E lá estavam eles, deitados um ao lado do outro, no chão. Alguns diziam que foram escolhidos a dedo por Deus, mais o mais provável era uma coincidência. Enquanto Yago tinha aqueles cabelos negros, a pele bronzeada, os olhos castanhos claros e era totalmente magrelo, Pablo tinha os cabelos castanhos, os olhos negros, não era baixo e nem alto e tinha músculos discretos, Celso era loiro, musculoso, olhos claros, e baixinho, Érika era altíssima, loira oxigenada, olhos castanhos claros enquanto Bárbara tinha os cabelos negros, os olhos azuis e a altura de uma garotinha de 13 anos. Não vou perder tempo falando do contraste de personalidades, vocês verão.
- Aqui tem formigas? – Era a voz enjoativa de Érika. Pablo resmungou alguma coisa. - Quê? - Eu disse “cala a boca”. - Eu já sei que você é um grosso, não precisa mostrar mais. - Não faça perguntas idiotas. Claro que tem. – Érika deu um pulo da grama e soltou um grito agudo. Todos levantaram menos Pablo, que continuava de olhos fechados. - Fique tranqüila, Érika. São apenas formigas. – Disse Bárbara calmamente. - Tranqüila, Bárbara? TRANQUILA? – Ela berrava. – FORMIGAS FERRAM VOCÊ SABIA? - E desde quando ferradas matam? – Disse Celso com cinismo. - Você fala isso porque elas vêm ferrar a mim! - Claro, elas escolhem “Vai essa, porque eu tenho preferência pelas loiras” – Yago caiu na gargalhada e jogou-se no gramado novamente. - Cala a boca! - Eu já sei que você é uma grossa, não precisa mostrar mais. – Disse Celso quase rindo. Yago já estava vermelho e lagrimejando de tanto rir. - Parou, galera. – Disse Bárbara. - Eu vou embora. Tenho tantas coisas pra fazer e fico perdendo meu tempo aqui. - Era brincadeira, filha. – Yago abriu a boca para falar, pela primeira vez desde que chegaram ao parquinho. – Não fica assim. - Idiotas. – Ela resmungou, cedendo. Celso olhou Pablo. Os quatro amigos se entreolharam, já sabiam o que iam fazer. Pablo começou a falar palavrões quando sentiu o peso dos quatro amigos em cima dele. Eles riam. - Acorda, seu pilantra! – Berrava Celso. Érika falava que não conseguia respirar. Yago ria. Bárbara pulava nas costas de Yago. - Saiam daqui, seus desocupados. - Merda! – Falou Celso. – Pedroca está aqui. - O que? – Disse Yago pasmo. Levantou-se rapidamente, fazendo Bárbara cair de costas. - Olha a Babi aí, retardado! – Brigou Celso. Ela levantou-se rapidamente. - Tudo bem, não me machuquei. - Desculpa, Babi... Desculpa. Desculpa. – Ele a pegou pela mão. – Desculpa, ta? - Não temos tempo para isso, Yago! Vamos logo, rápido. - Celso, Yago e Érika saíram correndo. - Pessoal.... Pessoal. – Gritava Bárbara. Eles olharam de longe. – Pablo continua dormindo! - Deixa ele, Barba! – Respondeu Érika. - Mas... – Bárbara olhou o diretor do colégio de longe. Agachou-se. – Pablo, acorda, o Pedro está vindo pra cá. – Nada. – Pablo. – Nada. - Vamos logo, Bárbara! – Ela ouve Celso falando. - Desculpe por isso, Pablo. – Levanta-se e lhe dá um chute nas costelas. - AI, IDIOTA! - O diretor, Pablo! - Que? Aquele gordo não tem mais o que fazer não? - Vamos. - Os gazeteiros querem paz! – Berrou ele abanando as mãos para cima. Levantou-se de mau humor. Bárbara tentou correr e foi quando sentiu uma fisgada no joelho. Não ligou e correu o mais rápido que pôde.
Capítulo 2.
Eles chegaram a sala de aula ofegantes. O professor de biologia tentou não ligar para os cinco, que chamaram a atenção da turma. Érika deu um sorriso amarelo antes de pedir licença. - Com toda, gostosa. – Disse um engraçadinho do fundão. Todos da turma riram. - Olha o respeito, moleque! – Retrucou Pablo. Érika encarou o amigo. - Obrigada, você é uma doçura, Flávio. – O menino riu e ficou vermelho. Por essa ele não esperava. Todos se sentaram. Érika escreve alguma coisa em um pedaço de papel e joga na carteira de Pablo. “ Não preciso de defensores.” Ele leu. Escreveu rapidamente e devolveu o papel “ Só não queria manchar tua reputação. Se é que ainda tens...” “ É pra preservar minha reputação que não quero defensores. Muito menos você, Pablo” “ Porque? Tens medo do que os outros vão pensar? Hahaha”
O papel foi puxado da mão de Érika quando ela terminou de ler. - Pro... Professor... – Balbuciou. – Isso é meu. - Agora não é mais. Uma conversa tão interessante deve ser compartilhada com a turma. - A conversa não interessa a turma e muito menos a ti. – Respondeu Pablo. - Cala a boca, Pablo! – Brigou Érika. O professor o encarou. - Ta com fome? - Quer fazer um lanchinho com o diretor? - Não, obrigado. – Ele respondeu todo seguro. - Sai da sala, Pablo Augusto. - Me dê um bom motivo. - Se você não sair mando te suspender! - Oba, é um presente que você me dá. Estou precisando de umas férias. - Pablo, sai logo. – Era a voz calma de Bárbara. Ela estava assustada. Ele a fitou e sentiu pena Ela sempre fora a mais solidária e preocupada com ele, mas se manteve firme. - Não vou, Alice do país das maravilhas. - Vai logo, seu louco! – Era Celso. - Pablo, você vai ser suspenso. – Disse Yago. – Vai logo e se salva. - E u n ã o v o u. – Ele soletrou. - Eu vou chamar o diretor. – bufou o professor. – Você vai se dar muito mal, garoto. - Isso é o que você pensa, seu calvo!
Capítulo 3.
- O que? Você não foi suspenso? - Não. – Ele sorriu presunçoso. - Me ensina a macumba que você faz. – Disse Yago. - O Abel veio aí e deu uns trocados pro Pedroca. – Ele gargalhou. – Esse patife. - Quem? O diretor ou seu pai? – Rebateu Érika. - Os dois. - Não fale assim, Pablo! – Bárbara sempre tentava faze-lo falar de um jeito respeitoso com os mais velhos. - Eles são. Patifes sem vergonha. - Mudando de assunto. – Interrompeu Celso. – Cíntia me pediu em namoro. - A projeto de ovelha? – Zombou Érika. – Me mau gosto ela tem. - Principalmente porque ela te acha bonita. - Ave! Eu sou e ninguém pode negar. - Você se acha. – Disse Yago sem pudor. - E ninguém pode negar. – Completou Celso. Ela revirou os olhos. Todos riram. - Shiiiiu. – A bibliotecária estava com o dedo indicador no meio dos lábios. – Silencio. - Está bem, tia Constância. – Murmurou Bárbara. - Continua essa história aí. – Estimulou Yago. - Então... Ela disse que me amava. - Com que mel você se banha? - Eu já nasci com esse mel. - Convencido. – Disse Érika. - E depois ela disse que eu sou o homem da vida dela. - Coitadinha, ela é míope. - E me pediu em namoro. - E o que você disse? – Os olhos azuis de Bárbara brilhavam, ela adorava histórias de romance. - Eu disse que esse não era meu tempo. - Mas vocês estavam juntos há seis semanas, Celso... Isso é quase um namoro, não? - Não. Isso era uma fica que durou. – Respondeu Celso. - Quase um namoro, Celsinho. Pensa bem. – Era a voz tranqüila novamente. - Ah, não quer não quer! – Disse Érika bruscamente. - Manda ela pastar logo. – Dessa vez era Pablo. – Ô bicha feia. - Não importa a aparência, o que importa é o caráter, Pablo. A aparência se deteriora com o tempo. O caráter permanece. - Já vai começar com o sentimentalismo, Bárbara? Ele não vai casar e ter três lindos filhos perfeitos com a cara de ovelha. Não é como nos livros bobos que você lê. - Que pena que você pensa assim. – Surgiu uma ponta de dor na expressão dela. - Gente, olha isso. – Yago apontava para um cartaz róseo grudado na parede. Ele leu em voz alta – “Baile do dia dos namorados.” Vai ser sexta que vem. - Típico desse colégio idiota. - Aii. Vai ser tão romântico. Espero que o Inácio me convide. – Bárbara estava entusiasmada. – Que lindo. - Eu vou convidar a Cíntia. - Mas não era você que não namorava ela? – Indagou Yago. - E não namoro. - Então por que... ? - Porque ela dança bem, só isso. - Ai, que merda. Eu que não queria ser essa baranga. – Disse Érika.
- Érika, você quer... ir... - Ao baile com você? – Ela comemorou mentalmente. Rogério era o menino mais lindo do colégio! - Claro. - Eu ia perguntar se você quer ir à aula prática. Se não precisa assinar essa lista. – Ele mostrou o papel. Ela ficou vermelha até a raiz dos cabelos. – Mas... Já que você tocou nesse assunto... Você quer...? - O que? Ah, não. Eu não vou à aula prática. - Não. Você quer... ir ao baile de dia dos namorados? - Acho que já respondia antes da hora. – Ela sorriu e tratou de voltar ao aconchego dos amigos. - Érika! Érika! – Ela virou. Era Flávio. - Oi. – Ele escondeu os olhos com as mãos e soltou rapidamente. - Quer ir comigo no baile? – Ela tocou as mãos do menino e o fez tirar a mão dos olhos. - Adoraria. – Ele saltou de alegria. – Mas não posso. Vou com Rogério. – A alegria sumiu. - Tudo bem. – Ele baixou os olhos. – Não tem problema. - Não fique as... – Ele já tinha ido. Que horror!
Érika jogou os livros no colo de Yago e suspirou. - O que aconteceu? - Nada. Tirando que eu tive que responder “Não posso” pra cinco garotos até chegar aqui. - Não pode o que? - Ir ao baile com eles. É de doer o coração. - Hum, ta! Tu és a pop! – Caçoou Celso. - Quem me dera fosse mentira. – Ela deu um falso olhar triste. - E aí, Celso, convidou a projeto de ovelha pro baile? - Convidei. - E...? - Ela não aceitou. - Espera aí. Você perguntou isso antes ou depois de dar um pé na bunda nela? – Indagou Pablo. - Depois. - Burro! – Berrou Érika. - Eu sabia que era por isso. – Essa foi a vez de Pablo berrar. - Claro que ela ia rejeitar, deixava pra responder depois, Celso! – Julgou Bárbara. – Você é tão desligado. - Desculpa. - Desculpa negada. Você vai com quem agora? – Se revoltou Érika. – Eu não vou poder ir em grupo de novo! - Você não precisa ir conosco, Érika. – Disse Bárbara. – Vai com o gatão do convênio. - Vamos sentir falta de alguém pra falar besteiras, mas agüentaremos. – Falou Yago. - Mas vocês têm o Pablito. – Todos riram. - É, é bom porque... o Inácio não me convidou. – Bárbara parecia triste. – Acho que ele enjoou de mim. - Ele é um... insano. – Respondeu Celso. - É, Barba. Ele não sabe o que está perdendo. – Disse Érika. - Não fica assim, Babi. – Yago tentou animá-la. - Se ele não te ama, nós te amamos. – Pablo sorriu. Era a primeira vez que falava alguma coisa aproveitável pra amiga de tantos anos. Os quatro abraçaram a baixinha que sumia entre tantos braços. - Eu... Eu... – Ela balbuciava. - Eu sei que você ta emocionada. – Disse Érika. - Não consigo respirar. – Complementou Bárbara. Todos riram. O Sinal tocou anunciando a aula de Educação física.
- Ah, Érika, eu odeio esses shorts. - Ai, eu a – d – o – r – o . - Eles são apertados demais. – Bárbara esticou o short de lycra e soltou. - Isso que é o bom. – Retrucou sorrindo para um menino que quase babava por ela. - Você é bonitona. - E você não? - Eu sou feia. - Pare com isso. - Se eu fosse tão bonita quanto você, Inácio me amaria. – Érika ficou séria. Ficou na frente da amiga e pegou suas mãos. - Não fale isso. Você tem sua beleza e eu tenho a minha, que é uma desgraça. Às vezes as pessoas me rotulam como a ‘linda perfeita’ e acham desnecessário me conhecerem antes de se dizerem apaixonados. É ruim, pois você sabe que eles só estão interessados no seu físico e não no que há aqui. – Ela apontou para o lado esquerdo do peito. – Pense nisso. Ser loira e bonita não é tão fácil. – Gargalhou. – Isso soou estranho. - Tenho que concordar. Foi meio narcisista. - Que novidade. – Sorriu alegremente. – Mas vamos logo! – E saiu correndo para a quadra. Os três meninos estavam lá, com uns shorts tão engraçados que Bárbara não conseguiu se conter. - Vocês estão tão sexies com esses shorts apertadinhos! - Obrigado, você também está sexy. – Respondeu Yago no mesmo tom de brincadeira. Pablo assobiou. - Ô lá em casa. – Ele elogiou. Bárbara corou. - Sério o que você fez com a Bárbara? - Celso estava meio embasbacado. - A meti num micro short ridículo. – Ela tentou fazer uma piada, mas saiu meio estranha pela expressão desconcertada do rosto. Ele riu. - Primeiro: jogo das meninas! – Berrou o professor Marcos. - Ótimo, vejo vocês depois. – Disse Bárbara ainda meio deslocada. Érika amava a amiga, mas gostava de ser o centro das atenções e a magoava a indiferença dos amigos. Ela não os via como homens, e sim como irmãos, mas ainda doía nunca ser elogiada por eles, só porque os outros tratavam de fazer isso. Ela gostava da opinião e atenção de todos. Mesmo que fossem só irmãos. O ego sempre ficava ferido quando eles elogiavam Bárbara, porque isso importava pra ela, e Bárbara não estava acostumada e viciada em olhares e galanteios de meninos. Mesmo que fossem só irmãos. A loira tentava chamar a atenção deles, mesmo que fossem com gritos de frescura, adorava poder vê-los olhando-a. Adorava ter a atenção. Mesmo que fossem só irmãos. - Érika, o jogo começou! - Ah, desculpe, Professor.
Capítulo 4.
O apito do professor anunciou o final do segundo tempo. O time adversário havia ganhado. Grande merda. Érika tomou um gole de água na boca da garrafa de plástico. - Elas vão ver só. - Foi só um jogo, amiga. – Érika grunhiu antes de retrucar. - Odeio perder. Odeio. - Eu sei. Mas tem que aprender a perder e não a gostar. – Outro grunhido. O jogo dos meninos começou. Bárbara ficou olhando os amigos e reclamando baixinho quando eles perdiam a chance de fazer um gol ou de dar um bom passe de bola. Érika não estava muito ligada nisso. Estava mesmo olhando para Rogério. - Barba, olha o Rogério. Ele não está tão... gostoso com esse short apertado? – Ela mordeu o lábio inferior. – Tão gato. - Pare com isso, Érika. – Bárbara ficou vermelha. - Quando o jogo acabar vou falar com ele. – Ela ficou toda animada. – Isso vai ser ótimo. Vou ter tempo com o meu lindo. - Érika... Não vá fazer besteiras... - Eu nunca faço besteiras. - Não? - Deixe de ser sarcástica. Confie em mim, okay? - Como? - Me deixe agir. - Mas o jogo nem acabou, Érika. - Não importa. – O apito indicou o final do primeiro tempo. – Agora acabou. - Temporariamente, baby. - Mas acabou. – Ela levantou-se e foi em direção ao menino de cabelos cor de chocolate e olhos incrivelmente verdes. - Oi, Rogério. – Cumprimentou insinuante. - Oi, Érika. - Bom... Eu só vim aqui pra te dar um... – Vontade de falar “beijo”... – alô. - Alô. - Está bem... é ... Quer dar uma volta? - Por que não? Por que sim? Pensou Pablo, que via de uma proximidade segura. Ela pegou o braço dele e eles saíram andando. - Você vai jogar o segundo tempo, não é? - Vou. - Vou torcer por você. - Obrigado. - Não há de quê. – Deus, o que eu falo agora? Érika estava desesperada. O silêncio reinou por uns segundos. - Érika... - Rogério... Eu... Eu só queria dizer que estou muito feliz por vocÊ ter me convidado pra festa do dia dos namorados. - E junina. - Sim, claro. - Também estou. - Bom... – O apito do professor Rogério soou novamente. - Acho que é a minha deixa. - Tudo bem. – Ela ficou gelada. Encostou os lábios nos do garoto rapidamente. - Até logo. – E saiu correndo, sorrindo que nem uma tonta. - Você é louca! – Berrou Bárbara quando a loira contou o que aconteceu. – Ele... Oh, céus. - Não perco tempo, meu bem. Da próxima vez vai ser muito melhor. Muito. – Ela deu um sorriso malicioso. – Ele que me aguarde. Os meninos chegaram suados e cansados. Pablo tirou a blusa e a jogou em na arquibancada. - Odeio esses uniformes idiotas. - Cuidado! – Alertou seriamente Érika. Todos se assustaram. – Se tirar a calça provavelmente aquelas garotas vão te devorar. – Érika olhou pra três meninas que rapidamente desviaram o olhar e começaram a dar risinhos. – Todos riram. - Não ia fazer isso. Mas já que você me deu essa boa notícia. – Parecia que ele ia baixar as calças. Bárbara fechou os olhos. - Pára com isso, Pablo! – Estava ruborizada de novo. Yago teve um ataque de riso que deixou Bárbara mais sem graça que antes. - Já volto. Não se divirtam sem mim. – Disse Érika, levantando-se e indo em direção ao Deus grego de olhos cor de chocolate. - Eles tão...? – Perguntou Celso. - Não... Não. Não, não é? – Pergunto Pablo a Bárbara. – Ele é um idiota. - Eu... Não sei bem... O que responder. – Disse Bárbara. - Coitado dele. – Brincou Yago. Ninguém riu. – Desculpa. - Não, nada a ver. – Concluiu Pablo, fitando-os de longe. - É. – concordou Celso. - Se for a gente castra ele. – Zombou Yago. Agora todos riram. - Érika, eu acho que... - Eu acho você perfeito pra mim. – Disse Érika com convicção. Rogério se desarmou quando a loira o beijou novamente. Só que dessa vez um beijo melhor, mais demorado, um beijo muito bom. Ela parou. - Fica comigo. – E nem esperou a resposta dele. O beijou novamente. A porta da sala onde eles estavam se abriu. Os dois viraram rapidamente. Lá estava Angelina, parada. As lágrimas desciam copiosamente pelas faces da menina baixinha. - E eu que acha que você gostava de mim. – A voz dela falhou. – Eu te odeio, Rogério. Eu te odeio! – E saiu correndo. Rogério olhou para Érika. - Mas ela é perfeita pra mim, Érika. Desculpe. – E foi atrás da menina. Érika encostou-se na parede e deixou-se abandonar no chão. Apoiou a testa nos joelhos e começou a chorar. Ela realmente pensou que poderia ter encontrado alguém para fazê-la fez. Que a amasse. A porta se abriu novamente. Ela enxugou as lágrimas com as costas da mão. - Você está chorando? – Ela levantou a cabeça para enxergar o rosto de Pablo. - Não, estou tirando água dos olhos. - Sempre sarcástica. - Sempre fazendo perguntas bobas. – Ele sentou-se ao lado dela, encostado na parede. - O que aconteceu? – O tom de voz não era zombeteiro, era sereno e gentil, como se realmente tivesse preocupado. - Nada. - Nada? Há. - Eu não quero falar, está bem? – As lágrimas começavam a escorrer novamente. – Eu odeio isso. – A voz saiu rouca. Ela encostou a cabeça no ombro do amigo. Pablo sentiu pena de Érika. Sentiu vontade de conforta-la, de dizer que não era culpa dela, mesmo sem saber do que se tratava. Respeitaria seu espaço e quando quisesse contar contaria. Ele afagou seu cabelo. - Não precisa falar. – Silêncio. - Por que as coisas tem que ser assim, Pablo? Por que as pessoas que a gente gosta nunca gostam da gente. - Depende do gostar. - Gostar, gostar... Como homem e mulher. - Não sei também. - Por que eu tenho que me enganar sempre? Ah, sim, porque eu sou uma idiota. - Não fale isso. - Eu falo porque sou. – A voz falhou. - Shiiiu. Se acalme, está bem? - Pablo...? - Quê? - Por que está sendo legal? - Eu sou legal. – Ele revirou os olhos. Ela deu um riso baixo. - Obrigada. A porta abriu. - Érika, meu amor, o que aconteceu? – Disse Bárbara aos berros. – Eu te disse que isso ia dar errado. - Bárbara, isso não vai adiantar. – Pablo estava na defensiva. - Tudo bem, eu mereço. A porta novamente rangeu quando foi aberta. - Pablo, Yara está procurando você. – Era Yago. – O que está acontecendo aqui? Érika, você está com dor? - Não. - Obrigada pela preocupação. – Agradeceu Bárbara. Pablo levantou. - Fique bem. – E sumiu pela porta. Yago agachou-se ao lado da loira. - Foi ele? – Arriscou Yago. Érika anuiu. – Eu sabia. Vou castrar esse desgraçado! – Berrou furiosamente. - Pare com essas idiotices. Bater ou tirar o órgão genital do menino só vai obriga-lo a ficar com Érika. Não vai fazê-lo amá-la e sim ter medo dela. - Obrigada por dizer exatamente o que eu ia responder. - Nada. – Bárbara deu um sorriso fraco. - Ei, vamos voltar ás atividades? – Érika tentou dar alegria à proposta. - Vamos. – Concordou Yago. – Antes que Celso saiba e acabe mandando o pistoleiro dele atrás daquele retardado. – Brincou Yago. - Claro, Claro. – Disse Érika, a voz triste.
Capítulo 5
- Ei, Bárbara. O que aconteceu? - perguntou Celso, quando arranjou um jeito de ficar a sós com a amiga. - Nada. - Eu notei que a oxigenada estava triste. Ela não reclamou um vez sequer. - Isso é bom, não é? - Por um lado... Mas aquela não é ela. Me diga o que aconteceu. - Eu não sei se... - Fale. - Eu não... - Fale agora. - Não sei se... - Já. - Ela beijou Rogério, Angelina viu, saiu correndo chorando, ele disse que ela era perfeita pra ele e foi atrás de Angel. Ótimo, minha amiga está acabada. Quer saber mais alguma coisa, querido? – Ele estava meio constrangido. Bárbara nunca respondia mal, apenas quando mexiam com um amigo dela. - Que mané. Temos que ensinar uma lição a esse... - Não. Pare. Era por isso que não queríamos contar isso pra você. Você fica descontrolado, Celso. - Desculpe. – Ele baixou a cabeça. - Sinto muito falar isso. Desculpe-me você. Fui muito rude. - Eu mereci. – Ele chutou uma tampa de refrigerante que estava no chão. Ela o abraçou. - Me desculpe, está bem? Eu amo você. - Eu também. – Ela tentou mudar de tática para animá-lo novamente. - Vai me deixar em casa hoje ou terei de ir sozinha? – Ele sorriu. Pegou a mochila de Bárbara e foram andando de mãos dadas. - Ainda não desistiu de dar uns petelecos no pobre do Rogério, não é? - Não. – Eles riram. - Ei, me esperem! – Era Yago. - Sai daqui, seu pentelho! - Eu vou pro lado que vocês vão hoje. - Vai pra casa da namorada, é? – Zoou Bárbara. - Quem dera. Vou pra casa da Vovó. - Uh, pra casa da Vovozinha. - Cala a boca! - Só estou falando a verdade. - Pare de encrencar com ele, Celso! - É, ouça a sua namorada. - Quê? – Se engasgou Bárbara. Yago olhou para as mãos entrelaçadas. Eles riram. - Idiota. - Bobo. – Disse Bárbara. Olhou para as mãos e depois para Celso. Sorriu quando viu que ele também a olhava. - Ei, eu estou de vela, não estou? - Dá pra calar a boca, Yago? - Celso, se comporte também! - Está bem. - Eu não disse? Olha a coleira. Minha avó ficará feliz em saber que... – Bárbara segurou a mão de Yago. - Se for por isso, somos um triângulo amoroso. - Ah, cara, que sacanagem! – Todos riram do desgosto na voz de Celso. - Ei, Celso, já que agora somos um triângulo amoroso, você poderia carregar minha mochila também? - Deus me livre. Nem brinque. Babi que é a emenda desse triângulo. Mas você fica desse lado e eu desse outro. – Eles gargalharam alto. - Ei, essa mochila está pesando demais. Faz esse esforço... - Frouxo. – Eles começaram a se dar uns empurrõezinhos. - Hã. Ei, ai. Essa doeu! - Era pra doer. - Ei, Celso, você está com raiva? - E porque estaria? - Hum... Não sei. - Idiota. - Dá um tempo vocês dois. - Está bem. TEMPO! – gritava Yago. - Se a gente não tivesse dando esse tempo eu gritaria um “Retardado” bem audível. - Ei, já disse pra pararem, crianças... - Crianças? Criança. - Lógico, a criança é você, Yago. - Não, é você Celso. - Claro, a criança sou eu. - É sim, Babi. – Os dois concordaram rindo.