|
Pela
trilha que margeava a estrada caminhavam, varas de pesca aos ombros,
Valmir e Zueira.
A trilha, numa elevação do terreno, permitia visão total da rodovia a
mais ou menos uns 12 metros abaixo.
Estavam suados pelo sol da tarde passada à beira do rio.
Fieira de acarás pendia da cinta de cada um. Fora uma pescaria
frutuosa. Sentaram-se, contemplando o movimento da rodovia lá em baixo.
- Vamos descansar, mas por pouco tempo. Logo vai escurecer – disse
Zueira, alisando com orgulho um princípio ralo de barba que confirmava
seus 16 anos.
Valmir, imberbe nos seus 14 anos, retirou o chapéu de palha e o jogou
sobre a vara deitada na trilha. Passou a mão sobre a testa como a
querer apagar o vinco deixado pela reborda interior do chapéu.
Ficaram em silêncio por uns três minutos, contemplando, quietos, o
movimento da rodovia. Havia mais veículos indo para o Rio que para São
Paulo.
- Zu! – Valmir quebrou o silêncio – você acredita em Disco Voador?
- Claro que não. Isto é coisa de maluco!
- E em Duendes?
- Valmir, acho que o sol lhe fez mal...
- Ah! Duendes tudo bem, mas Disco Voador eu queria que existisse e que
um aparecesse pra gente, já pensou? Era capaz da gente até sair no
jornal....
- Larga de ser bobo Valmir!
- Bobo? Boba é esta vida da gente, onde nada de diferente acontece.
Tirar leite, escola, pescar, nadar,dever de casa, bater pique, comer,
dormir, tirar leite, escola... que coisa mais aporrinhenta!
- Mas garanto que a vida na cidade é bem pior que aqui na fazenda,
Valmir.
- Sei não Zu... sei não... Aqui a gente não vê nada de extraordinário,
nada de coisas que passam depois na televisão e todo mundo comenta. Só
aquelas coisinhas que a mulheres, por falta de mais o que fazer, ficam
futricando como se fosse o fim do mundo.
Novamente se puseram em silêncio. Zueira perscrutava o céu lentamente
com os olhos. Talvez ele, no fundo, acreditasse também em Discos
Voadores.
- Zu, que dia é hoje? – perguntou Valmir acompanhando com os olhos um
caminhão que passava disparado.
- 22 de agosto – respondeu Zueira, voltando os olhos para o amigo.
- Ah! Daqui 8 dias faço 15 anos
- Vai ficar mais velho Valmir. Tá virando homem!
- É. Nasci em 30 de agosto de 1961 quando o relógio marcava exatamente
2 horas da madrugada – falava como se fosse para si mesmo, apenas
relembrando o que mãe contara inúmeras vezes.
Zueira levantou-se. Caminhou morro abaixo, em direção à estrada,
descendo uns 8 metros. Firmou a vista em alguma coisa. Subiu os 8 metros
de volta e sentou-se no mesmo lugar de onde saíra.
- Zu, que foi? Indagou Valmir com um olhar intrigado.
- Nada, só curiosidade. Fui ver o que estava escrito naquela plaquinha
na beirada do acostamento.
- E o que era?
- Só uma indicação de distância: Via Dutra, Km 165.
- Ah! Mas porque se interessou nisto?
- Sei não Valmir, bateu isto na cabeça.Sei lá eu porque?
Voltaram a mirar o movimento na estrada, que parecia haver aumentado.
- Zu, você está vendo?
- Vendo o que?
- Aqueles dois carros, vindo em nossa direção, indo para o Rio. estão
emparelhados, será que estão batendo um pega?
- Nada! Nem estão correndo tanto assim...
Zu tinha razão – pensou Valmir – parece que o furgão preto iria
ultrapassar o Opala e resolvera trafegar lado a lado. São amigos e por
certo estariam conversando aos gritos.
Ambos continuaram a acompanhar com os olhos os dois veículos que, neste
instante já estavam próximos de passar por eles. Valmir notou que o
passageiro do furgão tinha algo de diferente. Cabelos. Cabelos muito
longos , escorridos e extremamente negros. Tinha aspecto de Chileno ou
Argentino.
Começava a escurecer... em alguns carros, motoristas mais cautelosos ou
afobados, já ligavam seus faroletes...
De repente viram um clarão, pouco mais que uma centelha, brilhar dentro
do furgão à partir de uma arma empunhada pelo homem dos cabelos
longos. Milésimos de segundos depois, ouviram, um pouco abafado pelo ruído
dos veículos, um estampido.
O motorista do Opala espalmou a mão direita sobre a face esquerda do
pescoço,pendeu a cabeça para a direita. O único passageiro que
viajava no banco traseiro moveu o corpo para frente, como a querer falar
alguma coisa ao motorista. O carro fez um leve ziguezague, reduzindo
repentinamente a velocidade.
- Zu! Olha atrás do Opala, um ônibus da Cometa. Ele não vai conseguir
parar! – gritou Valmir, já de pé.
O ônibus arrastou pneus provocando rangido característico. Pam! Bateu
na traseira do Opala que foi lançado à frente em corrupios, atravessou
aos solavancos o canteiro central e invadiu a pista contrária.
Valmir e Zueira, ambos então de pé, viam tudo estupefatos.
Na pista invadida trafegava uma carreta, carga pesada, velocidade
acentuada. Os amigos arregalaram os olhos mais ainda. Foi um grande
estrondo que ecoou ao longe. A carreta esmagara o Opala que com ela
batera de frente.
Repentinamente, como num congelamento de VT, por um breve instante os
amigos tiveram a impressão que o som desaparecera do mundo, exatamente
quando todos os corpos em cena se imobilizaram: A carreta, o ônibus e o
amontoado de ferros em que se transformara o Opala.
Era a foto para a mente.
Desceram em disparada rumo à rodovia. Outros carros iam parando, gente
descia e corria para o Opala. Logo formou-se uma algazarra no local.
Gritos, todos davam ordens, gritavam sugestões, pessoas desciam do ônibus
apressadamente e se somavam à algazarra formada.
Valmir e Zueira pararam bem atrás da carreta que estava semi
atravessada na pista. Curioso, Zueira olhou a placa: Içara - SC
Caminharam lateralmente em direção à frente da carreta. Semi
assentado no pára-choques dianteiro um homem olhava toda aquela confusão
com um ar totalmente desolado. Era o motorista.
Outro homem saiu da balbúrdia geral e veio até a carreta.
Zueira puxou Valmir pelo ombro e se afastaram o suficiente para não
ficarem muito expostos perto do motorista. Postaram-se a uma distância
prudente mas que os permitisse ouvir a conversa que deveria acontecer.
O homem caminhou com passos firmes para a carreta. Trajava calça social
cinza, sapatos e meias pretas, camisa branca e um blusão de couro
preto. Aproximou-se do motorista e perguntou em tom firme:
- Você dirigia este caminhão?
- Sim, mas o outro....
- Espera, eu faço as perguntas – O tom de voz ficou levemente rude
- Mas...
- Resuma o que você viu acontecer.
- Foi muito rápido, acho que não consigo...
- Resuma o que você lembrar! - O tom de voz agora era francamente
autoritário.
- Vi os dois carros emparelhados na outra pista, vi um clarão de dentro
do Furgão e em seguida o opala reduziu repentinamente a velocidade.
Aquele ônibus que vinha atrás não conseguiu parar e jogou o Opala
para minha pista. Quando pensei em freio, só senti o impacto e ouvi o
estrondo, Daí, me concentrei em dominar a carreta...
- Me diz seu nome e telefone de residência – interrompeu o
interrogador, retirando do bolso do blusão uma bloco de anotações e
uma caneta. Ouviu e anotou. Voltou-se para o motorista:
- Você é casado? Tem família?
- Tenho sim senhor
- Você quer o bem deles, não é verdade?
- Nossa, trabalho duro só por eles, me arrisco a estas coisas na
estrada porque eles são o sonho...
- Tá bom, tá bom – o homem demonstrava impaciência – Você ama
sua família como eu a minha.
- Se o senhor tem, sabe bem o que é isto.
- Tenho sim, e faço tudo para protege-los.
- Mas pai é assim mesmo...
- Ótimo! E você quer proteger sua família, com certeza, não?
- Ah! Por eles faço tudo.
- Que bom. Veja aqui – disse o homem do blusão de couro – retirou
algo do outro bolso interno. Era uma identidade, em forma de uma pequena
caderneta de couro verde e parecia ser identidade policial ou de outra
autoridade qualquer.
Mesmo olhando meio disfarçadamente, os dois amigos tiveram a impressão
que o motorista empalidecera.
- Você deve evitar que coisas que aconteçam com você acabem por
atingir sua família... – continuou o homem do blusão de couro.
- Não percebo bem...
- Vai perceber, é só esperar eu terminar de falar, não interrompa
mais. – agora o tom era de muita agressividade.
- Sim senhor – balbuciou o motorista, já se mostrando intimidado.
- Olhe, você na verdade está enganado. Não viu nenhum furgão, muito
menos emparelhar com o Opala e muito menos ainda clarões ou relâmpagos
saindo de dentro dele. Você só viu quando um carro já estava
atravessando aos solavancos o canteiro central e vindo para sua pista.
Nada mais você viu antes disto, nada!!! Ficou claro?
- Sim... sim... senhor.
- Ótimo, você é um bom elemento. Acaba de dar o maior presente que
sua família poderia receber.
- Entendi senhor...
- Interessante, conheço um pouco Santa Catarina, mas nunca ouvi falar
em Içara...
- Fica bem pertinho de Criciúma...
- Criciúma eu conheço – Disse o homem se afastando e indo em direção
ao ônibus.
Valmir e Zueira entreolharam-se. Aquele homem estava forçando o
motorista ocultar coisas. Houvera um tiro, coisa grave! Porque seria?
Eles começavam a não entender.
Os amigos se esqueceram ou não se importavam mais com as horas.
Continuaram observando as pessoas que agora, já formavam uma enorme
multidão.
- Zu!
- Oi Valmir...
- Já tem muita polícia aqui, vamos contar do tiro?
- Tá maluco é? Vamos ficar longe disto, nem pensar...
- Tá bom.
- Zu!
- Que foi?
- Já tem uns 10 carros de jornal aqui, cada minuto chega mais um, até
a TV chegou. Tem fotógrafos para todos os lados, cinegrafistas de num
sei onde. Não estou entendendo...
- O que você não entende, Valmir?
- Um desastre aqui nesta estrada é até comum, porque tanta coisa assim
com este desastre? Só pode ser pelo tiro...
- Tem alguma coisa de grande aqui Valmir. Por isso falei pra gente num
se meter
- Mas o que será, Zu?
- Não sei... vamos andar pelo meio da confusão, quem sabe a gente fica
sabendo?
- É, vamos.
Quatro pessoas saíram de um carro no qual se podia ler, pintado sobre a
porta e abaixo de um brasão do estado do Rio de Janeiro, os dizeres:
Instituto de Criminalística Carlos Eboli. Um dos homens começou a
fotografar tudo freneticamente, exceto quando foi fotografar a frontal
do ônibus e o homem do blusão de couro lhe cochichou qualquer coisa.
Ele desistiu e saiu em busca de outras imagens. Outro dos recém
chegados falava com os motoristas do ônibus e da carreta. Um outro
media com longa trena, tudo, em todos os sentidos. Faziam anotações
sobre prancheta. Todos mantinham aparência grave, séria.
Valmir e Zueira começaram a circular lentamente, olhares atentos a
tudo. Perceberam que 2 corpos eram resgatados do Opala.
A viatura do resgate partiu veloz, piscando luzes coloridas e fazendo
ecoar pelo vale um estridente ruído de sirene.
- Zu! Quantas horas já? – Valmir parecia ter acordado para o tempo.
- Nossa! – exclamou Zueira olhando o relógio de pulso – Passa um
pouco das onze....
- Vamos embora Zu?
- Agora não! Sem saber porque tanta coisa assim com este acidente, não
vou não.
Faróis de diversos carros acesos, em luz baixa, clareavam a noite como
um alvorecer.
- Valmir, espere aqui – Zueira falou e foi saindo em direção ao
grupo maior de pessoas.
Ficou por uns dez minutos. Valmir o observava. Ele conversava com alguém.
Só podia estar fazendo perguntas. Muito curioso, o Zueira...
- Voltei! Valmir, você não sabe quem estava naquele Opala, nunca vai
poder imaginar... – Zueira criava sempre uma expectativa sobre
qualquer notícia que ia dar. Ele gostava de ser assim.
- Quem Zu? Fala logo... – era a ansiedade típica dos 14 anos.
- Caramba! Era o Presidente Juscelino Kubitschek!!!
- Puta merda! A professora de História falou nele ontem, não é o que
fez Brasília?
- Não mané! O que construiu Paris... ai Valmir, você faz cada
pergunta...
- Tá bom, tá bom... eu entendi. Só perguntei porque ouvi mas não
acreditei. Nossa! Que coisa ele morrer assim! – Valmir ainda digeria a
notícia com espanto e dificuldade – Ele não iria ser Presidente de
novo?
- Acho que seria sim. O povo todo queria. Falam que o governo tem, aliás
tinha, muito medo dele.
- Porque medo dele? Todo mundo fala que ele fez muito bem ao Brasil! Será
que ele era comunista?
- Claro que não. Porque o governo era contra ele não sei. Num gosto de
política, você sabe disto.
- Você não gosta e eu não entendo nada e nem quero entender.
Ficaram observando os vários grupos de pessoas que se falavam
compulsivamente, exceto um grupo mais afastado, formado por dois
policiais rodoviários, algumas pessoas e... o homem do blusão de
couro.
- Zu, vamos lá naquele grupo?
- Vamos.
Caminhando com fingida displicência, Zueira saiu à frente. Caminhava
sem tirar os olhos do grupo e o contava: Os dois guardas, dois. O homem
do blusão de couro, três. Uma, duas, três.... nove. Nove pessoas. Com
os três, doze.
Passaram ladeando o ônibus mais uma vez. Notaram na frontal do veículo
as marcas de danos físicos e evidentes da batida na traseira do Opala.
Até que o ônibus sofrera danos leves!
Zueira e Valmir pararam a uma distância prudente. Um dos policiais
rodoviários fazia perguntas e anotava: Nome? Endereço? Profissão?
Telefones? Número de um documento? – Parece que seriam testemunhas.
Tinham caras de contrafeitos.
A cada um que terminava de responder, o outro policial ordenava que
fosse para um ponto mais afastado ainda, uns 4 metros do grupo. Ao
final, todo grupo fora deslocado para o novo ponto.
O homem do blusão de couro aproximou-se do grupo, postado em semicírculo.
Mais uma vez exibiu a carteirinha verde, enquanto falava. De onde
estavam, Valmir e Zueira não podiam mais ouvir.
- Zu! vamos chegar mais perto?
- Mas e se notarem que estamos bisbilhotando? Pode dar rolo...
- Vamos devagarinho, como quem não quer nada... quando der pra ouvir,
paramos.
- Tá bom.
Caminharam lentamente, como se estivessem mesmo interessados em outras
coisas. O homem do blusão de couro continuava falando. Algumas pessoas
sacudiam a cabeça, de leve, afirmativamente. Zueira e Valmir começaram
a ouvir novamente. Pararam. O homem do blusão falava:
-...de segurança nacional. É para o bem de nossa pátria. Alguém aqui
então pode afirmar que o ônibus atingiu o carro por trás?
Todos menearam a cabeça negativamente.
- Alguém viu algum carro junto ao Opala antes do acidente?
Todos permaneceram mudos.
- Ótimo! – disse o homem do blusão – Podem voltar ao ônibus de
vocês.
O grupo foi se dispersando lentamente.
Os dois amigos caminharam de volta para o ponto da tragédia.
- Zu! Este frio é vento da madrugada, vamos agora, vamos?
- Vamos. Estou morto de fome
- Eu também. Vamos ver se arranjamos uma carona até a parada no posto
de gasolina. Lá a gente come algum negócio.
- Boa coisa você pensou - comentou Zueira passando a mão sobre o
cabelo liso – vamos lá... do posto até a fazenda não dá 2 Km,
chegaremos rapidinho.
- Zu! Eu continuo não entendendo nada... Quem era o homem do blusão de
couro? Porque ele parecia mandar nas pessoas, mostrava carteira...? que
confusão!
- Não esquenta a cabeça. Também não entendi até agora. Vamos
embora.
- E as varas?
- Deixa pra lá, tem muitas varas de pesca na fazenda.
- É mesmo.
Mais um curioso, retardatário involuntário, num Corcel verde, parou.
Zueira esperou que ele olhasse tudo. Fizesse todas as perguntas dos
curiosos de plantão nestes casos. Quando ele voltava para o carro,
Zueira se aproximou:
- Moço! O senhor tá indo na direção do Rio de Janeiro?
- Estou
- Dois quilômetros pra frente tem um posto de gasolina. Pode levar a
gente até lá?
O homem parou, olhou para os dois de cima em baixo.
- Moram por aqui?
- Na Fazenda 3 Estrelas – adiantou-se Valmir – fica agarrada no
posto.
- Pois bem, entrem.
No posto os amigos comeram pão com lingüiça e tomaram Guaraná.
Valmir terminou primeiro. Avisou ao amigo que iria ao banheiro que
ficava do lado de fora, nos fundos do salão.
Voltou com um ar um pouco intrigado, Parecia confuso e, talvez,
assustado.
- Terminou de comer, Zu? – perguntou Valmir, acabando de ajeitar a
camisa dentro da calça.
- Sim, vamos... barriga cheia, pé na areia.
Saíram do posto, pegaram a estrada de terra que formava meandros pelo
terreno. Chão seco de agosto com uma camada grossa de poeira.
Principiava a clarear. Seguiam pensativos...
Valmir deu uma parada. Por condicionamento, Zueira parou de imediato.
Sabia que viria uma pergunta.
- Zu! No Brasil tem raposa?
- Acho que não, só na Europa...
- E águia?
- Águia tenho certeza que não...
- E condor?
- Acho que só lá para lados do Chile, Peru... – Zueira recomeçou a
caminhar
- Ave Maria Zu! Cada vez fico mais doido com tudo que vimos hoje. Cada
vez entendo menos. Estou com medo, Zu! Aquele negócio do tiro... a
gente deveria ter falado...
- Cala Valmir! Esquece aquilo. É rolo na certa para nós. Fecha essa
boca!
Nem comente nada com ninguém, pelo amor de Deus!
- Tá bom. Olha! Sabe a hora que fui no banheiro?
- Sei
- Pois é. Mas sabe o que vi e escutei?
- Claro que não sei... Ah! Valmir você faz...
- cada pergunta, já sei. – emendou Valmir.
- Mas o que foi que viu e escutou?
- Vou contar. Lembra do Furgão?
- Sim
- Estava lá, atrás do posto, motor ligado. E sabe quem vi dentro dele?
- Ai Valmir! Você...
- Tá bom, tá bom! O Homem do Blusão de Couro e mais os dois outros. E
sabe com quem ele falava?
- Claro que não!
- Com o homem de cabelos compridos, do furgão, o cara de argentino ou
chileno. Aquele do tiro...
- Tá ficando mais confuso mesmo, Valmir.
- E vai piorar. Escuta aqui: Enquanto eu fazia xixi o homem dos cabelos
longos desceu do furgão. Sabe aquele telefone público que tem logo em
frente ao banheiro?
- Sei, sei... – O cansaço aumentava a impaciência de Zueira.
- Pois é. Ele deu um telefonema muito louco. Falou rápido e com um
sotaque de gringo. Sabe o....
- Valmir, pelo amor de Deus! Conta, num pergunta!
Valmir olhou para Zueira com ligeira cara de reprovação. Mas
continuou:
- Tá bom, tá bom! Ele ligou, demoraram a atender. Quando atenderam ele
disse apenas:
“Aqui Raposa 77. Informe para Condor. A Águia Brasileira levantou vôo”
Só isto. Desligou e embarcou no furgão. O homem do blusão de couro
desceu e entrou num Galaxy preto. Saíram velozmente para a rodovia e se
foram...
- Caramba! Que coisa mais complicada! Valmir, vamos esquecer o dia de
hoje. Acho que é melhor. Se a gente ficar tentando adivinhar vamos
ficar doidos. Acho que se a gente falar vamos entrar numa confusão
danada!
- É sim, vamos deixar pra lá....
Cruzou com eles, correndo bastante, uma F-100 carregada de latões de
leite.
Os amigos desapareceram numa nuvem de poeira....
|
|