O uso dos recursos digitais como ferramenta para o professor no desenvolvimento de atividades de produção de texto
 
Maria Lucia Soares Martins
 
 
1.1  - Contextualizando
 
As últimas décadas têm sido testemunhas de uma gradual evolução das tecnologias da informação. A evolução tecnológica tem sido veloz e surpreendente. Novas maneiras de pensar e de se relacionar estão sendo elaboradas nesse mundo digitalizado e globalizado através da telecomunicação e da informática.
Hoje vivemos mergulhados numa sociedade que se caracteriza pelo bombardeio incessante de informações. Essas informações chegam até nós, estimulando a aprendizagem de forma diferente daquela que até então estávamos preparados para reconhecer e interferir: uma aprendizagem impregnada de emoção, obtida através de uma leitura de mundo intuitiva e muitas vezes subconsciente.
O acúmulo e a rapidez do recebimento das informações favorece o desenvolvimento dos processos mentais de síntese, de estabelecimento de relações e de associações. A aprendizagem que utiliza essas operações de pensamento é positiva, pois permite a visão da globalidade sobre os fatos e a integração de conhecimentos. No entanto, a intervenção pedagógica torna-se necessária como meio de auxílio para o aluno no desenvolvimento da sua capacidade de estabelecer um pensamento crítico e analítico, frente aos novos fatos que se apresentam.
O processo pedagógico atual deve despertar nos alunos uma nova visão de mundo, impregnada por diversas mídias, levando-os à conscientização de que a informação é produção cultural de um grupo social, passível de ser transformada pelo tempo e de acordo com o meio ambiente físico e social na qual ela se insere.
A comunicação, portanto, é um novo paradigma que se impõe, penetra e modela os campos sociais da sociedade contemporânea. A simples utilização dos meios de comunicação de massa que surgem não responde às questões do fenômeno da comunicação. A utilização simples e pura da técnica não pode ser o papel da escola. É necessário que a técnica se transforme em fundamento.
Vislumbramos, portanto, um conceito de educação que se abre para um enfoque mais amplo: já não basta trabalhar com simples propostas de modernização da educação. Trata-se de repensar a metodologia do tratamento do conhecimento no seu sentido mais amplo e as novas funções do educador como mediador deste processo.
Na busca das respostas para o problema que se apresenta  - O uso dos recursos digitais como ferramenta para o professor no desenvolvimento de atividades de produção de texto - a característica básica foi a inter-relação entre a pesquisa e a prática com o uso da tecnologia que nos permitiu conhecer, aprender a fazer e refletir sobre esse fazer.  Confrontamo-nos, portanto, com o ato de escrever, com o significado de registrar, compreender e interferir na história pessoal e de transformação do mundo. 
Ao fazer uso da informática, em um processo de produção de texto, o aluno tem a possibilidade de utilizar a escrita como forma de reescrever suas idéias, comunicar-se, trocar experiências e produzir histórias.  É capaz de divulgar e representar seus próprios pensamentos, trocando informações e construindo seus próprios conhecimentos, num movimento de fazer - refletir - refazer, atuando e interferindo na sua própria realidade.
Rompe-se, portanto, com a barreira da própria sala de aula, ultrapassando os muros, integrando o objeto de estudo escolar da vida cotidiana - a produção de texto - a outros espaços produtores do conhecimento, transformando a nossa sociedade de aprendizagem e também o processo de construção da escrita.
Pode, aparentemente, não ter importância fazer um estudo voltado para a produção da escrita, uma vez que a escola dá normalmente ênfase a essa questão. No entanto, o que assistimos nas escolas é um processo de escrita direcionado para algo que deve ser "corrigido" e não como uma prática capaz de despertar o prazer, possibilitando o desenvolvimento da autonomia para busca e troca de informações significativas.
Felizmente, tem aumentado o número de professores em busca de alternativas para encontrar novos caminhos em que possam empregar a escrita e outras formas de representação para contar a sua história, registrar o seu cotidiano, a sua escola e o seu mundo, compreendendo o passado para agir no presente e construir o futuro. Esses professores sentem necessidade de levar seus alunos a se tornarem escritores de suas próprias histórias e experiências, sujeitos de suas vidas.
Intrínseca a essa necessidade, impõe-se a utilização do computador não só como uma ferramenta, mas principalmente como um artefato que propicia representar e comunicar o pensamento, atualizá-lo continuamente, resolver problemas e desenvolver projetos.  O uso do computador tem como característica o fazer e o refazer contínuos, transformando o erro em algo que pode ser revisto e reformulado instantaneamente para produzir novos saberes. Favorece a representação do pensamento do aluno, levando o professor a criar situações de aprendizagem que exigem investigação, reflexão crítica, aprimoramento e transformação de sua própria prática. Essa atuação começa a se desprender do livro didático, que deixa de ser o guia da prática do professor e passa a ser mais uma, entre outras, fontes de informações.
Assim, a proposta de utilização do computador como ferramenta para a produção de texto proporciona situações que caminham no sentido da produção compartilhada de conhecimento, favorecida pela resolução de problemas ou desenvolvimento de projetos. Propicia um tipo de escrita que induz à liberdade de expressar e comunicar sentimentos, registrar percepções, idéias, crenças e conceitos, refletindo sobre o pensamento representado, tornando-o passível de ser reelaborado.
Nesse processo, o professor é desafiado a assumir uma postura de aprendiz ativo, crítico e criativo, constante pesquisador sobre o aluno, seu nível de desenvolvimento cognitivo, emocional e afetivo, sua forma de linguagem, expectativas e necessidades, seu contexto e cultura. Não é mais o professor quem planeja para os alunos executarem. Ambos passam a ser parceiros e sujeitos de aprendizagem, cada um atuando segundo o seu papel e nível de desenvolvimento.
O professor torna-se consultor, articulador e orientador do processo desenvolvido pelo aluno. A criação de um clima de confiança, respeito às diferenças e reciprocidade encoraja o aluno a reconhecer seus conflitos e a descobrir a potencialidade de aprender a partir dos próprios erros. Da mesma forma, o professor não terá inibições em reconhecer seus próprios conflitos, erros e limitações e em buscar sua depuração, numa atitude de parceria e humildade diante do conhecimento.
 
1.2 -  Pesquisar para quê?
Por que escrevemos? Somos impulsionados pela necessidade de expressarmos nossos pensamentos, de nos comunicar. O desenvolvimento de nossas funções intelectuais, na perspectiva de Vygotsky (1989), é mediado, socialmente, pelo processo de aquisição da linguagem escrita.  A escrita promove diferentes maneiras de pensar. É uma forma de gerar, registrar e ampliar o conhecimento, através de diferentes formas de organização da ação, permitindo o acesso ao patrimônio da cultura humana.
Ao inserir a tecnologia, através do uso do computador, no processo de produção da escrita, novos elementos são introduzidos no desenvolvimento do indivíduo, configurando-se um novo tipo de aprendizado. O aluno não conta apenas com o papel, a caneta e o dicionário, mas escreve através de um teclado, lê na tela o seu texto e é corrigido através do autocorretor que lhe aponta os possíveis erros. Para dominar esta nova técnica, ele efetua processos de compreensão mentais complexos, diferentes daqueles que ele já dominava ao escrever em uma folha de papel.
Ao usar o computador e os aplicativos do Microsoft Office, o indivíduo depara-se com uma escrita não-linear, podendo fazer uso de imagens, palavras e sons, em uma mobilidade espacial. A utilização de diversos recursos disponíveis, capazes de possibilitar a ampliação ou representação das suas idéias, dá ao texto um sentido lúdico que transforma a ação de escrever em uma grande "brincadeira". Essa forma de escrever ativa processos mentais de escrita diferentes daqueles que o indivíduo vinha processando até então: propicia a observação e novas experimentações inserindo o aluno de forma prazerosa no complexo processo cultural da construção de frases e textos na linguagem escrita. 
Os Parâmetros Curriculares Nacionais contribuíram para desencadear novas reflexões, acerca do processo de produção escrita, entre os professores. Embora não tenham sido propostos como caminhos a serem seguidos sem contestação ou reflexões críticas, os PCN apontam para uma nova política de educação, uma nova visão educacional, capaz de "apontar metas de qualidade que ajudem o aluno a enfrentar o mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e autônomo...". 
Aliado a isso, em seu texto, o PCN expõe-nos a idéia de que para que o aluno construa seu conhecimento, a questão não é apenas sobre qual informação deve ser oferecida ao aluno, mas qual o tipo de tratamento dado à informação que está sendo oferecido. Sendo assim, a intervenção do professor tem valor decisivo no processo de aprendizagem, na avaliação permanente e sistemática  da adequação do que está  sendo e como está sendo informado.
É possível, pois, verificar que a ferramenta computacional, através de atividades significativas, pode funcionar como instrumento facilitador e enriquecedor em um ambiente de aprendizagem para a produção de textos.
Parece haver, atualmente, um consenso no que diz respeito à idéia de que o uso da informática gera bons resultados na construção de conhecimentos e na busca por informações. Explorar, portanto, o uso dos aplicativos disponíveis, principalmente os do Microsoft Office, pela sua facilidade de acesso para o professor, pode trazer bons resultados ao processo ensino-aprendizagem, possibilitando que o professor interaja mais com seus alunos do que nas aulas tradicionais.
O uso destes aplicativos no processo de construção de escrita, através da produção de texto, virá contribuir para que a escola, através do professor, contextualize o uso da escrita. A criança constrói e aprende a partir do seu trabalho com atividades práticas e contextualizadas baseadas na realidade cotidiana. Cabe ao professor, como educador, proporcionar tais situações.
O professor que ousa circular no meio "digital" encontra um espaço educacional diferente. A sua ação neste espaço não provoca apenas uma mudança metodológica, mas uma mudança da percepção do que é ensinar e aprender. Objetos digitalizados - som, imagens e texto - podem ser criados, editados, integrados e transmitidos com facilidade. As possibilidades interativas do uso do computador envolvem tanto o aluno como o professor e proporcionam maior responsabilidade ao aluno, por ele mesmo poder dirigir o próprio processo educacional. Aprender a usar ferramentas, como processadores de texto, planilhas, bancos de dados, e-mails, slides e páginas Web, além das possibilidades de criação e produção de textos de formato e intenção diversos, serão úteis também ao mundo real.
 
 
 
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