A Crise do “Cassino Global” dos especuladores e gatunos das Bolsas de Valores em setembro de 2008 e a tentativa de assalto ao dinheiro do povo dos vários países para salvar a rapinagem.

Aqui você encontrará artigos de diversos jornalistas independentes do Brasil e do mundo onde você terá informações da crise financeira dos bancos e das bolsas não censuradas ou manipuladas por grandes conglomerados comerciais de comunicação neoliberais, como a Rede Globo e a sujíssima Veja.

Boa Leitura

80 anos depois da manipulação financeira de 1929

Lúcido Artigo do jornalista Hélio Fernandes

Rio de Janeiro, jornal Tribuna da Imprensa, 18/09/2008

Os bancos, sempre os bancos, no apogeu dos lucros ilícitos

A Bovespa, sem qualquer percepção ou preocupação das autoridades, em pouco mais de 4 anos subiu de 11 mil pontos para 73 mil. Não é normal, não havia explicação, mas o comando da CVM não podia ficar em silêncio como se não soubesse de nada.

Foi o produto da "alavancagem" o principal fator do que chamam, até hoje, de "craque" da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. E hoje temos o produto e conseqüência da mesma "alavancagem". Em Wall Street, a alta levou 7 anos seguida, sem uma queda, mínima que fosse. Era "crise financeira", só depois, como conseqüência, passou a ser econômica. Poderia lembrar de memória fatos e mais fatos dessa "quebra", citarei apenas alguns.

1 - Em 1929, em plena crise da bolsa, erguia-se em Nova Iorque o prédio mais alto do mundo, o Empire State Building. Investiram uma fortuna, quem não estava na bolsa, tinha recursos.

2 - O cientista e empresário Bernard Baruch possuía respeitável carteira de ações. Toda manhã, ao chegar ao escritório, gostava de engraxar os sapatos numa daquelas cadeiras altas, que também existiam no Rio. Um dia o engraxate deu a ele uma lista de ações, dizendo: "Doutor, todas elas vão subir muito".

Entrando no escritório, Baruch chamou o diretor do departamento de ações e deu a ordem definitiva: "Venda todas as nossas ações". Perplexo, o diretor disse apenas: "Doutor, as ações estão em alta". E Baruch, "ótimo é melhor vender na alta". E explicou o diálogo, dizendo: "Quando um engraxate começa a dar indicações sobre ações, temos que vender".

8 ou 9 meses depois, a bolsa quebrava, quem estava de fora não perdeu nada. Havia então o que se chamava de "alavancagem", praticada por todos, investidores e corretores. Funcionava assim. O cidadão tinha digamos 1 milhão de dólares, comprava 5 milhões. Combinava com o corretor: "Se cair 20%, você vende, perco 1 milhão, você não perde nada". Mas como o mercado é de oferta e procura, Wall Street subia sempre.

Até que os primeiros resolveram vender, os ganhos eram fantásticos. Mas a pirâmide era baseada na compra e não na venda. Os corretores tinham que cumprir as ordens, o "edifício" desabou. Os que estavam "comprados-alavancados" tentaram vender, não havia comprador. Ações "seguras" viraram pó, dezenas e dezenas de "alavancados" se jogaram do alto de seus escritórios luxuosos. (Como as ações do Lehman Brothers, que de 60 dólares que "valiam" não tinham comprador a 20 centavos de dólar).

Em 1929 foram determinadas providências para eliminar essa jogatina. Logo depois Roosevelt tomava posse com 16 milhões de desempregados, já então não mais em crise puramente financeira, mas também econômica. Com o "New Deal", estatizou tudo, portos, ferrovias, energia, metrôs, água, criou os 16 milhões de empregos que faltavam. Em 1936 era reeleito pela primeira vez com vitória esmagadora.

Existe muito a contar e irei contando. Mas imediatamente, o governo dos EUA, que já desperdiçou 200 BILHÕES de dólares e pretende jogar fora mais 500 BILHÕES, deve explicar o seguinte.

1 - A Merrill Lynch, que ganhou fortunas intermediando a DOAÇÃO da Vale e "media o risco Brasil", teve que ser vendida, ninguém a quer a não ser com dinheiro do cidadão. Seu ativo era de 966 bilhões de dólares, não resistiu a um "prejuízo" de apenas 4,6 bilhões no segundo trimestre. Com dinheiro do Tesouro, foi incorporada ao Bank of America.

2 - O Lehman Brothers com ativos de 639 BILHÕES não resistiu a prejuízos de 2,7 bilhões, ninguém quer comprá-lo nem mesmo com dinheiro podre. (Do Tesouro).

3 - A elite financeira, cada vez mais rica, elevou seu consumo inútil e inócuo a níveis criminosos. Antigamente um cidadão mesmo rico, tinha um sapato preto e um marrom. Hoje tem 40 de cada cor, a indústria continua produzindo, sem retorno. A moda feminina, igual. Antigamente existiam duas grandes grifes, hoje são no mínimo 150, sem criação razoável de emprego e sem retorno.

A liquidez do Opportunity de Daniel Dantas, dentro do mesmo critério, não pode ser alta. Com um ativo apenas de 16 bilhões, sofreu saques de 3 bilhões. Para citar Somerset Maughan, estão todos no "Fio da navalha".

PS - Para terminar por hoje. Os bancos comerciais não sofreram nada, só os de investimento. Os bancos comerciais são mais cuidadosos, o dinheiro, teoricamente, é deles. Os bancos de investimento, dos clientes.

01/10/2008

 

Veja, no youtube, o vídeo “Banco Mata

 

Os engodos do mercado

 

Excelente reflexão de Leonardo Boff, 03/10/2008

 




  Podemos imaginar a profunda perplexidade que a crise dos mercados mundiais se abateu sobre os ideólogos do neoliberalismo, do Estado mínimo e dos vendedores das ilusões do mercado. A queda do muro do Berlin em 1989 e a implosão da União Soviética provocou a euforia do capitalismo. Reagan e Tatcher, agora sem o contraponto socialista, aproveitaram a ocasião para radicalizar os “valores” do capitalismo, especialmente das excelências do mercado que tudo resolveria. Para facilitar a obra, começaram por desmoralizar o Estado como péssimo gestor e difamar a política como o mundo da corrupção. Naturalmente havia e ainda há problemas nestas instâncias. Mas não se pode abrir mão do Estado e da política se não quisermos regredir à barbárie social.  Em seu lugar, dizia-se, devem entrar as ordenações excogitadas no seio dos organismos nascidos em Bretton Woods e dos grandes conglomerados multiraterais. Entre nós, chegou-se a ridicularizar quem falasse em projeto nacional. Agora, sob a globalização, insistiam, vigora o projeto-mundo. E o Brasil deve inserir-se nele, mesmo de forma subalterna. O Estado deve ser reduzido ao mínimo e deixar livre campo para mercado  fazer os seus negócios.


  Nós que viemos, como tantos outros, do compromisso com os direitos humanos, especialmente, dos mais vulneráveis, demo-nos logo conta de que agora o principal violador destes direitos era o Estado mercantil e neo-liberal. Pois os direitos deixavam de ser inalienáveis. Eram transformados em necessidades humanas cuja satisfação deve ser buscada no mercado. Só tem direitos quem pode pagar e for consumidor Não é mais o Estado que vai garantir os mínimos para a vida. Como a grande maioria da população não participa do mercado, via negado seu direito.

 
  Podemos e devemos discutir o estatudo do Estado-nação. Na nova fase planetaria da humanidade mais e mais se notam as limitações dos Estados e cresce a urgência de um centro de ordenação política que atenda às demandas coletivas da humanidade por alimento,  água, saúde, moradia, saúde e segurança. Mas enquanto não chegarmos à implantação deste organismo, cabe ao Estado ter a gestão do bem comum, impor limites à voracidade das multinacionais e implementar um projeto nacional.
 
 A crise econômica atual desmascarou como falsas as teses neoliberais e o combate ao Estado. Com espanto um jornal empresarial escreveu em letras garrafais em sua secção de economia “Mercado Irracional” como se um dia o mercado fosse racional, mercado que deixa de fora 2/3 da humanidade. Uma conhecida comentarista de assuntos econômicos, verdadeira sacerdotiza do mercado e do Estado mínimo, inflada de arrogância escreveu:”As autoridades americanas erraram na regulação e na fiscalização, erraram na avaliação da dimensão da crise, erraram na dose do remédio; e erram quando têm comportamento contraditório e errático” E por minha conta, acrescentaria: erraram em não convoca-la como a grande pitoniza que teria a solução adivinhatória para a atual  crise dos mercados.

 
 A lição é clara: deixada por conta do mercado e da voracidade do sistema financeiro especulativo, a crise ter-se-ia transformado numa tragédia de proporções planetárias pondo em grave risco o sistema econômico mundial. Logicamente, as grandes vitimas seriam os de sempre: os chamados zeros econômicos, os pobres e excluídos. Foi o difamado Estado que teve que entrar com quase dois trilhões de dólares para, no último momento, evitar o pior. São fatos que nos convidam a revisões profundas ou pelo menos, para alguns a serem menos arrogantes.

Fonte: http://www.leonardoboff.com/site/lboff.htm

 

Valor: A "desfinanceirização" da economia global


J. Carlos de Assis*


O capital financeiro, dos anos 80 para cá, tinha licença para matar. E quase matou o capital produtivo. A esse processo se deu o nome de globalização, embora analistas menos entusiastas o tenham chamado de "financeirização". Não é novo. Teve uma preliminar nos anos 20, auge do liberalismo pregado nos Estados Unidos pelo presidente John Calvin Coolidge, ídolo do presidente Ronald Reagan. Como se viu, naquele caso acabou em Grande Depressão. Agora teria que acabar em algo parecido.

"Financeirização" é o modo pelo qual o capital se descola do setor produtivo, baseado este no valor trabalho. É a acumulação de valores fictícios, sem produção. Em seus momentos terminais assume a forma de uma vertigem especulativa completamente descolada de ativos reais.

É o que temos visto. No primeiro semestre deste ano, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) estimava em US$ 600 trilhões o valor dos derivativos em circulação no mundo. Ou seja, mais de dez vezes o Produto Mundial Bruto.

A crise no mercado subprime americano é apenas a ponta do iceberg. Não estamos diante de uma "bolha" imobiliária similar à "bolha" das bolsas em 1987. Agora, o que está em jogo é "a bolha", não "uma bolha". Como na dança das cadeiras, o capital especulativo que gira em torno do planeta, sob diferentes formas, vai ser impelido a se sentar. E não haverá cadeira para todos.

Pode-se prever perdas gigantescas em todos os mercados, com uma rápida tentativa de migração para o único título seguro, os papéis dos Tesouros dos países centrais, ou a terra.

Por isso, o pacote de George W. Bush, mesmo melhorado pelo Congresso americano, não terá sucesso. A quantia de US$ 700 bilhões parece muito, mas é apenas aproximadamente 7% do montante das hipotecas sob suspeita, algo próximo a US$ 13 trilhões.

Os aplicadores, que podemos chamar sem qualquer escrúpulo moral de especuladores, terão perdas gigantescas. A questão, pois, não é saber o volume de perdas, mas avaliar como isso se refletirá no mercado real, onde está a renda das famílias normais e o emprego. E como o governo se comportará para evitar o caos social subseqüente.

O impacto na renda e no emprego será inevitável, pois, a despeito da função antitrabalho e anti-social dos mercados especulativos, as instituições que o constituem empregam dezenas de milhares de pessoas, a maioria delas especializada. Ficarão sem emprego num primeiro momento. Isso afetará a demanda agregada e, por esse caminho, as expectativas de investimento, gerando mais desemprego - agora, na economia real. O processo pode transformar-se numa espiral descendente, caso o governo não aja de forma sábia.

O remédio é conhecido desde o New Deal, o programa econômico de Roosevelt: ativação da demanda agregada através de déficits públicos. Até que isso seja efetivado, porém, haverá uma luta ideológica nos Estados Unidos, assim como houve antes do New Deal. Conservadores insistirão em proteger os investidores por cima, enquanto democratas, mais sensíveis a demandas sociais, procurarão dar proteção social por baixo.

É evidente que, a médio prazo, num país democrático de cidadania ampliada, os democratas acabarão vencendo.

É preciso deixar claro que a negativa de proteção a investidores/especuladores não é apenas, nem principalmente, uma questão moral. É uma questão de eficácia. Um investidor num título subprime, ou em qualquer derivativo, é alguém que estava com dinheiro sobrando e queria ganhar mais. Uma perda o atingirá no patrimônio, mas nem em todo ele ou na renda corrente. Se o governo compra seu título podre, ele vão vai gastar o valor equivalente em consumo ou investimento. Vai entesourá-lo sob alguma forma, talvez em ouro. Com isso, não dará qualquer contribuição ao aumento da produção ou da renda real da sociedade, nem estimulará o emprego.

No Brasil, já temos uma taxa de desemprego que justifica um grande programa de garantia de emprego no estilo New Deal. Num simpósio realizado em maio, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), discutiu-se o Projeto Cidade Cidadã - um Programa de Emprego Garantido associado a um Programa de Trabalho Aplicado nas periferias metropolitanas -, que resolveria simultaneamente os problemas de desemprego e de degeneração das áreas favelizadas e ajudaria a resolver o problema da segurança, e finalmente do desemprego em geral. É hora de pensar em aplicá-lo, o que dependerá de mobilização social e decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A atual crise, que chamo de "desfinanceirização" global, demoliu um dos ícones do pensamento neoliberal, o dogma da auto-regulação dos mercados. O próximo a cair será o dogma do orçamento equilibrado (ou do superávit primário), sobretudo se o desemprego voltar a crescer.

Mesmo fazendo superávit primário, será possível financiar o projeto Cidade Cidadã, que custará, ao longo de cinco anos, cerca de R$ 40 bilhões por ano. Recorde-se que, na eleição de 1932 nos Estados Unidos, em plena Grande Depressão, ambos os candidatos falavam em equilibrar o orçamento. Só quando assumiu é que Franklin Delano Roosevelt se deu conta de que a nação estaria em crise ainda maior se insistisse nesse dogma. Seria bom que nossos líderes pensassem nisso.

*J. Carlos de Assis é presidente do Instituto Desemprego Zero e concluiu o livro "O Valor Trabalho", a ser lançado brevemente, sobre a crise, sua extensão e conseqüências, e sobre as possíveis estratégias para superá-la.



Veja, no youtube, o vídeo “Banco Mata

Fonte: Valor Online

A crise financeira vai virar crise econômica

O povo roubado, agora explorado
Hélio Fernandes, 02/10/2008

Lula diz que "americanos montaram um cassino". Puxa, finalmente alguém (e logo um presidente da República) copia as palavras que este repórter utiliza há mais de 30 anos. Não passa disso, cassino, Las Vegas, jogatina, tudo que define magistralmente essa manipulação, que favorece apenas 0,01 da população mundial.

Dos 6 bilhões de habitantes do Planeta, quantos sabem o que é bolsa de valores, como se compra e se vende ações? Paul Getty, um dos homens que mais ganhou fortunas nessas arapucas, foi entrevistado. Perguntaram a ele como ganhava sempre? E ele, com a maior tranqüilidade: "Compro na baixa e vendo na alta". Esse o grande segredo revelado por um afortunado.

O inacreditável é que agora, em 2008, foram cometidos os mesmos erros, os mesmos favorecimentos, os mesmos crimes (é de crime financeiro provocando o econômico que se trata) de 1929. A base de tudo foi a falta de fiscalização por parte dos órgãos encarregados de evitar o que está acontecendo. Não fiscalizaram, não interessava, faziam parte dos grupos de jogadores-ganhadores-manipuladores. Por que iriam fiscalizar e prejudicar seus próprios interesses?

Ontem, revelei aqui o que ninguém ainda havia publicado: o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, antes de ocupar esse alto cargo, foi executivo do Goldman Sachs, onde ganhava fortunas. A legislação PROIBIA que deixasse a Goldman para ser secretário do Tesouro. Não houve problema, modificaram a lei, ele assumiu. Perguntinha inútil, inócua, ingênua: por que deixaria uma empresa que lhe pagava muito para ganhar um simples salário?

(Isso aconteceu de maneira menos ruidosa mas também afrontosa com o senhor Joaquim Levy. Ocupava cargo importante e bem pago num banco oficial, em Washington. Ao assumir, Sérgio Cabral ouviu "sussurros" de que deveria nomear Levy para secretário da Fazenda. Cabral ainda perguntou, "ele aceita trocar tudo por um salário de 9 mil
reais?".

Riram e responderam: "Aceita, ora se aceita". Aceitou, está em fortíssimo clima de acusações. Que provocaram até a notícia dada há meses por este repórter, de que deverá deixar o cargo. Já cumpriu e atendeu os fabulosos interesses). Voltará para Washington?

É lógico que Henry Paulson ajudou muito mais os grupos financeiros do que Joaquim Levy, mas este também serviu. Quando alguém deixa o muito, visível, e fica com o menos, ainda mais visível, duvidem até mesmo do que ouvem e assistem.

Os poderosos grupos que dominam o mercado financeiro do mundo (a partir dos EUA) estão de tal forma desesperadados, que alteraram a tramitação do pacote. Foi recusado na Câmara, iriam apresentar um novo. Mas aí tiraram a Câmara da jogada, apresentaram o pacote no Senado. Deve ser votado e APROVADO, hoje. DOANDO os 700 BILHÕES aos grupos que dominam tudo, financeiramente.

Despudoradamente, nos EUA e na Europa, usam duas palavras constrangedoras para justificar o desvio do dinheiro do contribuinte para os cofres dos ávidos jogadores. As palavras: NACIONALIZAÇÃO e SOCIALIZAÇÃO. Farsantes em todos os sentidos.

Apesar de dizerem que o "Brasil estava imune à crise", as bolsas brasileiras (só uma, que é a Bovespa) estavam VULNERABILÍSSIMAS. Em 3 para 4 anos, esse antro de jogatina subiu de mais ou menos 10 mil pontos para 73 mil. E de um volume médio de 600 milhões diários, passaram para 6 BILHÕES. De onde veio essa alta e esse dinheiro? Ninguém notou ou fiscalizou?

Deviam desconfiar (pelo menos desconfiar) dos sintomas comparativos com 1929.

1 - Alavancagem.

2 - Alta exagerada.

3 - Todos viam, menos os responsáveis (?), que se alguém vendesse a pirâmide despencaria. Aconteceu em 1929, repetido em 2008. A crise logicamente é FINANCEIRA. Mas terá enorme repercussão ECONÔMICA. Os que ganharam fortunas FÁCEIS, comprometem os que ganham (é o capitalismo) TRABALHANDO.

PS - Estão enganando a todos, com o SUCESSO desse pacote, que pode ter sido votado ontem (e voltado para a Câmara) ou seria votado hoje, APROVADÍSSIMO.

PS 2 - A conclusão é óbvia. Os que roubaram o povo e mergulharam o mundo num impressionante tumulto, serão socorridos com dinheiro desse

Veja, no youtube, o vídeo “Banco Mata”.

22/09/2008

Crise coloca em xeque os pilares do capitalismo


David Wessel, The Wall Street Journal


O Setembro Negro, o maior choque financeiro desde a Grande Depressão, está levando dois republicanos, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, a realizar a maior intervenção do governo na economia desde os anos 30, numa tentativa de impedir a devastação econômica daquela crise.


Abandonando a estratégia de um resgate por vez usada nos últimos meses, o governo americano mudou subitamente para um amplo ataque ao que Paulson chama de "raiz dos problemas de nosso sistema financeiro": os créditos podres nos balanços dos bancos do país.


Foi-se a fé, compartilhada pela liderança americana com variados graus de entusiasmo, de que o melhor caminho para a prosperidade é liberar os mercados financeiros para alocar capital, assumir riscos, desfrutar de lucros e absorver prejuízos. Sumiu a esperança de que os mercados se corrigem quando exageram.

Também foi destruída a idéia de que o papel do governo é ficar de fora, limitando-se a proteger consumidores e pequenos investidores, definindo as regras do jogo e interferindo - apenas raramente - para proteger a economia de choques como a quebra das bolsas de 1987 ou o colapso do fundo de hedge Long-Term Capital Management. Esses dois episódios envolveram a ação do governo americano para acalmar os mercados e inundá-los de dinheiro. Em contraste com a situação atual, em nenhuma das vezes os Estados Unidos usaram quantias significativas de dinheiro do contribuinte ou qualquer coisa que se aproximasse da estatização de uma grande firma.


Há pouco mais de um ano, Paulson, entre outros, argumentava que as regulamentações onerosas estavam aleijando o setor financeiro americano diante da concorrência internacional mais acirrada. Esse discurso foi silenciado.


"Nos últimos 20 anos as pessoas estavam, na verdade, expressando a idéia de que o governo deveria tirar as mãos" do mercado, diz Richard Sylla, um historiador financeiro da Universidade de Nova York. "Tínhamos essa crença do livre mercado: 'O governo não é uma solução, o governo é o problema', de Reagan. Agora as pessoas estão dizendo: 'O mercado é o problema. O governo é a solução.'"


A Depressão produziu, entre outras coisas, novas regras abrangentes para governar o sistema financeiro - como a Lei Glass Steagal, de 1933, que separou bancos comerciais e de investimento até ser retirada em 1999. O resultado inevitável da atual crise, assim que termine, será mais controle governamental do sistema financeiro. As únicas questões agora são que dureza terá a nova fiscalização, que forma tomará e quanto durará até que as restrições sejam relaxadas ou dribladas.

Em março, o Fed rompeu uma tradição de meio século em que só emprestava dinheiro a bancos cujos depósitos eram segurados pelo governo. Declarando que as circunstâncias eram "inusitadas e exigentes", como exigia um estatuto pouco usado, ele emprestou ao banco de investimento Bear Stearns e chegou a arriscar US$ 29 bilhões em dinheiro de contribuintes para induzir o J.P. Morgan Chase a comprar o Bear Stearns. Parecia uma grande transação na época.

Mas nas últimas duas semanas o governo americano, mantenedor da chama do livre mercado e da empresa privada, fez muito mais:

- Nacionalizou oss dois motores da indústria de crédito imobiliário dos EUA, a Fannie Mae e a Freddie Mac, e inundou o mercado hipotecário com recursos fiscais para mantê-lo funcionando;


- Elaborou uma transação para assumir o coontrole da maior seguradora do país, a American International Group Inc., demitiu seu diretor-presidente e iniciou um plano de vendê-la em partes;

- Ofereceu seguro governamental não só aos depósitos de conta corrente, mas também a US$ 3,4 trilhões em fundos de curto prazo por um ano;

- Proibiu uma prática que está no âmago daas negociações com ações, a venda a descoberto, na qual os investidores tentam lucrar com a queda das cotações. A proibição se aplica a 799 ações do setor financeiro;

- Permitiu ou encorajou a quebra ou venda de dois dos quatro bancos de investimento independentes remanescentes, Lehman Brothers e Merrill Lynch;

- Solicitou ao Congresso que concorde, estta semana, em deixar na conta dos contribuintes centenas de bilhões de dólares de ativos ilíquidos de instituições financeiras, de modo que estas possam aumentar o capital e retomar a concessão de crédito.


Uma semana atrás Paulson parecia ter estabelecido um limite aos resgates do governo, rejeitando o pedido da Lehman de um socorro semelhante ao do Bear Stearns e permitindo que o banco de investimento quebrasse. "O compromisso nacional com o livre mercado durou um dia", ironizou Barney Frank, o democrata de Massachusetts que preside o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados, na semana passada. Esse dia foi segunda, 15 de setembro. Na véspera, o governo havia rejeitado o pedido de ajuda do Lehman. No dia seguinte, assumiu o controle da AIG.

A mudança de estratégia reflete a constatação por Paulson e Bernanke de que a crise financeira estava se intensificando nos últimos dias, ameaçando toda a economia. A confiança se deteriorou acentuadamente. A desconfiança se disseminou. Os mercados de crédito não estavam funcionando e a oferta de empréstimo secou. Negócios corriqueiros não estavam sendo feitos. Os dois bancos de investimento independentes que restavam estavam sob forte pressão. O pânico estava chegando ao americano comum, que começava a tirar dinheiro de fundos de curto prazo.

"A convulsão que tivemos nas últimas duas semanas? Não acho que haja nada como ela na história. Quero verificar a semana de 1933, quando todos os bancos foram fechados", diz Robert Aliber, um historiador econômico da Universidade de Chicago que atualizou um livro clássico de 1978 escrito por Charles Kindleberger, "Manias, Pânicos e Crashes".


Mas há uma grande diferença entre o passado e o agora. As autoridades agiram mais rápido desta vez. "Nos anos 30, a intervenção que importava ocorreu depois do desastre", diz Sylla. "Agora as intervenções são feitas para impedir o desastre que tivemos nos anos 30." A única surpresa agradável dos últimos meses é que a economia americana não se saiu pior.


É cedo demais para dizer se Bernanke e Paulson tomaram a decisão certa e vão dar um fim à crise, apesar da reação eufórica dos mercados acionários mundiais na sexta-feira. Se o medo diminuir, a discussão vai se voltar à elaboração de novas regras para um sistema financeiro que mudou mais nos últimos seis meses que nos dez anos anteriores. O governo socorreu instituições financeiras - e particularmente seus credores - e os contribuintes vão ficar com a conta de muitas das decisões erradas dessas instituições. Isso pode encorajar o mau comportamento no futuro. Por isso, o governo precisa elaborar um nova regulamentação para reduzir esses incentivos.

Alguns especialistas recorrem à história e prevêem que o governo vai exagerar no remédio regulatório. Bolhas geralmente começam com produtos criados para driblar regulamentações, diz Stephen Quinn, um historiador econômico da Universidade Cristã do Texas. "Uma regulamentação inteligente olha para o futuro para impedir que a próxima idéia (...) para driblar as regras resulte numa bolha sem coibir o fluxo de novas idéias. A regulamentação burra olha para o passado. Adivinhe que tipo de regulamentação a maioria das crises produz."


Mas Frederic Mishkin, que saiu recentemente do Fed para voltar a lecionar na faculdade de administração da Universidade Columbia, tem esperança com base na resolução da crise das poupanças, no fim da década de 80. "No começo as medidas foram desastrosas", diz. Autoridades e políticos demoraram a reagir, permitindo que as instituições de poupança fizessem mais e mais empréstimos de alto risco, em vez de as fechar. Aí, em 1989, o governo de George Bush engoliu em seco, fechou as instituições de poupança, pagou os depositantes e vendeu os ativos das firmas a preços de liquidação. O custo aos contribuintes foi de US$ 124 bilhões.


O Congresso e o presidente agiram para reduzir as chances de uma repetição, aprovando uma lei de 1991 que, entre outras coisas, aumentou a quantidade mínima de capital que os bancos tinham de manter. Em conseqüência disso, diz Mishkin, os grandes bancos entraram na crise atual muito mais capitalizados do que no início dos anos 90. "Esse é um motivo pelo qual esta crise não levou a um desastre completo. Ela deixou os bancos numa posição mais sólida, de modo que eles têm um colchão maior quando erram", diz. O outro motivo, diz, é a rápida resposta do Fed à crise atual.

O problema: a lei de 1991 não se aplicava aos bancos de investimento, firmas hipotecárias e mesmo seguradoras que estão no coração da crise atual. Isso deixa a elaboração de novas regras para essas instituições no topo da agenda para o novo presidente e o próximo Congresso.

Veja, no Youtube, o vídeo “Banco Mata


Fonte: Valor Econômico

 

07/10/2008

O Estado de São Paulo: Mundo está à beira de estatizar sistema bancário

 
Fernando Dantas
O Estado de São Paulo

O mundo assiste a uma grande onda de intervenção estatal no setor bancário privado. Nos Estados Unidos, o governo ajudou financeiramente o JP Morgan Chase a comprar o Bear Stearns em março, quando tudo começou, e deu garantias contra perdas ao Citi para este absorver o Wachovia (que agora podem ser suspensas como resultado da disputa do Citi com o Wells Fargo).

Fora do sistema estritamente bancário, o governo americano assumiu o controle das gigantes hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac e virtualmente estatizou por US$ 85 bilhões (em forma de empréstimo) a seguradora AIG. Além disso, estendeu em centenas de bilhões de dólares as linhas de liquidez aos bancos, fechou os olhos para a qualidade das garantias recebidas, decidiu remunerar os depósitos compulsórios e usou seu poder de pressão para provocar outras fusões de bancos.

Na Europa, a Islândia parece na iminência de estatizar o sistema bancário, e países como Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal, Dinamarca e Irlanda anunciaram medidas para introduzir ou estender a garantia aos depósitos. No caso da Irlanda, a garantia é tão ampla que provocou a ira dos seus pares na União Européia (UE), temerosos de uma corrida bancária em que depositantes transfiram recursos de bancos de outros nacionalidades para os irlandeses. Houve socorro estatal a bancos específicos como o Fortis, do Benelux, o alemão Hypo Real State, o britânico Bradford & Bingley e o belga Dexia.

No caso do Fortis, a Holanda literalmente estatizou a parte nacional do banco. Entre os emergentes, medidas de socorro aos sistema bancário já foram tomadas na Rússia, Coréia, Chile e Brasil.

Há uma ironia no fato de que a maior onda de intervenção do Estado no sistema financeiro ocorre num momento em que a estatização bancária havia se tornado bandeira ideológica do passado, que hoje mal é desfraldada pelas poucas correntes mais à esquerda do espectro político. Esta invasão do setor público no sistema financeiro, aliás, não vem na esteira da política, mas sim das próprias finanças, já que os bancos quase quebrados, depois da farra da desregulamentação excessiva, são uma enorme ameaça à economia real.

Em recentes artigos no seu blog no site do Financial Times, o economista holandês Willem Buiter abordou provocativamente (mas sem um apoio claro) a questão da estatização do sistema bancário. Segundo Buiter, "há um antigo argumento de que não há razão real para a propriedade privada de instituições bancárias que recebem depósitos, porque elas não podem existir seguramente sem esquemas de garantia de depósito ou de emprestador de última instância, que são em última instância bancadas pelo contribuinte".

Armando Castelar, da Gávea Investimentos, acha que, se a crise for às últimas conseqüências, pode-se chegar até o ponto da estatização em alguns países, mas como uma etapa temporária, ao fim da qual os bancos seriam repassados novamente à iniciativa privada. Ele nota que perdas ao contribuinte também muitas vezes ocorrem com bancos públicos, como no caso do Brasil, em que recapitalizações do Banco do Brasil tiveram um custo de vários bilhões de reais. "O Proer foi mais barato do que o socorro aos bancos estaduais e federais", diz Castelar.

Ele prevê um futuro de regulação mais dura dos bancos, visão com a qual concorda o economista Fernando Ferrari Filho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente da Associação Keynesiana Brasileira. "Não diria que tem de haver um processo de estatização, mas não há dúvida de que devemos entrar numa fase de regulação muito mais forte", diz Ferrari Filho. Ele defende a restauração de alguns pontos da chamada arquitetura financeira internacional de Bretton Woods, como mais controles de capital e a recuperação por parte das autoridades econômicas da capacidade de estabelecer parâmetros para a trajetória do câmbio e do crédito.

Fonte: O Estado de São Paulo

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O Congresso americano deveria recusar os  700 bilhões para os jogadores da Bolsa

Artigo de Hélio Fernandes, 26/09/2008

O presidente Bush, com 23 por cento no índice de popularidade, usou anteontem a televisão em cadeia nacional. Motivo: explicar e justificar perante a opinião pública o pedido de reforço de 700 BILHÕES de dólares para socorrer os jogadores, manipuladores e falsos investidores que provocaram tremenda crise financeira no mundo.

Quando falo em 700 BILHÕES de REFORÇO, é porque o Tesouro dos EUA já destinou 450 BILHÕES (sem aval do Congresso) para esses "empresários do lucro financeiro", que cada vez ganham mais. Faltando 40 dias para a eleição de 116 dias para a sua definitiva rejeição, Bush tenta DOAR mais dinheiro a esses malabaristas do lucro fácil.

Como pela Emenda nº 24, depois de ocupar a presidência por 8 anos, o cidadão não pode exercer mais nenhum cargo (nem nomeado nem eleito), Bush não se incomoda com a repercussão negativa. No dia 20 de janeiro estará passando o cargo ao presidente eleito (para o meu gosto o jovem Obama e não o ultrapassado McCain e a improvisada e desengonçada Sarah), viajará para o Texas. E ficará repetindo para sempre diante do espelho: "Você venceu, Bush, ficou 8 anos na Casa Branca, falando o tempo todo em terrorismo. Desgastando, desprestigiando e desagregando o Império americano".

1 TRILHÃO, 150 BILHÕES é quanto os manipuladores receberão do Tesouro dos EUA. Quer dizer: dinheiro do contribuinte. O mesmo Bush jogou 3 TRILHÕES (o mínimo, há quem diga que foi mais) na Guerra do Iraque, cuja identificação verdadeira é Guerra do Petróleo. É muito dinheiro, tanto na guerra (militar) quanto na guerra (civil) financeira.

É preciso sempre repetir e relembrar: quando o G-7 (mais a Rússia) se reuniu para fingir que diminuía a fome do mundo, Bush imediatamente ofereceu sua colaboração: 5 BILHÕES DE DÓLARES.

Logo depois, para a Guerra do Petróleo, gastou 690 vezes mais. Agora, para manter ricos os que enriqueceram com o roubo do dinheiro do cidadão, Bush apela para o Congresso e para os candidatos. Quer 230 vezes mais do que ofereceu para combater a pobreza. Que existe até mesmo no seu país.

Mas o mais grave de tudo é que Bush e os outros são extremados PRIVATISTAS. Acham que o governo não deve se meter em coisa alguma, o dinheiro do contribuinte deve ser apenas para educação, saúde, transporte. Só que quando exageram nos lucros fáceis e ilegítimos, aparecem logo os ESTATISTAS que eram "compenetrados" PRIVATISTAS. E jogam nos bolsos desses aproveitadores fábulas de dinheiro bom e saudável.

Façamos a comparação entre os discursos de Bush e Lula na ONU. O presidente dos EUA se limitou a discorrer sobre seu assunto único, o TERRORISMO. O presidente brasileiro, com audácia, compreensão e espantosa coragem, fez a proposta de MUDANÇA DO SISTEMA FINANCEIRO. E foi mais longe: "O caso é de POLÍCIA, tem que ser tratado POLICIALMENTE". Surpresa geral, mas nenhuma discordância.

Posso falar com total independência e autoridade, pois há mais de 30 anos combato essa jogatina das bolsas, que só chamo de CASSINO ou de LAS VEGAS. Os jornalões sempre apoiaram os que construíram fortunas dessa forma. O que acontece agora se parece muito com 1929, é a mesma ALAVANCAGEM. Os EUA ficaram à beira da quebradeira, foram salvos por Roosevelt. Que estatizou tudo, não como Bush e sim por convicção e solução.

PS - Gostaria muito que o Congresso recusasse a DOAÇÃO desses 700 BILHÕES para comprar AÇÕES PODRES de bancos e seguradoras.

PS 2 - Bush faz o mesmo que FHC, só que este nem ouviu o Congresso. DOOU o patrimônio brasileiro, "recebendo" em MOEDAS PODRES.

Amanhã

 

22/09/2008

Professor e banqueiro jogam por terra dogmas do mercado

 
PETER BAKER
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Nos
últimos 12 meses, enquanto a economia dos EUA vem tropeçando de crise em crise, o presidente do Federal Reserve, Ben S. Bernanke, vinha avisando o secretário do Tesouro, Henry M. Paulson, Jr, que o agravamento da situação poderia acabar por obrigar a uma intervenção federal abrangente.

Estudioso de longa data da Grande Depressão, Bernanke tinha consciência aguda do que poderia acontecer se não fossem tomadas medidas decisivas. O momento em que essa ação se tornou inevitável chegou na noite de quarta-feira. Menos de 24 horas depois de o Fed ter socorrido a gigantesca seguradora American International Group, ficou claro que a turbulência que agitava Wall Street só estava se agravando e que as soluções pontuais não estavam funcionando.

Falando ao telefone de sua sala de trabalho, Bernanke disse a Paulson que era chegada a hora de se adotar uma estratégia abrangente que o Congresso teria que aprovar. Paulson entendeu. Relutante, nos últimos dias, em submeter ao Congresso um plano que os legisladores tinham avisado que teria poucas chances de ser aprovado rapidamente, ele temera que uma possível rejeição tivesse efeito negativo ainda maior sobre os mercados. Mas, em dois telefonemas, na noite de quarta e na manhã de quinta-feira, ele concordou que não havia escolha.

"Aconteceu de maneira dramática", disse Paulson em entrevista na sexta-feira. "Só havia um jeito de tranqüilizar os mercados e fazer frente a um congelamento muito grande e amplo do mercado de crédito. Não houve cálculos políticos. A necessidade da ação ficou avassaladoramente evidente." E foi assim, simplesmente, que o reservado Bernanke, ex-professor de uma das mais respeitadas universidades americanas, e Paulson, ex-operador arrojado de Wall Street, lançaram aquela que seria a maior operação de resgate econômico governamental dos tempos modernos, que rivaliza com a guerra do Iraque em custos e que, ao mesmo tempo, pode redefinir o papel de Washington no mercado nos anos por vir.

Parceria

O plano de comprar US$ 700 bilhões em ativos problemáticos com dinheiro dos contribuintes foi traçado por dois homens que até dois anos atrás não se conheciam e não se movimentavam nos mesmos círculos, mas que a história aproximou. Se Bernanke é a força intelectual dessa dupla improvável, e Paulson, seu homem de ação, o fato é que eles conseguiram criar uma parceria ímpar em sua corrida para sustar a turbulência financeira e impedir a economia de afundar.
Como convém a seus papéis e personalidades, Paulson tornou-se o rosto público da equipe -ele pretende aparecer em quatro "talk shows" no domingo-, enquanto o menos visível Bernanke fornece as bases históricas da estratégia forjada.

Nesse caminho, eles deixaram de lado as posições defendidas por muito tempo pela administração em relação à regulamentação e ao envolvimento do governo nas empresas privadas, chegando a reverter decisões no prazo de 24 horas e a justificá-las como soluções práticas a ameaças graves. "Em tempos de crises financeiras, não há lugar para ideólogos", disse Bernanke a colegas na semana passada, segundo testemunha de uma reunião.

A natureza pontual e improvisada de seu esforço converteu o presidente Bush e os democratas no Congresso em virtuais espectadores, às vezes incertos sobre o que virá a seguir, reagindo com assombro à nova dinâmica do poder na capital. A cada vez que os legisladores tentavam entender o que estava acontecendo e que papel poderiam exercer, com as eleições cada vez mais próximas, Paulson e Bernanke apareciam no Capitólio para mais uma reunião noturna e os surpreendiam com mais uma novidade.

Os dois homens vêm trabalhando desde cedo e até tarde, acompanhando os mercados asiáticos e atendendo a telefonemas com seus colegas europeus, depois falando ao telefone um com o outro, oito ou nove vezes por dia. Para ajudá-lo a suportar os longos dias de trabalho, Paulson recorre a inúmeras Diet Coke. Chamado pelo Senado a testemunhar duas vezes na semana passada, ele pediu para ser liberado.

"Ele me falou que tinha dormido apenas quatro horas", disse o senador democrata Christopher J. Dodd, presidente do Comitê de Bancos. Mas a boa vontade de Dodd tem limites. Ele contou que respondeu: "O público quer saber o que está acontecendo." Bernanke (cuja bebida preferida é a Dr. Pepper Diet) faz questão de deixar seu gabinete até a meia-noite para dormir pelo menos um pouco, mas seus amigos dizem que os sinais de cansaço são evidentes nele.

Alan S. Blinder, seu amigo de longa data e ex-vice-presidente do Federal Reserve, recorda-se de ter visto Bernanke em uma conferência no mês passado em Jackson Hole, Wyoming. "Sua aparência era de alguém que carregava o peso do mundo nos ombros.". E isso foi antes da semana passada.

Personalidades

Bernanke assumiu seu cargo em fevereiro de 2006, e Paulson cinco meses mais tarde. Ambos são republicanos e ambos foram nomeados por Bush, mas suas origens são muito diferentes. Bernanke, 54, administrava a política acadêmica do departamento de economia da Universidade Princeton, da qual foi presidente, desenvolvendo um estilo conciliador. Paulson, 62, chegou à presidência do Goldman Sachs falando duramente ao telefone e ocasionalmente dando socos na mesa.

"Hank é um sujeito hiperativo, do tipo que sempre tenta resolver o problema e seguir adiante", disse Allan B. Hubbard, ex-assessor de economia nacional de Bush. "Ele está sempre impaciente para resolver as coisas. Já Ben age de maneira muito mais discreta. Ele reflete muito. É um pensador incrível, alguém que sabe ouvir, que sabe analisar e que não se deixa intimidar por ninguém. Acho que eles fazem uma ótima parceria."

Bernanke fala em termos grandiosos e Paulson despeja o jargão contundente de Wall Street, mas o que uniu os membros da nova dupla dinâmica de Washington foi em parte o beisebol. O secretário do Tesouro é torcedor dos Chicago Cubs, e o presidente do Fed torce pelos Boston Red Sox, mas em Washington passou a torcer pelos Nationals e a dividir ingressos de temporada com o chefe do Estado-Maior da Casa Branca, Joshua B. Bolten.

Nem Paulson nem Bernanke, porém, haviam tido envolvimento profundo no processo político. Em seus esforços para trabalhar juntos em Washington, eles se cercaram respectivamente de assessores vindos do Goldman e de profissionais de carreira do Fed. Paulson recusou o primeiro convite para entrar para o gabinete. Ele mudou de idéia apenas depois de um trabalho extenso de lobby e convencimento feito por Bolten, antigo executivo do Goldman, e de Bush ter se comprometido a deixá-lo dirigir de fato a economia política, diferentemente de seus predecessores.

O Martelo, como Paulson é apelidado desde seus tempos de jogador no time de futebol americano de Dartmouth, levou a Washington a intensidade que é sua característica. "Ele é um furacão. Está acostumado a viver num mundo turbulento", disse John H. Bryan Jr., amigo íntimo de Paulson e ex-executivo-chefe da Sara Lee Corporation. "Está acostumado a viver num mundo de "deadlines", decisões e muita pressão." Paulson, que é membro da igreja Cientista Cristã, não fuma nem bebe. Uma vez, num coquetel em que estava fazendo um discurso, recordou um de seus ex-colegas do Goldman, Andrew W. Alper, Paulson acidentalmente tomou um gole de vodca de um copo, pensando tratar-se de água.

Seu rosto ficou vermelho e seus olhos lacrimejaram por uma hora. "Mas ele continuou firme", disse Alper. Bernanke tem um apelido menos evidente, "Helicopter Ben", que lhe foi dado depois de um discurso que proferiu em 2002, falando sobre as injeções emergenciais de dinheiro do Fed para manter a liquidez do sistema, como alimentos despejados de helicópteros para ajudar vítimas de enchentes ou outras catástrofes.

Para Bernanke, a crise atual é o ponto culminante de toda uma vida passada tentando entender como o sistema funciona desde o ponto de vista teórico. Bernanke deixou claro muito tempo atrás que ele sabia que algum dia poderia ser convocado a pôr em prática os frutos de seus estudos.

Vincent R. Reinhart, um ex-funcionário do Fed, disse que as pesquisas de Bernanke sobre a crise financeira do Japão na década de 1990 reforçaram sua opinião de que crises do mercado requerem intervenções governamentais agressivas. Numa festa que promoveu em 2002 para o 90º aniversário do famoso economista Milton Friedman, Bernanke, então um dos diretores do Federal Reserve, falou sobre os erros cometidos pelo país diante da Grande Depressão e prometeu não repeti-los. "Não o faremos de novo", disse ele.

Aviso prévio

Na entrevista da sexta-feira, Paulson disse que Bernanke já vinha avisando havia muito tempo da possibilidade de chegada de um momento como o da semana passada.

"Muito tempo atrás, talvez há um ano já, Ben, que é um economista de primeiro nível, me disse: "Quando se olha para a bolha imobiliária e a correção, se a queda nos preços for suficientemente grande, a única solução pode ser uma intervenção governamental em grande escala'", contou Paulson. "Ele falou sobre o que aconteceu quando houve outras situações históricas semelhantes." Paulson disse que concordara, mas que esperava que a situação não chegasse a isso. "Eu sabia que ele tinha razão, teoricamente", disse ele. "Mas eu tinha alguma esperança, e ele também, de que, com toda a liquidez que havia dos investidores, depois de uma certa queda chegaríamos ao fundo, e que a queda terminaria."

Ainda na segunda-feira passada, Paulson estava ouvindo de legisladores democratas e republicanos sêniores, incluindo o líder da maioria na Câmara, Steny H. Hoyer, e o deputado de Ohio John A. Boehner, líder republicano da Câmara, que não havia chances de o Congresso aprovar qualquer legislação antes de seus membros deixarem a cidade, em setembro. Mesmo o deputado Barney Frank, proponente de um papel mais ativo do governo no mercado, disse na segunda que a questão teria que ser resolvida pelo próximo presidente e pelo novo Congresso, em setembro.

Na
terça, porém, os problemas só estavam se agravando. O Lehman Brothers entrara com pedido de concordata. O Merril Lynch concordara em ser comprado pelo Bank of América, e a AIG estava à beira do colapso. Paulson e Bernanke montaram uma operação de US$ 85 bilhões de socorro à AIG e a apresentaram a Bush.

Mas os dois avisaram ao presidente que a operação talvez não fosse o suficiente para estabilizar a crise mais ampla. Um alto funcionário da administração, que pediu anonimato para comentar deliberações internas, parafraseou nos seguintes termos a mensagem que Bernanke e Paulson transmitiram a Bush: "É possível que depois disto ainda haja problemas, e, se houver, vamos procurá-lo outra vez".

Eles o fizeram dois dias mais tarde, quando a queda vertiginosa de ações e o congelamento do mercado de crédito deixaram claro que a estratégia caso por caso não estava funcionando. Paulson tinha conversado com Bush ao telefone ao longo de toda a quarta e a manhã da quinta. A decisão de tomar uma medida radical, que abrangesse o sistema inteiro, foi finalmente tomada apenas após uma seqüência interminável de teleconferências envolvendo funcionários do Fed, do Tesouro e da "Securities and Exchange Commission" (órgão que regula o mercado de capitais), recordou um participante, quando Bernanke declarou: "Temos que ir ao Congresso". Paulson concordou.

Na tarde de quinta-feira, Bernanke e Paulson, acompanhados do presidente do SEC, Christopher Cox, foram à Casa Branca explicar seu plano. "O presidente disse "vamos fazer'", contou um funcionário. "Não houve hesitação." Em questão de horas, Paulson e Bernanke estavam no gabinete da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, fazendo um resumo para transmitir aos líderes do Congresso a plena gravidade da situação. Os parlamentares ficaram abalados, mas ofereceram apoio hesitante. Divididos entre os imperativos conflitantes de entrar em ação ou de voltar a seus Estados para fazer campanha, eles pareciam alternar-se entre gratidão e ressentimento com relação à nova dupla poderosa de Washington. Alguns falavam do "presidente Paulson", e outros reclamavam de um presidente não eleito do banco central prestando socorro de centenas de bilhões de dólares.

Paulson e Bernanke foram criticados por agirem com agressividade excessiva e também por não serem agressivos o suficiente. O senador republicano Jim Bunning, do Kentucky, disse que eles estavam matando o livre mercado. R. Glen Hubbard, ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente Bush, achou que eles deveriam ter agido antes.

"A oportunidade para uma ação ousada obviamente teria sido melhor se tivessem agido meses atrás", disse ele. "Mas antes tarde que nunca." No final, o que deixou frustrados tantos parlamentares e economistas foi a percepção de que ninguém tinha uma idéia melhor a propor. Então eles esperaram Paulson e Bernanke lhes darem mais detalhes sobre o que queriam fazer.

Tradução de CLARA ALLAIN


Fonte: Folha de São Paulo

 

A conta chegou agora
Trecho de um artigo do jornalista Carlos Chagas, Tribuna da Imprensa, Rio, 19/09/208

Longe de tratar-se de um inusitado de segunda-feira, permaneceu durante a semana inteira a queda bem mais acentuada do valor das ações na Bovespa do que na Bolsa de Nova York. Algo à primeira vista inexplicável, porque a crise econômica é lá, não aqui. Pela palavra do ministro da Fazenda e do próprio presidente da República, nossa economia é forte, encontra-se ancorada em 200 bilhões de dólares de reservas, e nossas empresas vão muito bem.

Como, então, justificar a contradição de que em média a Bolsa de Nova York caiu 4.5 pontos diários, e a Bovespa, não menos do que 6.5 pontos? Se o prejuízo deve-se à retirada de capitais estrangeiros especulativos que repousavam na Bovespa, a conclusão será de que nossa economia não andava tão bem assim. E que se o processo continuar como vai, sofreremos até mais do que os americanos.

Só dessa diferença de números emerge um dos maiores crimes de lesa-pátria praticados nos últimos tempos, desde que Fernando Henrique Cardoso reinventou o verbo "flexibilizar", acabou com monopólios essenciais á nossa soberania, privatizou patrimônio público a preço de banana podre e permitiu a presença no Brasil do capital-motel, aquele que chega de tarde, passa a noite e vai embora de manhã depois de haver estuprado um pouquinho mais nossa economia.

Aí está o resultado da adesão do sociólogo ao neoliberalismo selvagem. Tivesse adotado o modelo chileno, por exemplo, não estaríamos na beira desse precipício. No Chile, o capital estrangeiro que chega tem direito a justa remuneração, mas obriga-se a permanecer no país por prazo razoável, sem poder escafeder-se feito ladrão, como aqui. A conta da irresponsabilidade, para dizer o mínimo, está chegando agora...

22/09/2008

Luís Carlos Lopes: o capitalismo científico

 
As centenas de bilhões de dólares lançadas no mercado mundial para acalmar a crise econômico-financeira globalizada indicam a meta de um capitalismo com um mínimo de risco. As instituições podem cometer erros crassos. Os ciclos econômicos podem se esgotar. Não há problema. Os bancos centrais intervêm e 'normalizam' o mercado, usando o erário público. Azeita-se a máquina de fazer dinheiro, mesmo que não exista lastro ou que se tirem recursos que poderiam ser usados em programas sociais de distribuição de renda ou de segurança das comunidades mais pobres.

A acumulação de riquezas é tão grande, tanto nos países do chamado primeiro mundo, como nos ditos 'emergentes', que se pode desenhar o capitalismo assegurado pelos Estados nacionais contemporâneos. Quando a luz vermelha acende, basta gastar enormes reservas guardadas pelos bancos de Estado. Estas representam a acumulação dos lucros auferidos com a exploração do trabalho em escala mundial. Obviamente, que há limites, que as medidas recentes podem esbarrar em obstáculos mais poderosos e que nem todo o sistema consegue ser preservado. É preciso que caiam algumas fortalezas, para que o reino do capital permaneça em pé.

Diferentemente do grande crash de 1929, o mercado acionário ressuscita das cinzas em uma questão de horas. Isto não quer dizer que não possa afundar no passo seguinte. Sem sombra de dúvida, os efeitos do esgotamento do modelo só serão sentidos com maior força pelos endividados e desempregados. Banqueiros, industriais, comerciantes, rentistas e especuladores estarão preservados, no essencial. Não se verá nenhum optando pelo suicídio. Suas fortunas não virarão pó. Um ou outro será mais afetado. Contudo, o sistema lutará para permanecer funcionando e dando os imensos lucros de sempre.

A onda de choque, como em 1929, vem se propagando do centro para a periferia. Diferentemente daquela época, o grau de acumulação em todos os pontos do sistema é muito mais elevado. As formas de extrair a mais-valia nos dias que correm são infinitamente mais eficientes. Pode-se pilhar o que se acumulou em décadas e 'salvar' o que se arriscou há pouco tempo. Esta pilhagem é um risco, ainda desconhecido. Dependendo da evolução da crise, terão que ser tomadas medidas ainda mais fortes, tirando mais de quem tem muito pouco.

Estes acontecimentos derrubam os mitos neoliberais e conservadores. Mostra, mais uma vez, que os mercados são monstros desregrados e não-racionais. A ação do Estado é a única que pode tentar domar o monstro, mesmo sem o ferir de morte. Ao contrário, a perspectiva adotada é de tentar dar remédios paliativos, mas poderosos, mantendo tudo em seu lugar. O Estado não pode ser mínimo. O mercado não é capaz de sozinho regular os sistemas em que estão inseridos. As mentiras neoliberais se autodesmascaram nesta situação de crise, onde mais uma vez se vê as diferenças entre os centros e as periferias e a interligação mundial das economias, no sentido da dominação dos países ricos sobre os demais.

Por outro lado, uma luz de esperança aparece no horizonte. Se estes sistemas podem se movimentar tão rapidamente, produzindo resultados surpreendentes, a favor do capital, tal poderia ocorrer em sentido inverso. Os Estados nacionais que estão tentando suturar as chagas da crise financeira, dependendo da correlação das forças políticas no poder, poderiam, quiçá, fazer o motor da história girar em função do trabalho. O problema não é econômico e sim de ordem política. Quem está no poder determina para onde a história se dirige e a quem ela beneficiará.

Não se sabe qual será a reação das sociedades envolvidas. Mas, no rescaldo desta última crise global, a ordem política mundial está sendo seriamente afetada. É ingênuo pensar que o mundo de depois destes eventos será o mesmo. O que virá terá a marca do que hoje está se processando.



Fonte: Agência Carta Maior

A economia fora de controle nos EUA

Artigo de Argemiro Ferreira

Jornal Tribuna da Imprensa, 17/09/2008

O tio Sam está em queda livre? Isso é o que sugeriu num artigo para a revista "The Nation" o veterano jornalista político William Greider, ex-diretor adjunto da redação do "Washington Post" e autor de vários livros. Nos últimos 18 anos ele tem questionado o rumo da economia - às vezes definida com a frase que desde o governo Reagan virou lema, quase dogma religioso: "Greed is good!" (Ganância é bom).

O lema ainda é adorado em Wall Street, apesar de pelo menos dois desastres devastadores - o retratado no livro "Den of thieves" (Covil de ladrões), a lambança que quase destruiu a bolsa na década de 1980, e o chamado escândalo S&Ls (Saving and Loans, poupança e empréstimos), que no mesmo período causou um estrago de US$ 1,5 trilhão para o contribuinte pagar durante 30 anos.

O custo de agora tende até a superar isso. E os primeiros pacotes de socorro ("bailouts") do governo, diz Greider, "estão premiando as próprias pessoas e instituições cuja conduta irresponsável causou toda a lambança financeira". O governo nada exige deles em troca - nem mesmo regras novas para uma conduta prudente e responsável ou obrigações explícitas que sirvam ao interesse nacional.

O fracasso dos ex-mágicos

Para Greider, Washington tinha no mínimo de obrigar os atores financeiros a refrear o apetite pelo lucro e ajudar a salvar o país de destino ainda pior: uma economia em depressão e incapaz de recobrar as energias. "Em vez disso, o Fed (banco central), o Tesouro, o Congresso de maioria democrata e, claro, os republicanos entregam a tarefa aos sábios da alta finança que já não parecem tão sabidos".

Ainda em nos primeiros meses deste ano, o Fed e o Tesouro, ante o pânico na comunidade financeira global, correram a injetar o socorro amigo de US$ 29 bilhões (do contribuinte, obviamente) para adoçar o apetite do JPMorgan Chase, prestigioso conglomerado bancário, convencendo-o a comprar o que restava dos ativos malbaratados do arruinado Bear Stearns.

Ao mesmo tempo, forneceram uma série de empréstimos de emergência e liquidez às firmas de investimento e grandes bancos, igualmente ameaçados. Só que os investidores não se deixaram persuadir. O pânico deles, observou o jornalista, não era apenas "mental", ao contrário do que alegou recentemente um ex-senador e ex-conselheiro do candidato John McCain, Phil Gramm.

O colapso da bolha imobiliária revelou a profundidade da lama e a duplicidade dentro do sistema financeiro. Quando investidores tentaram desfazer-se de grandes portfólios de ativos financeiros tão contaminados como os papéis hipotecários, perceberam que ninguém queria comprar. De fato, não se sabe ainda quanto realmente vale aquelas coisas que antes eram chamadas de "investimentos seguros".

Ganância, trapaça e esperteza

Gigantes bancários e firmas de investimento não sabem o que fazer com montes de papéis podres - a não ser empurrar o que conseguem nos clientes ingênuos. Bancos e corretoras maiores já perderam muito, mas os portfólios de empréstimos ainda terão de encolher muito - pelo menos US$ 1 trilhão, segundo estimativas. Acionistas cautelosos, por isso, buscam livrar-se também das ações financeiras.

O secretário do Tesouro Henry Paulson (ex-Goldman Sachs), ao surgir com o compromisso de US$ 300 bi para comprar ações do Fannie Mae e do Freddie Mac, esperava deter a queda de sua cotação - ou seja, salvar os acionistas do erro deles próprios. E faz sentido gigantes como JP Morgan ganhar US$ 29 bi do governo se Cleveland, Detroit e outras ruínas urbanas só receberam US$ 4 bi.

Lembram-se da propaganda conservadora sobre a "sabedoria" dos mercados? O mercado é que toma decisões certas, não o governo - diziam. Mais uma vez a bobagem é desmentida pelos fatos. As intervenções atuais equivalem, afirma Greider, a "um socialismo à americana": o governo resolve que empresas privadas ficaram grandes demais e, por isso, não se pode deixar que fracassem. E socializam o prejuízo.

Os megabancos ficaram assim nos anos 1990. O presidente democrata (Clinton) e o Congresso republicano rejeitaram então leis do New Deal que impediam os bancos comerciais de terem firmas de investimento - combinação incestuosa, pela qual eles baancam a si mesmos, fraudando a valorização de ações, exatamente o que tinha levado diretamente ao crash de 1929 e à depressão que se seguiu.

A "modernização" dos espertos

O próprio Fed abriu aquele caminho agressivamente, ao autorizar o Citigroup a ultrapassar a fronteira. Wall Street continuou, com truques contábeis batizados de "modernização", que recriaram os mesmos escândalos da década de 1920, só que de maneira mais sofisticada e enganosa. A crise financeira começou, segundo Greider, quando tais inovações mágicas foram detonadas.

Republicanos, democratas e banco central agiram juntos na lambança, pondo fim às restrições regulatórias - o que liquidou a indústria das S&Ls e eliminou um grande competidor dos banqueiros. A mesma legislação também rejeitou a lei federal que proibia a usura e práticas predatórias que levam à ruína devedores de meios modestos com termos e condições que só levam os tomadores ao calote.

Hoje o empréstimo usurário é comum no país, dos cartões de crédito às notórias hipotecas "subprime". O Fed foi um arquiteto central ao criar as circunstâncias que produziram o colapso do valor financeiro em Wall Street. Sua política monetária era dura numa direção - favorecendo o capital sobre o trabalho, os credores sobre os devedores, as finanças sobre a economia real.

Mantida por 25 anos, tal política, por um lado, comprimia salários e restringia o crescimento econômico, impedindo o empregado de obter compensação maior; por outro lado, não implementava regulamentos para limitar os excessos do setor bancário e financeiro. Por exemplo, um Alan Greenspan enxergava até inflação inexistente na economia real; mas era cego à inflação turbulenta no sistema financeiro.

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Economia ameaça sonho de McCain

Argemiro Ferreira, 18/09/2008

No mesmo dia em que estourou a mais recente lambança resultante das desregulamentações na economia, a decisão do governo federal de usar US$ 85 bilhões e assumir a AIG, gigante da área de seguros, o candidato presidencial republicano John McCain, um campeão de desregulamentações no Senado, subestimou a crise atual. "Os fundamentos da economia são sólidos", garantiu de novo.

A frase "os fundamentos da economia são sólidos" foi repetida muitas vezes pelos presidentes Calvin Coolidge e Herbert Hoover enquanto o país rumava para a crise de 1929. Hoje soa como sintoma de governantes fora de sintonia com a realidade. Ela inspirou um musical da Broadway em 1930, "No, No, Nanette", adaptado à tela com o mesmo título em 1940, e outro filme musical em 1950, "Tea for Two".

No último, a estrela Doris Day espera ganhar uma aposta do tio, interpretado pelo comediante S. Z. Sakall, e montar um espetáculo musical - sem saber que ele perdeu a fortuna no crack da Bolsa. O gordo e divertido Sakall, ainda acreditando em notícias boas capazes de salvá-lo da ruína, só o que consegue ouvir no rádio, em toda parte, é voz de Hoover: "Os fundamentos da economia são sólidos".

Lembrando os "5 de Keating"

Não sei se isso daria um bom comercial para a campanha de Barack Obama. Mas é inacreditável que péssimas notícias na economia não se reflitam nas pesquisas a favor do democrata - e contra McCain, abertamente apoiado pelo presidente. Não apenas isso: à frente da comissão de Comércio do Senado, McCain foi sistematicamente contrário às regulamentações herdadas do New Deal de Roosevelt, que poderiam ter impedido os desatinos de Wall Street.

Suas relações promíscuas com "lobbies" e interesses especiais são notórias - e explicam a participação de dezenas de lobistas em sua campanha. O caso mais notório na carreira de McCain foi sua ligação (juntamente com mais quatro senadores) com Charles H. Keating, o chefão da Lincoln Savings & Loan Association, que entrou em colapso em 1989-91.

O grupo, celebrizado como "os cinco de Keating" (Keating Five), era uma espécie de rede de proteção do corruptor da Lincoln. Contando com tal apoio, ele pôde perpetrar os golpes. E quando foi investigado pelo Federal Home Loan Bank Board (FHLBB), os "senadores amigos" lá estavam para tentar protegê-lo. McCain, talvez por ter sido prisioneiro de guerra no Vietnã, escapou à punição na comissão de ética do Senado - que, no entanto, lamentou sua deficiência de avaliação.

Com os novos desastres da economia, ele pareceu nos últimos dias tentado a ter uma epifania. Em declaração pública, defendeu mais regulamentação na área financeira - exatamente o contrário de suas posições passadas. Segundo observou um analista, a regulamentação à qual aderiu - por enquanto, só de boca - anularia a desregulamentação que há 15 anos ajudou a fazer, abrindo caminho à lambança atual.

Enron, uma lição dramática

Mais grave ainda é o apoio que passou a dar à privatização do Social Security (Seguridade Social). Em março de 2008, poucos meses antes dos recentes desastres na economia, McCain abraçou publicamente o plano de Social Security que já não é mais defendido nem pelo governo Bush. Em entrevista ao "Wall Street Journal", disse ser a favor de contas pessoais de poupança no sistema, como Bush sugeria.

As contas pessoais, alegou, seriam um "suplemento" ao sistema já existente. Quando Bush expôs sua idéia, logo depois de iniciar o segundo mandato, a reação dos trabalhadores do país foi negativa. Hoje, depois da sucessão de colapsos no setor financeiro, só um inconsciente tentaria ressuscitá-la. Que empregados podem confiar nessas firmas que o Estado está sendo forçado a salvar da falência?

Houve até a advertência dramática, em 2001, da falência da Enron, então a sétima corporação do mundo e a que mais contribuíra para a carreira política de Bush. Ela tinha incitado seus empregados a investir as economias na própria companhia. Ao entrar em colapso, eles ficaram sem o emprego, sem as economias e sem a aposentaria. Até os já aposentados tiveram de sair à procura de emprego.

Privatização e seguridade social

O candidato republicano foi enfático na entrevista ao "Journal". Chegou a dizer textualmente: "Na verdade, sou totalmente a favor das contas pessoais de poupança no sistema. Acho que elas serão uma importante oportunidade para os trabalhadores jovens". E mais: "Fiz campanha apoiando a proposta do presidente Bush e até participei de reuniões em reuniões municipais em várias cidades".

Quando o entrevistador lembrou ao senador que seu próprio website atribuia posição diferente a ele, McCain respondeu: "Vou corrigir todos os documentos sobre programas e deixar bem clara a importância dessas contas pessoais de poupança. Com elas os trabalhadores vão contribuir para a própria aposentadoria. Assim, com o tempo, conseguirão ter uma aposentadoria maior"

No passado recente, o candidato republicano tinha confessado, numa entrevista, não ter apetite para a economia. Por isso costumava evitar o tema. Embora negue atualmente ser esse o caso, parece insólito defender a idéia de entregar o dinheiro do Social Security. Se isso tivesse sido feito pelo governo Bush, na certa seria aquele o dinheiro que Wall Street está perdendo hoje.

99 por cento dos 6 BILHÕES de habitantes do mundo

Não jogam na bolsa, não sabem o que ela representa

Hélio Fernandes, 19/09/208

O mundo é dominado pela especulação. Diariamente são JOGADOS pelo menos de 2 a 3 TRILHÕES verdadeiros em mercadorias imaginárias. Num só dia, COMPRAM e VENDEM mais café, mais soja, mais suco de laranja, mais milho, mais carne, mais tudo isso que chamam de commodities do que o mundo produz em 1 ano.

Nada tem a menor importância, apenas o lucro realizado, na hora ou em algum tempo. Se os bem informados sabem que haverá geada na Califórnia (o maior produtor de suco de laranja), e portanto uma parte grande da produção estará perdida, os preços subirão, COMPRAM FUTURO, o mais que puderem.

Com a informação contrária, na Califórnia "haverá sol de brigadeiro", e portanto a produção será maior do que a procura, os preços cairão, VENDEM A DESCOBERTO. Ganham em todas as oportunidades, o fator principal é a informação. De qualquer maneira jogam muito, de manhã à noite, num volume de dinheiro que supera tudo que é jogado nos cassinos de Las Vegas.

Em 1929/30 o Brasil chegou a produzir 60 milhões de sacas de café por ano. Como o mundo só absorvia no máximo 30 milhões de sacas, "inventaram" dois recursos para a valorização. 1 - Jogavam o excedente no mar. 2 - Queimavam pelo menos 30 milhões de sacas. Valorizaram os preços? Apenas por algum tempo. Conseguiram que a Colômbia, a Costa do Marfim, até o Vietnã, saído da guerra vitoriosa com a potência EUA, plantassem e exportassem café. Chegamos a vender 96 por cento do café bebido pelo mundo, hoje mal chegamos aos 31 por cento.

(Com a derrocada do mercado, os aristocratas paulistas apelaram para a Constituição e a revolução, fizeram o que se chamou histórica e humoristicamente de "Revolução Constitucionalista de 9 de julho de 1934". Tão engraçada, que elegeu Getúlio INIDIRETAMENTE e preparou o caminho para o 10 de novembro de 1937, com o famoso "Estado Novo". Tão amaldiçoado quanto o AI-5, que está completando 40 anos).

Agora, depois de utilizar 200 BILHÕES do contribuinte para "salvar" 2 bancos de investimento, continuou a "operação resgate". O governo jogou 86 BILHÕES para que a seguradora AIG não fosse à falência. Jornais brasileiros, desinformados, interessados e manipulados, divulgam em manchete espalhafatosa: "EUA estatizam a 3ª maior seguradora do mundo". Ha! Ha! Ha!

Não estatizaram nada, desde Roosevelt, que estatizou tudo e salvou a economia, não existe nada parecido. Seguro é o maior negócio do mundo, não exige capital, não pagam nem indenizam prejuízos. Botaram 85 BILHÕES nesse negócio lucrativo, mas a direção ficou a mesma, dentro de 2 anos recuperam o controle.

Tudo isso é feito com dinheiro do contribuinte, que não sabe o que é bolsa, não é beneficiado pelas operações de bolsa, é totalmente prejudicado por elas. Anteontem, McCain declarou: "VOU ACABAR COM ESSA JOGATINA DO MERCADO". Usou exatamente a expressão que uso há mais de 20 anos. Obama, mais cauteloso, fez afirmações reticentes, não conclusivas ou definitivas, não quis hostilizar a maioria branca, a elite dos escândalos financeiros.

Se as BOLSAS acabassem no mundo inteiro, a classe média e os pobres não derramariam uma lágrima, os ricos chorariam sangue. O que adianta o MERCADO FUTURO, as COMPRAS e VENDAS de ações inexistentes? Só que falta coragem para enfrentar os que MOBILIZAM em proveito próprio o dinheiro do cidadão.

Há mais ou menos 150 anos, lá mesmo nos EUA, um cidadão teve idéia de um negócio lucrativo. Precisava de mil dólares, só tinha 300. Percorreu a vizinhança, convencendo os outros a investirem. Arranjou os 700 dólares, "picadinhos", o negócio surgiu, vitorioso. Dividiu os lucros com total honestidade. 30 por cento para ele, os outros 70 proporcionalmente.

PS - Muito mais tarde surgiriam as bolsas e as ações. Só que os controladores podem tudo. Viajam, compram carros e imóveis, tudo por conta da empresa, prejudicando os acionistas.

PS 2 - Existem centenas de exemplos. Mas o melhor de todos é o barão Steinbruch. Tinha um banquinho falido, GANHOU a CSN, ficou riquíssimo e poderoso. Apesar de estar respondendo a mais de 10 mil ações por F-A-L-C-A-T-R-U-A-S.

 

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