marx teve a sorte, ou a infelicidade, de ter vivido a mais de um século. Não deu respostas às questões desse tipo, que formulamos hoje. Podemos até fazer estas questões e procurar respondê-las por ele, mas as respostas serão sempre nossas, não dele. (...). Perguntar o que teria pensado Marx significa querer saber, realmente, o que um outro Marx, um Marx do século XX, talvez, teria pensado no lugar do verdadeiro Karl Marx. A resposta contudo, apesar de ser possível, é aleatória e de pouco interesse."

Raymond Aron, Cientista Social.

"A mudança do eixo econômico do Atlântico para o Pacífico, a tendência crescente do monopólio (em nítido contraste com a pregação de que o capitalismo precisa mesmo é de competição), a desigualdade mundial, o declínio da alta cultura (agora simplificada e de domínio global), a formação de um mercado sem fronteiras, toda essa realidade já se prenunciava nos escritos de Marx."

Carlos Haag, Analista econômico do periódico Valor Econômico

"(...) Sem medo de erro, pode-se afirmar de imediato que, depois de Marx, é impossível o retorno à ciência social pré-marxista. Marx deu à humanidade olhos novos para que ela pudesse ver de modo diferente o mundo e a história dos homens. A influência do fator econômico sobre os fatos humanos não é invenção de sonhador."

Giovanne Reale e Dario Antiseri, Filósofos e Historiadores.

Como fica claro nos pensamentos, acima transcritos, de alguns dentre tantos famosos pensadores de nosso século que compreenderam o impacto da obra de Karl Marx, a filosofia e a ciência deste alemão universal, ao mesmo tempo que representa um dos mais agudos gritos contra o processo de coisificação, mecanização e alienação do homem pelo homem, contra sua perda de humanidade e sua transformação em objeto explorado, foi igualmente submetida a distorções, vilipêndios e manipulações - intencionais ou não - por parte dos pró-marxistas e dos não-marxistas, cada um tentando utilizar-se de Marx de acordo com sua própria e mesquinha visão de mundo. Talvez somente uns poucos, como o gênio Charlie Chaplin em seu filme Tempos Modernos, tenham tido um melhor insight sobre a mensagem de Marx do que muitos dos auto-intitulados marxistas militantes ou dos antimarxistas.

Esta página, é claro, não tem a prentensão de expor Marx tal qual ele é... Para isso seriam necessários muitos megabytes de informação e um conhecimento tão ou muito mais enciclopédico e imparcial do que teria tido o próprio Karl Marx. Nem pretende demonstrar nada. Visa apenas apresentar resumidamente o homem Marx, a originalidade e o humanismo de sua obra e o seu inconteste impacto em todo o século XX, em acordo com autores mundialmente reconhecidos como estudiosos íntegros do pensamento marxiano, como Erich Fromm, por exemplo. Porém, mais do que tudo, esta página representa a minha leitura de Karl Marx a partir do próprio Karl Marx, especialmente o jovem Marx dos Manuscritos Econômicos-Filosóficos de 1844.

O Homem Marx

Karl Heinrich Marx nasceu na Alemanha, em 15 de maio de 1818, na pequena cidade de Treves, filho de um advogado de origem judáica, Heinrich Marx, e de uma dona-de -casa, Henriette Pressburg.

O jovem Karl, sob o incentivo intelectual do pai, realizou os seus estudos básicos em Treves seguindo, posteriormente, para Bonn, cidade natal do grande compositor Ludwig van Beethoven, para estudar Direito. Karl, como a maioria dos jovens de todos os tempos, preferiu mergulhar no clima boêmio da cidade, imersa nos ideais do romantismo idealista de Schelling, Goethe e outros, que a se dedicar seriamente aos estudos das Leis. Por isso seu pai o transferiu para uma universidade mais disciplinada em Berlim, em 1836.

Ainda neste ano, o romântico Marx se apaixona e noiva secretamente com uma das mais belas mulheres de Treves, e tão jovem e idealista quanto ele: Jenny von Westphalen, cujo irmão, Ferdnand, seria ministro do Interior da Prússsia posteriormente. Marx casou-se com ela, finalmente, em 1843.

Em Berlim, Karl seguiu com destaque os cursos disciplinares e frequentou o "Doktor-Club", círculo de jovens e brilhantes intelectuais hegelianos. Lá eles discutiam a filosofia de Hegel e outros filósofos românticos. Em 1841, Karl laureou-se em filosofia.

Depois de formado, Karl tentou seguir a carreira acadêmica na universidade de Bonn com a ajuda de seu amigo, o teólogo Bruno Bauer. Mas este era considerado um teólogo progressista e ousado demais, e foi logo afastado da universidade, frustrando os anseios de Marx. Sem poder seguir seu sonho, Marx se dedica ao jornalismo, sendo o redator da "Gazeta Renana", órgão de concentração dos intelectuais da região. Logo Marx seria promovido a redator-chefe. Porém, como quase sempre ocorre, a força intelectual do jornal acabou por incomodar muitos 'poderosos' (o jornal não era governista nem mercantilista como boa parte da mídia popularesca do Brasil) e, após inflamar os ânimos da burguesia latifundiária tradicionalista de parte da Prússia, foi oficialmente interditado em janeiro de 1843.

Nesse mesmo período, a imensa produção intelectual de Marx estava em pleno vapor, mesmo que, no global de sua obra, estivesse ainda em seu início. Estudioso de Feuerbach, Marx escreve em 1843 a Crítica do direito público de Hegel, da qual a introdução foi publicada em Paris no ano sguinte por Ruge, nos "Anais Franco-Alemães", do qual Marx seria, a convite de Ruge, co-diretor. Na cidade Luz, Marx entrou em contato e foi bem recebido por vários grandes intelectuais como Proudhon, Blanc, Heine, Denizard Rivail, George Sand, Bakunin e, sobretudo, o seu grande amigo e colaborador de toda a vida, Friedrich Engels. Porém, mais uma vez, a ousadia e o impacto dos "Anais" acabaram por decretar o seu próprio fim, tendo sido publicado apenas um volume.

Marx, porém, com a ajuda de amigos da cidade alemã de Colônia, prosseguiu sua incansável pesquisa em filosofia e economia política. Foi nesta época que ele escreveu talvez a sua obra mais importantes antes de O Capital e, em muitos pontos, mais transparente e acessível ao pensamento de Marx que sua obra irmã posterior: Os Manuscritos Econômico-Filosóficos. Karl também contribuia com artigos políticos para o jornal dos artesães alemães, o Vorwärts. Como este jornal tinha uma linha crítica-socialista e os artigos de Marx eram muito brilhantes, e como o jornal era lido por várias outras pessoas além dos artesãos a quem se dirigia, especialmente estudantes, a colaboração de Marx acabou por inflamar mais uma vez os ânimos farisáicos do poderosos de todos os tempos, e Karl foi expulso da França em janeiro de 1845.

Passando a residir na Bélgica, Karl e Engels passam a aprofundar ainda mais seus estudos, com o apoio terno de Jenny. Em janeiro de 1848, Marx e Engels redigem o famoso e ainda altamente atual - em sua visão crítica do capitalismo - Manifesto Comunista, a pedido dos membros da "Liga Comunista" de Bruxelas. Com os movimentos sociais de 1848 na França, Marx volta a Colônia, na Alemanhã, onde tentar novamente o jornalismo. Posteriormente, depois de lhe ser negada permanência em Paris, Marx vai para Londres, em 1849, onde permancerá até sua morte.

Na capital do Reino Unido, Marx passa por toda sorte de dificuldades, mas com a ajuda de Engels e de seus artigos para vários jornais, Karl consegue se dedicar e aprofundar-se nos estudos de economia política, sociologia e história de tal modo que seu conhecimento e argumentação impressionam a todos os que o conhecem. Desta são as sementes que mais tarde iriam eclodir em O Capital, cujo primeiro volume, redigido por Marx, veio à luz em 1867, sendo os outros dois compilados por Engels a partir das notas originais e publicados após a morte de Karl, em 1883.

Dedicado quase que obsessivamente na atividade de organização política do movimento operário, Marx funda em Londres, em 1864, a "Associação Internacional dos Trabalhadores".

No período posterior, Marx se dedica febrilmente ao trabalho. Em 1881 morreu sua terna e doce companheira e grande incentivadora, Jenny. Semi-solitário, mas muito ativo, Marx finalmente expira em 14 de março de 1883.

Originalidade e Importância da Obra de Karl Marx

Que Karl Marx foi um gênio quer da Filosofia, quer da Sociologia, quer da Crítica da Economia Política, isso poucos ousam questionar, embora muitos - em especial os críticos que nunca o estudaram - costumem apontar "falácias"; aparentes em sua obra.

O grande problema, porém, surge quando o seu legado passa a ser 'apropriado' por seus seguidores e admiradores, ou mesmo - e principalmente - pelos seus inimigos (muitos e poderosos). Mas este é exatamente o mesmo problema que ocorre no legado de outros grandes homens, como Sócrates ou Cristo, muito em especial quando tentam institucionalizar e dogmatizar sua herança. Cristalizar e dogmatrizar a obra de Marx em catecismos rígidos é violentar e demonstrar alta ignorância da própria essência do mestre. Ao contrário da tradição filosófica alemã, eminentemente idealista e sistêmica, Marx não construiu nem pensava em uma nova filosofia de sistema que pretendesse ser uma representação acabada do mundo. Como bem aponta Denis Collin, em Marx, a filosofia é uma atividade essencialmente crítica. Crítica mesmo da inversão dos elementos da filosofia que costumam substituir o homem vivo por representações descarnadas ou racionalizadas dele mesmo e, em especial, crítica da Economia Política, das teorias clássicas da Economia que pretendem explicar como naturais e permanentes as conflitantes relações de produção do capitalismo que, de fato, são apenas frutos das relações de trabalho entre os homens vivos, algns que detêm os meios (terras, máquinas, capital) e outros que vendem sua capacidade de trabalho (a imensa maioria), homens que lutam pela sua existência e que, além da luta pelo básico, querem amar, ter filhos e criá-los diante de determinado período da História. Esta crítica é a fonte da atualidade de Marx e permanece uma ação sempre viva de rejeição de um mundo de consumismo exacerbado que personifica as coisas, endeusa o mercado e reifica/coisifica os homens. Compreender Marx não é, portanto, tentar retomar este movimento crítico, este questionar sobre um tipo de ação e pensamento que transforma o mundo em um lugar estranho ao homem e à vida, em geral.

Também o chamado “materialismo” de Marx é um ponto pouco entendido – mais freqüentemente, imensamente mal entendido. O materialismo de Marx é, em sua crítica filosófica e social, um anti-idealismo que, nos sistemas filosóficos e econômicos, tomam o genérico e o mercado como sujeito e as pessoas, como meros predicados destes pretensos universais. Não se trata de um materialismo ao modo vulgar ou no estilo do atomismo de Demócrito, mas da desconstrução das generalidades algo vazias dos conceitos da filosofia política. Assim, o Estado não é um ente, uma Idéia platônica a existir a priori, mas é, sim, um estrutura complexa que, na verdade, reflete o trabalho e a ação de homens vivos. Assim, o materialismo em Marx consiste em que ele rejeita a transformação e conceitos abstratos como “Estado”, o “Homem genérico”, a “mão invisível do mercado” como sendo realidades existentes por elas mesmas. Assim, a “matéria” do dito “materialismo” de Marx é constituída pela ATIVIDADE prática de pessoas vivas. Não há algo como uma demonstração do primado da matéria sobre o espírito – isso é uma interpretação vulgar e falsa do marxismo -, mas a do primado, ou seja, do destaque de que as pessoas valem por si e são muito mais que as representações racionais ou conceituais que se fazem sobre elas.

Isso nos remete imediatamente à questão do problema da religião em Marx. Seguindo seu método, Marx vê na Religião o reflexo do que está nos anseios das pessoas. Estes anseios podem levar a uma busca de concretização espiritual ou, ao contrário, dependendo de quem está no poder, a uma espécie de fanatismo tirânico incapaz de suportar qualquer visão de mundo diferente da sua e estimula seitas que perpetuem o mundo em que domina. Isto é fato e é atual. Basta ver o discurso fundamentalista e messiânico de Bush ou ligar a televisão à noite para se notar que a segunda modalidade de atividade ganha da primeira. Infelizmente, a fácil teologia de mercado midiático suplantou a sensível Teologia da Libertação. Assim temos o democrático e ecumênico “Encontro para a Nova Consciência” sendo atacado violentamente por um suposto “Encontro para a Consciência Cristã” evangélico e politicamente poderoso, etc. Mas, embora a famosa frase “a religião é o ópio do povo” seja usada fora de contexto e recortada do texto em que está muitas vezes de má fé por simpatizantes e críticos de Marx e da Religião institucionalizada, o que o pensador quer dizer de fato, está contida linhas acima desta finalização tão conhecida encontrada no texto da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel: :

“ “O homem faz a religião, não é a religião que faz o homem. A religião é, na realidade, a consciência e o sentimento próprio do homem que, ou não se encontrou ainda, ou já se perdeu de novo. Mas o homem não é um ser abstrato, exterior ao mundo real. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse Estado, essa sociedade produzem a religião (....)

“A religião é a teoria geral desse mundo, seu compêndio enciclopédico, sua lógica sob forma popular, seu ponto de honra espiritual, seu entusiasmo, sua sanção moral, seu complemento solene, sua razão geral de consolo e de justificação (...)

“A miséria religiosa é, de um lado, expressão da miséria real e, de outro, protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida pela infelicidade, a alma de um mundo sem coração, e é o espírito de uma época sem espírito. É o ópio (ou seja, a anestesia diante da crueldade de um mundo 'coisificado') do povo”.

 

Ainda hoje, mais de um bilhão de seres humanos vivem e são educados naquilo que se chama erroneamente de marxismo (China, Cuba). Porém, há décadas que se sabe que este marxismo não é a proposta social de Karl Marx, e tal qual ele se apresenta, há pouco de Marx e muito de outros, ou seja, está altamente contaminado. Na verdade, o tipo de governo socialista da Noruega, Suécia e Suíça estaria, em análise, mais perto do ideal socialista ( e de fato, os dois primeiros países constituíram seus governos dentro de um modelo socialista) do que de alguns países ditos “comunistas”.

Este "marxismo" de estado é uma vertente interpretativa do pensamento de Marx e dificilmente seria aceita por ele, mas, infelizmente, se tranformou numa ideologia rígida dos chamados países comunistas e foi, também, apropriada e altamente cristalizada tal como hoje se apresenta, calculadamente, pelos ditos capitalistas, sendo usada como arma para manter, por ambos os blocos, seu poder. De qualquer forma, não há que se negar que mesmo nestes países as conquistas sociais foram inúmeras. Dentre os bilhões de habitantes da China, quase ninguém passa fome, e em Cuba, apesar de um embargo econômico criminoso da superpotência dominante de mais de 40 anos contra a ilha indefesa, todos têm direito à educação, moradia e um dos melhores sistemas médicos do mundo. De qualquer modo, o poder intelectual de Marx abriu os olhos do ocidente para verdades terríveis de um modo de produção que explora e aliena o ser humano (para uma maior e melhor comprensão histórica da mecânica capitalista, veja-se o texto "Capitalismo, O Sepulcro Caiado"). De fato, tal foi a força e alcance de sua mensagem, que uns o usaram para obter o poder a qualquer custo, e outros, assustados com seu afiado bisturi, calculadamente deturparam suas idéias, inclusive falando as mais absurdas bobagens. Só um imbecil poderia responsabilizar Marx por desmandos de governos ditos "comunistas", do mesmo modo que só um imbecil poderia responsabilizar Jesus Cristo pela Inquisição ou pelo mercantilismo alienador de algumas seitas evangélicas. Talvez este imbecil seja educado pela Rede Globo ou pela sórdida Revista Veja (clique aqui para assistir ao video "Midiatrix", uma sátira a estes dois veículos de comunicação ideológicos). Por sinal, não faltaram televangelistas e radioevangelistas que chegassem a comparar Marx ao próprio Diabo, e incentivaram bastante as intervenções do imperialismo em vários países, usando e abusando da máquina de guerra para dizimar populações inteiras (em especial as que tenham escolhido a via socialista) e garantir os interesses comerciais, numa prática bastante sutil e bem própria do "amai-vos uns aos outros".

Como bem observa Francis Wheen:

A história do século XX é um legado de Marx. Vários ícones e monstros da era moderna se apresentam como seus herdeiros. Mas, se ele os reconheceria como tais, já é outra história. Mesmo durante a sua vida, as momices de pretensos discípulos costumava levá-lo ao desespero. Ao tomar conhecimento de que um novo partido francês se dizia marxista, ele respondeu que, neste caso, "Eu, pelo menos, não sou marxista". Não obstante, menos de cem anos depois de sua morte, metade da população mundial era dominada por governos que professavam ter no marxismo seu credo norteador. As idéias de Marx transformaram o estudo da economia, da história, da geografia, da sociologia, da filosofia e da literatura. Desde Jesus Cristo, nenhum pobretão obscuro havia inspirado tanta devoção global - ou sido tão calamitosamente mal interpretado.

Não podendo abarcar toda o alcance e extensão da obra de Marx, que é um dos pais da Sociologia e presença obrigatória nos cursos de História e Filosofia, podemos começar dizendo que o pensamento de Marx é, fundamentalmente, uma tentativa de compreensão da sociedade capitalista, onde uma minoria (os capitalistas) dita as regras para o viver e o pensar de uma maioria (os trabalhadores). Marx se dedica analisar as contradições entre estas duas classes. A distância imensa e o desequilíbrio entre os que detêm os instrumentos para a produção, como máquinas e equipamentos vários, e a terra (meios de produção) e os que nada têm a não ser sua força de trabalho (os assalariados, empregados e operários), constituindo duas classes básicas e cada vez mais polarizadas no sistema capitalista, é o que salta aos olhos nos primeiros estudos de Marx. A tensão entre estas duas classes, que a cada dia parece aumentar - mesmo que tacitamente - agora pode se mostrar em sua frieza já que não parece mais existir a ameaça socialista, desde o fim (há décadas buscada e aspirada pelas potências do Lucro) da União Soviética - e tal fim é amplamente propagado pelos meios de comunicação responsáveis pela divulgação da ideologia (visão de mundo) mais favorável ao capitalismo, e este pode agir como bem quiser, sem que haja o contrapeso 'marxista' para equilibrar seus exageros.

Cabe aqui uma reflexão do Psicólogo e Direitor da UNESCO para a Educação para a Paz, Dr. Pierre Weil:

NEOCAPITALISMO OU NEOFEUDALISMO?

Vivemos numa época muito curiosa e até intrigante. Algo está a nos deixar perplexos: À medida que se desenvolve o neo-capitalismo, a pobreza e a miséria aumenta. Isto se dá não somente nos países pobres, mas também nos, do primeiro mundo.

As causas são bastante conhecidas desde os estudos de Marx. Há porém fatores mais recentes que vem ainda mais piorar o quadro: a explosão populacional, a automação, a informática, o "enxugamento" dos programas de racionalização do trabalho, estão "jogar" milhões de seres humanos para a rua aumentando estupidamente o número de excluídos do processo sócio-econômico.

Com isto estamos voltando progressivamente à uma situação bastante parecida com a da época feudal, na qual tinha os senhores feudais com a sua corte e súditos que viviam numa situação financeira ótima ou razoável conforme o caso, e de outro lado a maioria do povo que padecia na miséria. O resultado era uma situação permanente de assaltos, violência, roubos, o que obrigava a classe dominante a se trancar dentro de castelos, cercados por um sistema de defesa constituído por um cinturão de água, e colossais muros. Para entrar, a famosa ponte levadiça.

Parece que estamos voltando para uma situação bastante parecida. Enquanto aumenta a pobreza e a miséria, através sobretudo do desemprego, aumentam os assaltos e, paralelamente as medidas de proteção; a única diferença com a época medieval, é que os sistemas de defesas foram modernizados. Em vez das altas paredes, temos as grades metálicas pontiagudas; no lugar da ponte elevadiça, temos o portão eletrônico; as torres de observação, foram substituídas por câmaras de televisão e os vigias que davam o alarme são agora representados por sistemas eletrônicos de alarme.

A história se repete, mas com diferenças referentes à época. Os meios primitivos da era medieval foram substituídos por processos etnológicos sofisticados. Mas a situação e a sintomatologia são assustadoramente parecidos. Não será um dos sinais de alarme de que precisamos mudar de sistema econômico?

Pierre = Weil

" "A história de toda a sociedade humana, até nossos dias, é a história do conflito entre classes, especialmente de uma minoria que explora uma imensa maioria. Entre o homem livre e o escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de ofício e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos se encontram sempre em conflito, ora disfarçada, ora abertamente, e que termina sempre por uma transformação revolucionária de toda a sociedade, ou então pela ruína das diversas classes em luta".

Karl Marx e Friedrich Engels, O Manifesto Comunista, 1848.

    Ora, hoje a exploração unilateral das grandes multinacionais tem um braço armado na maior potência mundial dos dias de hoje, e uma ideologia mecanicista e intelectualista que constrói artificialmente toda uma visão de mundo adequada à exploração natural e humana leveda às últimas conseqüências. Como "neoliberalismo" e "globalização" são duas palavras fabricadas para maquiar a velha exploração, usura e roubo, vejamos o que sobre isso nos diz o jornalista Sebastião Nery:

   

Agiotas globalizados


    Eles são satânicos. Alugam, compram, corrompem a imprensa, economistas, analistas, assessores e consultores, inventam e impõem palavras novas para tentar disfarçar velhos crimes deles contra a humanidade. Colonialismo virou imperialismo, depois mundialização e afinal globalização. Desde a Bíblia, agiotagem era usura. Virou banca, investimento financeiro, agora é rentismo. Está todos os dias nos colunistas venais. Rentista é o agiota com a fatiota de patriota para enganar a patota idiota.

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