Boletim Mensal * Ano VII * Setembro de 2008 * Número 63

     

 

COLUNA DOS VINHOS

 

Ivo Amaral Junior

 

           

          

Queridos compadres: os esforços homéricos de nosso editor estão surtindo efeito e o boletim está sendo publicado com a regularidade que se propôs, apesar das finanças não andarem lá essas coisas. O Delmar Rosado, que bravamente publica esse hebdomadário, como todo ser humano, dorme, como e tem direito ao sagrado descanso; pois só é ele tirar férias que não se apresenta ninguém para substituí-lo (se bem que essa não seria uma tarefa das mais fáceis) e o jornal só é publicado pelo esforço único desse amigo e compadre.

Como já fiz por várias oportunidades, sem até o momento surtir efeito, utilizo esse pequeno (mas bem lido, pelo que percebi nos últimos tempos) espaço, para conclamar os compadres e chamarem seus amigos, família, confrades, correligionários e afins para participar do jantar e da nossa amada Academia. A tradição, a cultura e a história portuguesa não podem ser relegadas à própria sorte (ou ao arbítrio dos maus historiadores, que vêm sendo veementemente repelidos por essa modesta, mas bem intencionada publicação). Talvez uma (quiçá mais) dessas pessoas possa auxiliar o Delmar nessa árdua, mas gratificante tarefa, seja escrevendo artigos periódicos, redigindo matérias, auxiliando na cobrança dos patrocinadores (a quem muito agradecemos pela colaboração) ou qualquer outro meio. Convoquem-nos!

Mas vamos para o que essa coluna se propõe: escrever sobre o vinho e suas circunstâncias! No mês anterior narrei um jantar espetacular que tive na casa do amigo, sócio e procurador do Estado Roberto Pimentel e, findei o artigo narrando que no dia subseqüente o amigo e advogado criminalista Eduardo Trindade tinha me interpelado para o comparecimento numa pequena reunião em seu domicílio, convite que não refutei e, como veremos doravante, adentrará com estilo e elegância no rol das noites inesquecíveis de minha já debilitada memória.

Compelido que fui a descrever tal noite, passei a adotar um método irrefutável de me lembrar dos fatos ocorridos, passei a anotar os vinhos que bebi e os ingredientes presentes nos pratos. Vi que funciona até a segunda garrafa, os demais passos do conclave só são rememorados após buscar auxílio na memória viva de minha amada Celinha (tive de contar com o que chamo de binômio necessidade/possibilidade – emprestado do direito), que está grávida e não tem a possibilidade de bebericar nada e eu, por outro lado, tomando algumas garrafas de vinho e tendo a necessidade de me lembrar para escrever depois, prontamente contei com a ajuda dela.

Vamos aos fatos! Lá chegando, após um período de afastamento compulsório, decorrente de uma doença que meu amigo foi acometido, fomos recepcionados por ele e sua esposa June, juntamente com seu irmão Urbano Trindade e esposa Fabíola, além da futura mamãe Emanuelle e o esposo, publicitário de mão cheia e sócio do afamado (merececidamente) Restaurante Mingus, meu amigo particular, Fábio Gueiros (gourmet dos mais sensíveis e chef nas horas vagas).

Adentrando ao recinto que estava devidamente climatizado, ofertaram-nos um champanhe veuvet-clicquot rose (uma coisa fenomenal, maravilhosa, deslumbrante, etc.) harmonizada com queijo brie e pão italiano regado ao legítimo azeite português (Cartuxa), iniciando os trabalhos da noite, que prometia! Logo após o anfitrião se deslocou para a área mais nobre do lar conjugal e me pediu auxílio para a confecção de uma iguaria que tinha acabado de desenvolver: um crepe de camarão ao molho de tomates pelados, cebola, uma pitada de sal e pimenta (além de uma boa manteiga francesa). Com essa qualidade de material de trabalho não precisa nem dizer que o lauto e farto jantar estava iniciando de forma esplêndida. Claro que todo grande chef precisa de auxílio e lá estava eu ajudando a enrolar o crepe e segurar os camarões dentro dele com uma técnica milenar: uso de palito de dentes, além de enfeitar com uma folhinha de salsa. Acho que esse toque final foi visualmente surpreendente na finalização do prato.

Como não poderia deixar de ser, a essa altura já estava decantando o espanhol Marquês de Riscal Gran Reserva, da região de Rioja, com aquele sabor potente da uva tempranillo, que harmonizou muito bem com o picante e consistente molho que acompanhou o camarão.

Partimos para o segundo prato, um filé mignon alto na frigideira, sem nenhuma gordura, permanecendo por menos de três minutos de cada lado, quando tivemos o auxílio do chef Fábio na elaboração do molho. E eu que pensei que para ser bom o molho tinha que levar muita coisa! Pois o molho só teve um pouco de manteiga, pouquíssimo alho, pimentões amarelos e vermelhos em cubinhos e um pouco de fogo brando e voilá! Construção harmônica perfeita entre a carne, o molho, o filé e o acompanhamento (nhoque de ricota com molho de queijo gorgonzola). O vinho foi um Alion, segundo vinho da casa que produz o lendário e mítico Veja Sicília. Para finalizar, a sobremesa era petit gateau, mesclando o quente do bolinho de chocolate e o gelado do sorvete, que tomei com um vinho do Porto, da safra de 1980, comprado diretamente do produtor e que nem rótulo tinha. Acordei com um pouco do vinho que sobrou na garrafa. Querem provar? Estou aberto aos convites!

 

 

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