Boletim Mensal * Ano V * Outubro de 2006 * Número 45

           

Uma página de culinária

COZINHADOS NO NORDESTE

Ricardo Vilardebó, proprietário e emérito cozinheiro do “Sítio da Calma”,

Praia de A Ver o Mar - Sirinhaem. (fone 88374418)

 

          Com esta estadia de mais de um  mês por terras lusas, tomei consciência do problemático que é, hoje, viver lá ! Vê-se tanta gente passando graves dificuldades, que começam por ser financeiras e acabam tornando-se problemas pessoais, familiares e sociais. É uma sociedade falida que tenta, por todos os meios (empréstimos!) continuar a viver um desafogo ilusório. O resultado é, visivelmente, mau! Mas, se formos ver bem, o mesmo acontece por aqui e um pouco por quase todo o mundo chamado capitalista! Não estará o “problema” nesta fixação materialista, no possessivismo absurdo com que se vive, tentando substituir um vazio emocional por objetos quase sempre inúteis, por alimentos que a doença agradece e, depois, praticar atividades entorpecentes para esquecer a angústia e os medos que tudo isso provoca?!............

            Bom, pela minha parte, vou vivendo com muito amor a envolver-me e com a certeza que, independentemente de tudo o que vai acontecendo à nossa volta, a paz, a alegria, a harmonia que sempre desejamos se encontram em nós, bem dentro de nós!!!

            E é essa certeza que me dá a liberdade de romancear tudo o que faço! Na cozinha também. Por isso nunca sei ao certo o que vou fabricar quando preparo uma refeição. Isso aconteceu, mais uma vez, quando eu e a “minha” (do meu coração!...) Maria resolvemos oferecer um jantar aos nossos amigos. Uma carilada de frango lembrou-se ela. Pois..........!

            O frango lá estava, de peitos cortados em pedaços, deitado num pirex grande, temperado com sal, caril e vodka, relaxando por uma hora. À parte fui tratando, com carinho, duas cebolas e um pimentão vermelho, esmagando sem dó umas cinco cabeças de alho e esquartejando meio abacaxi. Ralei um troço de gengibre e coloquei tudo dentro de uma panela grande (à falta do wok), com um pouco de azeite, salteando ligeiramente. Juntei o relaxado frango e, um pouco depois, perfumei com leite de coco. Uns minutos passados e chegou a altura dos acertos de tempero. Logo notei que a carilada tinha sido desviada. Talvez fosse o tipo de caril que utilizei, talvez o abacaxi muito doce!? Mesmo juntando um pouco mais e sal..... Apurou o sabor. Gostei! Que cozinhasse por mais uns quinze minutos, enquanto cozinhava o arroz “basmati”, cujo aroma foi invadindo a cozinha na companhia do caril.

            Esperado ou não, foi um sucesso! Indelicadamente reparei que houve quem se servisse três vezes! Do vinho não tivemos reclamações! Mas mais elogios chegaram com a sobremesa, imaginada a meias na secção de frutas do supermercado, cuja simplicidade deliciosa espantou. Cortamos morangos em metades, regamos com bastante suco de laranja e ralamos uma barra de chocolate preto amargo por cima. Hmmmmm!

            E assim passamos uma noite muito agradável, alegre, pacífica, gozando o prazer de comer (e beber) bem e saudável, só pelo prazer em si, sem angústias nem medos

 

 

 

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