O que é Interdisciplinaridade? - Um breve comentário
 
Maria Lucia Soares Martins
 
O mundo é grande e complexo e, por isso, seu conhecimento é feito pelas partes. Foi a idéia de que a fragmentação facilitava a compreensão do conhecimento científico que orientou a elaboração dos currículos nas disciplinas consideradas indispensáveis à construção do saber escolar. Esta simplificação, entretanto, também complicou a compreensão de fenômenos mais complexos.  Daí a dificuldade que temos em entender o que seja interdisciplinaridade.
As relações entre as disciplinas podem se dar em três níveis: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdiciplinaridade. Na multidisciplinaridade, recorremos a informações de várias matérias para estudar um determinado elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre si. Neste caso, cada matéria contribuiu com informações pertinentes ao seu campo de conhecimento, sem que haja uma real integração entre elas. Essa forma de relacionamento entre as disciplinas é a menos eficaz para a transferência de conhecimentos para os alunos, mas é a que, por desconhecimento, na maioria das vezes, os professores põem em prática quando querem fazer um trabalho "interdisciplinar".
Na interdisciplinaridade, estabelecemos uma interação entre duas ou mais disciplinas. O ensino baseado na interdisciplinaridade proporciona uma aprendizagem muito mais estruturada e rica, pois os conceitos estão organizados em torno de unidades mais globais, de estruturas conceituais e metodológicas compartilhadas por várias disciplinas.
Na transdisciplinaridade, a cooperação entre as várias matérias é tanta, que não dá mais para separá-las: acaba surgindo uma nova "macrodisciplina".
Para entendermos a interdisciplinaridade é preciso saber que as disciplinas escolares resultam de recortes e seleções arbitrários, que foram historicamente constituídos e que nada mais são que o resultado de expressões de interesses e de poder que ressaltam ou negam determinados saberes.
Alguns campos de saber são privilegiados em sua representação como disciplinas escolares em detrimento de outros. Ao longo da história, determinados campos do conhecimento escolar são mais valorizados sob o argumento de que se mostram mais úteis para resolver problemas do dia-a-dia. A forma de inserir e abordar as disciplinas em um currículo escolar, atualmente, é em si mesma indicadora de uma opção pedagógica de propiciar ao aluno a construção de um conhecimento fragmentário, quanto à compreensão dos fenômenos naturais, sociais e culturais.
Ao sistematizar o ensino do conhecimento, os currículos escolares ainda se estruturam de forma fragmentada e muitas vezes seus conteúdos são de pouca relevância para os alunos, que não vêem neles um sentido.
É importante deixar claro que, ao adotar a interdisciplinaridade como metodologia no desenvolvimento do currículo escolar, não significa ter que "abandonar" as disciplinas, nem ser necessário que o professor tenha uma vasta "especialização" - o que acarretaria um risco bem grande de superficialidade. Para maior consciência da realidade, para que os fenômenos complexos sejam observados, vistos, entendidos e descritos é necessário a confrontação de diferentes olhares na observação da situação de aprendizagem. Daí a necessidade de um trabalho de equipe, com professores das diferentes áreas envolvidas.
Com o desenvolvimento das ciências e os avanços da tecnologia, no século XX, constatou-se que o sujeito pesquisador (o aluno) interfere no objeto pesquisado, que não há neutralidade no conhecimento e que a consciência da realidade se constrói num processo de interpenetração dos diferentes campos do saber.
Uma articulação possível ao trabalhar com a Interdisciplinaridade é tratar de diversos campos de conhecimento, a partir de determinados conceitos como eixos principais. Uma metodologia importante de trabalho didático é a que se dá através de conceitos, como tempo, espaço, dinâmica das transformações sociais, a consciência da complexidade humana e da ética nas relações, a importância da preservação ambiental, o conhecimento básico das condições para o exercício pleno da cidadania. A articulação do currículo a partir de conceitos-chave, sem dúvida, dá uma organicidade ao planejamento curricular.
É necessário também um planejamento conjunto que possibilite a eleição de um eixo integrador, que pode ser um objeto de conhecimento ou o desenvolvimento de uma compreensão da realidade sob a ótica da globalidade e da complexidade.
Ao ser mantida uma "disciplinarização" a organização da escola se mantém inflexível, o que dificulta uma prática docente mais articulada e significativa para os alunos. As aulas se sucedem de acordo com uma "grade" curricular em tempos sucessivos, tratando de temas dissociados um dos outros.
A contextualização, na questão da Interdisciplinaridade, é outro princípio pedagógico que deve reger a articulação das disciplinas escolares. Tal fato não deve ser entendido como uma proposta de esvaziamento, como uma proposta redutora do processo ensino aprendizagem. Um trabalho contextualizado parte do saber dos alunos para desenvolver competências que venham a ampliar este saber inicial. Um saber que situe os alunos num campo mais amplo de conhecimentos, de modo que possam efetivamente se integrar na sociedade, atuando, interagindo e interferindo sobre ela.
 
 
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