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Capítulo 1.

  E lá estavam eles, deitados um ao lado do outro, no chão. Alguns diziam que foram escolhidos a dedo por Deus, mais o mais provável era uma coincidência. Enquanto Yago tinha aqueles cabelos negros, a pele bronzeada, os olhos castanhos claros e era totalmente magrelo, Pablo tinha os cabelos castanhos, os olhos negros, não era baixo e nem alto e tinha músculos discretos, Celso era loiro, musculoso, olhos claros, e baixinho, Érika era altíssima, loira oxigenada, olhos castanhos claros enquanto Bárbara tinha os cabelos negros, os olhos azuis e a altura de uma garotinha de 13 anos. Não vou perder tempo falando do contraste de personalidades, vocês verão.


- Aqui tem formigas? – Era a voz enjoativa de Érika. Pablo resmungou alguma coisa. - Quê?
- Eu disse “cala a boca”.
- Eu já sei que você é um grosso, não precisa mostrar mais.
- Não faça perguntas idiotas. Claro que tem. – Érika deu um pulo da grama e soltou um grito agudo. Todos levantaram menos Pablo, que continuava de olhos fechados.
- Fique tranqüila, Érika. São apenas formigas. – Disse Bárbara calmamente.
- Tranqüila, Bárbara? TRANQUILA? – Ela berrava. – FORMIGAS FERRAM VOCÊ SABIA?
- E desde quando ferradas matam? – Disse Celso com cinismo.
- Você fala isso porque elas vêm ferrar a mim!
- Claro, elas escolhem “Vai essa, porque eu tenho preferência pelas loiras” – Yago caiu na gargalhada e jogou-se no gramado novamente.
- Cala a boca!
- Eu já sei que você é uma grossa, não precisa mostrar mais. – Disse Celso quase rindo. Yago já estava vermelho e lagrimejando de tanto rir.
- Parou, galera. – Disse Bárbara.
- Eu vou embora. Tenho tantas coisas pra fazer e fico perdendo meu tempo aqui.
- Era brincadeira, filha. – Yago abriu a boca para falar, pela primeira vez desde que chegaram ao parquinho. – Não fica assim.
- Idiotas. – Ela resmungou, cedendo. Celso olhou Pablo. Os quatro amigos se entreolharam, já sabiam o que iam fazer.
 Pablo começou a falar palavrões quando sentiu o peso dos quatro amigos em cima dele. Eles riam.
- Acorda, seu pilantra! – Berrava Celso. Érika falava que não conseguia respirar. Yago ria. Bárbara pulava nas costas de Yago.
- Saiam daqui, seus desocupados.
- Merda! – Falou Celso. – Pedroca está aqui.
- O que? – Disse Yago pasmo. Levantou-se rapidamente, fazendo Bárbara cair de costas.
- Olha a Babi aí, retardado! – Brigou Celso. Ela levantou-se rapidamente.
- Tudo bem, não me machuquei.
- Desculpa, Babi... Desculpa. Desculpa. – Ele a pegou pela mão. – Desculpa, ta?
- Não temos tempo para isso, Yago! Vamos logo, rápido. - Celso, Yago e Érika saíram correndo.
- Pessoal.... Pessoal. – Gritava Bárbara. Eles olharam de longe. – Pablo continua dormindo!
- Deixa ele, Barba! – Respondeu Érika.
- Mas... – Bárbara olhou o diretor do colégio de longe. Agachou-se. – Pablo, acorda, o Pedro está vindo pra cá. – Nada. – Pablo. – Nada.
- Vamos logo, Bárbara! – Ela ouve Celso falando.
- Desculpe por isso, Pablo. – Levanta-se e lhe dá um chute nas costelas.
- AI, IDIOTA!
- O diretor, Pablo!
- Que? Aquele gordo não tem mais o que fazer não?
- Vamos.
- Os gazeteiros querem paz! – Berrou ele abanando as mãos para cima. Levantou-se de mau humor. Bárbara tentou correr e foi quando sentiu uma fisgada no joelho. Não ligou e correu o mais rápido que pôde.

Capítulo 2.



 Eles chegaram a sala de aula ofegantes. O professor de biologia tentou não ligar para os cinco, que chamaram a atenção da turma. Érika deu um sorriso amarelo antes de pedir licença.
- Com toda, gostosa. – Disse um engraçadinho do fundão. Todos da turma riram.
- Olha o respeito, moleque! – Retrucou Pablo. Érika encarou o amigo.
- Obrigada, você é uma doçura, Flávio. – O menino riu e ficou vermelho. Por essa ele não esperava. Todos se sentaram. Érika escreve alguma coisa em um pedaço de papel e joga na carteira de Pablo.
 “ Não preciso de defensores.” Ele leu. Escreveu rapidamente e devolveu o papel
“ Só não queria manchar tua reputação. Se é que ainda tens...”
“ É pra preservar minha reputação que não quero defensores. Muito menos você, Pablo”
“ Porque? Tens medo do que os outros vão pensar? Hahaha”

 O papel foi puxado da mão de Érika quando ela terminou de ler.
- Pro... Professor... – Balbuciou. – Isso é meu.
- Agora não é mais. Uma conversa tão interessante deve ser compartilhada com a turma.
- A conversa não interessa a turma e muito menos a ti. – Respondeu Pablo.
- Cala a boca, Pablo! – Brigou Érika. O professor o encarou.
- Ta com fome?
- Quer fazer um lanchinho com o diretor?
- Não, obrigado. – Ele respondeu todo seguro.
- Sai da sala, Pablo Augusto.
- Me dê um bom motivo.
- Se você não sair mando te suspender!
- Oba, é um presente que você me dá. Estou precisando de umas férias.
- Pablo, sai logo. – Era a voz calma de Bárbara. Ela estava assustada. Ele a fitou e sentiu pena Ela sempre fora a mais solidária e preocupada com ele, mas se manteve firme.
- Não vou, Alice do país das maravilhas.
- Vai logo, seu louco! – Era Celso.
- Pablo, você vai ser suspenso. – Disse Yago. – Vai logo e se salva.
- E u n ã o v o u. – Ele soletrou.
- Eu vou chamar o diretor. – bufou o professor. – Você vai se dar muito mal, garoto.
- Isso é o que você pensa, seu calvo!

Capítulo 3.



- O que? Você não foi suspenso?
- Não. – Ele sorriu presunçoso.
- Me ensina a macumba que você faz. – Disse Yago.
- O Abel veio aí e deu uns trocados pro Pedroca. – Ele gargalhou. – Esse patife.
- Quem? O diretor ou seu pai? – Rebateu Érika.
- Os dois. 
- Não fale assim, Pablo! – Bárbara sempre tentava faze-lo falar de um jeito respeitoso com os mais velhos.
- Eles são. Patifes sem vergonha.
- Mudando de assunto. – Interrompeu Celso. – Cíntia me pediu em namoro.
- A projeto de ovelha? – Zombou Érika. – Me mau gosto ela tem.
- Principalmente porque ela te acha bonita.
- Ave! Eu sou e ninguém pode negar.
- Você se acha. – Disse Yago sem pudor.
- E ninguém pode negar. – Completou Celso. Ela revirou os olhos. Todos riram.
- Shiiiiu. – A bibliotecária estava com o dedo indicador no meio dos lábios. – Silencio.
- Está bem, tia Constância. – Murmurou Bárbara.
- Continua essa história aí. – Estimulou Yago.
- Então... Ela disse que me amava.
- Com que mel você se banha?
- Eu já nasci com esse mel.
- Convencido. – Disse Érika.
- E depois ela disse que eu sou o homem da vida dela.
- Coitadinha, ela é míope.
- E me pediu em namoro.
- E o que você disse? – Os olhos azuis de Bárbara brilhavam, ela adorava histórias de romance.
- Eu disse que esse não era meu tempo.
- Mas vocês estavam juntos há seis semanas, Celso... Isso é quase um namoro, não?
- Não. Isso era uma fica que durou. – Respondeu Celso.
- Quase um namoro, Celsinho. Pensa bem. – Era a voz tranqüila novamente.
- Ah, não quer não quer! – Disse Érika bruscamente.
- Manda ela pastar logo. – Dessa vez era Pablo. – Ô bicha feia.
- Não importa a aparência, o que importa é o caráter, Pablo. A aparência se deteriora com o tempo. O caráter permanece.
- Já vai começar com o sentimentalismo, Bárbara? Ele não vai casar e ter três lindos filhos perfeitos com a cara de ovelha. Não é como nos livros bobos que você lê.
- Que pena que você pensa assim. – Surgiu uma ponta de dor na expressão dela.
- Gente, olha isso. – Yago apontava para um cartaz róseo grudado na parede. Ele leu em voz alta – “Baile do dia dos namorados.” Vai ser sexta que vem.
- Típico desse colégio idiota.
- Aii. Vai ser tão romântico. Espero que o Inácio me convide. – Bárbara estava entusiasmada. – Que lindo.
- Eu vou convidar a Cíntia.
- Mas não era você que não namorava ela? – Indagou Yago.
- E não namoro.
- Então por que... ?
- Porque ela dança bem, só isso.
- Ai, que merda. Eu que não queria ser essa baranga. – Disse Érika.

- Érika, você quer... ir...
- Ao baile com você? – Ela comemorou mentalmente. Rogério era o menino mais lindo do colégio! - Claro.
- Eu ia perguntar se você quer ir à aula prática. Se não precisa assinar essa lista. – Ele mostrou o papel. Ela ficou vermelha até a raiz dos cabelos. – Mas... Já que você tocou nesse assunto... Você quer...?
- O que? Ah, não. Eu não vou à aula prática.
- Não. Você quer... ir ao baile de dia dos namorados?
- Acho que já respondia antes da hora. – Ela sorriu e tratou de voltar ao aconchego dos amigos.
- Érika! Érika! – Ela virou. Era Flávio.
- Oi. – Ele escondeu os olhos com as mãos e soltou rapidamente.
- Quer ir comigo no baile? – Ela tocou as mãos do menino e o fez tirar a mão dos olhos.
- Adoraria. – Ele saltou de alegria. – Mas não posso. Vou com Rogério. – A alegria sumiu.
- Tudo bem. – Ele baixou os olhos. – Não tem problema.
- Não fique as... – Ele já tinha ido. Que horror!

 Érika jogou os livros no colo de Yago e suspirou.
- O que aconteceu?
- Nada. Tirando que eu tive que responder “Não posso” pra cinco garotos até chegar aqui.
- Não pode o que?
- Ir ao baile com eles. É de doer o coração.
- Hum, ta! Tu és a pop! – Caçoou Celso.
- Quem me dera fosse mentira. – Ela deu um falso olhar triste.
- E aí, Celso, convidou a projeto de ovelha pro baile?
- Convidei.
- E...?
- Ela não aceitou.
- Espera aí. Você perguntou isso antes ou depois de dar um pé na bunda nela? – Indagou Pablo.
- Depois.
- Burro! – Berrou Érika.
- Eu sabia que era por isso. – Essa foi a vez de Pablo berrar.
- Claro que ela ia rejeitar, deixava pra responder depois, Celso! – Julgou Bárbara. – Você é tão desligado.
- Desculpa.
- Desculpa negada. Você vai com quem agora? – Se revoltou Érika. – Eu não vou poder ir em grupo de novo!
- Você não precisa ir conosco, Érika. – Disse Bárbara. – Vai com o gatão do convênio.
- Vamos sentir falta de alguém pra falar besteiras, mas agüentaremos. – Falou Yago.
- Mas vocês têm o Pablito. – Todos riram.
- É, é bom porque... o Inácio não me convidou. – Bárbara parecia triste. – Acho que ele enjoou de mim.
- Ele é um... insano. – Respondeu Celso.
- É, Barba. Ele não sabe o que está perdendo. – Disse Érika.
- Não fica assim, Babi. – Yago tentou animá-la.
- Se ele não te ama, nós te amamos. – Pablo sorriu. Era a primeira vez que falava alguma coisa aproveitável pra amiga de tantos anos.
 Os quatro abraçaram a baixinha que sumia entre tantos braços.
- Eu... Eu... – Ela balbuciava.
- Eu sei que você ta emocionada. – Disse Érika.
- Não consigo respirar. – Complementou Bárbara. Todos riram. O Sinal tocou anunciando a aula de Educação física.

- Ah, Érika, eu odeio esses shorts.
- Ai, eu a – d – o – r – o .
- Eles são apertados demais. – Bárbara esticou o short de lycra e soltou.
- Isso que é o bom. – Retrucou sorrindo para um menino que quase babava por ela.
- Você é bonitona.
- E você não?
 - Eu sou feia.
- Pare com isso.
- Se eu fosse tão bonita quanto você, Inácio me amaria. – Érika ficou séria. Ficou na frente da amiga e pegou suas mãos.
- Não fale isso. Você tem sua beleza e eu tenho a minha, que é uma desgraça. Às vezes as pessoas me rotulam como a ‘linda perfeita’ e acham desnecessário me conhecerem antes de se dizerem apaixonados. É ruim, pois você sabe que eles só estão interessados no seu físico e não no que há aqui. – Ela apontou para o lado esquerdo do peito. – Pense nisso. Ser loira e bonita não é tão fácil. – Gargalhou. – Isso soou estranho.
- Tenho que concordar. Foi meio narcisista.
- Que novidade. – Sorriu alegremente. – Mas vamos logo! – E saiu correndo para a quadra.
 Os três meninos estavam lá, com uns shorts tão engraçados que Bárbara não conseguiu se conter.
- Vocês estão tão sexies com esses shorts apertadinhos!
- Obrigado, você também está sexy. – Respondeu Yago no mesmo tom de brincadeira. Pablo assobiou.
- Ô lá em casa. – Ele elogiou. Bárbara corou.
- Sério o que você fez com a Bárbara? - Celso estava meio embasbacado.
- A meti num micro short ridículo. – Ela tentou fazer uma piada, mas saiu meio estranha pela expressão desconcertada do rosto. Ele riu.
- Primeiro: jogo das meninas! – Berrou o professor Marcos.
- Ótimo, vejo vocês depois. – Disse Bárbara ainda meio deslocada.
 Érika amava a amiga, mas gostava de ser o centro das atenções e a magoava a indiferença dos amigos. Ela não os via como homens, e sim como irmãos, mas ainda doía nunca ser elogiada por eles, só porque os outros tratavam de fazer isso. Ela gostava da opinião e atenção de todos. Mesmo que fossem só irmãos. O ego sempre ficava ferido quando eles elogiavam Bárbara, porque isso importava pra ela, e Bárbara não estava acostumada e viciada em olhares e galanteios de meninos. Mesmo que fossem só irmãos. A loira tentava chamar a atenção deles, mesmo que fossem com gritos de frescura, adorava poder vê-los olhando-a. Adorava ter a atenção. Mesmo que fossem só irmãos.
- Érika, o jogo começou!
- Ah, desculpe, Professor.

Capítulo 4.



 O apito do professor anunciou o final do segundo tempo. O time adversário havia ganhado. Grande merda. Érika tomou um gole de água na boca da garrafa de plástico.
- Elas vão ver só.
- Foi só um jogo, amiga. – Érika grunhiu antes de retrucar.
- Odeio perder. Odeio.
- Eu sei. Mas tem que aprender a perder e não a gostar. – Outro grunhido.
 O jogo dos meninos começou.
 Bárbara ficou olhando os amigos e reclamando baixinho quando eles perdiam a chance de fazer um gol ou de dar um bom passe de bola. Érika não estava muito ligada nisso. Estava mesmo olhando para Rogério.
- Barba, olha o Rogério. Ele não está tão... gostoso com esse short apertado? – Ela mordeu o lábio inferior. – Tão gato.
- Pare com isso, Érika. – Bárbara ficou vermelha.
- Quando o jogo acabar vou falar com ele. – Ela ficou toda animada. – Isso vai ser ótimo. Vou ter tempo com o meu lindo.
- Érika... Não vá fazer besteiras...
- Eu nunca faço besteiras.
- Não?
- Deixe de ser sarcástica. Confie em mim, okay?
- Como?
- Me deixe agir.
- Mas o jogo nem acabou, Érika.
- Não importa. – O apito indicou o final do primeiro tempo. – Agora acabou.
- Temporariamente, baby.
- Mas acabou. – Ela levantou-se e foi em direção ao menino de cabelos cor de chocolate e olhos incrivelmente verdes.
- Oi, Rogério. – Cumprimentou insinuante.
- Oi, Érika.
- Bom... Eu só vim aqui pra te dar um... – Vontade de falar “beijo”... – alô.
- Alô.
- Está bem... é ... Quer dar uma volta?
- Por que não?
 Por que sim? Pensou Pablo, que via de uma proximidade segura.
 Ela pegou o braço dele e eles saíram andando.
- Você vai jogar o segundo tempo, não é?
- Vou.
- Vou torcer por você.
- Obrigado.
- Não há de quê. – Deus, o que eu falo agora? Érika estava desesperada. O silêncio reinou por uns segundos.
- Érika...
- Rogério... Eu... Eu só queria dizer que estou muito feliz por vocÊ ter me convidado pra festa do dia dos namorados.
- E junina.
- Sim, claro.
- Também estou.
- Bom... – O apito do professor Rogério soou novamente.
- Acho que é a minha deixa.
- Tudo bem. – Ela ficou gelada. Encostou os lábios nos do garoto rapidamente. - Até logo. – E saiu correndo, sorrindo que nem uma tonta.
- Você é louca! – Berrou Bárbara quando a loira contou o que aconteceu. – Ele... Oh, céus.
- Não perco tempo, meu bem. Da próxima vez vai ser muito melhor. Muito. – Ela deu um sorriso malicioso. – Ele que me aguarde.
 Os meninos chegaram suados e cansados. Pablo tirou a blusa e a jogou em na arquibancada.
- Odeio esses uniformes idiotas.
- Cuidado! – Alertou seriamente Érika. Todos se assustaram. – Se tirar a calça provavelmente aquelas garotas vão te devorar. – Érika olhou pra três meninas que rapidamente desviaram o olhar e começaram a dar risinhos. – Todos riram.
- Não ia fazer isso. Mas já que você me deu essa boa notícia. – Parecia que ele ia baixar as calças. Bárbara fechou os olhos.
- Pára com isso, Pablo! – Estava ruborizada de novo. Yago teve um ataque de riso que deixou Bárbara mais sem graça que antes.
- Já volto. Não se divirtam sem mim. – Disse Érika, levantando-se e indo em direção ao Deus grego de olhos cor de chocolate.
- Eles tão...? – Perguntou Celso.
- Não... Não. Não, não é? – Pergunto Pablo a Bárbara. – Ele é um idiota.
- Eu... Não sei bem... O que responder. – Disse Bárbara.
- Coitado dele. – Brincou Yago. Ninguém riu. – Desculpa.
- Não, nada a ver. – Concluiu Pablo, fitando-os de longe.
- É. – concordou Celso.
- Se for a gente castra ele. – Zombou Yago. Agora todos riram.
- Érika, eu acho que...
- Eu acho você perfeito pra mim. – Disse Érika com convicção. Rogério se desarmou quando a loira o beijou novamente. Só que dessa vez um beijo melhor, mais demorado, um beijo muito bom. Ela parou.
- Fica comigo. – E nem esperou a resposta dele. O beijou novamente.
 A porta da sala onde eles estavam se abriu. Os dois viraram rapidamente. Lá estava Angelina, parada. As lágrimas desciam copiosamente pelas faces da menina baixinha.
- E eu que acha que você gostava de mim. – A voz dela falhou. – Eu te odeio, Rogério. Eu te odeio! – E saiu correndo. Rogério olhou para Érika.
- Mas ela é perfeita pra mim, Érika. Desculpe. – E foi atrás da menina.
 Érika encostou-se na parede e deixou-se abandonar no chão. Apoiou a testa nos joelhos e começou a chorar. Ela realmente pensou que poderia ter encontrado alguém para fazê-la fez. Que a amasse. A porta se abriu novamente. Ela enxugou as lágrimas com as costas da mão.
- Você está chorando? – Ela levantou a cabeça para enxergar o rosto de Pablo.
- Não, estou tirando água dos olhos.
- Sempre sarcástica.
- Sempre fazendo perguntas bobas. – Ele sentou-se ao lado dela, encostado na parede.
- O que aconteceu? – O tom de voz não era zombeteiro, era sereno e gentil, como se realmente tivesse preocupado.
- Nada.
- Nada? Há.
- Eu não quero falar, está bem? – As lágrimas começavam a escorrer novamente. – Eu odeio isso. – A voz saiu rouca. Ela encostou a cabeça no ombro do amigo.
 Pablo sentiu pena de Érika. Sentiu vontade de conforta-la, de dizer que não era culpa dela, mesmo sem saber do que se tratava. Respeitaria seu espaço e quando quisesse contar contaria. Ele afagou seu cabelo.
- Não precisa falar. – Silêncio.
- Por que as coisas tem que ser assim, Pablo? Por que as pessoas que a gente gosta nunca gostam da gente.
- Depende do gostar.
- Gostar, gostar... Como homem e mulher.
- Não sei também.
- Por que eu tenho que me enganar sempre? Ah, sim, porque eu sou uma idiota.
- Não fale isso.
- Eu falo porque sou. – A voz falhou.
- Shiiiu. Se acalme, está bem?
- Pablo...?
- Quê?
- Por que está sendo legal?
- Eu sou legal. – Ele revirou os olhos. Ela deu um riso baixo.
- Obrigada.
 A porta abriu.
- Érika, meu amor, o que aconteceu? – Disse Bárbara aos berros. – Eu te disse que isso ia dar errado.
- Bárbara, isso não vai adiantar. – Pablo estava na defensiva.
- Tudo bem, eu mereço.
  A porta novamente rangeu quando foi aberta.
- Pablo, Yara está procurando você. – Era Yago. – O que está acontecendo aqui? Érika, você está com dor?
- Não.
- Obrigada pela preocupação. – Agradeceu Bárbara. Pablo levantou.
- Fique bem. – E sumiu pela porta. Yago agachou-se ao lado da loira.
- Foi ele? – Arriscou Yago. Érika anuiu. – Eu sabia. Vou castrar esse desgraçado! – Berrou furiosamente.
- Pare com essas idiotices. Bater ou tirar o órgão genital do menino só vai obriga-lo a ficar com Érika. Não vai fazê-lo amá-la e sim ter medo dela.
- Obrigada por dizer exatamente o que eu ia responder.
- Nada. – Bárbara deu um sorriso fraco.
- Ei, vamos voltar ás atividades? – Érika tentou dar alegria à proposta.
- Vamos. – Concordou Yago. – Antes que Celso saiba e acabe mandando o pistoleiro dele atrás daquele retardado. – Brincou Yago.
- Claro, Claro. – Disse Érika, a voz triste.

Capítulo 5



- Ei, Bárbara. O que aconteceu? - perguntou Celso, quando arranjou um jeito de ficar a sós com a amiga.
- Nada.
- Eu notei que a oxigenada estava triste. Ela não reclamou um vez sequer.
- Isso é bom, não é?
- Por um lado... Mas aquela não é ela. Me diga o que aconteceu.
- Eu não sei se...
- Fale.
- Eu não...
- Fale agora.
- Não sei se...
- Já.
- Ela beijou Rogério, Angelina viu, saiu correndo chorando, ele disse que ela era perfeita pra ele e foi atrás de Angel. Ótimo, minha amiga está acabada. Quer saber mais alguma coisa, querido? – Ele estava meio constrangido. Bárbara nunca respondia mal, apenas quando mexiam com um amigo dela.
- Que mané. Temos que ensinar uma lição a esse...
- Não. Pare. Era por isso que não queríamos contar isso pra você. Você fica descontrolado, Celso.
- Desculpe. – Ele baixou a cabeça.
- Sinto muito falar isso. Desculpe-me você. Fui muito rude.
- Eu mereci. – Ele chutou uma tampa de refrigerante que estava no chão. Ela o abraçou.
- Me desculpe, está bem? Eu amo você.
- Eu também. – Ela tentou mudar de tática para animá-lo novamente.
- Vai me deixar em casa hoje ou terei de ir sozinha? – Ele sorriu. Pegou a mochila de Bárbara e foram andando de mãos dadas.
- Ainda não desistiu de dar uns petelecos no pobre do Rogério, não é?
- Não. – Eles riram.
- Ei, me esperem! – Era Yago.
- Sai daqui, seu pentelho!
- Eu vou pro lado que vocês vão hoje.
- Vai pra casa da namorada, é? – Zoou Bárbara.
- Quem dera. Vou pra casa da Vovó.
- Uh, pra casa da Vovozinha.
- Cala a boca!
- Só estou falando a verdade.
- Pare de encrencar com ele, Celso!
- É, ouça a sua namorada.
- Quê? – Se engasgou Bárbara. Yago olhou para as mãos entrelaçadas. Eles riram.
- Idiota.
- Bobo. – Disse Bárbara. Olhou para as mãos e depois para Celso. Sorriu quando viu que ele também a olhava.
- Ei, eu estou de vela, não estou?
- Dá pra calar a boca, Yago?
- Celso, se comporte também!
- Está bem.
- Eu não disse? Olha a coleira. Minha avó ficará feliz em saber que... – Bárbara segurou a mão de Yago.
- Se for por isso, somos um triângulo amoroso.
- Ah, cara, que sacanagem! – Todos riram do desgosto na voz de Celso.
- Ei, Celso, já que agora somos um triângulo amoroso, você poderia carregar minha mochila também?
- Deus me livre. Nem brinque. Babi que é a emenda desse triângulo. Mas você fica desse lado e eu desse outro. – Eles gargalharam alto.
- Ei, essa mochila está pesando demais. Faz esse esforço...
- Frouxo. – Eles começaram a se dar uns empurrõezinhos.
- Hã. Ei, ai. Essa doeu!
- Era pra doer.
- Ei, Celso, você está com raiva?
- E porque estaria?
- Hum... Não sei.
- Idiota.
- Dá um tempo vocês dois.
- Está bem. TEMPO! – gritava Yago.
- Se a gente não tivesse dando esse tempo eu gritaria um “Retardado” bem audível.
- Ei, já disse pra pararem, crianças...
- Crianças? Criança.
- Lógico, a criança é você, Yago.
- Não, é você Celso.
- Claro, a criança sou eu.
- É sim, Babi. – Os dois concordaram rindo.

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