Madereiras devastadoras, ruralistas e fazendeiros assassinos matam mais um lutador pela igualdade na Terra da Amazônia

Homenagem a Chico Mendes, à Margarida Maria Alves e à Irmã Dorothy Stang

 

Chico Mendes

O caso Chico Mendes

No dia 22 de Dezembro de 1988 o seringueiro, sindicalista e ativista ambiental Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, foi assassinado em Xapuri, Acre.

Chico Mendes teve um papel importante na fundação do Conselho Nacional dos Seringueiros e na formulação da proposta das Reservas Extrativistas para os seringueiros. Ele organizava muitos dos acima descritos empates e conseguiu apoio internacional para a luta dos seringueiros. Em 1987 ele foi premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o prêmio "Global 500" e neste mesmo ano ganhou a "Medalha do meio ambiente" da organização "Better World Society". Após o assassinato de Chico Mendes se juntaram mais de trinta entidades sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e ambientalistas para formar o "Comitê Chico Mendes". Eles exigiram providencias e através de articulação nacional e internacional botaram pressão nas órgãos oficiais para que o crime seja punido. Em 1990 os fazendeiros Darly e Darcy Alves da Silva foram considerados culpados do assassinato e condenados a 19 anos de reclusão. Em 1993 eles escaparam da prisão e foram novamente capitados em 1996. O caso Chico Mendes despertou pela primeira vez a atenção internacional para os problemas dos seringueiros. Através do assassinato, Chico Mendes tornou-se mais uma vez representante dos muitos outros moradores da floresta assassinados, desapossados ou ameaçados...

Leia mais sobre Chico Mendes em www.chicomendes.org

Violência rural

F. Pereira Nóbrega, Jornal Correio da Paraíba, 25/02/2005

O gene biológico afeta a vida inteira do gerado. Há gene histórico, determinando a história de um povo.

Na formação do povo brasileiro, Terra foi o valor maior. Ainda hoje, contra leis e constituições, contra polícia e tribunais, o poder rural continua o poder maior.

Terra era o que o português queria. Possuiu as brasileiras antes que se descobrisse Brasil. O Tratado de Tordesilhas determinou que as terras desse lado seriam de portugueses. Para ocupá-las massacrou índios. Para cultivá-las traficou escravos.

Este país se erigiu sobre três colunas: a Coroa, a Escravatura, a Terra. Ninguém então juraria que ela fosse a mais forte. Caiu a Coroa. Aboliu-se a Escravatura. Mas a Terra ainda hoje é o poder maior.

Sacerdotes, advogados, líderes sindicais já somam mais de 200 cadáveres sob o fogo da violência rural. E os violentos continuam impunes. Não há uma única exceção. Nunca na História do Brasil, um latifundiário assassino conheceu o que seja cadeia. Vale a pena relembrarmos alguns casos.

Chico Mendes ia ser morto. Disse que mais de três meses de vida não teria. Não apareceu nesse país quem garantisse a vida de nome internacional. É o poder da violência rural.

Em Carajás houve o assassinato de dezenas de camponeses. Processos se arrastaram por anos, exibindo um poder rural que tenta aliciar polícia, testemunhas e tudo o mais que possa prejudicar um julgamento. É o poder da Terra.

Margarida Alves foi assassinada em Alagoa Grande. O processo rolou por mais de dez anos. No dia do julgamento não se encontrou uma só pessoa, responsável pela morte de uma líder sindical. Mas o povo sabe quem matou Margarida.

Agora Stang, uma freira americana, é assassinada pelo poder rural do Pará. Há um sacerdote francês na mira desses bacamartes. Não matam se não quiserem. A história provou que eles não têm o que temer.

Também venho do campo, do sertão. Nasci no minifúndio e isso faz a diferença. Só no latifúndio brasileiro a violência rural se faz acima da lei, se constitui poder paralelo; “Pega, mata e come”, como diz a canção.

Um dia, o Cristo disse: os mansos possuirão a terra. Hoje os violentos a possuem.

Margarida Maria Alves

Trabalhadora rural, rendeira, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, Paraíba.

Foi assassinada por um jagunço a mando de latifundiários-empresários, no dia 13 de agosto de 1983.

Destacou-se pela defesa dos direitos do trabalhador sem terra, pelo registro em carteira, pela jornada de 8 horas, pelo 13° salário, férias, entre outros direitos.

 

Os artigos seguintes foram  extraídos do jornal Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, de 15 a 17 de fevereiro de 2005

Missionária Dorothy Stang visitou assassinos na véspera do crime

ANAPU (PA) - Num gesto de ousadia e de extrema condescendência com o ser humano, a irmã Dorothy Stang, visitou seus algozes na véspera de ser assassinada. Informada de que sua morte estava encomendada, ela foi à cabana onde estavam escondidos os dois pistoleiros, na última sexta-feira. Com sorrisos e palavras amenas, ela tentou demovê-los da empreitada. Pediu para rezar um salmo, abençoou-os e passou a mão na cabeça dos dois assassinos.

Atônitos com a visita, os pistoleiros não tiveram nenhum gesto agressivo, agradeceram a visita e asseguraram à freira que não a matariam. Ainda desconfiados, eles perguntaram o local da reunião que a irmã faria na manhã de sábado com um grupo de assentados de um grupo de desenvolvimento sustentável. Às 8h de sábado, os mesmos homens aproximaram-se da irmã e a assassinaram friamente, na presença de duas testemunhas.

Conforme o laudo pericial, ela foi atingida por seis tiros. Um na nuca, que foi fatal, um na cabeça, três nas costas e um na mão na qual segurava uma Bíblia, cujos trechos, segundo relato de testemunhas, ela chegou a ler para os assassinos, antes de ser fuzilada.

A versão é confirmada pelas duas testemunhas do assassinato e por uma que presenciou a visita da freira aos pistoleiros. As três testemunhas estão sob proteção rigorosa da Polícia Federal.

A pequena Anapu, com cerca de 13 mil habitantes, parou para receber ontem o corpo da sua missionária mais estimada, que há cerca de 20 anos atuava junto a comunidades carentes no sul do Pará.

Enterro

O corpo foi autopsiado em Belém e velado durante o dia na cidade de Altamira, a 130 quilômetros de Anapu. O sepultamento, que deveria ocorrer ontem à tarde, foi adiado para hoje, em Anapu

No trajeto de 3 quilômetros entre o aeroporto e a igreja matriz de Altamira, o caixão da religiosa foi seguido por uma multidão de fiéis, que entoava cânticos como o Pai Nosso dos Mártires e Pelos Caminhos da América. Um dos trechos do Pai Nosso diz: "Maldita toda violência que devora a vida pela repressão".

Preocupado com as repercussões nacionais e internacionais do assassinato da irmã Dorothy, americana naturalizada brasileira, o governo federal colocou a Polícia Federal nas investigações e mandou dois ministros de Estado (Nilmário Miranda, de Direitos Humanos, e Marina Silva, do Meio Ambiente) acompanharem as investigações.

O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, que também foi à região para acelerar as providências do poder público, afirmou que deverá pedir a federalização do inquérito. Fonteles disse ter indícios de omissão da segurança pública do Estado do Pará, o que acabou na morte da religiosa. "Vim coletar dados, ouvir as lideranças locais e a OAB e também colher provas documentais de que há inércia no sistema de segurança pública do Estado", disse.

Segundo o procurador, essas informações servirão de base para alterar a competência sobre as investigações do caso da Justiça Estadual para a Federal, com base na emenda 45 da Reforma do Judiciário. A ação será ajuizada no Superior Tribunal de Justiça (STJ). "Assim esse fato tenebroso sairá da justiça Estadual para a Federal".

Para o presidente regional da OAB, Ophir Cavalcante Júnior, tanto o governo estadual como o federal têm responsabilidade sobre a violência nessa região do Pará. O governo federal, porque segundo ele, faz muito marketing e pirotecnia e não realiza a reforma agrária e o governo estadual pela total ausência na região.

Segundo Ophir, o assassinato da religiosa era fato conhecido de todos. Ela própria teria denunciado as ameaças reiteradas vezes para autoridades de segurança pública locais e também para o próprio ministro Nilmário Miranda, com quem se reuniu no último dia 10 de fevereiro, quando foi lançado em Belém o Programa Nacional de Proteção a Defensores de Direitos Humanos.

Anapu, novo alvo da devastação na Amazônia

BELÉM - A grilagem desenfreada de terras públicas e a extração ilegal de madeira transformaram em menos de quatro anos o município de Anapu numa região semelhante ao antigo oeste norte-americano e também no mais novo alvo da devastação florestal na Amazônia. A cada dia chegam novos migrantes nesse município do sudoeste paraense encravado entre Altamira e Pacajá, onde se chega pela rodovia Transamazônica.

Em meio a pistoleiros - que circulam pela cidade com desenvoltura - há novos moradores que chegam iludidos com a perspectiva de encontrar emprego, terra barata e recursos naturais inesgotáveis para explorar. Menos de 20 pessoas, a maioria pecuaristas de Altamira, a 220 km do município, se declaram proprietários da maioria das terras.

Os números dessa nova corrida fizeram triplicar a população de Anapu: sete mil pessoas viviam cinco anos na região; agora, são mais de 20 mil. As madeireiras eram cinco dois anos, são 34 agora.

A cobiça pelas terras está centralizada numa área de 120 mil hectares, onde a missionária Dorothy Stang montou um projeto que pretende transformar trabalhadores sem terra em pequenos produtores rurais com a vantagem de tirar do chão o próprio sustento sem devastar a floresta.

O modelo implantado por irmã Dorothy é o Projeto de Desenvolvimento Sustentado (PDS), uma sigla amaldiçoada por fazendeiros e madeireiros. Eles lutam com unhas e dentes para impedir que o projeto vingue. O governo federal garante que o PDS será uma realidade, custe o que custar. Já custou a morte de sua idealizadora.

Nas glebas Belo Monte, Bacajá, Esperança e Virola Jatobá, onde os lotes estão prontos para demarcação pelos técnicos do Incra para ser entregues aos lavradores que eram ligados à irmã Dorothy, um clima de guerra se instalou. Pistoleiros, de um lado, fazem o papel de leões de chácara de supostos proprietários das terras, impedindo que os técnicos do governo façam a medição das terras.

Empregados de serrarias são levados para os lotes, recebem barracos dos fazendeiros e ordens para ficar nas terras e garantir a área para seus patrões. Os trabalhadores do PDS chamam de jagunços os funcionários dos fazendeiros.

Chegar nos lotes, localizados a 50 km da cidade de Anapu, é uma tarefa tão difícil quanto percorrer a caótica rodovia Transamazônia, transformada nesta época de inverno amazônico num imenso atoleiro. Pelo caminho, carretas e caminhões atolados são puxados por tratores. Quem tiver no mínimo R$ 50 para pagar o tratorista pode garantir a viagem.

Em seus 1.800 km dentro do Pará, a estrada só tem 40km de asfalto, entre Marabá e Utupiranga. Na região vivem mais de 1 milhão de pessoas, a maioria migrantes do Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Goiás.

Bispo culpa governo e agronegócio por mortes no Pará

Dom Tomás Balduíno diz que governo Lula é um fracasso na área social

BRASÍLIA - O presidente da Comissão Pastoral da Terra, dom Tomás Balduíno, acusou o governo federal, o governo do Pará e o agronegócio pela tensão na região de Terra do Meio, no Pará, onde no último sábado foi assassinada a missionária Dorothy Stang. Dom Tomás afirmou que o governo de Luiz Inácio Lula é um "fracasso" na área social e o assassinato da missionária confirma os problemas enfrentados.

"É um fracasso. Pode ser que do lado do agronegócio, do superávit primário, seja um sucesso. O pessoal está eufórico, rindo até o queixo. Mas aí está a morte de Dorothy, que é quase uma profecia", disse d. Tomás em uma entrevista, ontem, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

D. Tomás vê o agronegócio como o principal culpado pelos atos de violência do campo. "O agronegócio é violento. Onde o agronegócio é mais forte também é mais forte a violência. Não é só violento contra as pessoas, mas violento contra a natureza, contra a floresta", acusou.

A região onde atuava a missionária, disse o presidente da CPT, é um "Estado paralelo" onde o governo federal e o governo do Estado não chegam ou são coniventes com os fazendeiros. Segundo ele, lá não existe estrutura, não existem fiscais dos órgãos federais e, quando existem, eles não têm estrutura para trabalhar. "Isso é um desgoverno. O crime organizado que engloba o Estado do Pará é que financia as campanhas políticas. Lembra o que aconteceu no Espírito Santo. Ali a Polícia Civil é caso de polícia", diz d. Tomás.

Rejeitou

Essa seria a razão, segundo o presidente da CPT, para Dorothy Stang não ter aceito a proteção da polícia local. O secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, disse que a missionária não havia aceitado proteção, o que poderia ter evitado seu assassinato. D. Tomás afirma que a freira conhecia a polícia da região. "Isso pode ser um álibi, uma desculpa. O que fica é que a irmã Dorothy não foi ouvida pelo governo. Ela vinha reclamando uma solução para aquela terra e não foi ouvida", disse.

A ida do Exército para a região, como determinou o governo federal, é apenas um paliativo, na avaliação do bispo. "Não posso dizer que não é bom ou estaria me contradizendo. Estamos justamente pedindo a ação do governo naquela região. Mas a tropa não pode ficar lá o tempo todo. No dia em que for embora volta a mesma situação. É preciso chegar à raiz do problema", afirmou.

Solução

A solução do problema passa, segundo o presidente da CPT, pela reforma agrária, retirada dos grileiros da região e ação policial efetiva. Mas não da polícia do Estado, que estaria tomada pela corrupção, mas da ação federal. Isso incluiria estrutura para a policiais e fiscais trabalharem. "Ouvimos relatos que os policiais federais que estão lá têm que andar de carona com motoboys. Daqui a pouco têm que usar o carro de um fazendeiro e ficam devendo favor", disse.

Lista

Dorothy Stang, missionária das ordem Irmãs de Nossa Senhora, era americana mas morava no Brasil havia 40 anos, onde trabalhava com sem-terras, índios e trabalhadores rurais. Dorothy já havia sido ameaçada de morte e foi assassinada sábado. O nome da missionária está na lista preparada pela CPT com 161 pessoas ameaçadas de morte em 2004. A lista foi divulgada ontem.

Apenas no Pará teriam sido 40 ameaças no ano passado, mas esses são apenas dados preliminares. A regional da CPT no Estado aponta para 12 assassinatos por conflitos de terra no Estado em 2004. Entre os ameaçados de morte que aparecem no levantamento da Comissão estão o bispo de São Félix do Araguaia, d. Pedro Casaldáliga, e o procurador da República em Palmas (TO) Mário Lúcio. Da lista dos ameaçados em 2004, dois foram executados: Dorothy e o fiscal do trabalho Nelson José da Silva, assassinado em Unaí (MG). Em 26 de janeiro, Nelson foi ameaçado. Dois dias depois, morto.

CNA rebate declarações de bispo

BRASÍLIA - O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antônio Ernesto de Salvo, rebateu as declarações do presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), d. Tomás Balduíno, que responsabilizou o agronegócio pela violência no campo. "Dos homens de Deus se espera uma mensagem fraterna, não declarações como essas", comentou o dirigente da CNA.

Entre outras declarações, d. Tomás Balduíno afirmou que "onde o agronegócio é mais forte é mais forte também a violência". Para De Salvo, a frase é "muito preconceituosa". "A violência impera onde o Estado se ausenta, onde o Estado é frouxo. O progresso e a presença do Estado é que acabam com a violência."

De Salvo contestou também a afirmação de que "o agronegócio é violento com as pessoas e também com a natureza". Para o presidente da CNA, no passado os agricultores não tinham consciência da necessidade de preservar a natureza. "Agora há consciência de que devemos nos esforçar para comprometer o menos possível a natureza", comentou. Mas "é impossível crescer sem modificar o meio ambiente".

ONU acompanha investigações

GENEBRA - A Organização das Nações Unidas está acompanhando as investigações sobre a morte da irmã Dorothy Stang, dia 12, em Anapu, Pará. Hina Jilani, representante especial do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, para os Direitos Humanos, foi informada sobre o assassinato e está avaliando a situação. A missionária trabalhava há décadas com pequenos produtores.

A ONU indica que, por enquanto, a representante de Annan prefere aguardar as investigações conduzidas no Brasil. Porta-vozes da ONU indicam que Jilani tem observado que o Brasil estaria "cumprindo suas obrigações nas investigações e na tentativa de esclarecer o caso". Uma das funções de Jilani é cobrar explicações dos governos em caso de assassinatos ou ameaças a pessoas que são consideradas defensoras dos direitos humanos. Isso ainda poderá ser feito.

A questão da proteção de ativistas no Brasil é um tema que a ONU sempre destaca quando se fala sobre a situação do País. Nos últimos anos Jilani já foi obrigada a pedir em várias ocasiões explicações ao governo brasileiro sobre mortes. Um exemplo foi o caso dos assassinatos de duas testemunhas, mortas depois de terem denunciado em 2003 a existência de grupos de extermínio à relatora das Nações Unidas, Asma Jahangir, durante sua viagem ao Brasil.

Asma Jahangir visitou o País há dois anos e, entre os vários compromissos que teve, ouviu denúncias feitas por Gerson Jesus Bispo, na Bahia, e por Flávio Manoel da Silva, em Pedras de Fogo, na Paraíba. Os dois foram executados dias depois de conversarem com a representante da ONU.

Em 2003, o governo brasileiro ainda foi criticado por Jilani por demorar a responder os pedidos de explicações sobre os assassinatos de defensores dos direitos humanos. Jilani teria enviado dez pedidos de esclarecimentos sobre ameaças e assassinatos de ativistas no País apenas entre 2002 e 2003.

Um desses pedidos foi para que o governo desse uma solução ao caso de Raimundo Rosa Neres, líder do grupo indígena pataxó hã-hã-hãe. O líder da tribo foi assassinado na Bahia e, segundo informações recebidas pela ONU, os autores seriam funcionários de fazendeiros da região de Pau Brasil.

F. Pereira Nóbrega, Jornal Correio da Paraíba, 17/02/2005

Nossas elites

As elites brasileiras resistem. Prometem a modernidade e não saem da Caverna. Introduziram a informática, o robô, e desempregaram mais trabalhadores. A máquina vai substituindo o homem. Falam de competitividade. Significa ter o máximo de lucro e qualidade, com o mínimo de despesas. Novamente, é a máquina, protegida mais que o homem.

Nossas elites se portam indiferentes aos avanços sociais. O menor salário na Austrália corresponde a 5 mínimos nossos. Com isso é maior poder aquisitivo das massas, maior consumo, mais ativa a economia.

Nossas elites oferecem um dos menores salários mínimos do mundo. Anos atrás o Governo decretou que o Estado não mais se envolverá nas negociações do Trabalho. É a “livre” negociação, não mais entre patrão e empregados – agora, entre patrões e desempregados. Quando se fala de avanços sociais, respondem as elites que isso é coisa do Leste e com ele caiu. Neste país, tudo pode acontecer, menos as elites perderem.

Mais cruéis são as elites rurais. Mantêm suas milícias, fazem justiça pelas próprias mãos. Já mataram tantos que a Anistia Internacional gemeu a dor dos que aqui não têm voz. Denunciou nossos massacres de camponeses.

As elites brasileiras não são apenas econômicas. São também política – por pura decorrência. Ganham eleições porque têm dinheiro. Os bancos salvos da falência, os bilhões de dólares, que do Exterior venham, esperam a hora da campanha, para agradecerem aos políticos.

Passa a vitória política pelo monopólio das informações. São 80% das Comunicações brasileiras, pertencendo a apenas 20 famílias, sob as mesmas fortunas dos mesmos Senadores, Deputados, Governadores.

O país aumenta em pobreza, estaciona em natalidade. Aumenta em ignorância e doença enquanto as elites brasileiras tentam o retrocesso de todas as conquistas sociais.

 

 

 

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